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30/09/2003

Estórias e morais - Velocidade da luz e penis envy

A estória ...
Apesar de, nos piores momentos, as minhas dúvidas sobre a viabilidade da Pátria poderem ser facilmente confundidas com ausência de patriotismo, a verdade é que sou é um patriota envergonhado. Cada vez que sei dum feito dum patrício, o meu coração rejubila de alegria.
Foi o que se passou há uns meses com as referências elogiosas na nossa imprensa à obra e à pessoa dum tal Doutor João Magueijo a quem eram creditadas investigações, ou melhor especulações científicas, que punham em causa o postulado einsteiniano da constância da velocidade da luz, pelo menos no início do Big Bang, que é o momento em que começa a erecção do universo. O nosso Doutor João, que é lecturer no Imperial College de Londres, tinha então acabado de publicar uma obra notável chamada «Faster than the speed of light: The story of a scientific speculation».
Ainda mal refeito do raro êxtase patriótico, eis que me chega aos olhos uma review da dita obra, onde se começa por dizer que o nosso Doutor João tentou pintar-se como "um brilhante heterodoxo, um sucessor de Richard Feynman, ou um rival teórico do grande Einstein", o que, segundo o reviewer, seria absolutamente ridículo. Quem sou eu para discordar?
Segundo o reviewer, depois de se apresentar como um rapaz cheio de potencial, e de grande precocidade, o nosso João borra a pintura porque não diz nada que já não se saiba (excepto no que respeita à sua pessoa) e dá largas à sua má-língua e chega até a insinuar que os editores das publicações científicas sofrem de «penys envy» (por lhe terem recusado a publicação dos seus trabalhos?).
Termino aqui a estória para não cair no mesmo erro do nosso João e, dando um exemplo de grande rigor científico, enuncio duas possíveis hipóteses:
Hipótese A: a natureza favoreceu o nosso João, quer na matéria, quer no espírito, ao contrário do reviewer que, sofrendo de «penis envy» e não podendo aumentar o seu ego, tenta diminuir o do nosso João
Hipótese B: O nosso João está a fazer bluff e a sua matéria é tão escassa como o seu espírito.
... e a moral só podia ser uma lei científica, na circunstância a apropriada Lei da Entropia de Schopenhauer:
“Se se deita uma colher de vinho num barril de detritos, fica-se com detritos. Se se deita uma colher de detritos num barril de vinho, fica-se com detritos”

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