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23/06/2015

CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXVII) – Quem é quem nos amanhãs que cantarão na Grécia

Outros purgatórios a caminho dos infernos.

Antes de se começar a lançar foguetes e celebrar a chegado do navio grego ao porto de abrigo convirá conhecer quem está na ponte à roda de leme. Em «O equívoco grego: o Syriza não recusa um acordo, recusa o nosso modo de vida na União Europeia» José Manuel Fernandes traça no Observador um retrato esclarecedor sobre a dupla Tsipras-Varoufakis.

«Os radicais gregos não desejam apenas combater a austeridade – eles querem é tirar partido do descontentamento provocado pela austeridade para promoverem um tipo de sociedade radicalmente diferente da nossa. Eles não são reformistas ingénuos, são revolucionários que querem aparecer como pragmáticos. Tal como Álvaro Cunhal em 1975, eles não querem uma “democracia burguesa” – só são diferentes de Cunhal porque não sabem muito bem o que querem, pois longe vão os tempos da União Soviética.

A biografia do actual primeiro-ministro grego devia ter-nos alertado para o que ele realmente deseja. Quando entrou na política, no final dos anos 1980, fê-lo aderindo a um partido comunista pró-soviético na exacta altura em que o Muro de Berlim estava a cair. Quando deixou esse partido, não o fez por desilusão com o comunismo, mas para se juntar a uma força política porventura ainda mais radical. A sua vida foi passada nesses meios partidários e entre militantes associativos e sindicais. Umas vezes fez figura de moderado, outras de radical, navegando com habilidade por entre as múltiplas facções de uma extrema-esquerda grega permanentemente marcada por cisões e reconfigurações. Mesmo assim não há dúvida que encontrou o tom certo para cavalgar a onda do descontentamento popular, o que até não fi grande obra: Juncker disse-lhe recentemente que, se ele próprio tivesse concorrido a umas eleições com o mesmo tipo de promessas que o Syriza fez, não teria ficado pelos 36% dos votos, teria chegado aos 80%.

Varoufakis tem um percurso pessoal diferente, mas que também não nos devia criar ilusões. Ele é apenas mais um dos milhares de intelectuais radicalizados que têm ocupado, em todo o mundo desenvolvido, os departamentos de ciências sociais das universidades e utilizado essas plataformas para promoverem uma agenda política anti-sistema. Chomsky não é hoje a excepção, é antes a regra um pouco por todo o lado. Trata-se de gente que, apresentando-se como académicos, não hesitam ser aparecer como figuras de proa nos fóruns da “alter-mundialização” (como o nosso Boaventura Sousa Santos) ou em eventos como um “festival subversivo” (como fez Varoufakis no Verão de 2013, aí fazendo as suas confissões na qualidade de “marxista errático”). O piano, o apartamento com vista para a Acrópole e o cachecol da Burberry apenas ajudam a compor a imagem do intelectual “esquerda caviar”, uma imagem imensamente conveniente quando a maioria do eleitorado já não é composta por descamisados, mas sim por uma classe média que também sonha com o piano, o apartamento e o cachecol.»

Por isso, subscrevo a previsão de JMF (escrita na véspera da cimeira) e antecipo que esta saga vai continuar e arrisco ainda antecipar que acabará na Grexit, a menos que os líderes europeus aceitem em nome dos contribuintes europeus financiar a festa do Syriza com mais um perdão substancial da dívida e a continuação do financiamento do Estado grego sem contrapartida das reformas indispensáveis.

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