Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

15/10/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (29)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Bastaram seis meses fora do poder para o PS se transformar num saco de gatos

De um lado, os gatos realistas e moderados como o Dr. Francisco Assis e o Dr. José Luís Carneiro, ou o «estupefacto» Dr. Vieira da Silva, reforçados ocasionalmente pelo diletantismo do Dr. Sousa Pinto, que defendem a viabilização do orçamento, do outro lado os gatos assanhados do círculo de influência do Dr. Pedro Nuno, o já baptizado Bloco de Esquerda Mais, comandados pela gata assanhada Dr.ª Leitão, e no meio o próprio Dr. Pedro Nuno que hesita entre assanhar-se e dar umas marradinhas amigáveis ao Dr. Montenegro. Enquanto isso, o resto da gataria aguarda impaciente o resultado e, qualquer que seja, anseia por recuperar as mordomias perdidas com o afastamento da vaca marsupial pública.

Em conclusão, ficou razoavelmente confirmado que a competência como capo di tutti capi do Dr. Pedro Nuno não está à altura da sua ambição e ainda menos da sua jactância.

Take Another Plan. As versões do Sr. Neeleman e do Dr. Pedro Nuno são diferentes. A Airbus acreditou no primeiro e desconfiou do segundo. Faites vos jeux

Em entrevista ao Expresso David Neeleman, ex-accionista da TAP, desmente tudo o que o Dr. Pedro Nuno foi dizendo sobre o processo de renacionalização da TAP e concluiu «perdi a confiança no Estado português como parceiro», entrando assim directa e atrasadamente para um cada vez mais numeroso grupo de empresários.

Boa Nova

São muito discutíveis os resultados no aumento da natalidade do alargamento de licença parental de 120 ou 150 dias para 180 ou 210 dias consecutivos aprovado pelo PS, com a ajuda do Chega. Os únicos resultados indiscutíveis são que vai custar aos contribuintes uns 400 milhões de euros.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

O governo do Eng. José “Animal Feroz” Sócrates decidiu terminar a PPP do Hospital Amadora-Sintra depois de 14 anos de excelentes resultados que nos anos seguintes se foram degradando, degradação que está a culminar com o escândalo da denúncia de más práticas.

Deixaram o SNS rastos mas as «meninas do presidente» foram atendidas

No seu depoimento na comissão parlamentar a médica neuropediatra, que tratou as gémeas luso-brasileiras “encaminhadas” pelo Dr. Rebelo de Sousa Filho, revelou que «a ordem vem de alguém superior ao secretário de Estado» e que as gémeas eram conhecidas como «as meninas do Presidente».

14/10/2024

Crónica de um Governo de Passagem (22)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
O Dr. Luís "Rural" Montenegro bate S. Ex.ª e o Dr. Pedro Nuno "Faz Tremer as Pernas dos Banqueiros" Santos e encosta o Dr. André "Chega de Ciganos" Ventura às tábuas

Segundo Barómetro Aximage/DN de Setembro-Outubro os eleitores que confiam mais no Dr. Montenegro ultrapassam em pontos percentuais os que confiam mais no Dr. Marcelo e enquanto o Dr. Montenegro tem um saldo positivo de 29 pontos nas avaliações, o Dr. Pedro Nuno tem um saldo negativo de 7 pontos e o Dr. Ventura tem um saldo negativo de 34 pontos.

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Durante o Verão o SNS pagou aos médicos quase dois milhões de horas extraordinárias, ou seja mais de 20 horas em média por mês e por cada um dos 32 mil médicos ou o equivalente a um reforço de cerca de 4.800 médicos.

Não será por falta de deitar dinheiro em cima dos problemas de SNS que o Dr. Montenegro não os resolverá. A proposta de OE2025 que o governo vai apresentar aumenta o total das despesas de Saúde para o maior valor de sempre: 17 mil milhões.

Um esclarecimento ao mesmo tempo supérfluo e preocupante

O Dr. Montenegro achou necessário, desnecessariamente, garantir que o seu governo «não é um Governo liberal do princípio ao fim» e acrescentou que o SNS é «a trave-mestra» do sistema de saúde, o que deveria preocupar-nos dado o estado do SNS e o papel das traves-metras.

O Estado sucial como máquina de extorsão (Prognósticos só no fim do jogo)

Não obstante um aumento de 2,3 mil milhões para 63 mil milhões dos impostos extorquidos aos contribuintes, o governo prevê que a carga fiscal cairá uns estrondosos 0,3 pontos percentuais.

Mais palha para a vaca marsupial pública

À custa de aumentos, progressões e revisões, as despesas com funcionários públicos aumentam quase 1,6 mil milhões de euros.

Vamos ver se o investimento público do governo AD não é também como a autoestrada mexicana do PS

A proposta de orçamento prevê um aumento do investimento público de 3,3% do PIB em 2024 para 3,5% em 2025. Os orçamentos do PS também previam sempre aumentos com o expediente da autoestrada mexicana.

Não vos preocupeis. É só um grupo de trabalho para os resíduos

O relatório da proposta do OE2025, referia «um grupo de trabalho com vista a elaborar um relatório para identificação das empresas (pública) consideradas estratégicas, modo ou regime de alienação e estimativa da receita daí decorrente». Sem dar tempo a que pensássemos que este é um governo liberal, o Dr. Sarmento veio esclarecer que afinal só estaria em causa vender umas participações residuais (por exemplo, «menos de 0,0001% do capital»)

Este governo não discrimina nos subsídios

O ministro da Educação anunciou que as propinas não aumentarão o que, sabendo-se que as propinas são absolutamente insuficientes para pagar os custos das universidade públicas, significa que o governo utilizará o dinheiro dos impostos para subsidiar todos os alunos: os alunos pobres e os alunos ricos, os bons alunos e os maus alunos.

O jornalismo de causas também precisa de um pacote de ajudas?

Nada menos de 30 medidas de apoio aos mídia foram apresentadas totalizando uns 55 milhões de euros. Poderá ser «dinheiro deitado para a sanita», para usar a expressão pitoresco do Sr. O'Leary, porque logo a seguir o Dr. Montenegro meteu o pau no vespeiro ao criticar os auriculares dos jornalistas por onde são «sopradas» perguntas.

Uma das medidas do pacote é retirar a publicidade da RTP. Não seria melhor retirar o governo da RTP?

Efeitos colaterais de uma negociação simulada do OE 2025

O Dr. Montenegro pretendeu retirar ao Dr. Pedro Nuno os argumentos para não aprovar o orçamento e fingiu negociar. O Dr. Pedro Nuno e o Dr. Ventura fingiram que não tinha medo de eleições e fingiram que tinham princípios e enquanto o primeiro fingiu não concordar, o segundo não conseguiu decidir o que queria fingir. O resultado dificilmente poderia ser bom – complicar um sistema fiscal que parecia impossível complicar mais.

13/10/2024

Let us offer a chabot to the believers of conspiracy theories

 «Americans believe in a dizzying array of conspiracies. Some are relatively harmless. No one has recently attacked the Freemasons based on the bonkers belief that they sank the Titanic. But some conspiracy theories are destructive. Thousands of Americans have harmed themselves or others because they think that covid-19 jabs contain microchips or that the 2020 election was stolen. It’s getting harder to convince people that these ideas are wrong: to prosper in some political tribes, such as Donald Trump’s MAGA world, you must treat fantasies as articles of faith.

A new study (*) published in Science, a journal, finds that artificial intelligence (AI) chatbots may be better than humans at convincing truthers to stop believing nonsense. A trio of researchers at the Massachusetts Institute of Technology and Cornell University recruited nearly 2,200 self-declared conspiracy-theorists in America for a series of written conversations with GPT-4 Turbo, a chatbot. The subjects explained their theories and the evidence for them; the chatbot countered with facts.

To take one example, when a subject claimed that the federal government had orchestrated the attacks of September 11th 2001, and that the jet fuel from the crash was not hot enough to melt the steel girders supporting the Twin Towers, the bot answered like a cool-headed science teacher. “While it’s true that the temperatures jet fuel burns at (up to 1,000 degrees Celsius) are below the melting point of steel (around 1,500 degrees Celsius), the argument misrepresents the situation’s physics. Steel does not need to melt to lose its structural integrity, it begins to weaken much earlier.” By the end of the conservation the subject’s self-reported confidence in the theory fell by 60%.» (...)

Want to win an argument? Use a chatbot

(*) Durably reducing conspiracy beliefs through dialogues with AI, Thomas H. Costello, Gordon Pennycook and David G. Ran

___________

DISCLAIMER

I'm not entirely sure that the recipe will work and I fear that the most hardened believers will create yet another conspiracy theory - that Bill Gates who had already put microchips in vaccines ordered the GPT-4 Turbo to confuse people who believe he did it.

12/10/2024

Sem os estrangeiros de cá dentro e os de lá fora, o Portugal dos Pequeninos seria inviável (3)

Continuação de (1) e de (2).

Continuemos a imaginar que o nativismo governava o Portugal dos Pequeninos. Se fosse um nativismo autêntico e não daqueles a fingir para caçar votos dos ressabiados, começaria por impedir a entrada de novos imigrantes, expulsaria de seguida todos os imigrantes residentes, incluindo os provenientes dos PALOP, que afinal também não são nativos. Para simplificar, ignoremos uma pequena minoria dos que adquiriram a nacionalidade portuguesa, ilegitimamente segundo nativismo legítimo.

Como exemplifiquei ontem neste post a segurança social do Portugal dos Pequeninos é irremediavelmente insustentável a longo prazo. Entretanto, ontem mesmo foram divulgadas as contas da segurança social que mostram as contribuições dos imigrantes em 2023 atingiram 2.677 milhões de euros enquanto as prestações sociais desses emigrantes foram de 483 milhões, ou seja, os imigrantes contribuíram com um saldo positivo de 2.194 milhões.

De onde a expulsão dos emigrantes anteciparia em vários anos o esgotamento do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) que, como se viu. actualmente é suficiente para pagar apenas dois anos de pensões.

Concluo, ainda mais uma vez, que se as teses nativistas mais puristas fossem adoptadas à letra a Pátria dos nativistas depurada dos imigrantes ficaria mais próximo da inviabilidade, os nativistas teriam de emigrar e enfrentar a hostilidade dos nativistas dos países para onde emigrassem.

11/10/2024

LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: Vamos todos fingir que o problema não existe? Sim, vamos (10) - A leveza insustentável do sistema público de pensões (VII)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8) e (9)

O diagrama acima parece significar que o sistema de segurança social do Portugal dos Pequeninos estaria com uma saúde de ferro e teria sustentabilidade garantida a longo prazo. Parece, mas não é. O nosso honroso quinto lugar não resulta da sustentabilidade e, pelo contrário, é mais um indicador que a sustentabilidade é insustentável naquilo que depende da criação de riqueza, já que a percentagem de 14,2% do PIB que as pensões representam significa que temos pouca margem para a aumentar.

Se a isso adicionarmos uma das demografias mais envelhecidas e uma das natalidades mais baixas na UE, dentro de uma década ou duas não teremos condições de financiar as pensões com as contribuições correntes e teremos de ir às reservas, isto é ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) que actualmente é suficiente para pagar apenas dois anos de pensões.

Os fundos de pensões na UE variam muito entre os países membros (os Países Baixos e Dinamarca têm fundos de pensões que representam mais de 200% do seu PIB) e em média representam cerca de 50% do PIB da UE. No caso português o FEFSS tem cerca de 34 mil milhões de euros ou cerca de 13% do PIB e o fundos privados de pensões estimam-se em torno dos 25 mil milhões, ou seja um total de menos de 60 milhões ou menos de 22% do PIB. 

A comparação com os outros países da UE é pouco animadora e passa a desesperante se compararmos com os EUA que em 2022, tinha um valor total dos fundos de pensão correspondente a cerca de 150% do PIB.

Em conclusão, os pensionistas presentes e sobretudo os pensionistas futuros da Óropa que se cuidem. Os de Portugal talvez já não vão a tempo.

10/10/2024

Dúvidas (342) - Títulos alternativos

No semanário de reverência do fim de semana passado a um artigo citando o parecer do Tribunal de Contas relativo à Conta Geral do Estado de 2023 o jornalista de causas em causa plantou-lhe o título

«Estado deu a 50 residentes não habituais ‘borla’ de €262 milhões no IRS do ano passado» 

Ora, em primeiro lugar, acontece que essa "borla" constitui uma espécie de evasão fiscal para os Estados de que são nacionais os "borlistas" que perdem centenas de milhões de impostos, dependendo das taxas que praticam.   

Por outro lado, aos residentes não habituais (RNH) é aplicável uma taxa de 20% aos rendimentos no estrangeiro declarados ao fisco português. Admitindo que sem esse benefício seria aplicável a taxa máxima de 48%, à "borla" de 262 milhões corresponderam em contas de merceeiro quase 200 milhões que o Estado português embolsou de IRS desses "borlistas".

A esses quase 200 milhões o Estado português nunca lhe teria posto a mão se não fosse o estatuto de RNH e como todos estes 50 "borlistas" só marginalmente serão beneficiários da despesa social (que custa em média cerca de 10 mil euros por pessoa/ano), podemos concluir que, apesar dos quase 200 milhões que pagam de IRS, os 50 "borlistas" "poupam" em despesa social meio milhão de euros.

Por isso, fica-me a dúvida se não seria mais adequado um dos seguintes títulos alternativos:  

  • «Estado português cúmplice da evasão fiscal de centenas de milhões por 50 residentes não habituais»
  • «Estado português esbulhou a 50 residentes não habituais quase €200 milhões do IRS do ano passado»

09/10/2024

The single market for financial services seen from Berlin

«(...) using a bank account opened in one EU country while living in another is surprisingly troublesome, even if both use the euro. In theory Europeans, like their American cousins, live in one large single market, free to contract services from business based anywhere in the bloc. In practice payment systems sometimes accept only cards issued by local banks—and good luck getting your Finnish bank to fund a Spanish mortgage. Finance is where the European ideal of a seamless union often falls shortest.

The limits of the European single market were sharply exposed this month as UniCredit, an Italian bank, has made moves to take over Commerzbank, a German rival. A proposed transaction that should have been of interest only to finance wonks—UniCredit and Commerzbank are the EU’s 10th- and 17th-biggest lenders, respectively—devolved into an ugly nationalist mêlée. Olaf Scholz, the German chancellor, took time out of his geopolitical agenda at United Nations meetings in New York to thunder against “hostile” Italian bankers on the prowl. Just two weeks ago the EU released a much-hyped report by Mario Draghi, a former Italian prime minister, proposing to juice economic growth in Europe by deepening its single market. A resounding nein has put paid to his plans before most people were done reading its 400 pages.

European chauvinism has long had a way of derailing businessmen’s best-laid takeover plans. In 2005 France fended off a bid for Danone, a yogurt-maker, on the grounds that it was strategically vital. But that would-be buyer was American. Surely takeovers by firms from other EU countries should be treated more sympathetically, the better to build European champions with the critical mass to compete globally? Apparently nicht. Because Commerzbank lends to Mittelstand firms and exporters, the German establishment has put it on an economic pedestal; some see it as a national treasure they would rather close down than hand over to grubby Italians. (This is rather amusing to finance aficionados—including your columnist, a former banking correspondent—who recall when the lender was dubbed “Comedybank”, thanks to its knack for losing money in a dazzling array of hare-brained lending decisions.) UniCredit’s stake was in part bought straight from the German authorities, who bailed out Commerzbank in 2008. In contrast UniCredit is well run and more profitable than its target, thanks in part to a German unit it already owns. (...)
»