Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

17/12/2025

CASE STUDY: The ideological brain of Steve Bannon, the Rasputin of MAGA

The other day, I saw the interview with Steve Bannon, who, in the words of The Economist magazine, is "the former chief strategist of the White House whose worldview contradicts that of The Economist. He is a populist nationalist" and the Rasputin of MAGA, as he himself does not deny in the interview. 

The Economist justifies the interview because «it is classically liberal. But liberalism demands dialogue with those who oppose it. And as liberal values retreat worldwide, understanding Mr Bannon’s ideas—which have animated many people on both sides of the Atlantic—has become essential». Given his ideas, which are quite clear in the interview, it is unlikely that Steve Bannon would have interviewed Zanny Minton Beddoes, the editor-in-chief of The Economist, on her podcast, War Room.

What emerges very clearly from the interview is that MAGA is irremediably divided between the populist nationalist faction and the ideas of techno-archs like the "éminence grise" Peter Thiel - as I once anticipated in the post Another Brick in the Wall.

Coincidentally, I had read "The Ideological Brain" some time earlier, whose central conclusion is that ideologies change our brains, creating "ideological brains" rigid and resistant to new evidence. It occurred to me that the author Leor Zmigrod, a political psychologist and neuroscientist, could very well use Steve Bannon as a case study for her research.

16/12/2025

Crónica da passagem de um governo (28)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
O Dr. Montenegro tem uma estratégia de crescimento (dos salários)

O Dr. Montenegro não faz reformas no que se equivale ao Dr. Costa, que dizia fugir delas como diabo da cruz. Substituiu as reformas pelas promessas, correndo o risco de superar o Dr. Costa e avança com salários mínimos de 1.600 euros e salários médios de 3.000 euros (equivalentes a 42 mil euros por ano) até ao fim da legislatura. É claro que primeiro objectivo depende só do governo (já que a oposição não teria coragem de votar contra) e implicaria uma hecatombe das micro e pequenas empresas incapazes de pagar tais salários. Quanto ao segundo objectivo, podia ter garantido salários médios de 5.000 ou 6.000 euros que viria a dar no mesmo. O Dr. Montenegro não se deu à maçada de nos explicar como seria possível pagar tais salários com a produtividade portuguesa.

Os 1.600 do Dr. Montenegro são 1.100 euros para o Dr. Sarmento

O Dr. Sarmento, que não tem a desculpa do défice de numeracia, ficou calado perante as veleidades do Dr. Montenegro, veio repor as coisas num plano mais realista em Bruxelas, declarando que os aumentos dos salários só seriam possíveis com o aumento da produtividade e corrigiu os 1.600 euros para «1.100 euros até ao final da legislatura».
 
Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Não sabemos se os portugueses têm razões para confiar no SNS, mas quem não tem de certeza são os 227 laboratórios (23% do total) que deixaram de fazer análises para o SNS por não estarem disponíveis a receber os preços de há mais de dez anos.

Canários na mina de carvão

Em Outubro, as exportações e as importações de bens caíram em termos homólogos 5,2% e 3%, respectivamente, e o défice da balança comercial de bens aumentou 77 milhões de euros. (fonte)

Da discussão em termos ideológicos não nasce a luz, nasce a escuridão

De um lado, a esquerda defende que não deve haver restrições à entrada de imigrantes. De outro a direita defende que os imigrantes só podem ser aceites se forem capazes de cantar o hino nacional (isto é uma boutade, certo?). Da adopção do credo dos primeiros resultaria a breve trecho uma guerra civil (isto é uma boutade, certo?). Da adoptação do credo dos segundos resultaria o fecho do turismo com 25% de imigrantes e no geral a paralisação da economia e a falência antecipada da segurança social com os seus 1,7 milhões de imigrantes que representaram mais de 1/3 dos contribuintes e receberam de 6% das prestações sociais (fonte).

15/12/2025

A economia do pastel de nata tem o melhor desempenho este ano? (2)

Continuação de (1)

O governo, o coro da comentadoria e até os jornalistas de causas, que nestas coisas patrióticas alinham com os governos que detestam, saudaram efusivamente o primeiro lugar da economia portuguesa no ranking da Economist. Contra a corrente, o (Im)pertinências não embandeirou em arco e tentou colocar o feito no seu humilde lugar. Desde então, ao longo da semana passada, algumas outras vozes cépticas atenuaram o nosso sentimento de solidão.

Começo por Óscar Afonso que no jornal Sol (sem link) publicou um artigo cujo título, só por si, diz quase tudo - O IgNobel da Economia vai para ... Portugal em 1.º segundo a The Economist.  

Continuo com o economista José Paulo Soares, que no seu As sweet as a pastel de nata considera  «enternecedor o bacoquismo patriótico» do coro de celebrantes e salienta que nos indicadores fundamentais (produtividade do trabalho e PIB per capita) as coisas não melhoraram, como até pioraram, como aqui escrevi a semana passada.

No mesmo sentido, com mais contenção, escreveram Daniel Bessa (A melhor economia do ano) e João Duque (A economia do pastel de nata).

14/12/2025

NOVA ENTRADA PARA O GLOSSÁRIO DAS IMPERTINÊNCIAS: Greve geral

Greve geral (sindicalês)

Uma greve de muitos empregados do Estado, cujos "direitos" não são afectados, e de alguns trabalhadores de empresas privadas, convocada quando o governo não é de esquerda, por sindicatos que representam menos de um sexto dos trabalhadores e reclamam ter mobilizado quatro quintos dos trabalhadores.

Exemplo:  

A "greve geral" do dia 11 de Dezembro de 2025 que os sindicatos reclamam ter envolvido 80% dos trabalhadores, o governo reclama ter sido uma minoria insignificante e a confederação patronal alega ter envolvido 2 a 3%, "greve geral" que comprovadamente fechou quase todas as escolas, muitos serviços públicos, a maioria dos transportes públicos do Estado, 100 das 4.500 agências bancárias, 20% dos correios e que, em vez de uma redução do consumo de electricidade de 10% a 25% habitual nos dias de greve geral, teve como consequência um insólito aumento de 6% do consumo de electricidade entre as 0H e as 17H, em relação ao dia anterior. 

13/12/2025

Birds of a Feather Flock Together (9) - Besides sharing the same feather, these birds have a large bird as a common enemy

The Moscow Times

Blinded by his gigantic ego and deluded by past, present, and, he believes, future dealings, the Big, Beautiful Bird has not yet realized that.

12/12/2025

LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: Vamos todos fingir que o problema não existe? Sim, vamos (12) - A leveza insustentável do sistema público de pensões (VIII)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10) e (11)

Os mídia e as eminências do regime inundaram o espaço mediático com a conclusão da Economist de que a economia do pastel de nata teve o melhor desempenho este ano, conclusão baseada em cinco indicadores de escolha questionável com uma ponderação que não foi divulgada, incluindo dois indicadores que beneficiaram da comparação com valores excepcionais no ano de 2024.


Compreensivelmente, concluiria Eduardo Lourenço se ainda fosse vivo, não me dei conta que os mesmos mídia e as mesmas eminências tivessem feito quaisquer referências ao artigo da mesma Economist European pensions are in dire need of reformpublicado seis dias antes, sobre os sistemas europeus de pensões, de onde extraí o diagrama acima que mostra o sistema de pensões português no segundo lugar da UE em termos de agravamento previsto da dependência dos cada vez mais pensionistas de cada vez de menos trabalhadores.

Num eventual novo post tratarei de outros aspectos também com base no estudo da OCDE Pensions at a Glance 2025.

(Continua)

10/12/2025

O MEGA do MAGA (1)

Com a publicação da National Security Strategy, a administração Trump introduziu alterações significativas na doutrina de defesa nacional do EUA. O documento publicado há dias merece uma leitura atenta e uma análise séria, resistindo ao estilo paternalista relativamente aos outros Estados e aqui e ali aos sinais da personalidade patologicamente narcisista de Donald Trump.  

Vou dedicar alguns posts a comentar essa doutrina, em particular, nos seus impactos directos sobre a Europa, ou melhor, sobre o conjunto de países que constituem a União Europeia. Começo por transcrever uma tradução automática do capítulo dedicado à Europa.
 
«C. Promoção da Grandeza Europeia

Os responsáveis americanos habituaram-se a pensar nos problemas europeus em termos de despesas militares insuficientes e estagnação económica. Há verdade nisto, mas os verdadeiros problemas da Europa são ainda mais profundos. 

A Europa Continental tem vindo a perder quota do PIB global — de 25 por cento em 1990 para 14 por cento atualmente — em parte devido a regulamentações nacionais e transnacionais que minam a criatividade e a diligência.

Mas este declínio económico é eclipsado pela perspetiva real e mais evidente do apagamento civilizacional. As questões maiores que a Europa enfrenta incluem atividades da União Europeia e de outros organismos transnacionais que minam a liberdade e soberania políticas, políticas migratórias que estão a transformar o continente e a criar conflitos, censura da liberdade de expressão e supressão da oposição política, queda das taxas de natalidade e perda de identidades e autoconfiança nacionais.

Se as tendências atuais continuarem, o continente será irreconhecível dentro de 20 anos ou menos. Assim, está longe de ser óbvio se certos países europeus terão economias e exércitos suficientemente fortes para permanecerem aliados fiáveis. Muitas destas nações estão atualmente a redobrar o seu caminho atual. Queremos que a Europa continue europeia, que recupere a sua autoconfiança civilizacional e que abandone o seu foco falhado na sufocação regulatória.

Esta falta de autoconfiança é mais evidente na relação da Europa com a Rússia. Os aliados europeus beneficiam de uma vantagem significativa de poder duro sobre a Rússia em quase todos os critérios, exceto armas nucleares. Como resultado da guerra da Rússia na Ucrânia, as relações europeias com a Rússia estão agora profundamente atenuadas, e muitos europeus consideram a Rússia uma ameaça existencial. Gerir as relações europeias com a Rússia exigirá um envolvimento diplomático significativo dos EUA, tanto para restabelecer condições de estabilidade estratégica em toda a massa terrestre eurasiática, como para mitigar o risco de conflito entre a Rússia e os Estados europeus.

É do interesse central dos Estados Unidos negociar uma cessação rápida das hostilidades na Ucrânia, de modo a estabilizar as economias europeias, evitar escalada ou expansão não intencional da guerra e restabelecer a estabilidade estratégica com a Rússia, bem como permitir a reconstrução pós-hostilidades da Ucrânia para garantir a sua sobrevivência como Estado viável. 

A Guerra da Ucrânia teve o efeito perverso de aumentar as dependências externas da Europa, especialmente da Alemanha. Hoje, empresas químicas alemãs estão a construir algumas das maiores fábricas de processamento do mundo na China, utilizando gás russo que não conseguem obter em casa. A Administração Trump encontra-se em desacordo com os responsáveis europeus que têm expectativas irrealistas para a guerra, situadas em governos minoritários instáveis, muitos dos quais pisam princípios básicos da democracia para suprimir a oposição. Uma grande maioria europeia quer paz, mas esse desejo não se traduz em política, em grande parte devido à subversão do processo democrático por parte desses governos. Isto é estrategicamente importante para os Estados Unidos precisamente porque os estados europeus não podem reformar-se se estiverem presos numa crise política.

No entanto, a Europa continua a ser estrategicamente e culturalmente vital para os Estados Unidos. O comércio transatlântico continua a ser um dos pilares da economia global e da prosperidade americana. Os setores europeus, desde a indústria transformadora à tecnologia e à energia, continuam a estar entre os mais robustos do mundo. A Europa alberga investigação científica de ponta e instituições culturais de referência mundial. Não só não podemos dar ao luxo de descartar a Europa — fazê-lo seria contraproducente para o que esta estratégia pretende alcançar.

A diplomacia americana deve continuar a defender a democracia genuína, a liberdade de expressão e as celebrações sem desculpas do carácter e da história individual das nações europeias. A América incentiva os seus aliados políticos na Europa a promover este renascimento do espírito, e a crescente influência dos partidos patrióticos europeus dá, de facto, motivos para grande otimismo.

O nosso objetivo deve ser ajudar a Europa a corrigir a sua trajetória atual. Precisaremos de uma Europa forte para nos ajudar a competir com sucesso e para trabalhar em conjunto connosco para evitar que qualquer adversário domine a Europa.

A América está, compreensivelmente, sentimentalmente ligada ao continente europeu — e, claro, à Grã-Bretanha e à Irlanda. O carácter destes países é também estrategicamente importante porque contamos com aliados criativos, capazes, confiantes e democráticos para estabelecer condições de estabilidade e segurança. Queremos trabalhar com países alinhados que querem restaurar a sua antiga grandeza.

A longo prazo, é mais do que plausível que, dentro de algumas décadas, no máximo, certos membros da NATO se tornem maioritariamente não europeus. Assim, é uma questão em aberto se verão o seu lugar no mundo, ou a sua aliança com os Estados Unidos, da mesma forma que aqueles que assinaram a carta da NATO.

A nossa política geral para a Europa deve dar prioridade:

• Restabelecer condições de estabilidade na Europa e estabilidade estratégica com a Rússia;
 • Permitir que a Europa se mantenha de pé por si própria e opere como um grupo de nações soberanas alinhadas, incluindo assumindo a responsabilidade principal pela sua própria defesa, sem ser dominada por qualquer potência adversária;
 • Cultivar resistência à trajetória atual da Europa dentro das nações europeias; 
• Abrir os mercados europeus aos bens e serviços dos EUA e garantir um tratamento justo dos trabalhadores e empresas norte-americanas; 
• Fortalecer as nações saudáveis da Europa Central, Oriental e do Sul através de laços comerciais, venda de armas, colaboração política e intercâmbios culturais e educativos; 
• Acabar com a perceção e impedir a realidade da NATO como uma aliança em constante expansão; e
 • Incentivar a Europa a agir para combater a sobrecapacidade mercantilista, o roubo tecnológico, a ciberespionagem e outras práticas económicas hostis.»

(Continua)