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21/07/2009

CASE STUDY: é sempre possível continuar assim

É bastante interessante constatar que com o crescente endividamento externo se está a passar um fenómeno recorrente na percepção das evoluções indesejáveis pelos fazedores de opinião. Aparte um reduzido número, comentadores, analistas, economistas mediáticos (Medina Carreira é a excepção mais notória), e, obviamente, políticos que são profissionais da exuberância irracional, especializam-se nas boas notícias e na infantilização da opinião pública fugindo, como o diabo da cruz, a falar umas quantas verdades à populaça a qual consideram, não sem alguma razão, incapaz de lidar com más notícias.

Durante uma década o endividamento externo foi crescendo gradualmente sem ser visto como um problema pela maioria das luminárias. Segundo elas, no interior da mesma zona monetária o endividamento externo público e privado duma pequena economia periférica não tendo consequências relevantes na inflação, nem nas taxas de juro, poderia crescer indefinidamente. É claro que algumas luminárias percebiam que a longo prazo o endividamento acabaria por obrigar o estado e os portugueses a vender os seus activos ao estrangeiro e a tentar viver da caridade comunitária mais intensamente do que desde 1986. Contudo, para criaturas keynesianas isso nunca foi uma preocupação séria. Não é verdade que a longo prazo estamos todos mortos?

Pois bem, a crise financeira e, principalmente, a derrota do PS nas eleições europeias estão a ter um efeito milagroso de revelação. A nossa senhora da realidade económica começa a fazer aparições aos pastorinhos keynesianos. Um dos últimos pastorinhos, foi o economista Daniel Amaral a quem nossa senhora revelou que a dívida externa quadruplicou em 8 anos passando de 38 para 162 mil milhões no final de 2008, pelo que «é impossível continuar assim». Esperemos pelo final de 2010, altura em que o «assim» talvez se aproxime perigosamente dos 200 mil milhões.

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