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25/08/2006

SERVIÇO PÚBLICO: continua a não haver vida para além do orçamento

Quanto mais o governo esconjura o défice, mais este o persegue. É mais um exemplo das funções zingarilho.

Enquanto o défice persegue o governo, este persegue os sujeitos passivos com uma factura fiscal cada vez mais pesada, enquanto se auto felicita pela contenção do défice à custa dessa factura. É o que nos mostra aqui e agora, quando já não é cúmplice, o doutor Frasquilho. Para só citar dois índices, veja-se o que se está a passar com a despesa corrente e a despesa corrente primária do Estado que o orçamento deste ano previa crescessem 1,5% e 0,7%, respectivamente, mas que até Julho já cresceram 7,8% e 8,7%. Torna-se óbvio que, com esta pletora da vaca marsupial pública, a única maneira de conter o défice é aumentar os impostos (e a dívida pública), que é precisamente o que está acontecer.

Não há Simplex que nos valha. Pelo contrário, quanto mais Simplex, mais complex - outra função zingarilho. Para levar a cabo (no papel) a reengenharia do estado napoleónico-estalinista contratam-se mais uns assessores e uns técnicos e adjudica-se a coisa a uns consultores. Resultado: não se reduz a despesa com vencimentos dos utentes residentes da vaca, por um lado, e aumenta-se a despesa por outro, com os novos residentes e prestadores de serviços. Ao mesmo tempo, a inexorável lei de Parkinson faz aumentar a burocracia dos antigos residentes até encher todo o tempo disponível. Propósito que é fácil, porque é pouco o tempo que fica livre aos residentes depois de tratarem das suas vidinhas.

Para concluir, ainda outra função zingarilho: quando mais durar o período de borla do governo do senhor engenheiro, mais retroactivos os sujeitos passivos lhe irão cobrar. Não será tão cedo, mas chegará a hora da cobrança em que as ilusões do senhor engenheiro serão trocadas por outras do mesmo jaez, na esperança que a coisa se resolve sem dor. Até ao momento em que, em estado de desespero, os sujeitos passivos estarão dispostos a aceitar até a reencarnação do professor Botas.

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