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Rui Rangel cita um relatório do Centro Jurídico da Presidência do Conselho de Ministros, que estima o custo da má qualidade legislativa em 7,5 mil milhões de euros ou 4,5% do PIB. É difícil não concordar com Rui Rangel quando atribui ao governo e à assembleia de república, que produzem essas leis, a responsabilidade pela sua má qualidade.
O facto do poder legislativo subcontratar a preparação dessa legislação a sociedade de advogados não lhe retira a responsabilidade pela má qualidade e acresce-lhe a responsabilidade pela forma «pouco transparente» (um eufemismo que o juiz Rangel usa e que aqui no (Im)pertinências substituiríamos por «completamente opaca») que «serve interesses de grupo», do grupo dos advogados do regime, digo eu.
A visível promiscuidade entre aquilo que o governo considera os interesses do Estado, os interesses da miríade de políticos e dos acólitos que gravitam à sua volta, as necessidades de financiamento dos partidos do poder (PS, PSD e CDS) e os interesses dos advogados do regime, permitirá subsidiariamente explicar o de outro modo dificilmente explicável: a pletórica produção de legislação e sua constante alteração.
O que nada disto explica é que o pletórico quadro de juízes não dê conta do recado, ainda que reconhecidamente difícil, e acumule montanhas de processos à espera da prescrição. Segundo Jorge Bleck aqui citado, Portugal teria mais de 40% de juízes que Espanha e França e 3 vezes mais do que o Reino Unido. O número de tribunais por 100.000 habitantes em Portugal era de 3,2, em Espanha de 1,3 e em França 0,8. Seria interessante ouvir o que os juízes têm a dizer sobre isto.
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