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24/09/2003

Convergência real, chulé e poias, seguidas duma visão órfica e trágica do amor

Trabalho de campo
3ª Feira passada, 8:30. Tudo começou com o ar de cidade fantasma que a essa hora o centro de Lisboa tem, surpreendente aos olhos dum dos dois alemães que os acasos da vida profissional juntaram nessa manhã ao Impertinente. A essa hora as cidades europeias fervilham com a agitação de cidadãos a fazerem pela vida.
O cheiro a chulé que brotava dos pés do motorista de táxi, surpreendeu até o segundo alemão, já numa fase avançada de aculturação aos nossos originais costumes.
O destino era uma daquelas avenidas com um misto de residência das classes A e B, comércio de bairro e empresas de serviços. Os últimos metros foram percorridos aos saltinhos por cima dos buracos deixados por obras intermináveis, e por entre os carros estacionados em cima dos passeios, evitando o campo minado das prodigiosas quantidades de poias semeadas por cães de todos os tamanhos.
O meu embaraço só era comparável ao olhar irónico do alemão aculturado e à ostensiva repulsa do outro.
Nova entrada para os Dicionários do Ês: Convergência real.
Mas o Impertinente não se ocupa só de trivialidades materiais, também trata das coisas do espírito. Aqui vai uma antiga entrada para a secção Locuções do Dicionário do ês (dialecto Critiquês):
Tensão entre a visão órfica e trágica do amor
O mesmo que "não há cenas de sexo entre a gueixa e o shogun no jardim", como em «O filme organiza-se em torno da tensão entre a visão órfica e trágica do amor, que a clivagem do social intensifica e os acordos harmónicos com que a natureza prodigaliza o que lhe é inerente», escrito pelo crítico do Expresso António Cabrita, há dois meses, a propósito do filme Dolls de Takeshi Kitano, que lhe daria um tiro entre os olhos se lesse tal coisa a propósito dum dos seus filmes.

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