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04/05/2024

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (102) - O Portugal dos Pequeninos sempre em contramão

As ondas que percorrem ciclicamente a Europa e o Mundo chegam a Portugal com décadas de atraso. Assim de repente, lembro uma ditadura que sobreviveu à segunda guerra, quando no mundo ocidental só restavam as ditaduras nos países do império soviético, lembro a chegada da democracia, lembro que se seguiu um putsch, quando não havia putschs na Europa há trinta anos, para implantar um regime comunista-esquerdista, seguido de um outro putsch para afastar a clique que tentara o anterior, e alguns anos depois o bombismo esquerdista das FP25, já a Brigate Rosse e a Rote Armee Fraktion tinham arrumado as botas no sótão.

Fast-forward e mudando de assunto, na primeira década deste século quando a Óropa assumia a rectitude fiscal os governos portugueses praticavam a libertinagem orçamental e o endividamento compulsivo.


E chegamos aos dias de hoje em que a maioria dos governos ocidentais saíram da recessão da Covid aumentando a despesa e criando défices pletóricos (ver o diagrama acima) e dívida pública e, ao invés, os governos socialistas portugueses reduziram os défices e a dívida pública à pala das "contas certas", um expediente em que investimento público não era executado e as despesas sociais eram cativadas, e de outros expedientes de engenharia orçamental.

6 comentários:

Afonso de Portugal disse...

E mesmo assim, convém relembrar: a dívida pública portuguesa, em termos nominais, nunca parou de subir!!!

No ano em que o malfadado indiano chegou ao poder (2015), a dívida das administrações públicas era de 235 746,1 milhões de euros… no final de 2023, a mesma dívida era de 263 084,8 milhões de euros e a previsão para 2024 é que a dívida ascenda a 263 649,0 milhões de euros!

Dividir a dívida pelo PIB é um exercício muito bonito para enganar os pacóvios, mas a realidade é que cada vez devemos mais!!!

Anónimo disse...


«Dividir a dívida pelo PIB é um exercício muito bonito para enganar os pacóvios».
O que nos levaria a concluir que Portugal com uma dívida pública de €263 mil milhões está muito melhor do que os Países Baixos com uma dívida pública de €486 mil milhões (47% do PIB).

Afonso de Portugal disse...

«O que nos levaria a concluir que Portugal com uma dívida pública de €263 mil milhões está muito melhor do que os Países Baixos com uma dívida pública de €486 mil milhões (47% do PIB).»

Alhos com bugalhos, mais uma vez. Eu nunca disse que se deviam comparar as dívidas de países diferentes dessa forma. O que disse foi que, no contexto nacional, não faz sentido congratularmo-nos pelo facto de o rácio dívida/pública descer quando o valor bruto da dívida nunca parou de subir. E insisto: é absolutamente pacóvio fazer semelhante exercício, até porque só favorece partidos como o PS. O rácio NUNCA pode ser dissociado do valor bruto da dívida.

Afonso de Portugal disse...

E até lhe faço o favor de explicar porque é que o rácio NUNCA pode ser dissociado do valor bruto da dívida. É que os ciclos económicos são como as marés, as recessões seguem-se inevitavelmente às expansões, tal como a maré baixa se segue à maré alta. É assim que o mundo funciona, queiramos ou não.

Por conseguinte, se a dívida nunca parar de crescer, de pouco servirá haver anos em que o rácio é jeitoso, porque se seguirão inevitavelmente períodos em que o rácio será desastroso. É que o PIB sobe e desce ao longo do tempo, enquanto a dívida só sobe.

Agora proponho-lhe um exercício: imagine o que nos teria acontecido se, aquando da crise das dívidas soberanas de 2009-2010, tivéssemos os níveis de endividamento actuais.

Anónimo disse...

«E até lhe faço o favor de explicar...»
Obrigado pelo generoso esbanjamento de tão elaborada ciência.
Qual é o seu blogue onde os leigos podem ter acesso a essa ciência?

Afonso de Portugal disse...

«Obrigado pelo generoso esbanjamento de tão elaborada ciência.»

Elaborada? Pelo contrário, é mero senso comum. Por exemplo, se o "anónimo" pedir um empréstimo avultado ao seu banco, não é pelo facto de o seu salário aumentar um bocadinho de vez em quando que a sua dívida irá baixar. O rácio dívida/salário terá diminuído, mas a dívida não.

A falácia em torno do rácio dívida pública/PIB é semelhante, com a agravante de que o (des)Governo está sempre a pedir novos empréstimos, embora a sua capacidade de pagar vá oscilando ao longo do tempo. O grande defeito do rácio dívida pública/PIB é que reduz a análise a uma janela temporal de poucos anos (na melhor das hipóteses), quando a dívida púbica deve ser planeada a décadas de distância, um pouco como as nossas dívidas pessoais aos bancos.


«Qual é o seu blogue onde os leigos podem ter acesso a essa ciência?»

Não tenho blogue. Para que é que eu quereria um blogue, quando posso andar aqui a irritar o (Im)Pertinente e aos seus "anónimos"? :)