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12/03/2008

CASE STUDY: o ministério da Educação é irreformável - deitem fora o diagrama do «metro de Londres»

Não há nada a fazer, por todas as razões que já foram ditas milhares de vezes e por mais uma que não me lembro de ter sido referida. Não há em Portugal talento de gestão em excelência e quantidade para administrar uma máquina com 150.000 criaturas recrutadas nas últimas décadas por um critério de anti-selecção. Com excepção de umas centenas (concedo: talvez uns milhares) de vocações monásticas, toda a enorme legião de professores que se refugiou nas escolas nos últimos 30 anos fê-lo porque não conseguiu outra oportunidade profissional equivalente, com um salário múltiplo do salário médio, número reduzido de horas de trabalho, sem prestar contas a ninguém pelos resultados do seu trabalho. Não se espere que esta gente aceite alegremente qualquer mudança deste status quo. Seria uma manifestação de estupidez.

É claro que a rejeição atávica pela maioria dos professores de qualquer reforma encontra pasto abundante nos disparates que a incompetência dos lunáticos instalados no ministério produz todos os dias. O diagrama tipo «metro de Londres» para avaliação é apenas a mais recente das asneiras. Porém, se não fosse o «metro de Londres» seria outra coisa qualquer. Tome-se um dos muitos «contributos» de profs a que o Abrupto deu abrigo:
«Sou professor do Ensino Secundário de História, tenho um Mestrado e um Doutoramento (tirados no ISCTE) em História Contemporânea, ou seja, sou doutorado na área científica em que sou docente, mas vou ser avaliado (de acordo com as grelhas) científico-pedagógicamente na minha área de docência por um Licenciado em geografia (Coordenador de Departamento), e vou ser também avaliado pelo Presidente do Conselho Executivo, neste caso um bacharel em fim de carreira!!

Portanto, em termos académicos o Estado Português confere-me um alto grau de competência científica, grau esse que utilizo para a área de docência, depois este mesmo Estado, obriga-me a ser avaliado na minha área de docência por um Licenciado em Geografia e por um Bacharel!!! (...) acha mesmo isto correcto?? É razoável??

Pois olhe meu caro amigo isto para mim é humilhante…. Não lhe desejo que estes laivos ditatoriais e humilhantes lhe cheguem à sua porta….. Mas já sabe como é a História da Humanidade, pensamos sempre que estes males nunca chegam a nós…… mas podem chegar….»
Esta criatura algum diria conseguiria trabalhar para um patrão com o 9.º ano que lhe pagasse o que ele e o mercado achassem que a criatura valia? Conseguiria a criatura conviver com a ideia de que os diplomas que ostenta de nada valeriam se o resultado do seu trabalho pudesse ser avaliado com os pés (dos que ficam e dos que vão embora) dos pais dos alunos por si instruídos? Dificilmente, para quem não aceita a ponderação de 6% dos resultados dos alunos na avaliação da ministra.

Qual a solução? Quem se lembra que o resultado do PREC foi um terço do PIB gerado pelo sector «empresarial» do estado? Quem se lembra de como a antecessora da PT tratava os seus clientes fazendo-os esperar meses por uma ligação telefónica finalmente obtida por cunha ou por uma concessão dum aparatchik em dia sim? Quem se lembra dos bancos nacionalizados e do serviço de má qualidade que prestavam com um rácio de clientes/empregado muito mais baixo do que o actual? Quem se lembra das greves dos transportes em que umas dezenas de milhar paralizavam o país, mês sim mês não? Qual foi a reforma do sector «empresarial» que as dezenas de governos que passaram pelo poder nos últimos 20 anos fizeram? Nenhuma, além da privatização. Qual foi então o milagre que se produziu? A concorrência (até os operadores incumbentes tiveram que mover as gordas bundas).

Concorrência é o que as escolas precisam. Deitem fora o diagrama do «metro de Londres». Livre escolha e cheque-instrução.

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