Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

06/11/2024

Vitimizar e vitimizar-se são os verbos mais conjugados no Portugal dos Pequeninos

O modelo 5-D de Geert Hofstede (várias vezes citado neste blogue) inclui a dimensão feminilidade / masculinidade em que o Portugal dos Pequeninos obtém um score que o posiciona no sétimo lugar mais feminino nas cinco dezenas de países que foram estudados. Este estereotipo feminino (que existe, como existem os cromossomas sexuais X e XY), inclui a simpatia pelo desafortunado, a valorização da vítima e o ciúme pelo sucesso. Ocorreu-me esta epifania laica ao ler o artigo de opinião «República das “vítimas”» de Pedro Gomes Sanches do qual não resisto a citar o seguinte excerto:
«Se és “racia­lizado”, és vítima de racismo, se és mulher, és vítima de machismo, se és imigrante, és vítima de xenofobia, se não tens casa, és vítima do turismo, se não te identificas com o sexo com que nasceste, és vítima de transfobia, se gostas de alguém do mesmo sexo, és vítima de homofobia, se não tens bom desempenho escolar, és vítima da meritocracia, se vives, és vítima das alterações climáticas.

Sempre que se pergunta a uma destas “vítimas” por que não rompe com essa condição ouve-se a mesma resposta: a sociedade capitalista, liberal, branca e heteropatriarcal é opressora e não deixa.»

E, já que estou com a mão na massa, e a propósito do Dia Mundial do Cuidador Informal que se comemorou ontem, remeto para com um artigo com o saboroso título “De que vale ter o estatuto?” Cuidadores pedem que cuidem deles em que se dá voz aos 15 mil cuidadores recenseados pela Segurança Social que esperam eles próprios terem um cuidador formal que, como se adivinha, é o Estado sucial, afinal o cuidador em cujo colo quase todos os portugueses ambicionam acolher-se.

05/11/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (32)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.


Em retrospectiva: há sete anos o governo do Dr. Costa assinou um protocolo com o Dr. Basílio Horta, presidente da câmara de Sintra, um entre vários antigos cristãos-democratas convertidos às delícias do socialismo, para a construção do hospital de Sintra co-financiado pela câmara e o ministério das Finanças. O ano passado o ministro do SNS Dr. Pizarro anunciou a contratação de 600 profissionais. Sete anos depois o Dr. Basílio anunciou a inauguração do hospital com as obras por terminar, sem equipamento e sem os profissionais. (fonte) Uma nova tentativa de inauguração falhou devido a problemas de construção e de segurança só agora identificados.

Banco de Fomento é «torrar dinheiro em coisas que não valem pevide»

Recordemos que o Banco de Fomento sucedeu a um banco de fomento que fora privatizado por um governo PS, ressuscitado em 2018, só viu a luz do dia em 2021, depois de dois anos a ser anunciado pelo então ministro da Economia. E entre outros desastres desde a sua fundação em 2012 registou perdas de 124 milhões nas cerca de 300 startups em que participou. Desde então já teve mais de uma dezena de administradores e o ano passado mais dois que se demitiram por “cansaço”.

O Dr. Costa Silva, que foi ministro da Economia e tutelou o Banco de Fomento, vem agora informar-nos com quatro anos de atraso que «em Bruxelas não tinham muita confiança no Banco de Fomento».

Ele é uma autoridade em oportunidades perdidas

É difícil não concordar com o Dr. António Mendonça Mendes - afinal ele esteve 7 anos nos governos do Dr. Costa é um dirigente do PS há muitos anos e irmão de outra dirigente (lá está, a grande família socialista, sempre) - quando escreve que o OE 2025 é «um exercício assente numa visão de curto prazo, que gasta em termos de maior abundância e retira margem para responder a tempos de maior dificuldade. Uma oportunidade perdida. Os portugueses não o mereciam

«A educação é a nossa paixão»

A semana passada lembrei que entre as obras do Dr. Costa se destaca os desempenhos dos alunos medidos pelo PISA 2022 (Programme for International Student Assessment) que registaram quedas face a 2018 de 21 pontos em Matemática, 15 pontos em Leitura e 7 pontos em Ciências, quedas superiores à média dos países da OCDE em 41%, 54% e 249%, respectivamente. Faltou ilustrar o feito com este gráfico.

As empresas são todas iguais e umas são mais iguais do que outras

O ano passado tiveram benefícios fiscais 86 mil empresas e apenas 20 grupos empresariais (0,02 por cento do total) tiveram 16,5% do total.

04/11/2024

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Se o sectarismo em geral é uma estupidez, o sectarismo num partido liberal é uma estupidez indesculpável

«Ao contrário de outras ideologias, o liberalismo não é uma ideologia utópica. Também não aspira a criar um homem novo despido da sua natureza humana. É uma ideologia que aceita a imperfeição como algo inerente à realidade. O liberalismo não aspira a um mundo perfeito, aspira a um mundo cada vez melhor. A lógica de pensamento para o mundo e para o país deve aplicar-se também ao partido. O partido nunca será perfeito para ninguém, será sempre composto por pessoas diversas, com diferentes personalidades e motivações, algumas das quais incompatíveis entre si. Esperar o contrário é utópico e o caminho mais rápido para a desilusão e o conflito. Entender a natureza humana implica saber gerir e tolerar as suas imperfeições, especialmente aquelas que são agravadas pelo stress da prática política e exposição pública.

As eleições internas podem ser uma festa da democracia, contribuir para projetar uma imagem positiva da IL e do próprio liberalismo. As circunstâncias, a inexperiência e alguma imaturidade impediram que isso acontecesse da primeira vez. Temos agora uma segunda oportunidade. Não a podemos desperdiçar.»

Carlos Guimarães Pinto, escrevendo sobre o sectarismo do tipo esquerdismo infantil que infecta o Iniciativa Liberal

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Declaração de interesse: a relação que tenho com o IL resume-se a ter votado uma vez na sua lista antes da infecção pelo sectarismo. 

Crónica de um Governo de Passagem (25)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Em suma

«Montenegro cortou com a herança do Passismo e recolocou o PSD no centro político, roubando ao PS o papel de partido charneira do sistema. E, ao mesmo tempo, traçou uma linha divisória à sua direita, deixando claro a um certo eleitorado - que se preocupa com coisas como a alegada “ideologia de género” e a imigração dita descontrolada -, que só o voto na AD poderá mudar alguma coisa. Esta estratégia já estará a produzir resultados, tal como revelam as últimas sondagens. O que explica a necessidade que André Ventura teve de ir à televisão dizer que foi traído e enganado, como que dizendo aos seus correligionários que a sua estratégia só falhou porque do outro lado estava alguém que faltou à sua palavraEscreveu Filipe Alves e eu subscrevo.

Acrescento que tudo isto é óptimo para o futuro político do Dr. Montenegro e do PSD. Falta apenas o mais importante que são as mudanças indispensáveis para o futuro do Portugal dos Pequeninos.

Um Estado que cuida dos eleitores do “Partido do Estado”

Uma vez mais, o governo dá sinais para o eleitorado dos pensionistas garantindo que «estará disponível para fazer um aumento extraordinário das pensões, nomeadamente das mais baixas e para um aumento estrutural (?) das pensões».

Entretanto, segundo o CFP, a pesada carga fiscal assegurará um excedente de 0,6% superior ao previsto e o Dr. Sampaio que vive no interior do Dr. Montenegro declarou que há mais vida para além do orçamento: «o equilíbrio das contas não é o fim da nossa política». Vamos ver, no futuro não muito longínquo, o que resulta da concorrência entre o PS e o PSD para conquistar o voto dos velhotes.

Cativações deprimentes, inúteis e opacas

Quem assim as classificou foi a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) que considera as cativações «exemplos deprimentes da Administração Pública a trabalhar para si própria, inúteis para reprimir a despesa e opacas porque é impossível conhecer ex ante»

O crescimento é poucochinho

Negócios

O crescimento homólogo no 3.º trimestre foi 1,9% e em cadeia de 0,2% e, como o gráfico mostra, a tendência não é animadora. Ainda assim, graças ao aumento do consumo privado e apesar de um decréscimo do investimento. Imaginemos o que seria sem crescimentos do turismo superiores a 4% como se estão a verificar este ano.

Take Another Plan. Uma garantia preocupante e os “bafos” até ao final do ano

O ministro das Infraestruturas garantiu que a privatização da TAP «não será feita a qualquer custo». É uma garantia preocupante sabendo-se que o montante torrado na nacionalização da TAP ultrapassou até agora os três mil milhões de euros, o equivalente a nove meses de facturação e segundo o semanário referência a TAP será «bafejada com mais de €700 milhões até ao final do ano» que resultam da última tranche da pandemia e de um novo empréstimo obrigacionista de 343 milhões.

03/11/2024

Não são fascistas, são matarruanos (ou grunhos)

A esquerdalhada em geral, com a possível e ocasional excepção da esquerda inteligente, quando ouvem falar do Dr. Ventura ou do Chega fazem como a personagem do dramaturgo e poeta nazi Hanns Johst  que na peça Schlageter diz «quando ouço falar de cultura saco logo a minha arma», uma frase que com frequência é erradamente atribuída a Hermann Goering, Joseph Goebbels ou Heinrich Himmler.

No caso do Dr. Ventura ou do Chega, a esquerdalhada saca logo do insulto "fascista" ou "fascismo" e passa adiante. Este não é o caso da Dr.ª Clara Ferreira Alves que sua coluna da revista do semanário de reverência escreve esta semana um artigo (Ventura, nu e cru) onde depois de constatar que «para pertencer doutrinariamente a este clube (o clube da direita de Marine Le Pen ou Bardella, Giorgia Meloni, Viktor Orbán ou Geert Wilders) (...) Ventura e o Chega teriam de estudar história da Europa e história política», o que manifestamente não fizeram, e conclui (e eu com ela): 
«A resposta às democracias liberais terá muitas formas, mas nenhuma com as características de brutalidade verbal e ignorância histórica dos deputados do Chega, inebriados pelo resultado eleitoral que lhes deu um assento no Parlamento. Arruaceiros promovidos, sem ideologia, sem cultura, sem conhecimento, sem doutrina. Sem educação. Se Pacheco de Amorim, o ideólogo culto, pensa que os vai treinar e educar para reinar, pense outra vez. É refém de um grupo de matarruanos, e não foi isto que a extrema-direita portuguesa, com as filiações imperiais e salazaristas contra os desmandos da Primeira República, sonhou.»
Matarruanos ou grunhos, como o outro contribuinte escreveu. E não estou a falar dos eleitores que desses a maioria não são matarruanos, são ressabiados, desiludidos, desapontados, discriminados ou simplesmente desperdiçados, vulneráveis à banha-da-cobra que lhes é impingida. 

Estou já a escutar os protestos de uma direita que se considera inteligente e acredita que vale a pena seduzir uns matarruanos liderados por chico-espertos com muita lábia e poucos princípios, num expediente que em linguagem popular se costuma descrever como "se não se tem cão caça-se com gato". Voltarei um dia a este tema e por agora apenas recordo que um gato só caça ratos, passaritos, lagartixas e similares.

02/11/2024

As personae non gratae da clique putinesca continuam a sofrer da vertigem das alturas ou de envenenamento por novichok

Há duas semanas Mikhail Rogachev, antigo vice-presidente da empresa de energia Yukos, caiu de uma janela do 10.º andar de um edifício em Moscovo. Este ano foi o décimo russo da lista das personae non gratae da clique putinesca morto em circunstâncias suspeitas. Segundo estas contagens de mortes suspeitas, em 2022 foram 27 e em 2023 foram 25.

É altamente provável que estas contagens não incluam todas as mortes aparentemente encomendadas pela clique putinesca. Por exemplo as mortes da jornalista Inessa Papernaya, do seu noivo Maxim Radchenko e do empresário uzbeque Khushnud Udekov ocorridas mais ou menos na mesma altura de Rogachev não estão na referida contagem.

Conta-se como anedota que os actuários italianos do ramo Vida conseguem prever com uma razoável precisão o número de mortes na Sicília e os que pertencem à Mafia vão mais longe e prevêem com total precisão quem serão os mortos. Poderia dizer-se o mesmo das previsões dos actuários do Федеральная служба безопасности Российской Федерации das mortes no grupo das personae non gratae da clique putinesca.

01/11/2024

Black Nationalist Gets $20 Million to Promote ‘Segregation’ (and racism) in Public Schools with donations from the government and nonprofits, including the Gates Foundation


«An adviser to Pennsylvania governor Josh Shapiro, who supports school segregation and is a member of the Black Panther Party with family ties to Iran, runs a nonprofit that has raked in nearly $20 million in donations from the government and nonprofits, including the Gates Foundation.

Sharif El-Mekki, a former middle and high school teacher and principal, founded the Center for Black Educator Development (CBED) in 2019, which defines its vision as “a world where. . . all black students are taught by high-quality, same-race teachers,” and where “all teachers demonstrate high levels of expertise in anti-racist mindsets.” CBED argues that employing black teachers to educate black students increases educational outcomes.

Since its founding, CBED has trained thousands of teachers across the U.S. in “education activism,” urging a “commitment to liberation education from the racism inherent in America’s institutions, including our schools.” A CBED information packet titled “The Anti-Racist Guide to Teacher Retention,” developed with the Pennsylvania Department of Education, defines education as “a political act” that “can upend white supremacy and a racist history of using education as an oppressive social force.” 

“Every lesson plan is a political document, and every classroom interaction a political statement,” the guide reads. 

El-Mekki’s nonprofit boasts more than $19.5 million in assets, boosted by funders including the Bill & Melinda Gates Foundation, which donated over $1.4 million between 2020 and 2021, and the Silicon Valley Community Foundation, which gave over $1.1 million in 2022, according to public tax filings. Other backers include NBC Universal, Nike, the Bezos Family Foundation, the University of Pennsylvania School of Education, and dozens more. In 2023 alone, CBED trained more than 1,700 educators. In their most recent tax filing from 2023, El-Mekki drew a salary of $233,410 from the organization.

“He started up this organization, which on paper sounds like a really wonderful endeavor, getting more black teachers in the classroom,” said Dr. Mika Hackner, a senior research associate at the Jewish Institute for Liberal Values, which drafted a report on El-Mekki’s extremist views and activism that she shared with The Free Press. “But if you scratch beneath the surface—not even beneath the surface, it’s on their website—he’s propagating some pretty dangerous and divisive ideas.” 

El-Mekki, she added, is “bringing in segregation by a different and more socially and politically acceptable name.” »

Francesca Block in The Free Press newsletter

31/10/2024

A defesa dos centros de decisão nacional (32) - Saltando de colo em colo

[Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13), (14), (15), (16), (17), (18), (19), (20), (21), (22), (23), (24), (25), (26), (27), (28), (29), (30) e (31)]

Recordemos, uma vez mais, os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas e as inúmeras declarações no mesmo sentido da esquerdalhada em geral. Recordemos também que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela  descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses.

A venda pelos empresários portugueses das suas empresas tem sido uma das consequências da descapitalização (outra é a baixa produtividade). Os empresários que num dia lamentavam a perda de controlo das empresas, no dia seguinte assinavam um manifesto sobre os centros de decisão e pelo caminho corriam a vender as suas empresas. E assim se foram os bancos, as seguradoras quase todas e uma boa parte da indústria.

Chegou agora a vez da COINDU, uma empresa familiar fundada em 1988 com 183 trabalhadores para fabricar capas para assentos de automóveis, que hoje tem 3.800 trabalhadores em 4 fábricas, duas delas no estrangeiro (Roménia e México), e factura 250 milhões de euros. Uma posição maioritária de controlo da COINDU foi agora comprada pela Matroto Spa, outra empresa familiar italiana com menos trabalhadores (2.300) e facturando não muito mais (364 milhões).

Porquê uma empresa aparentemente bem sucedida é vendida a outra quase da mesma dimensão? A resposta simples é que o sucesso é apenas aparente. Em 2021 a COINDU foi alvo de um ciberataque que a paralisou alguns dias. Antes disso, em 2009 já tinha passado por dificuldades e chegou a admitir um despedimento colectivo, que no ano passado se tornou efectivo e já este ano foi repetido

Como seria de esperar, não obstante todos estes sinais, em 2021, quando já era claros os problemas, o Dr. Siza Vieira (sim, o mesmo da nacionalização da EFACEC) numa visita  apresentou-a como «modelo a seguir pelo tecido empresarial português» e no ano seguinte o presidente da câmara de Famalicão, uma personalidade local do PSD, apresentou-a como um exemplo da “Indústria 5.0”. O colo do Estado sucial não lhe serviu de nada e teve de saltar para um colo empresarial italiano. Good luck with that.