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15/01/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (118)

Outras avarias da geringonça.

Em mais uma manobra, ao anunciar pela boca da ministra da Justiça que a procuradora-geral Joana Marques Vidal não poderia ser reconduzida - uma treta jurídica como se veio a confirmar - Costa parece pretender evitar que caiam na sua sopa em pleno ano de eleições as moscas que o rodeiam vindas da lixeira socrática e que o dono da lixeira poderia indicar como testemunhas (ler aqui "Chico-espertismo" de Maria de Fátima Bonifácio).

Beneficiando das reposições de que resultaram aumentos de salários e, consequentemente, das bases de cálculo das pensões, mais de 12 mil utentes da vaca marsupial pública aposentaram-se no ano passado com belas pensões - belas quando comparadas com as do sector privado, entenda-se. Falando de privilégios dos utentes da vaca, que constituem o núcleo da clientela eleitoral da geringonça, está a caminho a ampliação da clientela para incluir os contratados a prazo e o pessoal das empresas públicas no acesso à ADSE - o melhor e mais barato seguro de saúde fora do alcance da generalidade dos sujeitos passivos que o pagam.

É claro que não dão para tudo as sobras da compra da clientela eleitoral espremidas pela necessidade de mostrar serviço em Bruxelas com o défice - que ainda recentemente era uma obsessão neoliberal para Costa e a sua tropa. Nomeadamente não dão para o aquecimento das escolas, nem para evitar o caos nas urgências dos hospitais, caos justificado pelo governo pela epidemia de gripe que, diz quem sabe, «ainda é ligeira e o SNS já está de pantanas».

Medina, o herdeiro de Costa na câmara de Lisboa, mostra-se uma vez mais à altura do mestre e contrata como assessor o antigo vereador do pelouro da Protecção Civil que não conseguiu ser reeleito. Mais significativo do que este procedimento padrão é justificar que é «uma contratação natural e até óbvia» o que equivale a assumir que somos todos estúpidos e reconhecemos o direito divino dos apparatchiks socialistas a ocuparem sinecuras.

Que a poupança das famílias está ao nível mais baixo desde 1999 (4,4% do rendimento disponível) já o escrevemos várias vezes, resta acrescentar que é um terço da taxa média de poupança da zona euro e que segundo o INE tal descida se deve ao aumento de «8,4% dos impostos sobre o rendimento pagos pelas famílias, que mais do que compensou o aumento de 0,9% das remunerações recebidas». Quem falou na redução da carga fiscal?

O Expresso anuncia apologético que a dívida total (pública e privada) portuguesa em percentagem do PIB teve entre Setembro de 2016 e o mesmo mês de 2017 a sétima maior redução (18%). Conviria ter acrescentado duas coisas: (1) com 404% a dívida total de Portugal continua a estar no top 6 mundial; (2) no mesmo período os outros dois países resgatados pela troika tiveram maiores redução da dívida - Grécia com 21% e, pasme-se, Irlanda com 72% e a Espanha reduziu em 20%.

Quanto à dívida pública, foram colocados a semana passada 4 mil milhões de OT a 10 anos com uma taxa de 2,137% a mais baixa nos últimos anos. Antes de embandeirarmos em arco vejamos em retrospectiva os yields das OT 10 anos e constatemos que eram mais baixos em Março de 2015 numa conjuntura menos favorável.


Em matéria de emprego a boa notícia é que a taxa de desemprego continuou a descer e regressou aos níveis de 2004 (8,1%). As más notícias são várias: (1) o desemprego dos jovens continua a aumentar; (2) os novos contratos a prazo continuaram a aumentar de 78,5% em 2013 para 80,6% em 2017 e (3) a média de horas trabalhadas por semana continua a diminuir desde 2012 o que agrava a queda da produtividade do trabalho resultante do desemprego ter descido mais do que o crescimento do PIB.

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