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25/09/2003

Estórias e morais – Eça, Darwin & McKensey

A estória ...
À lista dos queirozianos pós-modernos acrescentaram-se recentemente as luminárias do McKensey Global Institute, apoiadas por várias outras, incluindo o nobel Robert Solow e o nosso Sérgio Rebelo. Concluem as sumidades, após aturados estudos, aquilo que já sabemos, mas não temos coragem de aceitar: somos pouco produtivos porque nos falta quase tudo o que é necessário para produzir e nos sobeja quase tudo o que só serve para fazer de conta.
À medida em que o estudo vai sendo tornado público, e transformado em trivialidades para o consumo das diferentes audiências, que vão desde os sindicatos até às associações empresariais, sem esquecer o governo e o zé povinho, vamos assistir à sua transformação numa arma de arremesso.
Os sindicatos hão-de (ou hádem, como diria o Dr. Coelho, o saudoso maquinista do PS) concluir que afinal os nossos trabalhadores são tão bons como os melhores, pelo que devemos já começar a tratar dum novo Código do Trabalho verdadeiramente constitucional.
As associações empresariais hão-de proclamar que os nossos empresários só precisam é de mais apoios do governo e o governo há-de dizer que nós, portugueses, somos do melhor que há, só que a oposição não deixou desabrochar os óbvios atributos empreendedores e produtivos dos patrícios, coisa a que a oposição responderá que o governo nos deprime.
Como chegámos aqui? A génese da coisa está toda explicada no Darwin.
Primeiro, os melhores exemplares da espécie começaram por ser torrados desde os finais do século XV na fornalha das descobertas e da colonização e, mais recentemente, gerações inteiras de menos acomodados que queriam fazer pela vida, lá foram durante décadas servir de pasto à caldeira da economia europeia.
Segundo, porque os exemplares que ficaram nos Galápagos lusitanos habituaram-se a parasitar outras espécies.
Terceiro, porque a casta dominante, ajudada pela placidez bovina da manada, cercou a lusa ilha com uma mar de estupidez, ignorância, paroquialismo e mediocridade. Assim segregou e decantou a maternal cultura do desgraçadinho, o ódio à concorrência, obsessão pelos direitos adquiridos, e todo restante software mental capaz de arrasar o hardware mais dotado.
O que fazer? Também está no Darwin. Liquidar o conservacionismo dos direitos adquiridos e aceitar que a selecção natural deva escolher os mais dotados, quer na variedade "trabalhadores», quer na dos «empresários», dos «governamentários», etc. (um longo etc.).
É obra, carago! Seria uma trapalhada plena de conflitualidade (Vade retro).
... e a moral é ...
«O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós» (Jean-Paul Sartre num dos poucos momentos de clarividência que teve, et voilà).

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