Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

30/11/2005

ESTÓRIA E MORAL: eu, lagarto, me confesso

Estória
Lagarto congénito, confesso-me irritado quando um clube de futebol, principalmente aquele porque tenho simpatia, tenta fazer acordos com o fisco para escapar a pagar 2,7 milhões de euros. Mas não espero que o estado napoleónico-estalinista se comporte como uma pessoa de bem e, por estar habituado, já não me irritarei se a direcção do clube e a administração da SAD dos lagartos não vierem a ser presas sem caução, como deveriam, e se, como prémio de inadimplência, o fisco lhes vier a perdoar o todo ou a parte dos 2,7 milhões de euros.

Moral
Entradas de leão, saídas de carneiro.

SERVIÇO PÚBLICO: há vida para além da Ota? (3)

Bom, depende.

Para se perceber melhor, nada como ler o dilema das cadeiras pelo blasfemo jcd. O post «Justa causa» explica como fazer a bota bater com a perdigota.

Se o Impertinências estivesse dentro das calças do engenheiro Sócrates (vade retro satanas!) mandava os ministros e os seus ajudantes lerem 100 vezes o post do jcd, amanhã dia da Restauração, sob pena de serem defenestrados como dom Miguel de Vaz com Selos.

29/11/2005

SERVIÇO PÚBLICO: o polvo fáctico

«Nós hoje vivemos em Portugal uma situação perversa. Nesse aspecto somos dos piores países da Europa. E isto porque quem financia a actividade partidária, a actividade dos dirigentes partidários são, normalmente, os empreiteiros. Financiam as campanhas e financiam a vida privada de muitos dirigentes partidários, que fazem desta vida política a sua profissão. Não sabem fazer mais nada. Profissionalizaram-se na política e da política depende a sua sobrevivência.

Sejamos mais claros: muitos promotores imobiliários financiam a vida política e partidária para que depois os políticos, financiados por eles, e que estão no aparelho de Estado, na Administração Central ou local, façam a gestão pública não em função do interesse da população mas em função do interesse de quem os sustenta, como bom dever de gratidão.

E muitos planos directores municipais não passam de bolsas de terreno que são elaborados em função de quem é o proprietário dos terrenos. E isto é justo? É justo que se faça o planeamento do país em função de interesses privados? É evidente, que quando estes interesses são assumidos como interesse colectivo faz-se o que se quer, e muitas das vezes na administração o que se faz, ilegitimamente, passa a legítimo, com bons gabinetes de advogados. Naturalmente que tudo é muito bem formatado, muito bem embrulhado. É assumido como público um interesse que afinal não é mais do que privado. E hoje na área do urbanismo há uma aliança perversa entre promotores imobiliários, alguns arquitectos de uma pseudo-esquerda e que por serem de uma pseudo-esquerda vêm branquear projectos imobiliários que são autênticas aberrações, e escritórios de advogados. E é esse tripé que manda hoje, como sempre mandou neste país. Alguns arquitectos que vêm tentar limpar a face do negócio e escritórios de advogados que conseguem formatar juridicamente todos estes embrulhos, isto é uma "santa aliança perversa".»
(Excertos duma entrevista esclarecedora de Paulo Morais, ex-vereador da CM Porto, a O Primeiro de Janeiro, via Grande Loja do Queijo Limiano)

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: importa-se de repetir?

Secção Insultos à inteligência
«O economista Miguel Cadilhe propôs segunda-feira a redução do Estado "a um quarto ou um terço da sua actual dimensão", através de rescisões amigáveis de contratos com funcionários públicos», escreve o Diário Económico. Apesar de conhecer os efeitos do ressaibo na mente humana, custou-me a acreditar que o doutor Cadilhe pudesse ter dito esta insensatez. Mas deve ter dito mesmo, porque o Jornal de Negócios usa as mesmas palavras.(*)

O primeiro governo do professor Cavaco Silva, a que pertenceu o doutor Cadilhe, deu um importante contributo para a pletora do estado napoleónico-estalinista e a engorda da vaca marsupial pública. Talvez para se resgatar da incontornável responsabilidade, o doutor Cadilhe vem prestar um mau serviço à causa do emagrecimento do «monstro», como lhe chamou o professor Cavaco Silva (ele próprio, recorde-se, com imensas culpas no cartório).

Reduzir o Estado "a um quarto ou um terço da sua actual dimensão", ainda que o doutor Cadilhe esteja a pensar a 10 anos, é uma proposta irresponsável porque significaria o colapso social dum país com uma cultura colectivista enraizada até às entranhas e metade da população dependente mais ou menos directamente do Estado. Um estado mínimo, como esse saído das meninges do doutor Cadilhe, que faria as delícias do Impertinências, note-se, não se encontra à face da terra. Alguém que quisesse sabotar qualquer arremedo de reforma do «monstro», açulando na populaça os pavores da mudança, não faria melhor. Nem nos piores delírios do anarco-liberalismo se congeminam propostas destas.

Por esta merece o doutor Cadilhe 3 pilatos, 5 chateaubriands (mais outra como esta e leva também uns ignóbeis).

(*) Ainda há esperança que a culpa seja dum estagiário da Lusa com problemas de audição.

SERVIÇO PÚBLICO: há vida para além da Ota (2)

(Fonte: NAER - Perguntas frequentes)

Perguntas infrequentes:
  • Se 42,5% dos passageiros da Portela são residentes, as projecções de tráfego têm em consideração que o crescimento deste segmento é muito inferior ao dos não residentes?
  • Se 65,4% dos 42,5% residem no NUT Lisboa e Vale do Tejo, e destes provavelmente mais de 80% residem na zona metropolitana de Lisboa, qual é o racional para fechar a Portela e construir um aeroporto que em 20 ou 30 anos terá a sua capacidade esgotada e exigirá a construção dum novo aeroporto?
  • Se «a questão que se coloca é saber se, com tal base de tráfego, se consegue disponibilizar e viabilizar uma infra-estrutura aeroportuária complementar capaz de oferecer condições de serviço e preço que convençam os transportadores em causa a preferir essa infra-estrutura ao aeroporto actual» porque não se fizeram os estudos para lhe responder?

28/11/2005

MOMENTOS HOMOFÓBICOS: o doutor Oliveira e «os devassos pinguins»

O doutor Daniel Oliveira na sua coluna «Choque e Pavor» do Expresso indigna-se com o documentário «A Marcha dos Pinguins» que, segundo ele, é um míssil subtil dirigido pelos conservadores à mente frágil do povo, inculcando-lhe valores retrógrados como a defesa do casamento monogâmico, do sexo heterossexual e de outros próprios das sociedades decadentes.

O doutor Oliveira não brinca em serviço e, munido do parecer do «bloguer» americano (americano! ouviram bem?) Andrew Sullivan, demonstra como a esperança dos conservadores é infundada. Se o pinguim de serviço não se apressa, conta-nos, quando chega a altura da queca, a pinguim espera 24 horas e procura outro parceiro - a ciência do «bloguer» não chegou para perceber que, se as meninges do povo são manipuladas pelos conservadores à custa de documentários (franceses! quelle dommage!), as hormonas da pinguim são manipuladas pela selecção natural que lhe armadilhou os genes para proteger a espécie.

Mas o argumento definitivo chega no parágrafo seguinte com o casal de pinguins gay do zoo de NY, que até adoptaram um ovo.

Aguardo, ansioso, que o doutor Oliveira nos apresente os seus próximos episódios pinguim: a pinguim que faz desmanchos, o pinguim que chuta.

27/11/2005

SERVIÇO PÚBLICO: road map to nowhere

«Manuel Pinho decidiu contratar uma equipa de Harvard para controlar o Plano Tecnológico.»

«Os professores de Harvard ... vão ver um País com vários exemplos extraordinários de aplicações tecnológicas (via verde, Multibanco, utilização de telemóveis, penetração do Cabo, etc.) e vão perceber que quase todos estes exemplos partiram de empresas privadas. Vão, depois, perceber que muitas destas aplicações foram feitas em parceria com Universidades públicas. Mas também vão ver que a maior parte do Estado está um pouco a leste (*) da tecnologia, que não facilita a sua utilização e que, acima de tudo, não faz o ‘road map’ para que isso passe a ser uma prioridade do País. E essa era a ideia do Plano Tecnológico.»


(*) «muitos anos depois António Guterres ainda não sabia o que era um “@”»
(Aviso a Harvard, Ricardo Costa, DE)

ARTIGO DEFUNTO: «já demos a volta», escreveu ele

Como era previsível, o jornalismo de causas veio em socorro das estatísticas de causas, nas páginas do caderno de Economia do semanário de referência. A começar pelo exaltante título «Já demos a volta», o jornalista de serviço à causa dá o melhor de si próprio para transformar o vapor dos sinais catados na síntese de conjuntura do INE em algo capaz de injectar optimismo nas nossas meninges deprimidas.

O esforço é mais notório no comércio externo. Onde a mente delirante do articausista imagina uma «inversão do ciclo», as estatísticas de comércio externo do INE mostram que o défice da balança comercial até Julho aumentou 13,7% e o défice do comércio extracomunitário aumentou 32,9% até Setembro.

Vários outros artigos alinham pelo tom entusiástico e fretista do «Já demos a volta», com um destaque especial para o «Vamos ser a horta da Europa», que nos descreve um idílico «projecto para a costa alentejana que prevê uma megaprodução em estufas de hortofrutícolas e plantas ornamentais». Se for parecido com o projecto do senhor Thierry Rousseau, cujos restos de plástico ainda devem ser visíveis na costa alentejana, o engenheiro Sócrates pode pedir a assessoria do professor Cavaco que ainda se deve lembrar de lá ter ido inaugurar a gigantesca fraude em que o seu governo embarcou.

26/11/2005

LOG BOOK: the pessimistic liberal

«He (Peter Drucker) was too sensitive to the thinness of the crust of civilization to share the classic liberal faith in the market, but too clear-sighted to embrace the growing fashion for big-government solutions. The man in grey-flannel suit held out more hope for the mankind than either the hidden hand or the gentlemen in Whitehall.»
(Trusting the teacher in grey-flannel suit)

25/11/2005

DIÁRIO DE BORDO: sólido bom senso

Finalmente há uma criatura que fala de sexo na Bloguilha com um sólido bom senso. Sem Marx, sem o doutor Spock, sem Cristo, sem Reich, sem Freud, até mesmo sem Hayek. Apenas sólido bom senso.

DIÁRIO DE BORDO: teorias da conspiração

Lê-se (via o ex-jaquinzinho e actual blasfemo jcd) e não se acredita. O senhor António Varela, empresário ligado à aviação pelo «seu Citation X ... apreendido na Venezuela com cocaína a bordo» (fretado pela Air Luxor), trabalha há 10 anos com o grupo Espírito Santo, compra uma área de 650 hectares na zona do eventual aeroporto da Ota a 10 euros, que valem segundo ele agora 250 euros por m2 e talvez 500 dentro de 5 anos, acreditou «sempre que o aeroporto da Ota seria irreversível», ouviu falar duma «reunião secreta entre autarcas e empresários da zona do Oeste com Mário Lino», na qual não participou por falta de tempo e dá uma entrevista ao Correio da Manhã em que conclui filosoficamente que «o cidadão comum gosta muito de criar teorias da conspiração».

Eu que sou um cidadão comum, mas não gosto de criar teorias da conspiração, estou sem teoria nenhum à mão para explicar esta prática.

Post (scriptum)
Há exactamente 30 anos teve sucesso uma conspiração que fez abortar outra conspiração que visava transformar Portugal numa república de sovietes (no Alentejo seriam kolkhozes). Eles ainda andam por aí.

24/11/2005

SERVIÇO PÚBLICO: há vida para além da Ota?

«Este esclarecimento implica que se afastem fantasmas e destruam mistificações. O fantasma frequentemente evocado pelos críticos é que este elefante-branco representa uma ruina para os cofres públicos – logo mais impostos no futuro. A mistificação, ao invés, é que tudo é privado – logo, a nação valente não tem com que se preocupar.

Mas tem. Tem porque, aqui sim, há vida além do défice orçamental. Ou, para ser mais rigoroso, a morte pode estar desorçamentada.

Um dos cenários, praticamente dado como certo, é a privatização da ANA ser feita para financiar o projecto, explicando o Citigroup que assim se evita a utilização de recursos públicos. E o banco Efisa, entre as três principais conclusões, enfatiza que o novo aeroporto não implica qualquer esforço por parte do Orçamento de Estado.

Evidentemente que só pode ser brincadeira. A ANA é uma empresa 100% detida pelo Estado, é um monopólio, beneficia de uma renda natural de um mercado protegido. É, está claro, um recurso público. E se for entregue como parte do negócio é você, caro leitor, quem obviamente está a pagar.

Pode não implicar o recurso a qualquer dotação do OE, como sugere o Efisa. Ok, a viabilidade do projecto, segundo este banco, é parcialmente garantida por uma sobretaxa a cobrar aos passageiros da Portela.

É um contra-senso, uma aberração. O nosso aeroporto já é pouco competitivo e muitas companhias fogem de Lisboa para destinos com custos aeroportuários mais baixos. Pôr a Portela a financiar a Ota é uma emenda que piora o soneto.

Que adianta uma gigantesca infra-estrutura de transporte para dotar de competitividade o território, se o esforço para construi-la significa a morte das companhias que transportam e a repulsa dos turistas a transportar?

Um novo aeroporto não é um fim em si mesmo. O país já entende que ele é necessário e que até se pode viabilizar. Mas só se deixará convencer na certeza de, uma vez construído, o aeroporto tenha turismo para receber e aviação comercial para operar. Não há estudos de impacto sobre isto. Afinal, sobre a razão de a Ota existir.»


(Sérgio Figueiredo, no Jornal de Negócios de hoje)

BLOGARIDADES: ora essa!

«Imagino que nas cabecinhas mais desgovernadas se comece a cogitar o apelo para que a Igreja Católica comece a aceitar quotas, quotas de homossexuais, quotas de inimigos da Igreja, quotas de crentes de outras religiões e um lugarzinho nos arquivos do Vaticano para o Dr. Fernando Rosas.» (imaginado pelo marinheiro VLX do Mar Salgado, a propósito dos justos protestos da bicharia e dos amigos da bicharia pela Igreja não aceitar nos seminários bichas que saíram dos armários)

E porque não? Ora essa! Eu, que também tenho uma cabecinha às vezes desgovernada, pergunto-me e porque não? E, já agora, porque não o Berloque de Esquerda começar a aceitar quotas de fassistas e squinédes? Por acaso até era bom para a diversidade ver umas bandeiras com cruzes suásticas bafejadas pelos eflúvios dos charros.

SERVIÇO PÚBLICO: estatísticas de causas

Partilhei do espanto da Joana sobre a síntese de conjuntura do INE, organismo que com o «açambarcamento pelo PS das chefias» acentuou a sua vocação de contador de estórias para ajudar a embalar economistas com o remanso que só se encontra nos «humanistas».

Partilhei, até que percebi que o script que o INE escreveu tem fins terapêuticos - melhorar a auto-estima dos portugueses, com a preciosa ajuda do jornalismo de causas que se esmerará a ampliar os eflúvios do INE e transformá-los em certezas sólidas como rocha para gáudio do povo. Não estamos a falar de quaisquer estatísticas, falamos de estatísticas de causas, produzidas, como escreve a Joana, por um «Instituto Nacional de Sensações (ou de Palpitações)».

Nova entrada para o Glossário das Impertinências

Estatísticas de causas
Estatísticas produzidas por um «Instituto Nacional de Sensações (ou de Palpitações)» para alegria dos economistas de fé e animação do povo. As estatísticas de causas dão razão, com uns bons 150 anos de atraso, a Benjamim Disraeli, primeiro ministro de SM da rainha Victoria. «There are lies, there are damned lies, and there are statistics», escreveu ele premonitoriamente, mesmo sem ter tido a oportunidade de conhecer a produção do INS.

23/11/2005

DIÁRIO DE BORDO: vai chamar pai a outro (2)

«One way to describe libertarianism is that we believe in the separation of family and state as strongly as the American Civil Liberties Union believes in the separation of church and state. In contrast, both the Left and the Right view government as a substitute parent. As pointed out by George Lakoff in Moral Politics, the Left wants government to be a nurturant parent and the Right wants government to be a strict parent. Libertarianism does not want the government to act as a parent.»
(de Arnold Kling, citado por John Ray, como sequela desta Breiquingue Niuz)

22/11/2005

CASE STUDY: o tamanho interessa?

A avaliar pelo interesse recente dos jornais de referência (como o Correio da Manhã) e da Bloguilha pelo tema (vários blogonautas tocaram na coisa, ainda que sem aprofundarem), e pela quantidade que o Impertinências recebe de spam a propor a ampliação do equipamento, o tamanho interessa e muito.

Até há poucas décadas, o tamanho só parecia interessar ao género masculino, que sempre teve um fixação no coiso. O género feminino, por falta de interesse ou por vergonha, não costumava manifestar-se a este respeito. Seja porque perdeu a vergonha, seja porque foi contaminado pelas obsessões masculinas (como frequentemente acontece, a tribo dominada costuma adoptar os valores da tribo dominante), seja lá pelo que for, o mulherio começou a ter voz activa na métrica do equipamento. Pelo menos é o que diz o spam que recebo, insinuando que a minha girl friend, ou sweety, ou simplesmente wife está ansiosa pela ampliação do atributo. Temos, contudo, que reconhecer que as opiniões se dividem - por exemplo a da esposa do senhor Fernando Silva (1) «não gostou muito. Quando (o) viu, disse que era um exagero».

Mas se alguém pensa que este tema faz parte das matérias triviais que nem mesmo chegam a interessar os humanistas, desengane-se. Isto não é matéria do Trivium, nem mesmo matéria do Quadrivium (apesar da métrica), isto é matéria da filosofia da história.

Só um exemplo bastará para se perceber a relevância do tamanho do equipamento. Em 1999, segundo umas versões, ou 1987, segundo outras, o pénis de Napoleão, que foi cortado no dia seguinte à sua morte pelo seu médico pessoal, foi vendido num leilão da Christie ao urologista John Lattimer que pagou por ele USD 4.000 (ou USD 3.000, de acordo com outros). Preço que, à primeira vista, até poderia ser considerado barato, face à importância histórica do proprietário do artefacto, mas que em boa verdade saiu ao doutor Lattimer por uma exorbitância de quase mil dólares por centímetro (em repouso). (2)

Apesar, da insignificância do instrumento, ou talvez por isso mesmo, podemos levantar várias questões relevantes para a França e para a Europa social.

Tivesse Bonaparte sido um bem dotado, ou pelo menos tivesse o criador sido um pouco mais generoso (3) na atribuição do pedúnculo, teria Napoleão o tempo, a oportunidade e a energia para devotar-se à glória da República e à sua própria, invadindo a Europa, espalhando código civil, liberté, etc., e deixando as sementes donde germinariam séculos mais tarde, o doutor Soares, o doutor Freitas e até, porque não?, o doutor Anacleto Louçã? Ou, pelo contrário, solicitado pelas suas inúmeras amantes (4), teria Napoleão gasto nas manobras de cama as energias que, à falta de boas razões, acabou por usar nas manobras nos campos de batalha?

Tivesse Bonaparte um membro viril à altura de Maria Josefina (que, recorde-se, procurou em inúmeros amantes talvez um ersatz para o minguado equipamento do seu famoso marido), teriam hoje os franceses as suas bagnoles calcinadas pelos magrebinos?

Tivesse Bonaparte um coiso que não o envergonhasse nas casernas, teria hoje M. le président Chirac os delírios que têm, imaginando, na solidão do seu gabinete do Eliseu, que está à frente duma superpotência? (5)

São algumas das muitas e relevantes questões que se podem levantar a propósito de algo que, pelos vistos, pouco se levantava. (6)

Notas de rodapé
(1) O senhor Fernando Silva não se chama Fernando Silva e por isso não sei se devemos dar-lhe crédito. É, de certa maneira, um problema semelhante ao dos blogonautas anónimos, que tem justamente preocupado e ocupado várias luminárias da Bloguilha. Como de resto já tinha preocupado Camilo Castelo Branco que à coisa se referiu como «angústia represada que só pode extravasar os sobejos do seu fel em uma carta anónima».
(2) Segundo o doutor Lattimer a relíquia teria 4,1 cm e «poderia», segundo as suas palavras, «poderia» sublinhe-se, atingir o máximo de 6,6 cm em estado de excitação.
(3) Bastaria o criador ter bafejado Napoleão com um pouco da opulência que concedeu a
Rasputine.
(4) Desirée Clary, Pauline Fourès, Leonor Dernelle de la Plaigne, Marie Louise, só para citar algumas e mostrar um pouco de erudição.
(5) Sem querer fazer humor com coisas tristes, M. le président mais facilmente poderia imaginar, dadas as circunstâncias que preside a uma superimpotência.
(6) Não há evidência histórica sobre se, neste caso, «pouco» significaria «infrequente» ou meramente «inextenso».

21/11/2005

SERVIÇO PÚBLICO: a arrogância cultural do «humanismo» ignorante

A propósito dos arrotos humanistas do doutor Soares, leia-se esta prosa do economista (mais um «ignorante») Vítor Bento (no DE de 18):
«Arrogância cultural

”Eles abafam piedosamente o sorriso ao falarem de cientistas que nunca leram uma obra relevante da literatura inglesa. Descontam-nos como especialistas ignorantes. Contudo, a sua própria ignorância e a sua própria especialização são alarmantes. Por diversas vezes tenho estado presente em encontros de pessoas que, pelos padrões da cultura tradicional, são considerados muito cultos e que, com considerável prazer, têm expressado a sua incredulidade pela ignorância dos cientistas. Uma ou outra vez fui provocado e perguntei à minha companhia quantos deles conseguem descrever a Segunda Lei da Termodinâmica. A resposta foi fria e foi também negativa. Todavia, eu perguntei algo que pode ser o equivalente científico de: ‘Já leu uma obra de Shakespeare?’”
Charles Snow, ”The Two Cultures”

Existe nas sociedades modernas, uma perigosa segmentação cultural, que se tem vindo a agravar com a especialização do ensino, entre a formação com origem nas chamadas ”humanidades” e com origem nas ciências. Se se entender a cultura, muito simplesmente, ”como aquilo que torna a vida digna de ser vivida”, como admite T. S. Eliot (Notas para uma Definição de Cultura), uma equilibrada articulação entre diferentes actividades e diferentes áreas do saber é essencial para o sucesso cultural, e a sua ausência pode conduzir à desintegração cultural, conducente, ela própria, à desintegração social.
Os efeitos desta segmentação são, porém, agravados por um sentimento de arrogante superioridade moral muitas vezes demonstrado por alguns ”intelectuais literários”, que se consideram a si mesmos detentores da ”verdadeira cultura”, desvalorizando como mera tecnocracia os conhecimentos obtidos pelo estudo das ciências. Este sentimento, de raízes pré-modernas, tem atravessado praticamente toda a modernidade, alimentando recorrentes controvérsias, e carrega os sinais claros de uma expressa marca social que, entre outras manifestações, sobrepõe o pensamento à acção, as artes aos ofícios e o ”intelectual” ao ”manual”.
Este mesmo sentimento re-emergiu recentemente entre nós, para desvalorizar as qualificações científicas dos economistas para o desempenho de funções de representação política, contrapondo-lhe a superioridade dos ”conhecimentos literários” (ainda que por vezes não passem da especialização em generalidades). Mas sob o véu das diferenças culturais, o que esta linha argumentativa acaba por transportar é a ideia subliminar de uma aristocrática distinção social, insinuando que a origem patrícia assegura melhor preparação para o desempenho de funções políticas do que a origem plebeia.
O que mais surpreende nesta posição é que ela provenha de sectores de esquerda, provavelmente os mais afectados pela burguesa corrosão ”pós-modernista”. Primeiro, porque a esquerda, originariamente trabalhista e programaticamente progressista, foi tradicionalmente favorável às virtudes das ciências, vistas como fonte de progresso. Segundo, porque o conhecimento técnico e científico proporciona mais oportunidades de progressão social do que a ”cultura literária”. Terceiro, porque se perguntarem aos trabalhadores se preferem ser politicamente representados por quem saiba manter uma conversação erudita nos salões sociais ou por quem compreenda os mecanismos necessários à criação e preservação de empregos e à melhoria dos níveis de vida, o que é que acham que eles vão escolher?
É que, como lembrava Alfred Marshall, no final do século XIX, ”… o carácter do homem tem sido moldado pelo seu trabalho de todos os dias e pelos recursos materiais que desse modo procura, mais do que por qualquer outra influência, com excepção dos seus ideais religiosos; e as duas grandes acções formadoras da história mundial têm sido a religiosa e a económica”. Sendo assim, saber de economia talvez seja conveniente.»

O post «Humanismos e Trivialidades» do Semiramis ajuda a compreender as raízes da arrogância «humanista» - basicamente o desprezo pelo trabalho lato sensu.

BLOGARIDADES: «Os activistas LGBT são anti-liberais»

«Os activistas LGBT são anti-liberais», defende o blasfemo João Miranda, e o Impertinências concorda.

Além disso, acho-os ridículos (todos), promíscuos (quase todos) e perversos (muitos).

DIÁRIO DE BORDO: a doutora Filomena sai do armário

Não li e provavelmente não vou ler o «Bilhete de Identidade» de Maria Filomena Mónica. Não aprecio o género confessional e também receio que a boa ideia que tenho dela não resistisse à exposição das suas partes pudendas.

[Ao ler o prenúncio da exposição dos seus parceiros em O Independente, ocorreu-me, uma vez mais, que as nossas enfezadas elites vivem em endogamia o que não é bom para os genes - e por isso são enfezadas?]

20/11/2005

SERVIÇO PÚBLICO: a decomposição das instituições da república prossegue acelerada

(O «gato constipado» no Expresso de 19-1)

Abel Pinheiro (5.ª coluna do CDS), Paulo Portas, Fernando Marques da Costa (5.ª coluna do doutor Sampaio), Rui Pereira (ex-director do SIS), entre outros, foram ouvidos a chafurdar nesta pocilga e a refocilar no meio dos sobreiros. Entre os grunhidos foram ouvidas referências a conversas do engenheiro Sócrates e do doutor Sampaio.