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09/06/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: explicação aos ignaros

Secção Insultos à inteligência

Há 33 anos uma criatura nos primeiros anos do liceu ou do ensino técnico perante a questão trivial «Escreve um número que seja, simultaneamente, múltiplo de 2, 3 e 5» responderia 30, 60, 90, 120, etc.

Fruto das novas oportunidades que o governo oferece aos jovens, os filhos dessa criatura podem hoje responder também 6, 10 ou 15, respostas que o ministério da desinstrução considerou como igualmente certas nas provas de aferição que foram recentemente realizadas.

Pela paciente explicação do director do Gabinete de Avaliação Educacional aos ignaros o Impertinências concede 5 merecidos chateaubriands ao argumentário esmagador.

«Para se compreender a importância das provas de aferição é necessário conhecer os rudimentos das técnicas de avaliação e dispor de noções básicas sobre os processos de aprendizagem.
A correcta resolução de uma questão de Matemática, por exemplo, pressupõe que o aluno compreende o problema, estabelece um modelo adequado, traduz os dados para a linguagem formal da Matemática, opera sobre expressões e atinge resultados. Neste trajecto para a solução cada aluno exibe dificuldades específicas: enquanto uns poderão ter grande desenvoltura a operar sobre expressões numéricas sendo, no entanto, incapazes de traduzir o problema formulado para a linguagem matemática, outros apresentarão dificuldades opostas. Ambos falharão o objectivo de resolver o problema, mas a estratégia e o sentido do esforço do professor devem ser radicalmente diferentes.
As provas de aferição são elaboradas de forma a proporem questões que não só determinam o conhecimento dos conteúdos do programa, como verificam em que aspectos do processo de resolução se encontram as dificuldades dos alunos. A classificação dos itens de uma prova é feita com códigos numéricos (por exemplo, 00, 10, 12, 30), que não representam quantidades mas tipificam situações diferentes do percurso do aluno em direcção à solução do problema. Não faz sentido dizer que um aluno que teve uma classificação de 30, num determinado item, 'sabe' três vezes mais do que um que obteve 10. O exercício de dividir os códigos das provas de aferição é tão absurdo como dizer que o número do 81 é inversamente proporcional à idade do seu possuidor... As provas de aferição são pois indispensáveis à melhoria do desempenho dos nossos alunos
».

CARLOS PINTO FERREIRA, director do Gabinete de Avaliação Educacional

(no Expresso)

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