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13/01/2011

CASE STUDY: O alegado sucesso dos leilões «is little short of ruinous»

José Sócrates garante à 3.ª feira não ser necessária ajuda do FMI e, dopado com o alegado sucesso dos leilões de ontem, reincide 4.ª feira com grande fanfarra. Registemos esta garantia para posterior verificação e vejamos mais de perto em que consistiu o «sucesso». A coisa começa logo por ser ridícula porque os montantes em causa nos dois leilões são uma gota de água no enorme oceano das necessidades de financiamento deste ano – talvez menos de 3%.

Não vou invocar aqui a autoridade do guru Paul Krugman, porque não lhe reconheço autoridade nestas matérias em que ele não consegue libertar-se da sua ciência económica de causas. Ao contrário, esperava-se a autoridade de Krugman fosse tida em conta pelo governo, cujos spin doctors invocam habitualmente o nome da luminária para caucionar as suas políticas. E a avaliação de Krugman a respeito do sucesso do leilão foi: «an interest rate that high is little short of ruinous». Talvez o governo para mobilizar a boa vontade da luminária deva oferecer-lhe um lugar de consultor no BdeP ou na Caixa.

O certo é que o governo colocou as OT Out 2014 a uma taxa média ponderada 33% superior à de 27-10-2010. Até aqui só se vê insucesso. Por isso, só podemos procurar o sucesso no leilão das OT Jun 2020, cujos resultados (disponíveis no sítio do IGCP) mostram como foi feito o milagre.


O montante colocado (599 milhões) foi inferior ao limite mínimo do intervalo do montante indicativo (750-1.250 milhões) e a tão propalada taxa média ponderada (6,716%) inferior em 1,3% (grande sucesso!) à taxa para o mesmo período do último leilão (6,896% em 10-11-2010) foi conseguida com uma taxa de corte (6,759%) cirurgicamente calculada para travar o aumento da taxa média e poder assim trombetear o grande sucesso. Tivesse o montante colocado (599 milhões) fica próximo do limite superior (1.250 milhões) e a taxa média pularia de certeza para mais de 7%, como se pode inferir do montante ridículo (10 milhões) da procura à taxa mínima e da taxa de corte ser apenas 2,6% (43 pontos base) superior à taxa mínima.

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