Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

18/11/2025

Os equívocos do Programa "Mais Habitação", ou como tentar administrar uma medicação sem saber qual é a doença (14) - Adam Smith de 1776 em vez da verborreia ideológica

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12) e (13)

mais liberdade

«Quando a quantidade de qualquer mercadoria que chega ao mercado é inferior à procura efectiva, todos aqueles que estão dispostos a pagar o valor total da renda, dos salários e do lucro necessários para que ela chegue ao mercado, não podem obter a quantidade desejada. Em vez de ficarem sem nada, alguns estarão dispostos a pagar mais. Imediatamente, começará uma competição entre eles, e o preço de mercado subirá mais ou menos acima do preço natural, conforme a magnitude da escassez ou a riqueza e o luxo desenfreado dos concorrentes estimulem, em maior ou menor grau, o fervor da competição. Entre concorrentes de igual riqueza e luxo, a mesma escassez geralmente ocasionará uma competição mais ou menos acirrada, conforme a aquisição da mercadoria seja mais ou menos importante para eles. Daí o preço exorbitante dos bens de primeira necessidade durante o bloqueio de uma cidade ou em tempos de fome.»

Adam Smith, An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations - The Wealth of Nations - Book I - Chapter VII

17/11/2025

Crónica da passagem de um governo (24)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Tanto barulho para nada. A única coisa notável na “reforma” da legislação laboral é a greve geral

Posso estar equivocado, mas não encontro nas alterações que o governo pretende aprovar nada que afecte significativamente o funcionamento do mercado de trabalho – supondo que tal coisa existe – ou os direitos dos trabalhadores, para utilizar o patuá sindical. Em consequência, não creio que essas alterações tenham efeitos visíveis na “flexibilização” e ainda menos impactos na eficiência das empresas e na produtividade do trabalho.

A greve geral é tanto mais despropositada quanto, segundo o INE, o aumento homólogo no 3.º trimestre da remuneração bruta total mensal média por trabalhador atingiu 5,3% e em termos reais, descontada a inflação, o aumento foi de 2,6%.

À atenção do Dr. Gonçalo Matias, ministro Reforma do Estado

Dos 30 países considerados no estudo da OCDE, o Estado sucial português é o segundo, só superado pela Turquia, com serviços públicos administrativos mais centralizados.

Ó Dr. Matias não perca tempo com pensamentos milagrosos e declarações bombásticas, como a de que Portugal «tem todas as condições para se tornar um líder mundial na IA», desça à terra e comece a tratar disto.

Os contribuintes são todos iguais, mas há uns mais iguais do que outros

O caso dos impostos (IMI e imposto de selo) de mais de 300 milhões devidos pela venda das barragens da EDP à multinacional francesa Engie para reduzir o endividamento, operação disfarçada pela EDP como uma reorganização empresarial, impostos que a EDP assumiu perante o comprador não seriam devidos, são o exemplo mais notório de como o governo AD pela boca do ministro das Finanças sucumbiu ao lóbi accionista sino-hispano-americano admitindo que uma obrigação fiscal confirmada pelo Ministério Público poderia não ser cumprida.

A realidade vai-se impondo ao pensamento milagroso

adaptado de mais liberdade

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos, nem queremos saber

Mostrando que em certas matérias, como no investimento, é mais o que une os dois grandes partidos do regime do que o que os separa, a taxa de execução do investimento público do governo AD em 2024 andou pelos 84%, afinal ainda inferior aos 90% das taxas dos governos PS. Num país pendurado no Estado sucial os empresários seguiram o exemplo e o investimento privado caiu igualmente em 2024 para 13%.

16/11/2025

Ser de esquerda é... (33) - ... é trocar de causas como quem troca de camisa (sempre com o mesmo tronco)

«Desastres eleitorais sucessivos, transferência de votos para a direita a par do envelhecimento do seu eleitorado, levaram as esquerdas  a primeiro deitar contas à vida e, em seguida, atirar pressurosamente para o caixote do lixo as vítimas que até ontem animavam o seu activismo. E assim, porque chegou a hora dos camaradas subirem ao palanque, num ápice sumiram-se os “camarados” e os “camarades”. (...)

O problema é que não só conseguem impor novos activismos como está implícito que esqueçamos as consequências do activismo da véspera. É mesmo como se esse activismo nunca tivesse existido. O direito à desmemória é o grande privilégio da esquerda que, enquanto mergulha as sociedades em processos contínuos de mortificação pelos crimes cometidos  por aqueles que aponta como seus inimigos no passado — e que podem ser tão distantes quanto os descobridores portugueses do século XV —, se arroga a si mesma o direito de não ser confrontada por aquilo que fez e disse ontem. Ou anteontem. Ou há um ou dois anos. (...)

Pois é agora já ninguém quer saber das casas de banho para as crianças trans, nem da linguagem dita inclusiva porque agora vamos voltar à “classe contra classe até à vitória final” como se estivéssemos no PREC. Alguém esperava que assim não fosse? Para que tal acontecesse era necessário ter denunciado, criticado, confrontado… os activistas quando estes andavam por aí com o linguarejar (cada activismo tem o seu idiolecto próprio) do sonho e da conquista irreversível para designar a estatização e consequente destruição da economia do país. É caso para dizer, olá camaradas. Façam de conta que estão na vossa casa.»

Helena Matos no Observador

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Outros "Ser de esquerda é..."

Em boa verdade, a volubilidade da esquerdalhada é apenas aparente, porque persiste o mesmo propósito de sempre: impor uma agenda e sabotar a liberdade em nome de grandes princípios. Afinal, o mesmo propósito que a direita iliberal prossegue. 

13/11/2025

Is President Trump the paper tiger of Emperor Xi?

«XI JINPING, CHINA’S supreme leader, is not frightened of President Donald Trump. Increasingly, Chinese elites see Mr Trump as “very soft” on their country, say Beijing insiders.

China was “a bit panicky” during Mr Trump’s first term, concedes an analyst in Beijing. The first Trump administration expanded a trade war into an ideological contest, with officials making stern critiques of China’s political and economic systems. China is not panicking any more, insists the analyst. When Trumpian bullying resumed this year, China’s leaders pushed back hard, refusing to buy American soyabeans and restricting exports of rare-earth minerals and permanent magnets that are vital to carmakers and other industries. Mr Trump “blinked first”, the analyst says.

At a meeting with Mr Xi in South Korea on October 30th Mr Trump offered concessions, including a one-year pause of a rule extending American export controls to the subsidiaries of blacklisted Chinese companies. China agreed to buy soyabeans and made vaguer promises to block smuggled shipments of chemicals used to make fentanyl, and to facilitate exports of rare earths.

Pundits in Beijing claim other wins. Since returning to power ten months ago, Mr Trump has shown no ideological ill-will towards the Communist Party, even when imposing dizzying tariffs on China. In the telling of Chinese scholars, Mr Trump treats China as an “indispensable” nation. He urges China to buy American goods and has welcomed its companies to invest in America. As an added bonus, in his second term Mr Trump has so tightened his grip over the federal government and the Republican Party that conservatives dare not challenge him for engaging with China. 

(...)

Mr Trump does seem ready to treat Mr Xi as a peer. After their encounter in South Korea, Mr Trump bragged on social media about a “G2 meeting” that would lead to “everlasting peace and success”. China has learned how to intimidate America’s president: hence the current, uneasy truce in their trade war. Wooing Mr Trump is a trickier task. China hawks in Washington have much to fear, should Mr Xi succeed.»

Beijing insiders’ plan to play Donald Trump

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«"Paper tiger" is a calque of the Chinese phrase zhǐlǎohǔ (simplified Chinese: 纸老虎; traditional Chinese: 紙老虎). The term refers to something or someone that claims or appears to be powerful or threatening but is actually ineffectual and unable to withstand challenge.

The expression became well known internationally as a slogan used by Mao Zedong, former chairman of the Chinese Communist Party and paramount leader of China, against his political opponents, particularly the United States. It has since been used in various capacities and variations to describe many other opponents and entities.» (
Wikipedia)

11/11/2025

Crónica da passagem de um governo (23 b)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
(Continuação de 23 a)

Ó Dr. Matias, antes do Portugal dos Pequeninos ser líder de alguma coisa, é preciso que Estado sucial funcione decentemente

Talvez empolgado pela plateia da Web Summit, o Dr. Matias, ministro da Reforma do Estado, declarou solenemente que Portugal «tem todas as condições para se tornar um líder mundial na IA». Não carece, por agora já ficaríamos felizes se não fosse preciso esperar um ano para criar uma “Empresa na Hora”. Se não conseguir reformar o Instituto de Registos e Notariado, mude o nome da coisa para “Empresa no Ano”. Em qualquer caso, não contrate os dois mil funcionários que lhe dizem ser necessários.

Boa Nova?


O semanário de reverência festeja o aumento homólogo de 192 mil empregos no 3.º trimestre da população empregada para 5,3 milhões e a criação de quase um milhão de empregos nos últimos dez anos. Os aumentos do emprego superiores ao crescimento real do PIB significam que estão a ser criados empregos pouco sofisticados em actividades de baixa produtividade.

Querer fazer o lugar do outro

Desde que foi anunciada pelo governo a intenção de abolir a fiscalização prévia dos contratos públicos o Tribunal de Contas vem fazendo a sua campanha para a manter, propósito que releva mais da preocupação de não perder poder do que de apego ao combate à corrupção. A presidente do TdC afirmou no parlamento que «é a intervenção do Tribunal que garante a credibilidade financeira do Estado português» sem se dar conta de que está a responsabilizar-se pela falta de credibilidade do Estado.

Outro exemplo de instituições que pretendem fazer o lugar de outras, é o caso do grupo parlamentar do PSD que classificou como «completamente desalinhadas» as previsões económicas e orçamentais pondo em causa «a racionalidade e metodologia utilizada» pelo Conselho das Finanças Públicas a quem compete fiscalizar o cumprimento das regras orçamentais e a sustentabilidade das finanças públicas, Conselho que colocou em dúvida as previsões do governo subjacentes à proposta de OE 2026

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

mais liberdade

O gráfico confirma que despejar  dinheiro em cima dos problemas não os resolve. Enquanto a despesa do SNS a preços constantes aumentou 41% em dez anos (em termos nominais o aumento foi de 72%), o número de actos médicos aumentou muito menos, salvo no caso das cirurgias em que aumentou apenas mais 2%, certamente muito à custa do expediente das “cirurgias adicionais” pagas com um tarifário especial.

10/11/2025

Crónica da passagem de um governo (23 a)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Se o ridículo fosse mortal, as redacções seriam cemitérios e o governo seria uma morgue

Depois de mais de dois anos a deixar-se cozinhar em fogo lento pela esquerdalhada que povoa as redacções, o Dr. Montenegro teve um acesso de transparência e mostrou ao Expresso as facturas da construção da sua casa em Espinho que custou o equivalente a 1,5 o preço médio das casas à venda em Portugal dos Pequeninos.

Velha Boa Nova

À míngua de boas notícias o ministro da Economia Dr. Castro Almeida repetiu no parlamento o anúncio que o Dr. Costa já havia feito e que, por embaraçosa coincidência, esteve na génese da Operaçâo Influencer que levou à demissão do anterior primeiro-ministro. Segundo o hiperbólico anúncio do Dr. Castro Almeida trata-se do «maior investimento estrangeiro de sempre em Portugal: 8,5 mil milhões de euros no Data Center de Sines» e «é um verdadeiro caso de sucesso do país». O grupo parlamentar do PSD aplaudiu entusiasticamente a “obra” do Dr. Costa.

Chutando a bola para frente

Fonte: BdP

Apesar da dívida pública líquida (que é a que mais interessa) se ter mantido relativamente estável, o rácio Dívida Pública/PIB tem vindo a agravar-se nos últimos três trimestres atingindo 97,6% em Setembro.

Quanto ao excedente orçamental no final de Setembro atingiu 6.304,1 milhões tendo aumentado 610,8 milhões em relação ao ano passado, à custa sobretudo do aumento das receitas fiscais. Por outro lado, o excedente orçamental de 0,1% do PIB previsto pelo governo para 2026 será cumprido à custa de 311 milhões de empréstimos do PRR que não vão ser usados.

Hoje há cadelinhas, amanhã não sabemos

Quem vê a função pública como uma ocupação retrógrada não podia estar mais equivocado. Enquanto nos “privados” se fala da insustentabilidade da segurança social dentro de algumas décadas, a sistema de pensões da função pública gerida pela Caixa Geral de Aposentações já está nessa situação com défices crescentes há vários anos (7,5 milhões previstos para 2026) que têm de ser financiados pelas receitas fiscais do OE ou, dito de outro modo, as pensões da função pública já estão a ser financiadas pela “função privada”.

(Continua)


08/11/2025

Trump vs Reagan, não podiam ser mais diferentes

«Na sexta-feira à noite [da semana passada], enquanto os Toronto Blue Jays iniciavam a World Series contra os Los Angeles Dodgers, foi exibido durante o jogo um anúncio "anti-tarifas" do governo provincial, apresentando excertos de um discurso de Reagan na rádio, de 1987. O anúncio reorganizou as palavras de Reagan, mas não alterou necessariamente o seu teor: Reagan, um republicano do final do século XX, era a favor do comércio livre. Trump, o autoproclamado "Homem das Tarifas", não gostou da recordação. Sugeriu que o anúncio tinha sido gerado por inteligência artificial e, posteriormente, chamou-lhe "fraude" ao anunciar um aumento de 10% nas tarifas sobre os produtos canadianos.

À primeira vista, Trump e Reagan pertencem à mesma linhagem. Ambos são figuras emblemáticas do Partido Republicano e da política nacional, que alcançaram o seu prestígio ao transpor as capacidades aprimoradas num mundo mediático para outro. Reagan, ator de cinema e porta-voz, adaptou-se perfeitamente à presidência, transformando-a numa série de cenas televisivas. Trump, a caricatura dos tablóides e estrela de reality shows, conquistou a atenção dos americanos de forma quase inabalável, transformando a presidência num fluxo interminável de indignação e provocação.

Contudo, os ambientes mediáticos em que ambos prosperaram não podiam ser mais diferentes. Recompensam tons, ritmos e compreensões radicalmente distintos do que significa autoridade política. O conflito em torno do anúncio de Ontario não se resume, portanto, à mudança de posição do Partido Republicano em relação ao comércio. Expõe como o nosso ambiente mediático remodelou a própria performance da presidência. (...)