O INE diz que a taxa de desemprego atingiu no 1.º trimestre o valor mais alto dos últimos 20 anos, ou seja 470 mil desempregados, sem esquecer 108 mil «inactivos desencorajados», seja lá o que for que signifique desencorajado para trabalhar.
O ministro do Trabalho prefere apelar para o que ele acredita ser a auto-estima ferida dos portugueses e cita as estatísticas de causas dos centros de emprego para traçar um cenário mirífico de recuperação do emprego. (Diário Económico)
E, no entanto, o cenário «pessimista» que emerge dos números do INE é muito mais optimista do que o cenário «optimista» ministerial que, a ser acreditado, era caso para se ficar ainda mais pessimista.
A questão é tão simples que só é difícil de ver por causa do nevoeiro analítico dos spin doctors governamentais. Nas duas décadas que levamos de subsídios da UE, criámos empregos total ou parcialmente improdutivos no estado napoleónico-estalinista e nos seus anexos (centenas de empresas públicas, muitas delas actualmente semi-públicas). Só a administração pública terá engordado com 2 ou 3 centenas de milhar de utentes.
A engorda teve dois efeitos letais para o crescimento económico. Por um lado, um efeito directo na produtividade já que o subemprego ou o emprego fictício não acrescenta valor, só acrescenta custos. Por outro, porque criou nos mercados de trabalho uma oferta de emprego que manteve os salários artificialmente elevados, que sustentou uma procura de bens de consumo e de habitação (potenciada pela baixa das taxas de juro), que ajudou a manter à tona milhares de empresas inviáveis de todos os tamanhos.
Imagine-se, nesta situação, se o emprego aumentasse. Deveríamos ficar mais pessimistas se o cenário idílico que vive na cabeça do ministro do Trabalho (supondo que ele acredita no que diz) tivesse alguns pontos de contacto com a realidade. Estaríamos ainda mais presos numa armadilha de que os nossos vizinhos espanhóis se libertaram há 20 anos, quando chegaram a uma taxa de desemprego superior a 20% e reorganizaram todo o tecido empresarial.
Como é que se sai desta armadilha? Fechando empresas, descontinuando negócios, emagrecendo o monstro que o professor Cavaco e o engenheiro Guterres (para só citar os maiores responsáveis) alimentaram com desvelo. Quanto ao monstro, estamos conversados, porque as ganas do engenheiro Sócrates são mais no campo discursivo do que no campo das reformas. Quanto às antigas empresas públicas e seus resíduos no interior de empresas privadas, os excedentes são enviados para uma bela aposentação com confortáveis pensões (só o Millenium bcp à sua conta enviou milhares que recebeu do BPA, BPSM, etc.).
Fica pois o emagrecimento para as micro-empresas e PME por esse país fora (sobretudo no Norte) que vão ter que pagar uma parte desproporcionada da factura da obesidade alheia. Enquanto não aparecem (in)voluntários para pagar o resto da factura é difícil imaginar a retoma.
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Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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19/05/2007
ESTADO DE SÍTIO: mais estatísticas de causas que sustentam um optimismo pessimista
Etiquetas:
direitos adquiridos,
ecoanomia,
estatísticas de causas
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