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21/11/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o optimismo e o pessimismo

Um velho amigo enviou-me e a vários outros amigos comuns («vá lá, por uma vez sejam optimistas...») um texto publicado na revista Exportar com o título "Eu conheço um país...". Nele o doutor Nicolau Santos enumera 19 feitos cuja consideração nos deveria fazer sair do estado de anomia em que nos encontramos. Se a lista mostra alguma coisa não é certamente que nos devemos animar. Pelo contrário, o facto do doutor Nicolau se ter dado ao trabalho de a fazer é, só por si, uma evidência de que, segundo ele, a anomia é mais profunda do que um pessimista poderia ser levado a crer.

Eu também conheço um país… Mas não deve ser o mesmo.

Se imaginarmos o país mais triste, cinzento e pobre – seja o Togo, por exemplo – sempre será possível fazer uma lista de feitos passados, presentes e, sobretudo, futuros. Futuros? Sim, o Brasil é o país do futuro faz mais de 50 anos. O meu coração rejubila com tantas realizações, principalmente a liderança mundial nas rolhas.

Contudo, a realidade ignora estas visões miríficas e, apesar do esforço de nos convencerem, continuamos há 7 anos a empobrecer relativamente a todos os países do espaço económico onde nos integramos. A empobrecer e a ficar cada vez com maior desigualdade social. Estamos a conseguir o milagre de ter chuva na eira e sol no nabal. E porquê o governo e os seus spin doctors precisam de se esforçar tanto para nos convencer, sem sucesso? Precisamente porque a realidade tem um peso tão grande que é preciso inventar um newspeak orwelliano para reanimar a choldra.

Com a devida vénia, transcrevo o que, a propósito, Pacheco Pereira escreveu ontem no seu blogue:
«Porque é que já estivemos melhor e agora estamos pior e há retrocesso? Porque estamos a ficar mais pobres, com menos esperança, mais presos ao pouco que temos, mais confinados ao mesmo espaço minúsculo, todos em cima dos bens cada vez mais escassos a patrulhar para que os outros não fiquem com eles. Estamos a pagar o preço de um modelo “social” único, de uma Europa única, de um pensamento único que racionaliza este caminho para a pobreza como não tendo alternativa e pune a dissidência.
Só se pode ser pessimista e agir como pessimista, até porque a ideia de que os pessimistas não fazem nada é típica dos optimistas na sua beatitude.
»
Quereis uma pista para se perceber porque não adiantam os discursos dos amanhãs que cantam? Eis o que disse ao RCP Oliveira Martins (citado pelo Blasfémias), ex-ministro das Finanças, presidente do Tribunal de Contas, um insuspeito personagem do establishment que tem desgraçado o país:
«OM – A média de derrapagem dos contratos em Portugal é de 100 por cento. É na base de um estudo do Instituto Superior Técnico, a partir de elementos do Tribunal. A média! Isto significa que há derrapagens que correspondem a quatro e cinco vezes mais, estamos a falar de 400 e 500 pontos percentuais. 400 e 500 pontos percentuais!
RCP – Quantias enormíssimas… Mas isso não revela um desmazelo?
OM – Isto é uma coisa endémica, um hábito antigo, um hábito antigo, uma questão de regime, um problema de regime, porque não há ninguém que possa dizer “nós fizemos”... Isto é uma média no médio e longo prazo. Estamos a falar de uma série longa de 30 anos — não é? —, e uma série longa de 30 anos em que a média de derrapagem é de 100 por cento. Por que razão é que há derrapagens por sistema nos concursos públicos? Por que razão? Por que razão? Esta é a nossa pergunta.
RCP – Não fazem bem contas…
OM – Pois, não fazem bem contas desde o início.
»
É o resultado do «estado social», apoiado pelo respectivo partido, composto por todos os que dependem directa ou indirectamente do «monstro» do professor Cavaco, funcionários públicos, desempregados crónicos, reformados, subsidiados, etc. e seus apêndices, que somam 4 ou 5 milhões. Enquanto o monstro torrar metade da riqueza produzida são inúteis todos os discursos salvíficos.

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