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04/09/2025

ESTÓRIA E MORAL: Desta vez vai ser diferente?

Estória

A valorização estratosférica da Palantir, uma empresa de software e serviços de tecnologia especializada na Defesa, levou Adam S. Parker (Could Palantir Be The Best Short Idea?,) a questionar-se sobre até onde poderia chegar essa valorização.

Fonte

O diagrama com os dados tratados por Parker mostra a evolução da média do retorno total (= mais valias + dividendos) em relação ao máximo atingido por 14 empresas cotadas no S&P 500 que desde 2000 apresentaram num determinado momento um rácio capitalização bolsista/vendas superior a 30. Nos 12 meses seguintes a terem atingido o máximo essas empresas já apresentavam uma redução média do retorno de 22% em relação ao índice S&P 500. 

Moral

Tudo o que sobe um dia desce, ou, mais precisamente, quase tudo (as dívidas...) 

31/08/2025

ARTIGO DEFUNTO: A distribuição de dividendos do BCP vista pelo Avante! da Sonae


A peça acima é do Público, um jornal sustentado pela família Azevedo, eventualmente porque é o preço que paga à esquerdalhada (em particular os comunistas e, por isso, também é conhecido por Avante! da Sonae) para não os chatearem demasiado. Aparentemente parece uma coisa factual e inócua mas é tudo menos objectivo e está cheio de mensagens subliminares.  

Em primeiro lugar, o título tem implícito que os accionistas não têm direito à proporção do lucro da empresa de que são proprietários e que, em consequência, se estão a apropriar ilegitimamente de dois terços. Em segundo lugar, tem igualmente subentendido que se a Fosun e a Sonangol «são as principais beneficiadas» por terem usurpado 40% dos lucros, apesar de terem 40% do capital do BCP, que lhes dá o direito a disporem de 40% do dividendo distribuído a todos os accionistas. Em terceiro lugar, que os outros 120 mil pequenos accionistas deveriam ter uma proporção maior dos dividendos do que a correspondente à sua participação no capital, como se não fosse inevitável que um accionista que tem 10% do capital tenha um dividendo 10 vezes maior do que outro que só dispõe de 1% do capital. Em quarto lugar, insinua que os accionistas «chamuscados pela guerra de poder de 2007» o foram por algum desígnio oculto e não por simplesmente serem então accionistas. 

Curiosamente, mas não surpreendentemente, a peça não faz qualquer alusão ao desígnio oculto, ou seja, à génese da guerra de poder de que resultou a venda de participações à Fosun e à Sonangol depois de lá terem sido torrado 8,3 mil milhões  (5,3 em aumentos de capital e  3,0 mil milhões em "ajudas") de dinheiro dos contribuintes (*).

______________

(*) Ver mais de uma centena de posts que se publicaram sobre o assalto ao Millenium bcp e, em particular o resumo «sequelas do assalto ao Millenium bcp.

22/07/2025

He took the words right out of my mouth, only Mr Trump can do that

«Mr Trump is a rich, powerful man leading a movement which contains people who believe that rich, powerful men cover up crimes for each other. The Trump movement includes free-traders and protectionists, pro-Ukraine people and pro-Russia people, those who want mass deportations and those who would spare hotel and farm workers. Mr Trump has kept them mostly happy by taking all these positions simultaneously. No other politician in America can do that.»

"The Epstein files and Donald Trump"

12/07/2025

Does history repeat itself the first time as a tragedy and the second time as a comedy?

«If you’re old enough, you’ve seen this movie: An eccentric billionaire, full of bile and nursing grudges against the incumbent Republican president, wants to create a third major political party and shake up the system.

In 1992, the billionaire was H. Ross Perot, and his vehicle for attacking the incumbent president, George H. W. Bush, was something called the Reform Party. Perot had a few good ideas; he wanted to balance the federal budget, for example, which is never a bad thing. But mostly, he was something of a rich crank who had a vendetta against the Bush family: In one of many strange moments, Perot claimed that his abrupt exit from the race in the summer of 1992 was because Bush had been plotting a smear campaign against his daughter, something for which he never offered proof.

It wasn’t a very good movie, and it certainly didn’t need a reboot, but we might be getting one anyway. Elon Musk has announced the formation of the “America Party,” a new political organization whose main idea is … well, the goal isn’t clear. Musk hasn’t said much about it, other than that it would be dedicated to stopping wasteful government spending. But mostly, his announcement seems dedicated to aggravating President Donald Trump, with whom Musk has had a very public falling out. And Trump is plenty aggravated. “I am saddened to watch Elon Musk go completely ‘off the rails,’ essentially becoming a TRAIN WRECK over the past five weeks,” Trump wrote on his Truth Social site on Sunday, adding that the “one thing Third Parties are good for is the creation of Complete and Total DISRUPTION & CHAOS.”

Trump’s trademark punctuation aside, the president has a point, at least about the possible disruption of the GOP. Even if Musk is serious—and one never knows with planet Earth’s richest jumping jester—the odds of this new party coming into existence are low: Third parties don’t get much traction in the U.S. political system. The chances that it will become a force in American politics are even lower. But if that’s the case, why is Trump so angry? A few days later, perhaps realizing how panicky his initial reaction sounded, Trump changed his tune. “It’ll help us,” he said of Musk’s new party.

And here, Trump is wrong: If Musk creates a new party to appeal to disaffected members of the now-defunct coalition that he, Trump, and some of the MAGA movement all cohabited, such a party—if it has any impact at all—is likely to hurt Republicans more than Democrats. Musk is a deeply unpopular figure in American politics, but what public support he enjoys comes heavily from the GOP itself. For now, he seems to be taking Perot’s approach, rooting the America Party in anger about the bloated and irresponsible One Big Beautiful Bill that Trump and the Republicans squeaked through Congress.

But who’s the audience for this appeal? It’s not big business or economic conservatives; Musk’s record as a business leader has taken a major hit, and those groups have already thrown in their lot with Trump and the GOP. It’s not the national-security Republicans, who know that Musk is no better than the fringiest and most isolationist Trumpers when it comes to foreign affairs. It’s certainly not the Never Trumpers, who, if Musk even wanted their support in the first place, would never forget his sycophantic embrace of Trump.

The real worry for Republicans is that Musk will peel off small numbers of people in two groups, both of them important to Trump’s grip on Capitol Hill. One group consists of swing voters who don’t much like Trump but who have stayed with him for various reasons; Musk might be able to get them pumped up about another celebrity movement. They could be swayed by Musk’s supposed anger about budgets the same way some of them bought into arguments about egg prices and inflation, allowing Musk’s candidates to shave away a few points here and there from the GOP.

But more worrisome to the Republicans is that Musk will corner the crackpot vote.

03/07/2025

O título do Jornal Eco parece mais um título de um jornaleco, que é como quem diz de um pasquim, e o governo do Dr. Montenegro parece o do Dr. Costa

Jornal Eco

Comentando a chusma de notícias nos jornais de ontem com títulos semelhantes ao acima, precisamente como aconteceu há dois anos nesta altura, reproduzo o post que então dediquei a esta demonstração de ignorância e má fé:
É uma espécie de mimetismo. Às 23.30 de quinta-feira o jornal Negócios dá a "notícia" de que a «portaria de condições do trabalho para trabalhadores administrativos, é assinada por oito ministros, e decide de forma administrativa os salários mínimos que se aplicam potencialmente a 94 mil trabalhadores que não estão cobertos por negociação» e quase todos os outros a repetem com títulos praticamente iguais que induzem nas meninges dos leitores que o governo irá pagar do bolso dos seus ministros a quase 100 mil trabalhadores do "privado", como eles dizem.

Ninguém explica e contextualiza a "notícia", esclarecendo que estamos perante um expediente chamado "portarias de extensão", pelo qual os contratos colectivos negociados pelos sindicatos (controlados pelo PCP) que representam 10% dos trabalhadores têm influenciado 90% dos contratos de trabalho, em empresas e sectores sem condições para pagarem a bitola das maiores empresas e continuarem competitivas. Por esta via, a concertação social tem tido principalmente o papel de defender os «direitos adquiridos» das corporações empresariais e sindicais, aumentar o desemprego e assim manter o statu quo.

Em Outubro de 2012, por pressão da troika, as portarias de extensões passaram a ter um alcance mais limitado que foi resposto em Abril de 2014.

22/06/2025

Read my lips

«We’re uniting forces to end the endless foreign wars.»

«I will have that war settled between Putin and Zelenskyy.»

«When I’m back in the White House, we will expel the warmongers, the profiteers … and we will restore world peace.»

«I ended wars.»

«My proudest legacy will be that of a peacemaker and unifier.»

(Source)

21/06/2025

Subvenções, benefícios, subsídios, apoios, as palavras mais usadas do glossário do Estado sucial

Segundo dados da Inspecção-Geral de Finanças citados pelo Jornal Sol, o governo distribuiu o ano passado 8,2 mil milhões de euros, ou 6,6% da despesa pública, por inúmeras entidades com destaque para as seguintes:


Além dos beneficiários do costume, os organismos públicos e a empresas públicas, com a CP em destaque, surge-nos como maior beneficiário a EDP uma empresa privada cujos principais accionistas são entidades estrangeiras.

Estrutura accionista da EDP

Já agora, recorde-se que o governo de Passos Coelho vendeu a EDP e outras empresas em cumprimento do memorando de entendimento (*) assinado em 2011 pelo governo socialista de José Sócrates, como condição para o Estado português ser resgatado da bancarrota em que este último governo o tinha deixado.
__________
(*) Memorando de entendimento:
3.31. (...) «O Governo compromete-se a ir ainda mais longe, prosseguindo uma alienação acelerada da totalidade das acções na EDP e na REN, e tem a expectativa que as condições do mercado venham a permitir a venda destas duas empresas, bem como da TAP, até ao final de 2011. »

18/06/2025

A defesa dos centros de decisão nacional (34) - Restos de colecção

Outras defesas dos centros de decisão nacional.

Recordemos, uma vez mais, os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas e as inúmeras declarações no mesmo sentido da esquerdalhada em geral. Recordemos também que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses.

A propósito, recordemos a nacionalização dos bancos como parte da nacionalização das empresas críticas em vários sectores económicos durante e em consequência do chamado PREC (Processo Revolucionário Em Curso), com vista a quebrar a espinha do "capitalismo monopolista", como então se dizia segundo o Zeitgeist da época.

Decorridos cinquenta anos, o que resta desses Bancos do Povo? Para além da CGD e das miudezas que não foram nacionalizadas, como o Banco Montepio e as Caixas Económicas, os outros bancos foram sendo vendidos a accionistas estrangeiros e, por último, restava o BES resultante da compra pelo GES grupo controlado pelos antigos accionistas.

O BES que a família Espírito Santo, pela mão de Ricardo "Dono Disto Tudo" Salgado, levou à falência, seria resgatado em 2014 dando origem ao BES Mau (que até agora custou aos contribuintes mais de 8 mil milhões de euros) e ao BES Bom, sendo este último comprado pelo fundo americano Lone Star em 2017, mantendo-se o Fundo de Resolução como accionista minoritário.

Foi há dias anunciado que o Novo Banco seria vendido ao grupo francês BPCE por 6,4 mil milhões de euros dos quais cerca de 2 mil milhões serão recuperados pelo Fundo de Resolução, reduzindo assim os custos para os contribuintes para uns 6 mil milhões de euros. 

Moral da estória, os Bancos do Povo nacionalizados para os subtrair ao controlo pelo capitalismo monopolista doméstico são hoje controlados principalmente pelo capitalismo espanhol, francês, chinês e angolano. 

15/06/2025

Dez anos de «Em defesa do SNS, sempre», «O SNS é um tesouro» e os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Nos oito anos em que o PS ocupou o governo, os seus dirigentes e porta-vozes saturaram os mídia com mantras de agit-prop como «em defesa do SNS, sempre» ou «o SNS é um tesouro» ao mesmo tempo que os seus governos reduziam para 35 horas os horários de trabalho ou seja menos 12,5%, redução que, garantiam o governo o Dr. Centeno e o Dr. Marcelo, não teria impacto orçamental, orçamentavam aumentos do investimento nunca executados, inchavam as listas de espera e atingiam 1,7 milhões de "utentes" sem médico de família (ver o relatório do CFP Evolução do Desempenho do Serviço Nacional de Saúde em 2023).

Enquanto os discursos subiam de tom, o sector privado de saúde prosperava com a migração de "utentes" que dispunham de seguros de saúde familiares ou, mais frequentemente, do seguro de grupo das empresas que face à paralisia do SNS perceberam que oferecer um seguro de saúde era um factor atractivo importante. Nos dois anos anteriores o volume de prémios do seguro de saúde aumentou 16,7% e 17,5%, respectivamente, enquanto a facturação dos hospitais privados crescia 11,6% o ano passado e atingia 2,5 mil milhões de euros (fonte). Entretanto o SNS continua mergulhado na sua ineficácia e nos seus escândalos e o governo da AD garante-nos que os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS».

14/06/2025

Double standards: There are insurrections for good causes and there are protests for bad causes

The good insurrection vs the bad protest

«IS THE UNREST in Los Angeles a one-off? Or is it the beginning of a summer of unrest, and of crackdowns by President Donald Trump, who has no patience for protesters in Democratic cities? (...)

On June 9th the Pentagon announced the deployment of hundreds of marines to the city to backstop the National Guard. That is unwise. Marines are not experienced in law enforcement. As the defence secretary likes to point out, soldiers are trained to kill. 

On the contrary, when the president who pardoned his own Capitol-charging insurrectionists sends in troops to take on Democrat-supporting Angelenos, his loyalists are more likely to put aside their worries about the economy or the fuss surrounding the ex-DOGE boss, Elon Musk. The danger is that Mr Trump tries this tactic in other Democratic strongholds, too.»

(What’s happening in LA could be a template for the Trump administration)

21/05/2025

History teaches us that closure results in decline. Trumpism will confirm the loss of US hegemony and its subsequent decline.

amazon.uk

«The way to start a “golden age” is to erect big, beautiful barriers to keep out foreign goods and people. That, at least, is the view of the most powerful man on the planet. Johan Norberg, a Swedish historian, makes the opposite case. In “Peak Human”, Mr Norberg charts the rise and fall of golden ages around the world over the past three millennia, ranging from Athens to the Anglosphere via the Abbasid caliphate. He finds that the polities that outshone their peers did so because they were more open: to trade, to strangers and to ideas that discomfited the mighty. When they closed up again, they lost their shine.

Previous golden ages all ended like Rome’s did, jinxed by a mix of bad luck and bad leadership. Many thriving societies isolated themselves or suffered a “Socrates moment”, silencing their most rational voices. “Peak Human” does not mention Donald Trump; it was written before he was re-elected. America’s president will not read it, but others should. The current age of globalisation could still, perhaps, be saved. As Mr Norberg argues: “Failure is not a fate but a choice.” » (Review)

14/05/2025

SERVIÇO PÚBLICO: A "riqueza" que o resto do mundo roubou aos Estados Unidos


«Quando os Estados Unidos investiam noutros países, ou quando importavam bens e serviços de outros países, precisavam de dólares para os pagar. De onde vinham esses dólares? De umas impressoras no Banco Central dos Estados Unidos. Eram papel que o resto do mundo começou por aceitar porque era pagável em ouro e que continuou a aceitar a partir do momento em que deixou de o ser. Não são riqueza saída dos Estados Unidos. São dívida que, a partir de 1971, os Estados Unidos deixaram de pagar.

É a isto que Donald Trump chama riqueza americana detida pelos outros países através de um processo de roubo. Há bandeiras dos Estados Unidos sobre muitos milhares, para não dizer milhões, de terrenos, de minas, de fábricas, de imóveis, de empresas detidas por americanos em praticamente todo o mundo. Há centenas de milhões de cidadãos e milhões de empresas, dentro dos Estados Unidos, que, durante 80 anos seguidos, compraram os bens e os serviços produzidos em todo o mundo, que consumiram (sem os terem produzido). Estes ativos e estes bens e serviços foram “pagos” com dívida americana (dólares) que o mundo foi aceitando, só tendo sido realmente pagos nos casos em que estes dólares regressaram aos Estados Unidos, para compra de ativos e para compra de bens e serviços americanos por parte dos outros países.

Os dólares hoje detidos por todo o mundo, os que tendo saído dos Estados Unidos não regressaram (o défice acumulado da balança de capitais e da balança de bens e serviços dos Estados Unidos durante estes últimos 80 anos) são dívida externa dos Estados Unidos — não do Estado, ou do Governo, ou do Tesouro, mas da nação americana, através do seu sistema bancário, tendo no vértice o Banco Central (melhor, o conjunto de Bancos Centrais dos Estados Unidos que integram o chamado Sistema de Reserva Federal).

É isto que Donald Trump designa de riqueza roubada pelo resto do mundo: dívida externa dos Estados Unidos, a maior dívida do mundo, desde há muitos anos em aumento consecutivo, de que são credores os povos do mundo inteiro.

Há nesta “narrativa” de Donald Trump (para usarmos o termo consagrado por José Sócrates) um misto de ignorância, de atrevimento e de boçalidade. Não admira que esteja a levar o resto do mundo a tomar consciência da verdadeira natureza do dólar, apeando-o de um estatuto que deixou definitivamente de merecer.»

Excerto do artigo de Daniel Bessa no caderno de Economia do Expresso de 9 de Maio

09/05/2025

A defesa dos centros de decisão nacional (33) - Depois da banca, dos seguros, da indústria, a padaria portuguesa vai ser espanhola

Outras defesas dos centros de decisão nacional.

Recordemos, uma vez mais, os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas e as inúmeras declarações no mesmo sentido da esquerdalhada em geral. Recordemos também que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela  descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses.

Foi agora a vez da Padaria Portuguesa com as suas 84 lojas, duas fábricas e mil trabalhadores se vender ao grupo espanhol Rodilla, uma cadeia de restauração com cerca de 300 estabelecimentos.

Esta operação pertence a outra classe diferente da venda dos bancos, das seguradoras e de vários grupo industriais que em muitos casos tinham sido nacionalizados, estavam descapitalizados ou atravessavam crises. Não parece ser este o caso da Padaria Portuguesa, aparentemente um negócio bem sucedido, que talvez se enquadre na falta de vocação empresarial, de visão de longo prazo e de gosto pelo risco dos seus accionistas que podem querer viver dos rendimentos. Não seria a primeira nem será a última iniciativa empresarial de que os seus promotores se desfazem e vão de férias. Caso não seja, subscrevo já por antecipação um pedido de desculpas pela especulação. 

07/05/2025

ESTÓRIA E MORAL: «Às ordens do movimento»

Estória

No dia 25 de Abril de 1974 o que restava do Estado Novo ruiu de mansinho empurrado pelo golpe militar. Num outro país provavelmente haveria centenas ou milhares de mortos, como aqui ao lado a guerra civil espanhola causou meio milhão de mortos. No Portugal dos Pequeninos houve quatro mortos e umas dezenas de feridos quando o pessoal da política política encurralado na sede da PIDE, que durante o marcelismo tinha mudado de nome para DGS, atirou sobre os manifestantes, possivelmente mais por medo do que outra coisa.

O major Silva Pais, num depoimento só agora tornado público, descreveu assim a rendição da PIDE de que tinha sido director.    
João Abel Manta
Mais extraordinário do que a queda quase pacífica do Estado Novo é este depoimento do director da polícia política que os delírios anti-fascistas domésticos comparam com a Gestapo - Geheime Staatspolizei - (mas não comparam com o KGB - Комитет Государственной Безопасности, et pour cause), declarando que «aguardava ordens do Movimento», estava às suas «ordens» e recebeu o seu representante «com todas as atenções».

Moral

O Portugal dos Pequeninos é um país de «brandos costumes» como disse António Oliveira Salazar, em entrevista a António Ferro, intelectual republicano admirador de O Botas e uma espécie de ideólogo do salazarismo.

25/04/2025

Mitos (349) - O Estado Novo foi um paraíso perdido com o golpe militar de 25 de Abril que nos trouxe o inferno

O ano passado nesta data tratei do mito do 25 de Abril partilhado pela esquerdalhada. Este ano trato também da outra face do mito partilhada pelos viúvos do Estado Novo.

Tivemos os 48 anos de Estado Novo que, sendo uma ditadura sonsa e beata, não deixou de ser uma ditadura encalhada no tempo, tentando endoutrinar as crianças e os jovens com a Mocidade Portuguesa e organizar os adultos com a Legião Portuguesa, com uma polícia política que vigiava e punia uma oposição fraca quase resumida ao Partido Comunista e garantia que do simulacro de eleições saísse sempre o mesmo resultado. Um Estado Novo que nos manteve numa miséria pacata, onde para usar um isqueiro era preciso ter uma licença (as fábricas de fósforos eram propriedade de eminências do regime) e só nos anos 60 com a adesão à EFTA (European Free Trade Association) se iniciou um período de crescimento interrompido pelo golpe militar. Uma ditadura que tentou, contra as tendências da história, manter um império colonial que nunca chegou a ser império e consumiu as energias de uma geração numa guerra impossível de ser vencida.

Uma ditadura que não sobreviveu quase cinco décadas sem a adesão das elites, dos situacionistas e dos oportunistas (alguns deles viraram a casa) e com a passividade, mansidão e conformidade de um povo traumatizado pela incompetência, violência e instabilidade da 1.ª República. Uma ditadura que se desfez como um castelo de cartas com um simples golpe militar, cuja génese deve mais ao sindicalismo militar e menos à ideologia e aos grandes princípios, golpe militar cavalgado pela única força política organizada.

Com o mesmo povo, gradualmente menos passivo e menos conformado, chegámos ao PREC de onde quase saiu uma ditadura pior do que a do Estado Novo, tivemos a reforma agrária e as nacionalizações que expropriaram o "capitalismo monopolista", desmantelou-se o sector financeiro, hoje quase totalmente controlado por capital estrangeiro, a indústria foi reduzida a microempresas e PME e a uma ou outra sobra das grandes empresas industriais. Foi construído um Estado sucial pletórico, que faliu três vezes nos últimos 50 anos, controlado pelos novos situacionistas e povoado  por um número de funcionários (750 mil) que é o dobro da soma dos "servidores do Estado" (200 mil) com os mobilizados para a guerra colonial (170 mil). As Forças Armadas foram reduzidas a uma tropa pelintra, desmoralizada, mal equipada e incapaz de defender o país. O ensino público foi gradualmente infectado por ideologias neo-marxistas a um grau que rivaliza com a endoutrinação no ensino do Estado Novo mas fica longe do seu grau de exigência técnica. A qualidade do pessoal político degradou-se e a maioria dos ministros do regime actual não teriam por incompetência técnica lugar num governo do Dr. Salazar ou do Dr. Marcelo. O resultado é um país ultrapassado pelos países saídos das ruínas do império soviético, com uma economia pouco competitiva de baixa produtividade, endividado e dependente dos dinheiros europeus.

No final ficámos com o arbítrio mais livre e, em consequência, com menos desculpas, o que só por si é positivo.

09/04/2025

BELIEVE IT OR NOT! A Billionaire Talks to Americans Like They're Idiots

«Billionaire investor Bill Ackman walked back his attack on Commerce Secretary Howard Lutnick on Monday in a post on social media, after previously arguing the commerce secretary profits if the economy implodes amid ongoing backlash to President Donald Trump's tariffs. (...)

"I am just frustrated watching what I believe to be a major policy error occur after our country and the president have been making huge economic progress that is now at risk due to the tariffs," Ackman continued. (...)

"This is not what we voted for," Ackman said. »

(Fox Business)

«This is not what we voted for"? Is this talk for idiots? How is it possible that Mr. Ackman and many others with him, wash their hands claiming that they were surprised when perhaps Donaldo's only quality is that he shouted out loud much in advance what he was going to do?

07/03/2025

PUBLIC SERVICE: Trumpism is a form of Max Weber's patrimonialism

«(...) 

The other source of legitimacy is more ancient, more common, and more intuitive—“the default form of rule in the premodern world,” Hanson and Kopstein write. “The state was little more than the extended ‘household’ of the ruler; it did not exist as a separate entity.” Weber called this system “patrimonialism” because rulers claimed to be the symbolic father of the people—the state’s personification and protector. Exactly that idea was implied in Trump’s own chilling declaration: “He who saves his Country does not violate any Law.”

In his day, Weber thought that patrimonialism was on its way to history’s scrap heap. Its personalized style of rule was too inexpert and capricious to manage the complex economies and military machines that, after Bismarck, became the hallmarks of modern statehood. Unfortunately, he was wrong.

Patrimonialism is less a form of government than a style of governing. It is not defined by institutions or rules; rather, it can infect all forms of government by replacing impersonal, formal lines of authority with personalized, informal ones. Based on individual loyalty and connections, and on rewarding friends and punishing enemies (real or perceived), it can be found not just in states but also among tribes, street gangs, and criminal organizations.

In its governmental guise, patrimonialism is distinguished by running the state as if it were the leader’s personal property or family business. It can be found in many countries, but its main contemporary exponent—at least until January 20, 2025—has been Vladimir Putin. In the first portion of his rule, he ran the Russian state as a personal racket. State bureaucracies and private companies continued to operate, but the real governing principle was Stay on Vladimir Vladimirovich’s good side … or else.

Seeking to make the world safe for gangsterism, Putin used propaganda, subversion, and other forms of influence to spread the model abroad. Over time, the patrimonial model gained ground in states as diverse as Hungary, Poland, Turkey, and India. Gradually (as my colleague Anne Applebaum has documented), those states coordinated in something like a syndicate of crime families—“working out problems,” write Hanson and Kopstein in their book, “divvying up the spoils, sometimes quarreling, but helping each other when needed. Putin in this scheme occupied the position of the capo di tutti capi, the boss of bosses.”

Until now. Move over, President Putin.

06/02/2025

European Disunity. A picture is worth a thousand words

Economist

«As infuriating as denialism can be to Gaullists and Atlanticists, it is still better than the final camp. An arc of Putinist leaders stand ready to foil EU schemes that rile Russia, whose strongman president the likes of Viktor Orban in Hungary and Robert Fico in Slovakia seem to want to emulate. (They think of themselves as Trumpian: same difference, some might say.) Though small, their camp is growing and any of them can derail EU measures that require unanimity, such as imposing sanctions or aiding Ukraine.»

28/01/2025

O presidente Trump a fazer o lugar do outro

Reuters

A fazer o lugar do CEO da Microsoft, o imigrante indiano Satya Nadellla, dando informações através dos mídia ao SEC Mark Toshiro Uyeda, neto de imigrantes japoneses que foram internados pelo governo americano durante a Segunda Guerra Mundial.