O mês passado a Economist publicou um artigo sobre a produtividade na América Latina cujo título ("A land of useless workers”) provocou nalguns leitores mais sensíveis a dose de indignação que nos tempos pós-modernos se dedica a qualquer coisa que cheire a uma realidade desagradável.
E a verdade é que esta realidade é visivelmente desagradável quando comparada, por exemplo, a evolução da produtividade da América Latina (AL) com a do Leste Asiático (LA), abrangendo China, Japão, Mongólia, Coreias do Norte e do Sul e Taiwan.
Em 1962 o produto per capita do LA era um terço o da AL, em 2012 o LA tinha alcançado a AL e em 2022 estava 40% acima. A Economist aponta várias causas possíveis: baixo nível de investimento, baixo nível educacional, falta de concorrência (as economias latino-americanas são um chão fértil para monopólios e oligopólios), uma gigantesca economia informal e a corrupção generalizada em todos os sectores mesmo da economia formal.
É claro que, como é típico nas questões económicas e sociais, todos essas causas concorrem para o resultado e influenciam-se reciprocamente. Se, como Daron Acemoglu e James Robinson (Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty), considerarmos o papel das elites insubstituível para o sucesso dos países, poderemos acrescentar uma causa precedente às citadas: as elites da AL são elites extractivas, isto é, elites parasitárias cujas origens, não certamente por acaso, remontam aos tempos das potências colonizadoras, elas próprias ainda hoje com elites com dificuldades, to say the least, de servirem de catalizadoras ao desenvolvimento económico e social, elites que segregam uma cultura colectivista e avessa ao risco.
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