Nascido em 2001 com a preocupação de dotar a União Europeia dum sistema de navegação por satélite que deveria tornar obsoleto o sistema GPS ianque, o projecto Galileo tem-se arrastado no limbo da eurocracia, torrando pelo caminho uns milhões de euros, em simples exercícios de aquecimento para torrar uns milhares de milhões nos próximos anos.
Ontem o Parlamento Europeu aprovou o orçamento e o plano do projecto. É claro que isso não significa nada, ou pior, é uma garantia de se torrarem os tais milhares de milhões por uma quimera. O que se passou nos últimos 8 anos, com um consórcio de 8 grandes empresas europeias de 5 países (EADS, Thales, Alcatel-Lucent, Inmarsat, Finmeccanica, AENA, Hispasat, TeleOp e Deutsche Telekom) que não se entenderam nem para decidir onde deveriam ficar as instalações, dá uma pálida ideia do que nos reserva o futuro.
No entanto, o gesto foi suficiente para aliviar algumas almas, como a do Hexágono Quântico, linkado à notícia do Público, que acredita que o Galileo «permitirá reforçar a identidade científica europeia e desenvolver a independência da União no domínio estratégico da localização via satélite. Constitui, portanto, uma verdadeira alternativa ao surgimento de um monopólio em benefício do sistema GPS americano.»
Permito-me duvidar. Em primeiro lugar porque o projecto Galileo, como foi admitido pela Comissão Europeia, não tem interesse comercial, querendo com isto dizer nas entrelinhas que terá que ser financiado com dinheiros públicos, isto é com a aplicação compulsiva de dinheiros privados. No final o projecto Galileo poderá eventualmente produzir um sistema operacional, mas terá sido essencialmente um expediente dos grandes campeões nacionais serem financiados pelos contribuintes que o continuarão a pagar por ser sistema comercialmente inviável.
Segundo, quando estiver pronto em 2013, o sistema GPS (que não custa um cêntimo aos contribuintes europeus) já terá sido melhorado e o Galileo terá que competir ainda com o Glosnass russo e o sistema chinês.
Terceiro, porque o argumento que o sistema GPS poderá ser desligado pelo exército ianque em caso de conflito militar não parece muito credível. Apesar dos vários conflitos ocorridos e em curso (incluindo as 2 invasões do Iraque) o sistema esteve sempre disponível e um conflito ou ameaça global que deixasse inoperacional o GPS afectaria irremediavelmente o Galileo.
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Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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