Os mitos sobre o desemprego
Numa sociedade pouco ou nada liberal como a portuguesa, ainda longe de ter largado as saias do Estado, é natural culpar ou elogiar os governos por coisas que, na verdade, escapam em boa parte ao seu controlo. O caso dramático do desemprego, hoje em níveis recorde (8% em 2007), é um exemplo perfeito de como o Governo, a oposição, os sindicatos e os media continuam a alimentar uma ideia distorcida do poder das políticas públicas para resolver o problema no curto prazo.
Numa altura em que a retórica empresarial e política gosta de sublinhar a importância dos privados na economia convém lembrar um facto simples: são as empresas, não o Estado, que criam riqueza e contratam pessoas. Nas décadas de 80 e 90 foi possível esquecer esta verdade simples porque a Administração Pública recrutou sem limites: mais 315 mil funcionários entre 1983 e 2005. A crise das contas públicas forçou, contudo, o poder político a reformar a função pública: nos últimos dois anos saíram do Estado 40 mil pessoas, nos próximos dois deverão sair mais 35 mil.
Se partirmos, então, do princípio de que são as empresas quem cria trabalho, percebemos imediatamente porque razão o desemprego alto veio para ficar durante mais uns anos. Entre a reestruturação da indústria portuguesa – boa para a economia no longo prazo, mas socialmente difícil hoje –, a conjuntura internacional feita de incerteza e o aumento da população disposta a trabalhar (sobretudo as mulheres), não há muito que qualquer Governo possa fazer para acabar com o problema no curto prazo.
Prometer a criação de 150 mil empregos, como fez o primeiro-ministro José Sócrates, ou dizer que este Governo é responsável pela maior taxa de desemprego dos últimos anos, como faz a oposição, é ceder ao exercício fácil da política e baralhar os portugueses. E é, sobretudo, desviar as atenções das verdadeiras responsabilidades deste e de outros Governos face à situação actual: 1) o despesismo público que não deixa baixar os impostos e tornar a economia portuguesa mais competitiva e criadora de riqueza; 2) o falhanço grosseiro na educação e na formação, comprovado pelo paradoxo que é ter milhares de licenciados desempregados e, ao mesmo tempo, empresas que não conseguem encontrar os talentos de que precisam; 3) a aposta recorrente que, ao que tudo indica, irá acontecer uma vez mais, em soluções fáceis e de baixo valor para criar emprego e riqueza, como a construção de obras públicas.
Uma sociedade liberal exige ao poder político a coragem para resolver estes problemas geradores de desemprego – e deixa aos privados a responsabilidade de fazer o resto.
Bruno Faria Lopes, Editor de Economia
[Créditos ao Impertinente pela imagem sugerida]
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
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Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
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