Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

09/10/2025

You can't fool all of the people all the time (7)

Other "You can't fool all of the people all the time"


YouGov (source)

What would Donald Trump say if Sleepy Joe had sunk to such depths of disapproval?


Not only disapproved on all issues, but increasingly disapproved, even in his Big Beautiful Bet of putting the troops to police the cities.

08/10/2025

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O governo de Netanyahu é o melhor aliado do Hamas (4) ou como manter os inimigos e alienar os amigos

Este post é o quarto de uma série iniciada há 14 anos: (1), (2) e (3).

Secção Tiros nos pés

Completaram-se ontem 2 anos da chacina a sangue-frio de mil e trezentos civis israelitas por um bando de bárbaros. A bandeira em nome da qual foi cometido o crime é ela própria criminosa. A resposta pelas IDF a este crime foi muito dura, mas legítima. Algures em 2023 ou 2024 essa legitimidade foi sendo perdida porque se perdeu o propósito de punir os criminosos e destruir a sua capacidade organizacional e logística para voltarem a cometer os mesmos crimes. Vem a propósito dizer que, apesar de Israel ser uma democracia (defeituosa, acrescente-se), não se deve confundir o Estado de Israel com o seu governo actual, nem, com mais razão, confundir o Hamas com o povo da Faixa de Gaza.

Dirá quem se considere amigo incondicional do Estado de Israel e, na verdade, é apenas adepto incondicional do governo de Netanyahu, pensando que o Hamas poderá recuperar e voltar a atacar Israel e, por isso, a transformação de Gaza num cemitério em ruínas se justifica. E eu respondo: o Hamas recuperará e voltará a atacar com maior probabilidade, violência e suporte popular quanto mais se eternizarem as acções de destruição desproporcionada e injustificada cujo propósito parece esgotar-se em manter o apoio ao governo pelos partidos religiosos extremistas.

Uma das consequências dessa destruição desproporcionada e injustificada é que Israel está a perder muitos dos seus amigos. Três quartos dos países membros da ONU, incluindo recentemente Canadá, Austrália e Reino Unido, três aliados tradicionais de Israel, já reconhecem o Estado Palestino. Sendo certo que é o reconhecimento de uma entidade inexistente e assim continuará com toda a probabilidade, é igualmente certo que tem um profundo significado político. 

A esta mudança internacional temos de somar as mudanças internas americanas, como, para dar um exemplo, a da congressista republicana Marjorie Taylor Greene que escreveu 

«If America was being bombed day and night because of something horrific our government did, and many innocent Americans and American children were being killed and traumatically injured, and we begged for mercy, but the rest of the world said, 

“Americans voted for their government so they deserve it, their government is bad so all Americans are bad, therefore this is what they get and must be done”.

(...)  This is what is happening to Gaza where in spite of what we have all been told, many innocent people and children are being killed and they are not Hamas.»

Poderia pensar-se que Marjorie Taylor Greene é uma voz isolada e o apoio do povo americano continua inabalável.

Créditos 

Não é verdade. Desde logo, o apoio do povo americano nunca foi inabalável e nos últimos anos a atitude em relação a Israel tem-se tornado menos positiva ou mesmo negativa, quer dos democratas quer dos republicanos.

Por isso, repito a avaliação que fiz nos posts anteriores: para Netanyahu e os seus correlegionários, cinco chateaubriands, por estarem convencidos de que o pior para os palestinos é o melhor para Israel, e cinco bourbons por aí continuarem encalhados, nada esquecendo nem aprendendo.

07/10/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (72)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

O Dr. Centeno é um estereótipo do apparatchik socialista e o BdP é demasiado pequeno para o seu ego (2)

Em retrospectiva: após quase cinco anos no ministério das Finanças, o Dr. Centeno autonomeou-se para governador do BdP que dele dependia. Após a demissão do Dr. Costa em Novembro de 2023, em trânsito para presidente do Conselho Europeu, o Dr. Centeno em entrevista ao Financial Times ofereceu-se para ocupar o lugar vago em S. Bento e, gorado esse desiderato, iniciou as suas sondagens para uma candidatura a Belém.

Mais recentemente, em fim de mandato, Dr. Centeno foi colocar a primeira pedra da futura sede do BdP, cujo custo final «a Deus pertence», renovou o mandato do seu chefe de gabinete e, quando o seu sucessor fez saber que não o manteria em funções, na penúltima reunião da administração o Dr. Centeno aproveitou para nomear o seu chefe de gabinete para consultor de gestão de dados.

Todo esse desaforo foi ultrapassado quando a administradora sua protegida Dr.ª Helena Adegas apresentou uma proposta para a promoção do próprio Dr. Centeno que a maioria da administração decidiu adiar com grande desagrado do Dr. Centeno que alguns dias depois enviou uma longa carta a todos os funcionários glorificando a sua obra (fonte).

Depois da obra feita, a obra a fazer

Nos seus tempos de autarca, O Dr. Costa autoelogiava-se recorrentemente com o que chamava a sua “obra feita”. Talvez em sua homenagem, os candidatos socialistas às autarquias à falta de obra feita enunciam a obra a fazer, designadamente na área da habitação. A Dr.ª Leitão em Lisboa apresentou um volumoso objectivo de construção de fogos municipais, nada menos de 4.500 novas habitações. A obra a fazer pelo conjunto dos candidatos socialistas atinge o pantagruélico número de 25.000 fogos, mais do que a média anual de novos fogos construídos em todos o país (contas de António Rocha Pinto).

As “rendas moderadas” do governo AD, já tinham sido as “rendas acessíveis” do governo socialista

Em 2023, quatro anos depois do lançamento do Programa de Renda Acessível do Dr. Pedro Nuno, o resultado foram 771 contratos, ou seja, 0,084% dos 921 mil arrendamentos em Portugal. Seis anos depois, o programa do Dr. Pedro Nuno, que tinha como objectivo atingir 20% do mercado privado, atingiu 1,1%. A Dr.ª Marina Gonçalves, sucessora do Dr. Pedro Nuno na pasta, também inventou o programa Arrendar para Subarrendar que tinha como objectivo 320 casas e foi um falhanço total.

O Dr. Costa deveria ter entregado a habitação a uma pianista

Há pouco dias a Dr.ª Gabriela Canavilhas, ex-ministra da Cultura do Eng. Sócrates, actualmente repousando na Fundação Ricardo Espírito Santos Silva, apresentou uma «medida imediata para resolver problema da habitação». Perante a estupefacta audiência em Beja, a Dr.ª Canavilhas revelou que essa medida seria o alargamento «à reabilitação» do IVA a 6% que o governo AD vai aplicar à construção de novas habitações. Infelizmente a Dr.ª Canavilhas não partilhou com audiência como essa medida resolveria o problema da habitação.

Reabilitação impertinente do Dr. Brilhante Dias

Por inúmeras vezes o (Im)pertinências publicou referências muito críticas ao Dr. Brilhante Dias, dirigente e ex-líder parlamentar do PS que, porventura por ter sido vítima de uma inesperada epifania, publicou o artigo «Imigração: o dilema fatal do PS» de onde respigo:

«(…) com os argumentos de que Montenegro fez isto porque estamos em eleições (como se os governos socialistas fizessem diferente) e que trabalha com base em perceções (como se não fossem estas uma base implicante de todas as políticas em qualquer governo como Maquiavel ou Marx bem indicaram), aliou-se, mais uma vez, aos restos das outras esquerdas demonstrando uma ausência absoluta de autonomia estratégica.

Tal decorre do facto de termos no Parlamento um conjunto de deputados, importantes na bancada, que vivem fora da realidade, que não são capazes de ouvir os nossos concidadãos.
»

06/10/2025

Crónica da passagem de um governo (18)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Preços e rendas “moderadas”: um caso exemplar de inabilidade do governo e de estupidez e despudor jornalístico e da comentadoria

Não me ocorre outro tema nos últimos anos que tenha causado discussões, análises e polémicas mais despudoradamente estúpidas do que as relacionadas com este tema. A coisa consiste simplesmente em (1) redução da taxa liberatória de IRS que os senhorios têm de pagar de 25% para 10% nas rendas até 2.300 euros; (2) redução da taxa de IVA de 23% para 6% na construção de habitações até 648 mil euros; (3) aumento do limite à dedução no IRS dos inquilinos de 700 euros por ano para 900 euros em 2026 e 1.000 euros em 2027. Podia e devia-se discutir a eficácia para limitar o aumento dos preços da habitação dos benefícios fiscais resultantes dessas medidas para (1) os senhorios, (2) os inquilinos e (3) os construtores e os compradores.

Em vez disso, a produção jornalística e opinativa (supondo que existe alguma distinção entre estas duas produções) concentrou-se em saber quem “ganhava” mais e se o adjectivo “moderado” se aplicaria aos valores em causa. Mais estúpido é difícil (mas não impossível).

Take Another Plan. A venda da TAP como exercício de pensamento mágico

Segundo o governo, a Lufthansa e a Air France/KLM são os dois principais interessados na TAP e a coisa é apresentada como se as duas estivessem dispostas a um combate mortal para ficarem com o chaço. Não parece que seja assim. A primeira acabou de anunciar 4 mil despedimentos até 2030, o que não prenuncia grande generosidade nas propostas, e a segunda já fez saber que o seu interesse depende de dispor de poder para gerir a TAP, nomeadamente compra de aviões e definição de rotas. O pensamento mágico irá presumivelmente durar até serem conhecidos os termos e os valores das propostas.

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Segundo um estudo do ISEG para a CIP (apud), entre 2015 e 2024 a despesa do SNS aumentou 72% de 9 para 15,5 mil milhões de euros, em 2022 os “tarefeiros” realizaram 5,7 milhões de horas (o equivalente a 3.038 profissionais full-time), na última década as horas extraordinárias aumentaram 82% (o equivalente as 11 mil profissionais full-time) e nos dois últimos anos os médicos e os enfermeiros tiveram aumentos salariais acumulados correspondentes a 20% e 11%, respectivamente, ou seja, o equivalente a mais do dobro da inflação no caso dos médicos.

Enquanto isso, o nível e a qualidade dos serviços de saúde degrada-se, apesar do aumento dos recursos utilizados e da correspondente despesa - por exemplo, as chamadas “cirurgias extra” que aumentaram 50% e custaram 620 milhões em três anos. É a isto que costuma chamar-se o resultado de uma gestão incompetente que não se resolve deitando dinheiro em cima dos problemas. Por exemplo, o Hospital Amadora-Sintra que está com tempo de espera nas urgências de mais de 15 horas e enquanto foi gerido em regime PPP teve um desempenho que se degradou após ter voltado à gestão pública por razões ideológicas.

Hoje há excedentes, amanhã não sabemos

Pouca gente parece ter reparado que os tão celebrados excedentes do OE orçamentais se devem inteiramente aos volumosos saldos positivos da Segurança Social. Por exemplo, até Agosto deste ano o saldo da Segurança Social foi 4.408 milhões ou mais 32% do que os 3.340 milhões do mesmo período de 2024 (BdP), comparando com os 2.011 milhões e 524 milhões dos saldos das Administrações Públicas. Como os excedentes da Segurança Social se devem sobretudo aos trabalhadores imigrantes muito mais jovens, cujas contribuições ano passado atingiram 3.600 milhões e representaram 12,4% do total, podemos antecipar o que se passará com cada vez menos contribuintes nacionais e cada vez mais pensionistas nacionais e dentro de algumas décadas um número crescente de pensionistas imigrantes. Se o Chega tivesse uma equipa de actuários capaz de explicar isto ao Dr. Ventura, perder-se-iam as bandeiras da imigração e ficava só a bandeira dos ciganos, que é muito mais barata.

Quereis reformas? Tomai lá!

Por exemplo (seguindo uma ideia de João Silva de Almeida), reduzir o número de ordens profissionais ou de entidades reguladoras dos actuais 240 para um terço, ainda assim ficando acima das 75 profissões reguladas da Suécia e reduzindo o número dos milhares de actos profissionais reservados aos membros dessas ordens.

04/10/2025

The Secretary of War Colonel Tapioca summons the troops of the Peanut Republic, presided over by Anastasio, for indoctrination

«Against the assault of laughter, nothing can stand.»
Mark Twain's "The Mysterious Stranger"

The assault of laughter «can topple dictatorships. On December 21st 1989 Nicolae Ceausescu, Romania’s despot, was addressing a large crowd, many of whom were state employees bused in to wave pro-regime flags. Suddenly, someone jeered. Then the jeers spread, and soon the whole crowd was jeering. Though the censors hastily cut the live television feed, the whole country realised that practically everyone hated the dictator. Four days later Ceausescu was executed by firing squad, and Romania was free.» (source)

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The Secretary of War lectured the generals on restoring the «warrior ethos», transforming the «Woke Department» into the War Department at the expense of fitness and personal hygiene, restoring «male» standards for combat and promotions based on merit rather than diversity, and relaxing both the measures to deter hazing and toxic behavior in the barracks. Basic training would be "redefined as what it should be: scary, rigorous, and disciplined».

The Secretary of War then turned the floor over to the president, who presented the new doctrine which consists of replacing the «ugly» modern stealth warships, and reinstating the old battleships with large-caliber cannons instead of missiles, moving the armed forces at home to help wage «the war from within» against migrants and leftists, and using «some of these dangerous cities as training grounds».

03/10/2025

CASE STUDY: O que nos diz o ranking das escolas de ensino secundário (2)

Continuação de (1)

No post anterior chegámos a duas conclusões: os resultados das escolas privadas são claramente melhores em 2,14 pontos (= 13,50-11,36) e há tendência das piores escolas "compensarem" os seus alunos com uma avaliação menos exigente (a diferença entre as médias de exame e as notas internas de exame é 1,21 pontos nas melhores e 4,90 pontos nas piores).

Vejamos agora no quadro seguinte dois indicadores estatísticos relacionados com a dispersão dos valores das notas de exame e internas. 

Os valores dos desvios-padrão (uma medida da dispersão ou variação em relação à média) são claramente superiores nas escolas privadas, quer nas notas de exame, quer internas (1,69 e 0,88, respectivamente) em relação às públicas (1,08 e 0,62), Já quando à amplitude dos intervalos da variação (diferença entre a nota mais alta e a mais baixa) os valores são muito mais próximos, sobretudo nas notas de exame. Uma explicação possível é que as escolas privadas têm maior heterogeneidade do que as escolas públicas, isto é, coexistem alunos muito bons com alunos fracos ou medíocres.  

O quadro seguinte regista os mesmos indicadores, mas agora na dicotomia entre melhores e piores escolas. 

As piores escolas apresentam maior dispersão das notas (1,29 e 0,77, contra 0,66 e 0,60) e maior amplitude dos intervalos de variação (só há uma escola pública nas 40 melhores e por isso o intervalo de variação é 0). No nível das melhores e piores escolas, a comparação entre escolas públicas e privadas não tem significado, visto que entre as melhores só há uma escola pública e entre as piores só há duas escolas privadas.

O quadro seguinte refere-se ao coeficiente de correlação linear entre notas de exame e notas internas, isto é, à medida da relação linear entre essas duas variáveis. Os coeficientes mais próximos de +1 correspondem a uma correlação perfeita das duas variáveis que aumentam e diminuem em paralelo, os valores negativos mais próximos de -1 significariam que as duas variáveis se movem em sentidos opostos e o valor 0 significaria que as duas variáveis não estão relacionadas. 


Dos valores do quadro, podemos concluir que a relação entre notas de exame e internas é claramente mais fraca no caso das escolas públicas em resultado do factor já identificado no post anterior onde se constatou que as piores escolas "esticam" muito mais as notas dos seus alunos (1,21 pontos nas melhores, aumenta para 4,90 pontos nas piores) e as piores escolas pesam mais entre as públicas.

No próximo post, vamos analisar a influência da localização das escolas nas notas, segmentando notas de exame e  internas e escolas públicas e privadas.

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(Continua)

02/10/2025

ARTIGO DEFUNTO: A megalomania do jornalismo de causas

Por estes dias está a decorrer o exercício da NATO Tiger Meet 2025 na base aérea de Beja, onde estarão presentes quase dois mil militares de vários Estados membros da NATO, o que foi aproveitado pela Saab sueca, fabricante do caça Gripen, e pela Lockheed Martin, fabricante do caça F-35, para promover os seus produtos. Como é óbvio ululante, não vieram cá para vender à FAP a sua mercadoria.

Para que conste, um F-35, dependendo do modelo em concreto, pode custar ao redor de 100 milhões e o orçamento de 2024 da Força Aérea Portuguesa (FAP) não chegou a 600 milhões, o que seria suficiente para comprar seis F-35. De resto, cada um dos 28 F-16 de que dispõe a FAP deve custar actualmente, sem armamento, cerca de 27 milhões, que foi o preço que a Argentina pagou o ano passado, e custou no passado uma fracção disso.

É neste contexto que um jornal económico publica um artigo com o título «Americanos e suecos fazem fila para vender aviões de combate a Portugal» em que se escreve «Aquece a corrida para vender a Portugal os substitutos do F-35. Depois da Saab mostrar o seu Gripen, agora foi a vez dos americanos da Lockheed Martin apresentarem o F-35», onde além dos delírios de grandeza se troca o F-16, o caça que se pretende substituir, pelo F-35. 

E estamos nisto.