Já frequentes vezes aqui no Impertinências se citou o modelo de Hofstede com as suas quatro dimensões (ou cinco para as culturas confucianas), aqui (ab)usado como métrica do pathos fatalista que impregna a alma lusitana. Pathos que só esmorece fora dos períodos de euforia, como a revolução dos cravos, a adesão à CEE e a sua bendita chuva de subsídios, a Expo 98, o Euro 2004. Fora desses curtos períodos, o síndrome bi-polar soterra a nossa alma sofredora, até que surje um novo ciclo de euforia, logo esvaziado, quando percebemos que a coisa para se consertar exige mais esforço e mais tempo do que o módico de um e outro que temos disponível.
Talvez por essas alusões, sobretudo a uma das dimensões do modelo de Hofstede, o sociólogo Manuel Villaverde Cabral teve a gentileza de enviar para o Impertinênias o seu estudo «Despotismo de estado e sociedade civil real em portugal: distância ao poder, comunicação política e familismo amoral».
O interesse do Impertinência nestas matérias tem tido, acima de tudo, um propósito queiroziano de dar umas traulitadas no ego nacional que, diferentemente das intelligentzia doméstica, aqui no Impertinências não se acredita que sofra de défice de auto-estima. Não se estranharia, pois, que a ignorância nestas matérias da sociologia e a preguiça me fizessem desistir das densas 25 páginas do texto de Villaverde Cabral.
Acabei por ler. Lá se confirma a notável distância ao poder duma população que reaje com estratégias de compensação baseadas num «familismo amoral». E se adiantam explicações de mecanismos seculares de «falta de vontade das elites políticas em alfabetizarem as massas» que lhes permitiram perpetuar o seu domínio, até hoje apesar da «massificação do ensino verificada nas últimas décadas». (Cá para com os meus botões, sempre digo que a idiotização que essa massificação promoveu, potenciada por práticas pedagógicas e de organização das escolas inspiradas no politicamente correcto, só veio piorar as coisas em termos relativos, como mostram as avaliações da OCDE que nos colocam na cauda em todas as áreas.)
Lá se evidencia o papel da administração pública como agente do «despotismo administrativo» no «autoritarismo recorrente do Estado português» e a «articulação entre despotismo administrativo e iliteracia» e se conclui que «a literacia enquanto forma de controlo social e ... o despotismo administrativo do Estado português moderno (são) dois nexos estruturantes das relações entre as elites de poder e as classes subordinadas que têm contribuído para reproduzir a falta de confiança e de participação da maioria da população nas instituições representativas».
Agora que já percebemos a génese da maleita, seria boa altura de a atacar, se não fosse a coisa requerer muito esforço e demasiado tempo.
Talvez por essas alusões, sobretudo a uma das dimensões do modelo de Hofstede, o sociólogo Manuel Villaverde Cabral teve a gentileza de enviar para o Impertinênias o seu estudo «Despotismo de estado e sociedade civil real em portugal: distância ao poder, comunicação política e familismo amoral».
O interesse do Impertinência nestas matérias tem tido, acima de tudo, um propósito queiroziano de dar umas traulitadas no ego nacional que, diferentemente das intelligentzia doméstica, aqui no Impertinências não se acredita que sofra de défice de auto-estima. Não se estranharia, pois, que a ignorância nestas matérias da sociologia e a preguiça me fizessem desistir das densas 25 páginas do texto de Villaverde Cabral.
Acabei por ler. Lá se confirma a notável distância ao poder duma população que reaje com estratégias de compensação baseadas num «familismo amoral». E se adiantam explicações de mecanismos seculares de «falta de vontade das elites políticas em alfabetizarem as massas» que lhes permitiram perpetuar o seu domínio, até hoje apesar da «massificação do ensino verificada nas últimas décadas». (Cá para com os meus botões, sempre digo que a idiotização que essa massificação promoveu, potenciada por práticas pedagógicas e de organização das escolas inspiradas no politicamente correcto, só veio piorar as coisas em termos relativos, como mostram as avaliações da OCDE que nos colocam na cauda em todas as áreas.)
Lá se evidencia o papel da administração pública como agente do «despotismo administrativo» no «autoritarismo recorrente do Estado português» e a «articulação entre despotismo administrativo e iliteracia» e se conclui que «a literacia enquanto forma de controlo social e ... o despotismo administrativo do Estado português moderno (são) dois nexos estruturantes das relações entre as elites de poder e as classes subordinadas que têm contribuído para reproduzir a falta de confiança e de participação da maioria da população nas instituições representativas».
Agora que já percebemos a génese da maleita, seria boa altura de a atacar, se não fosse a coisa requerer muito esforço e demasiado tempo.
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