Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

28/10/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (75)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Take Another Plan. SATA, uma TAP das Ilhas

Recordemos que a SATA, a companhia regional de aviação dos Açores, assinou em 2016 um contrato de leasing de um avião Airbus A330 que custou até 2023 mais de 40 milhões de euros, com o avião estacionado desde 2019 no aeroporto Sá Carneiro, por custar mais caro mantê-lo a operar. Entretanto, a SATA recebeu ajudas de 453 milhões de euros e só em 2023 a comissão de inquérito do parlamento açoriano se deu conta. Descobriu-se mais tarde que a SATA estava tecnicamente falida, ninguém parece saber qual o montante exacto do passivo e procura-se um candidato privado para comprar o mono, querendo dizer um benemérito que, como é sabido, fora do Estado sucial é coisa que não existe.

Fast forward, dois anos depois o processo de privatização continua sem candidatos e a Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo, preocupada porque o fecho da Azores Airlines do grupo SATA pode ter um impacto de cerca de 1,27 mil milhões de euros, montante equivalente a um quarto do PIB da RAA, e a perda direta de 815 empregos. A Câmara que considera a privatização a «única via possível para salvar a companhia» está equivocada porque a salvação desta companhia só pode ser feita com dinheiro dos contribuintes. A dúvida é se, e qual, a outra companhia pode fazer do tráfego aéreo para os Açores um negócio, isto é uma empresa paga pelos seus clientes.

Take Another Plan. TAP uma SATA do Continente

O Tribunal Constitucional confirmou a interpretação do Supremo Tribunal de Justiça e dois mil tripulantes com contratos a prazo desde 2006 cancelados, muitos deles durante o processo de reestruturação da TAP em 2022, em que foram torrados mais de três mil milhões de euros, poderão reclamar os retroactivos estimados em 300 milhões de euros (fonte).

Sequelas de oito anos de governação do Dr. Costa

mais liberdade

Os dois gráficos acima mostram os resultados do ensino doutrinário e da autoestrada mexicana do investimento público socialista.

O mito do alojamento local como culpado da falta de habitação

Passando ao lado da queda abissal das novas construções, o alojamento local foi um dos três pilares da tese oficial da esquerdalhada para justificar o aumento do preço das casas e dos arrendamentos – os outros dois foram o clássico da especulação dos senhorios e a compra de habitação pelos estrangeiros. Afinal, em resultado do «processo de limpeza dos registos inativos de alojamento local decorre há cerca de cinco meses» concluiu-se que actualmente cerca de 40 mil dos cerca de 125 mil alojamentos locais só existem no papel.

27/10/2025

Javier Milei ganhou uma batalha. Ganhar a guerra é outra coisa e, a ser possível, levará algum tempo

Para uma criatura com instintos liberais, como este vosso escriba, é natural ver com simpatia os esforços de Javier Milei para pôr em prática políticas visando emagrecer o Estado dinossáurico argentino e dar aos argentinos liberdade para viverem as suas vidas sem o jugo de uma "casta" extractiva.

Como sempre, os problemas na política não são só, nem principalmente, os fins, são também os meios e os estilos. Qualquer um poderia concordar com o essencial dos propósitos declarados da maioria das organizações políticas, já quanto aos caminhos para os atingir, a coisa fia mais fino.

Esquecendo o estilo que apela perigosamente ao simplismo e à irracionalidade, esses caminhos também no caso do actual presidente argentino estão longe de ser inquestionáveis, como mostram os exemplos aqui citados: a promoção de uma criptomoeda duvidosa que foi um fiasco, as suspeitas de corrupção da sua irmã e do principal candidato que veio a renunciar. Podia acrescentar, com grande ira dos devotos do Sr. Trump, deixar-se apropriar pela direita populista iliberal e em particular pelo trumpismo, com quem tem pouco em comum e a quem foi esmolar um swap cambial de 20 mil milhões para apoiar o peso.

Ainda assim, sendo a política a arte do possível, Milei merece o apoio dos democratas liberais.

Crónica da passagem de um governo (21)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Take Another Plan. Vai ser preciso escolher entre uma TAP viável e manter um marsúpio subsidiado

Não se sabe se o governo do Dr. Montenegro já se deu conta de que, com toda a probabilidade, nenhum grande operador internacional comprará a TAP sem garantias de que a poderá governar ou para manter o marsúpio com o ventre cheio de utentes. Por exemplo, um dos potenciais interessados o Grupo IAG (British Airways, Iberia, Vueling, AerLingus e Level) que comprou a Iberia – a TAP espanhola – e, depois das greves do costume, «Willie Walsh o CEO do IAG, pôs a Iberia perante o dilema receber o investimento necessário para a recuperação ou falir. O Estado Espanhol fica de fora de conflito empresarial» (ver aqui a estória contada por Sérgio Palma Brito).

Com outros interessados, como a Lufthansa, poderá haver algumas nuances, porém, os princípios básicos manter-se-ão porque quem compra sabe que vai ter de sobreviver num mercado muito concorrencial – a não ser que o Dr. Montenegro queira continuar a extorquir os contribuintes portugueses para pagar a factura de manter no ar o dinossauro.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro», seguido de Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Um excelente exemplo de como o SNS se afunda cada vez mais quanto mais dinheiro lhe despejam e mais “profissionais” lá estacionam, é o caso das “cirurgias adicionais” que se transformou num expediente para aumentar a produção “adicional” e que nalguns hospitais representa quase metade do total, tornando o aumento das listas de espera uma oportunidade de negócio para cirurgiões que dão prioridade às cirurgias mais simples e lucrativas, como explica o médico Luís Teixeira.

A meritocracia do Estado sucial é uma espécie de caquistocracia

Para quem não saiba ou não se lembre, a CReSAP é uma entidade que avalia os candidatos a nomeações para cargos públicos. Criada pelo governo de Passos Coelho, foi completamente ignorada pelos governos do Dr. Costa com os resultados que se viram de colocação de gente incompetente ou corrupta ou com ambas as características.

O Dr. Montenegro ressuscitou a CReSAP, e bem, mas persiste um outro pequeno problema. Recentemente, na falta de candidatos com mérito reconhecido, o governo nomeou para a Direção-Geral das Autarquias Locais um candidato que já tinha sido previamente nomeado em regime de comissão de serviço, usando o expediente dos governos socialistas. O mesmo voltou agora a acontecer com a nomeação para a Unidade dos Grandes Contribuintes da AT do director-adjunto, uma vez mais por falta de «candidatos com mérito». E por que faltam candidatos com mérito? Ora, por que haveria de ser? Porque na vaca marsupial pública em que se transformou o Estado sucial o mérito é na melhor hipótese supérfluo, ou na pior inconveniente.

Grão a grão enche a galinha o papo

Em boa verdade, é muito mais do que um grão, são 3,2 mil milhões de euros (dos quais 2,4 mil milhões do sector público) do aumento para 857 mil milhões de euros do endividamento da economia (dívida total das famílias, Estado e empresas não financeiras).

Não há vida para além do orçamento

Se acreditamos nas previsões do Conselho das Finanças Públicas (CFP) - há melhores razões para isso do que acreditar nas do governo -, o excedente de 2026 será de 0,1% do PIB e não de 0,3% como prevê o governo, ou seja, menos 2,3 mil milhões de euros. Já a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) vai mais longe e prevê um equilíbrio receitas-despesas devido ao “estímulo orçamental” de 5% do PIB e alerta para os riscos, nomeadamente das tensões geopolíticas e do impacto das “tarifas” do Dr. Trump.

26/10/2025

Javier Milei's troubles. Do as I say, not as I do

«Mr Milei’s economic team is in Washington, trying to hash out the details of the bail-out and buy some calm. Yet even if they can navigate American politics, the Argentine variety may swamp them. A serious loss in the midterms would all but end Mr Milei’s radical economic reform programme.

The coming weeks will be tough. Voters consider Mr Milei’s success in pulling down inflation to be old news. Corruption allegations and the gyrations of the peso dominate the headlines. It is still—just—possible that Mr Milei could emerge after the elections with markets calmed and his political hand strengthened. But he needs to make it to October 26th without more exchange-rate chaos, and then win enough seats in Congress to convince markets that his reform project is still alive. (...)

Then Mr Milei needs to win, or at least take enough seats to allow him to defend his presidential veto. But his electoral strategy is in trouble. His dogmatism has alienated powerful provincial governors. He came to power in 2023 raging against “la casta”, the corrupt political elite. “I’m hungry for the whole caste,” he roared again during his concert. And yet he has been hit by three big corruption scandals this year.

The first was over his promotion of a dodgy cryptocurrency that soon collapsed in value. Then, in August, leaked audio messages led to allegations that his sister was taking kickbacks from purchases of medicine by the state disability agency. The latest blow was on October 5th, when José Luis Espert, the leading candidate of Mr Milei’s party in Buenos Aires, whose face is already on the ballot papers, stood down. He admitted to receiving $200,000 from a man indicted in the United States for drug-trafficking, but says it was for legitimate consulting work. In all three cases those involved deny wrongdoing.

Curbing rampant inflation is the other pillar of Mr Milei’s pitch. Fast-rising prices used to be voters’ biggest worry, but unfortunately for him they have moved on, and now corruption tops the list. That inflation concerns have ebbed is a testimony to Mr Milei’s success, but he has failed to pivot to other issues. An overvalued peso helped to curb price growth, but propping it up has both hurt employment and exacerbated the exchange-rate crisis. Now more voters worry about jobs than inflation.

Polling suggests Mr Milei’s party still has a chance. But momentum is against it. He will need more than rock concerts to turn things around.»

The Argentine peso, and Javier Milei, are in trouble

25/10/2025

Em memória de Nuno Crato, um ministro da Educação que não sofreu de lunatismo doutrinário

Há poucos dias, num artigo do Observador, Isabel Hormigo, uma adjunta de Nuno Crato, ex-ministro da Educação do governo de Passos Coelho, citou Philippe Aghion, prémio Nobel da Economia, que num debate recente no BFM Business - o canal francês de economia e negócios com maior audiência -, fez uma entusiástica apreciação positiva das políticas adoptadas por Nuno Crato entre 2011 e 2015. 

Não fiquei surpreendido por essa apreciação e ainda menos pelos mídia portugueses não terem dado qualquer relevância às declarações de Philippe Aghion sobre Nuno Crato, ainda hoje, decorridos dez anos, uma bête noir nos meios académicos e educacionais infectados pelo politicamente correcto.

Aqui no (Im)pertinências não foi preciso um Nobel mostrar apreciação pelo trabalho de Nuno Crato para relevarmos a sua acção no governo "neoliberal" dedicando-lhe duas dezenas de posts entre os quais saliento este a propósito dos resultados dos testes de PISA e este outro propósito dos rankings das escolas secundárias.

24/10/2025

Put the Blame on Mame. The rise of the boo-reaucrats (some of them are begging autocrats)

«(...) The ritual scapegoating of the European Union, a foggy realm of incomprehensible acronyms, is the oldest trick in modern continental politics. Aren’t “Brussels” the unaccountable lot who regulate industry into an early grave, badger governments about their debt levels, then give Trumpians whatever they want on trade? Treating the EU as a ghoulish bogeyman has been somewhat in abeyance ever since Britain overdosed on the idea, much to its cost. But the old spirit is haunting Europe once again. A look at the upcoming political agenda suggests that a lot more Brussels-bashing may soon be upon us. Boo! (...)

For that is the really spooky thing about Brussels-bashing. Politicians decry decisions made by the EU as if they were edicts handed down by some foreign power. But given that national governments form the backbone of the EU, “blaming Brussels” is akin to a ventriloquist haranguing his own puppet for being foul-mouthed. In truth many of the continent’s thorniest challenges, from succouring Ukraine to cutting carbon emissions and dealing with Mr Trump, can now only be handled at the level of 27 countries at least trying to act as one. That is a scary thought for many politicians. Heaping blame on the ghosts found in a drizzly Belgian city is more comfortable than looking closer to home.»

“Brussels” is the phantom menace Europe loves to blame

23/10/2025

Ser de esquerda é... (32) - ... imaginar que o Palácio de Belém do Portugal dos Pequeninos é o topos das "utopias concretas"

O topos das "utopias concretas"

O LIVRE, «o espaço político da esquerda ecologista, progressista, europeísta, regionalista e libertária», uma espécie de Bloco de Esquerda sedado, sob a liderança do Prof. Rui Tavares, uma espécie de Prof. Louçã praticando um tele-evangelismo suave, decidiu apoiar o deputado pelo Porto Dr. Jorge Pinto na sua candidatura à presidência da República, mais concretamente da II República, cujos «ideais, princípios, valores, estão sob ataque» com vista a «continuar a contribuir para que o LIVRE continue a ser o partido das utopias concretas».

O Dr. Jorge Pinto é «Doutor em filosofia social e política, com uma tese sobre republicanismo, ecologia e pós-produtivismo». (fonte)


Outros "Ser de esquerda é..."

22/10/2025

CASE STUDY: O que nos diz o ranking das escolas de ensino secundário (3)

Continuação de (1) e (2)
No primeiro post chegámos a duas conclusões: os resultados das escolas privadas são claramente melhores em 2,14 pontos (= 13,50-11,36) e há tendência das piores escolas "compensarem" os seus alunos com uma avaliação menos exigente (a diferença entre as médias de exame e as notas internas de exame é 1,21 pontos nas melhores e 4,90 pontos nas piores).

No segundo post concluímos que escolas privadas aparentam ter maior heterogeneidade do que as escolas públicas, isto é, coexistem alunos muito bons com alunos fracos ou medíocres e que a relação entre notas de exame e notas internas é claramente mais fraca no caso das escolas públicas.

Vejamos agora no ângulo da localização das escolas se podem ser identificadas relações com o aproveitamento escolar. No quadro seguinte as escolas estão segmentadas em três grandes regiões: os concelhos puramente urbanos de Lisboa e Porto, com níveis de rendimento médio e educacional mais elevados, e os restantes concelhos. 


Em todas as regiões as escolas privadas têm um melhor desempenho e uma menor diferença entre notas internas e notas de exame. Nas escolas privadas do concelho de Lisboa essa diferença (0,96) é claramente muito inferior, menos de metade das escolas privadas do Porto (2,19) e dos outros concelhos (2,45), sugerindo uma necessidade muito menor de "compensação" dos alunos. Diferentemente, nas escolas privadas do Porto a diferença entre notas internas e notas de exame é mais do dobro da diferença em Lisboa (2,19 contra 0,96) e está próxima dos outros concelhos.   

Nas escolas públicas o factor regional não parece ter influência significativa nas notas de exames que variam entre si apenas umas décimas, sugerindo um nivelamento por baixo.  

No quadro seguinte registam-se os desvios-padrão das notas de exame e das notas internas para os mesmos concelhos.   


Os desvios-padrão das notas internas muito mais baixos do que os desvios-padrão das notas de exame em todos os concelhos sugerem que todas as escolas, independentemente do seu estatuto e da sua localização, tendem a "alizar" as notas que atribuem aos seus alunos.
    
No concelho de Lisboa o desvio-padrão mais baixo, quer das notas de exame (1,41) e quer das notas internas (0,49), sugere que o aproveitamento nas escolas privadas tem uma menor heterogeneidade nesse concelho. Nas escolas públicas dos outros concelhos destaca-se o desvio-padrão claramente inferior (1,04) ao de Lisboa (1,62) e do Porto (1,54), confirmando um nivelamento por baixo do ensino público na maioria dos concelhos.