Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

16/05/2024

Mitos (337) - A proliferação das florestas é sempre óptima para o ambiente (MODIFICADO)

Plantar árvores é possivelmente a única medida que no domínio do ambiente é apoiada por quase todos, desde os mais ferozes ambientalistas até aos mais furiosos adeptos da economia do petróleo. Porém, como quase tudo na vida e à superfície do planeta, plantar árvores pode ser bom, pode ser mau ou pode ser pouco relevante ou mesmo irrelevante.

Como este é um tema raramente abordado e praticamente desconhecido da opinião pública, a publicação do artigo Plantar Árvores Ajuda a Reduzir o Aquecimento Global? Nem Sempre! de Tiago Domingos, Professor de Ambiente e Energia no IST, é um serviço público. Aqui fica um excerto.

«A plantação de árvores é frequentemente apresentada como uma das soluções para o aquecimento global, dada a sua capacidade de retirar dióxido de carbono da atmosfera. À partida, a lógica é simples: as árvores fazem fotossíntese, e essa fotossíntese corresponde a utilizar a energia da radiação solar para retirar dióxido de carbono da atmosfera para sintetizar compostos orgânicos, ricos em carbono (como açúcares ou madeira). No entanto, existem múltiplas ressalvas que devemos acrescentar a este raciocínio, que atenuam e, nalguns casos, invertem o seu efeito.

Em primeiro lugar, como qualquer outro ser vivo, as plantas precisam de usar compostos orgânicos para fornecer energia para os seus processos vitais. Nesse processo, que todos conhecemos, da respiração, transformam os compostos orgânicos ricos em carbono outra vez em dióxido de carbono, libertando a energia de que precisam. Só enquanto a fotossíntese é superior à respiração, isto é, enquanto as árvores estão em crescimento, é que há, em saldo, uma remoção de dióxido de carbono da atmosfera. Isto significa, portanto, que uma floresta madura, no que se chama o estado clímax, em que já não há crescimento das árvores (ou, para ser mais rigoroso, em que o crescimento de algumas árvores é balanceado pela morte e decomposição de outras), é uma floresta que não retira dióxido de carbono da atmosfera. Claro que, se deixarmos uma floresta degradar-se, por doenças, por pestes ou por incêndios, vamos ter a pior situação de todas: uma emissão de dióxido de carbono para a atmosfera (como aconteceu, por exemplo, em Portugal, no ano de grandes incêndios de 2017).

Mas, para além deste efeito, mais generalizadamente conhecido, sabemos hoje que há outros efeitos que reduzem, anulam ou até contrabalançam o efeito das florestas de arrefecimento do clima. O mais significativo e claro destes efeitos refere-se ao albedo. Albedo é a palavra que usamos para designar a capacidade que uma superfície tem de reflectir a radiação solar. A neve, por exemplo, tem um albedo elevado, enquanto que a vegetação verde tem um albedo baixo; vegetação seca ou solo nú têm albedos intermédios.

Num artigo publicado na revista Nature em 2020, Richard Betts, cientista no famoso Met Office, no Reino Unido, mostrou que, a latitudes elevadas (como no norte da Rússia e do Canadá), em biomas como a tundra, em que o solo está coberto de neve durante uma parte significativa do ano, a existência de árvores tem um efeito significativo de redução do albedo: em vez de um manto contínuo de neve, altamente reflector da radiação solar, temos uma manto descontínuo de neve, pontuado pelo verde escuro das árvores (que nestas latitudes, são coníferas, com folhas, isto é, agulhas, durante todo o ano). Concluiu assim que, em certas zonas boreais, se plantarmos árvores, o seu efeito de aquecimento, por via do albedo, é superior ao seu efeito de arrefecimento, por via da remoção de dióxido de carbono da atmosfera!

Mais recentemente, constatou-se que este efeito é também significativo a latitudes mais baixas.  Este ano, num artigo publicado na revista Nature Communications a 26 de Março, numa análise global deste problema, concluiu-se que este problema existe por todo o mundo, com especial incidência nas áreas boreais, como já se sabia, mas também em zonas semi-áridas. Por exemplo, no bioma Mediterrânico, em 60% da área ocorre o mesmo problema. Essencialmente, estamos em situações em que, por exemplo, pastagens, que secam no Verão, ficando a vegetação seca e com menos cobertura do solo, teriam um albedo mais baixo. Ao plantarmos árvores, vamos ter um albedo mais alto, mais absorção de radiação e, portanto mais aquecimento.

Significam estes resultados que não devemos plantar árvores para sequestrar carbono? Não, de todo (nomeadamente quando considerando também os outros benefícios associados aos ecossistemas florestais). Significam, sim, que devemos ter atenção na escolha dos locais onde esta plantação é feita, de forma a minimizar os efeitos negativos em termos de albedo (não deixando nunca de o contabilizar, nomeadamente para efeitos de geração de créditos de carbono). Existem amplas oportunidades para tal, pois o artigo referido conclui que, numa amostra dos projectos de florestação actualmente realizados por todo o mundo, 84% estão localizados em pontos onde o saldo é positivo, isto é, o sequestro de carbono supera o efeito negativo do albedo. Adicionalmente, em 33% destes projectos, o efeito negativo do albedo é pouco significativo.

Temos ainda um caso pontual onde a plantação de árvores é tipicamente favorável. Trata-se das áreas urbanas, onde o efeito de albedo é até vantajoso, pois o verde das árvores absorve menos radiação solar que o negro do alcatrão (adicionalmente, as árvores retêm poluentes atmosféricos e pela sua transpiração reduzem localmente a temperatura). No entanto, do ponto de vista de sequestro de carbono, trata-se de extensões reduzidas em termos de áreas.

Em suma, a plantação de árvores para sequestro de carbono é um instrumento útil, mas as condições em que é feita têm de ser cuidadosamente analisadas, garantindo que só é feita quando de facto há benefícios, o mais significativos possível, quer para o clima, quer do ponto de vista mais amplo da sustentabilidade..»

_____________

Aditamento:

Os comentários à versão original deste post onde apenas citava um excerto do artigo do professor Tiago Domingos, levaram-me a concluir duas coisas:

(1) que seria conveniente citar a totalidade do artigo, o que já está feito e

(2) confirmaram o que escrevi em quase 30 posts sobre a dogmática ambiental; o debate sobre os temas ambientais é muito mais um debate ideológico do que um debate científico e nesse debate ideológico as posições tendam a extremar-se existindo muito pouco espaço para dúvida, ou seja para uma abordagem científica, em consequência da deslocação da discussão do campo científico, onde predomina a racionalidade, para o campo ideológico e inevitavelmente político, onde predominam as crenças e as teorias da conspiração.

15/05/2024

Putin has an underground war going on with Europe and Europe doesn't even realize it

«The fire that broke out in the Diehl Metall factory in the Lichterfelde suburb of Berlin on May 3rd was not in itself suspicious. The facility, a metals plant, stored sulphuric acid and copper cyanide, two chemicals that can combine dangerously when ignited. Accidents happen. What raised eyebrows was the fact that Diehl’s parent company makes the iris-t air-defence system which Ukraine is using to parry Russian missiles. There is no evidence that this fire was an act of sabotage. If the idea is plausible it is because there is ample evidence that Russia’s covert war in Europe is intensifying.

In April alone a clutch of alleged pro-Russian saboteurs were detained across the continent. Germany arrested two German-Russian dual nationals on suspicion of plotting attacks on American military facilities and other targets on behalf of the GRU, Russia’s military intelligence agency. Poland arrested a man who was preparing to pass the GRU information on Rzeszow airport, the most important hub for military aid to Ukraine. Britain charged several men over an earlier arson attack in March on a Ukrainian-owned logistics firm in London whose Spanish depot was also targeted. The men are accused of aiding the Wagner Group, a mercenary group that has been active in Ukraine and is now under the GRU’s control. On May 8th Britain announced that in response to “malign activity” it was, among other steps, expelling Russia’s defence attaché, an “undeclared” ´GRU officer.

A number of Baltic states have also accused Russian intelligence services of recruiting middlemen to attack property and deface monuments. In February Estonia said it had arrested ten people and broken up a plot to attack the cars of the country’s interior minister and the editor of a news website. Latvia’s security service said it had detained an Estonian-Russian citizen who had poured paint on a memorial to Latvian soldiers who fought the Red Army in the second world war. In March an ally of Alexei Navalny, the Russian opposition leader who died in Russian custody in February, was attacked with a hammer in Lithuania’s capital, Vilnius.

14/05/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (6b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

(Continuação de 6a)

O não é sim. Chega salta em andamento para o calhambeque socialista

A coligação PS-Chega aprovou o pagamento das portagens nas SCUT por quem não as utiliza e votou o projecto de lei do PS para aumentar para até 800 euros a dedução das rendas no IRS. A proposta do governo no IRS não foi votada e baixou à especialidade.

Pare, escute e olhe! A luz no fundo do túnel Ferrovia 2020 pode ser um comboio espanhol

Perguntado sobre o futuro do transporte ferroviário na Europa no contexto dos planos da Comissão Europeia, Óscar Puente, ministro dos Transportes do governo espanhol, não enganou ninguém e disse «a Renfe vai operar onde tiver oportunidade». Ora, oportunidades são o que não faltam quando se faz o ponto de situação do Ferrovia 2020 que em 2024 tem um atraso total em todos os troços de 33.074 dias.

O Dr. Pedro Nuno quer corrigir a governação do PS com o grupo parlamentar do PS

Provavelmente insatisfeito com os resultados de oito anos de governos de socialistas onde participou, o Dr. Pedro Nuno apresentou uma proposta de alterações ao IRS com o fim do adicional de solidariedade e criando um 10.º escalão.

Take Another Plan. De volta ao velho normal

Depois do celebrado lucro de 177 milhões em 2023, inteiramente resultante de um “empréstimo” a fundo perdido sem juros de 3,2 mil milhões, que aos juros correntes representa duas centenas de milhões por ano, a TAP voltou no 1.º trimestre ao seu normal com 72 milhões de prejuízos.

A insustentável leveza da sustentabilidade

mais liberdade

Para quem conheça o Institute Global Pension Index da Mercer que situou o sistema português de pensões em 41.º lugar em 44 países no que respeita a sustentabilidade, o diagrama anterior que situa Portugal em sétimo lugar nos 27 países da UE no que respeita ao peso das responsabilidades futuras em relação ao PIB, não constituirá surpresa.

13/05/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (6a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

Afinal o Dr. Medina não é economista, é engenheiro e Mestre em Ilusionismo

À pala da classificação como contabilidade pública ou contabilidade nacional, podemos relevar ao Dr. Medina uma parte das despesas extraordinárias que, segundo o Dr. Miranda Sarmento, o anterior governo aprovou no valor de 1.080 milhões de euros, quase todas depois das eleições legislativas, mas não todas. Nem se pode relevar a manobra de extorquir um total de 115 milhões a vários títulos à Águas de Portugal, à Casa da Moeda e à NAV para a arredondar o rácio da dívida pública.

A pesada herança da autoestrada mexicana do PS

«Entre 2016 e 2023, o investimento público foi apenas de 2,2% do PIB, muito abaixo da média entre 2000 e 2010 (4,2% do PIB) e, mais chocante ainda, abaixo da média do período da “troika” (2,5% do PIB). Aliás, este padrão de sub-investimento prolongou-se até ao final do anterior governo. Dos 1,2% do PIB de “excedente” orçamental de 2023, 1,0% do PIB corresponde a investimento público orçamentado e não executado.» ( Pedro Braz Teixeira)

Em 2023 do investimento público orçamentado de 8,6 mil milhões apenas foram executado 78,2% (6,7 mil milhões), equivalente a 2,5% do PIB, o segundo rácio mais baixo da UE, e uma boa ajuda para o brilharete do superavit do Dr. Medina.


O diagrama anterior mostra-nos na cauda da Óropa em termos de investimento público, a anos-luz dos sobreviventes do colapso do Império Soviético que, por esta e por outras razões, nos estão a ultrapassar um após outro e ano após ano.

Choque da realidade com a Boa Nova

Recordam-se do plano do Dr. Costa para apoiar com 200 euros o pagamento da renda de professores deslocados – o que foi identificado como um grave problema – nos contratos celebrados a partir de Setembro do ano passado? Foram aprovadas até agora 10 (dez) candidaturas.

(Continua) 

Crónica de um Governo de Passagem (1)

Navegando à bolina
Um Governo de Passagem 

O governo AD só não é um governo provisório porque não será seguido por um governo definitivo. Está lá para fazer tempo à espera das eleições europeias e depois verá se cai o governo ou se cai a coligação PS-Chega. Entretanto, ainda que quisesse governar e soubesse como, o calhambeque socialista informal com o Chega a bordo não o deixaria. Portanto, estamos nisto. 

 À procura do astrolábio

São problemas de comunicação, como os 1.500 milhões de descida do IRS que afinal eram só 150 milhões, como a incorporação de delinquentes juvenis, como o pingue-pongue entre os ministros das Finanças actual e anterior sobre o défice deste ano - em contabilidade pública ou em contabilidade nacional? 

São problemas de coordenação como o de um ministro a garantir aos professores as “promoções” e outro a desmenti-lo ou ainda uma ministra a despedir uma provedora e obrigá-la a manter-se no lugar. Assim, estamos nisto.

12/05/2024

CASE STUDY: Construir ciclovias com os dinheiros de Bruxelas é mais fácil do que convencer o povo a usá-las

Expresso

Em três anos mais 450 mil veículos particulares. Apesar do enorme crescimento da frota automóvel, se acreditarmos nas declarações oficiais, com o investimento em ciclovias e a endoutrinação ambiental, a utilização de outros meios de transporte deveria estar a aumentar e a intensidade de utilização dos veículos privados a diminuir, o que visivelmente não está a acontecer.

Fonte: Economist

Um estudo recente envolvendo 850 milhões de pessoas de 794 cidades, entre as quais sete cidades portuguesas, em que foi medida a intensidade da caminhada a pé e da utilização de bicicleta, caracteriza as cidades portuguesas com baixa ou média intensidade desses meios de transporte e também sem predominância do transporte colectivo. Note-se que o ranking é o mundial, que inclui as cidades dos EU e Canadá com alta intensidade de utilização do veículo privado; num ranking europeu as cidades portuguesas ficam pior classificadas. Mais uma vez, a realidade não acompanha o pensamento milagroso.

11/05/2024

Anatomia de uma "cleptocracia etnonacionalista gerida por um pleonexíaco com uma mesa demasiado longa"

«John Sweeney is a writer and reporter, old school. He remained in the Ukrainian capital throughout the Battle of Kyiv and his latest book, Killer In The Kremlin, reveals Vladimir Putin to be the monster he is. Sweeney's philosophy is: ‘I poke crocodiles, if crocodiles they be, in the eye with a stick.’

He’s helped free seven people falsely accused of killing babies, starting with Sally Clark, reported on wars, revolutions and trouble around the world, gone undercover to Zimbabwe, Chechnya, twice, and North Korea. He upset Donald Trump by asking him about his links with the mob - Trump walked out on him - and upset Vladimir Putin by asking him about Russia's role in the shooting down of MH17. But he is probably best known for shouting at the Church of Scientology.

After 17 years at the BBC for Panorama and Newsnight, he is now a free spirit, up for the right kind of trouble.» 

 
Leitura dedicada em especial aos Putinversteher e em geral a quem possa sentir-se fascinado pelo "homem forte" imaginado pelos idiotas úteis do mundo ocidental como exemplo de líderes que evitariam a degeneração dos costumes e exterminariam o wokeism. Sim, é possível que esses homens fortes fizessem isso no caminho para eliminar todas as liberdades.

10/05/2024

CASE STUDY: Os resultados da IA da Google influenciada pela doutrina woke são difíceis de distinguir da Estupidez Natural

«Quando solicitado a mostrar imagens de papas, nazis, cavaleiros e dos fundadores da América,
 Gemini produziu imagens que retratavam exclusivamente pessoas de cor. (Imagens geradas pela Gemini)»

«Foi uma exibição que teria impressionado até mesmo Orwell: a busca por imagens de “nazis” e o chatbot de IA do Google mostra quase exclusivamente nazis negros gerados artificialmente; pesquise “cavaleiros” e você encontrará cavaleiros asiáticos femininos; pesquise “papas” e são papas mulheres. Peça-lhe para partilhar o slogan Houthi ou definir uma mulher, e o novo produto do Google diz que não o fará, a fim de evitar ofensas. Quanto a saber se Hitler ou Elon Musk são mais perigosos? O chatbot AI diz que é “complexo e requer uma consideração cuidadosa”. Faça-lhe a mesma pergunta sobre Obama e Hitler e dir-lhe-á que a pergunta é “inapropriada e enganosa”.» 

(De uma newletter da Freepress)

09/05/2024

ARTIGO DEFUNTO: Títulos que são todo um programa de indução subliminar

Expresso

Será preciso recordar que este ministro das Finanças foi nomeado há cinco semanas, sucede ao Dr. Medina que no primeiro trimestre deste ano emitiu OT no valor de 9.125 milhões de euros, que a emissão a que o artigo se refere fazia parte do plano de colocação da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública, que os juros vêm aumentando há dois anos e que, portanto, o Dr. Miranda Sarmento tem tanto a ver com estes juros e esta emissão quanto o papa Francisco? Note-se que origem da notícia é da Lusa mas o título é do jornalista de causas de serviço no semanário de reverência.

Dúvidas (372) - O que move o Dr. Ventura ao pretender limitar o direito de expressão do Dr. Marcelo, um notório picareta falante?

É pouco frequente escrever sobre o Chega ou o seu líder Dr. Ventura, principalmente porque as minhas críticas iriam acrescentar-se, ainda que por razões e pressupostos muito diferentes, à enxurrada que o jornalismo de causas e a comentadoria do regime lhe dedica, ou mesmo, para os distraídos, confundir-se com essa enxurrada.

Abro mais uma excepção para comentar a iniciativa aprovada ontem pelo grupo parlamentar do Chega de apresentar uma queixa-crime contra o Dr. Marcelo "por traição à Pátria", fundada no facto deste último ter defendido as reparações às ex-colónias num jantar com jornalistas estrangeiros. 

Sobre o fundo da questão não vou agora discorrer porque em várias ocasiões (por exemplo aqui ou aqui) já disse o que tinha a dizer, como disse sobre o Dr. Marcelo, em quem não votei. O que pretendo salientar é que, por muitos disparates que o Dr. Marcelo produza e nem mesmo pelo exercício deplorável dos seus dois mandatos, exercício que faz dele um dos piores presidentes da República, se não mesmo o pior, ele não perde a liberdade de os exprimir.

Pretender inventar um crime de expressão que obviamente não existe (por enquanto), como sabe muito bem o Dr. Ventura, pode ter dois propósitos, ambos para mim preocupantes, não pelos efeitos que são com toda a probabilidade inócuos, mas pelo que isso pode indiciar: ou bem se pretende intimidar a criatura, ou bem se pretende excitar os piores sentimentos da turba num exercício demagógico tão ao gosto do Dr. Ventura. Em ambos os casos, isso revela tiques totalitários de mau prenúncio.

08/05/2024

ESTÓRIA E MORAL: Pode-se servir a dois senhores, mas não ao mesmo tempo (salvo no caso dos espiões duplos)

Estória
 
João Abel Manta

Nas últimas duas semanas, a Revista do Expresso publicou duas peças (*) sobre Lima de Carvalho uma personagem relativamente conhecida, pelo menos de quem tivesse visitado a Galeria de Arte do Casino Estoril, mas com uma vida durante o Estado Novo desconhecida de quase todos - a de funcionário discreto do  Serviço de Leitura Especializada da Direção dos Serviços de Censura encarregado das publicações não periódicas em acumulação com redactor anónimo do jornal "A Voz", uma das vozes do regime. Desconhecida de quase todos, mas não de todos. A célula local do PCP no Casino Estoril sabia do seu passado e manteve-se um prudente silêncio tirando vantagem dessa informação, como fazia habitualmente com "arrependidos" do regime.

O interessante desta estória é que Lima de Carvalho serviu com igual zelo, ou mesmo melhor, a democracia, que o condecorou com o grau de oficial da Ordem do Infante D. Henrique, e a ditadura que os jornalistas do Expresso, talvez para exorcizar os seus fantasmas, chamam "fascismo",  o que o antigo regime nunca foi, como qualquer alma que conheça história saberá.  

Moral

Quando Jesus disse (Mateus 6:24)  «Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro», referia-se, obviamente, a servi-los ao mesmo tempo. 

Como o pintor e cartunista Abel Manta, muito bem retratou, os tempos que se seguiram à queda do Estado Novo foram pródigos em conversões maciças. Eu próprio já recordei várias vezes ter então descoberto que o país estava coalhado de democratas, socialistas e comunistas. Em cada empregado servil, venerador, de espinha dobrada e mão estendida, havia um heróico sindicalista pronto a lutar pelos direitos dos trabalhadores e pelo «saneamento» do patrão.

______________

(*) ‘Frei’ Lima de Carvalho e os seus dois regimes: a história secreta do censor que se tornou patrono das artes após o 25 de Abril e O camaleão: como o PCP ajudou a reabilitar um antigo censor do Estado Novo.

07/05/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (5b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

(Continuação de 5a)

A Hidra de SEF, como a de Lerna, tem sete cabeças e nenhuma delas funciona

Em vez de apurar as responsabilidades pela má gestão do SEF e pelas arbitrariedades que culminaram com o homicídio de um imigrante ucraniano, o governo do Dr. Costa criou a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) e a Unidade de Coordenação de Fronteiras e Estrangeiros (UCFE) e ainda transferiu outras funções para a PSP, a GNR e a PJ, o Instituto dos Registos e Notariado (IRN), o Sistema de Segurança Interna (SIS) e as autarquias. Resultado, nas palavras do semanário de reverência: «em apenas seis meses de existência, a AIMA foi alvo de mais de 7600 processos judiciais pelos atrasos na legalização de migrantes. Há 400 mil pedidos pendentes para resolver».

«Pagar a dívida é ideia de criança»

Esgotada a engenharia do brilharete de redução do rácio no final do ano, a dívida pública voltou a aumentar no 1.º trimestre 2,4 mil milhões para 270,9 mil milhões, ou de 99,1% para 100,5% do PIB, e os depósitos em bancos reduziram-se quase mil milhões de euros em Março (fonte).

A família socialista tem imenso jeito para o negócio. Trapalhadas até ao fim

Foi assinado antes da decisão da compra um contrato-promessa de compra de um edifício do Centro para a Economia e Inovação Social da Guarda que só teve lugar depois de conhecido o resultado das eleições.

«A educação é a nossa paixão»

Segundo a Fenprof, seis meses depois do início do ano lectivo ainda há 30 mil alunos que não têm pelo menos um professor, isto apesar dos governos do Dr. Costa terem aumentado em 10 mil o número de professores no ensino não universitário e do número de alunos se ter reduzido em 75 mil.

O PS acusa o governo da AD de imitar o governo do PS

O governo AD demitiu a presidente da Santa Casa da Misericórdia que estava há um ano no cargo e ainda procurava de uma solução para um problema, que também não sabia qual fosse, e só agora descobriu que as receitas previstas no orçamento de 2024 eram fantasistas. O deputado Dr. Tiago Barbosa Ribeiro, uma estrela em ascensão no firmamento socialista, acusou o governo da AD, de procurar substituir «um conjunto de dirigentes nas diferentes instituições do Estado, procurando domesticá-las e procurando colocar pessoas politicamente alinhadas com o Governo.» Se calhar tem razão e, a ser assim, o governo actual estaria a adoptar as best practices da governação socialista.

PS & Chega querem que as portagens sejam pagas por quem não as utiliza

Luís Afonso no Jornal de Negócios

As portagens que com o Eng. Guterres eram SCUT e quando acabou o dinheiro passaram a ser pagas, agora, com os votos do PS (seis meses depois de ter considerado que não havia condições) e do Chega (sim, leu bem) o parlamento decidiu que passarão novamente a SCUT, ou seja, serão pagas por quem não as utiliza, o que custará 1,5 mil milhões de euros até ao fim das concessões em curso.

Prescrição, o removedor de crimes do Estado sucial

Prescreverão até Janeiro do próximo ano 42 crimes de falsificação de documentos e de infidelidade imputados a Ricardo Salgado e a mais 12 arguidos no caso GES praticados entre 2009 e 2014, ou seja, todos eles há mais de 10 anos.

50 personalidades descobriram agora que a Justiça precisa de reformas…

… e assinaram um Manifesto, sendo a maioria socialistas e incluindo umas 2 dezenas de ex-ministros de governos PS e PSD e de vários outros famosos.

A insustentável leveza da sustentabilidade

O excedente da Segurança Social, que não é excedente nenhum porque terá de ser afectado às reservas para garantir a sustentabilidade a longo prazo, caiu em termos homólogos 11% no 1.º trimestre.

06/05/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (5a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

Estará o novo governo a ter efeitos retroactivos?

Como se pode ler neste número das Sequelas da Nau Catrineta, o primeiro trimestre registou a degradação das contas públicas e de outros indicadores, degradação que ainda não foi atribuída ao governo AD que tomou posse no segundo trimestre porque o Dr. Pedro Nuno e a sua equipa de consultores ainda estão a procurar um especialista na aplicação do princípio da reversibilidade na gestão governamental.

Depois do Dr. Costa, o Dr. Medina

No comentário como no resto, o Dr. Medina é o legítimo herdeiro do Dr. Costa. Poucos dias depois deste último ser empossado comentador no novo canal de televisão da Medialivre, o Dr. Medina seguiu-lhe os passos e foi ele próprio empossado comentador de finanças públicas no mesmo canal.

A convergência com a Óropa segundo o Dr. Costa

Iniciando a sua nova actividade de comentador, o Dr. Costa enfeitou-se com o que chamou a convergência com a Óropa que para ele é crescer mais depressa do que a Alemanha ou a França, que têm um PIB per capita PPP 40% ou 22% superior, respectivamente, e ser ultrapassado por oito sobreviventes do colapso do comunismo.

Por modéstia, ele não mencionou o honroso oitavo lugar nos países da OCDE da carga fiscal total sobre os salários.

mais liberdade

E também não mencionou que essa carga fiscal total é em termos relativos precisamente mais pesada nos salários mais baixos, como se pode ver no diagrama.

Um dos motores da economia portuguesa está a gripar

No primeiro trimestre as exportações de bens caíram 4,2% em relação ao mesmo trimestre de 2023, apesar disso, o saldo melhorou porque as importações caíram 6%. Enquanto o turismo continuar em alta não será um problema para as contas externas, mas como tudo quanto sobe, desce…

A economia no 1.º trimestre teve um crescimento homólogo de apenas 1,4% e 0,7% em cadeia e, ainda assim, puxado pelo consumo porque o investimento caiu.

O socialismo é uma fábrica de pobres

Os dados do mercado de trabalho divulgados pela Pordata a semana passada revelam que Portugal é o quinto país da UE com os salários médios a paridades do poder de compra mais baixos, apenas acima da Eslováquia, Grécia, Hungria e Bulgária, que Portugal é o país em que o patronato tem menos escolaridade e que a população activa em 20 anos registou um envelhecimento notável e se reduziu em mais de cem mil.

Afinal o Dr. Medina não é economista, é engenheiro ou a morte das “contas certas”

Segundo as contas da UTAO a engenharia orçamental do Dr. Medina ao colocar o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) a comprar OT, que assim deixaram de contar para o rácio da dívida pública retirou-lhe quase 8%.

mais liberdade

Entretanto, desde que o governo socialista entrou em gestão e começou a preparar-se para tentar ganhar as eleições, o Dr. Medina, antes disso um cativador de verbas, abriu as comportas e inundou a despesa corrente que excedeu em muito o orçamento e segundo a Direção Geral do Orçamento aprovou mais de 1,2 mil milhões de euros de despesas não orçamentadas. Quanto ao investimento, foi executado menos de metade do orçamentado, outra vez a autoestrada mexicana. O resultado, em conjunto com a quebra de 108 milhões da receita fiscal, foi o superavit transformar-se num défice de 259 milhões de euros (contas do Fórum para a Competitividade) ou 418 milhões (contas do DN/Dinheiro Vivo).

(Continua)


05/05/2024

DIÁRIO DE BORDO: Elegeram-no? Então aguentem outros cinco anos de TV Marcelo (22) - Perdoam, perdoam

Então aguentem outros cinco anos, uma espécie de sequência indesejada da série Outras preces (não escutadas).

«Os portugueses, desta vez, talvez não lhe perdoem. A Presidência estará contaminada por tanta leviandade, que pode ser servil ou não. Pedir a um país pobre e empobrecido que acolhe centenas de milhares de imigrantes brasileiros, e os integra sem esforço, e bem, que acolhe muitos milionários brasileiros que usam o país como entreposto europeu e investimento imobiliário, e nada mais, que pague indemnizações a um país riquíssimo e de endémica corrupção como o Brasil, onde o obstáculo à redistribuição social é essa corrupção e não a míngua de recursos, é pedir demais. Não lhe perdoarão os portugueses das ex-colónias, cujo rancor estava neutralizado pelo tempo. E não lhe perdoarão os que acham que não sabe o que diz e que não pode achar que pode dizer tudo porque tem graça.»

Escreveu a Dr.ª Clara Ferreira Alves, a Pluma Caprichosa, uma das almas mais desalinhadas no planeta mediático, capaz do pior, como sucumbir ao charme do Dr. Soares e fazer uma entrevista apologética ao Sr. Eng. Sócrates, o Animal Feroz, ou do melhor, como reconhecer que o Dr. Costa pode ter sido um dos piores primeiros-ministros desde Dona Maria II. Suspeito que esteja enganada, porque o Bom Povo Português verga-se aos afectos, mesmo que fingidos, e adora uma criatura popularucha que se faz passar por um deles.

04/05/2024

Uma esperada e merecida derrota esmagadora do partido anteriormente conhecido como Conservador

Fonte

Para ajudar a perceber a génese da hecatombe vejam-se os posts da etiqueta Brexit. E não, o problema não está no Brexit, o problema está no processo e os processos são verdadeiramente o que mais importa numa democracia. Como escrevi em tempos, a decisão do governo conservador britânico de David Cameron de submeter a um referendo a saída da UE tinha como propósito não perder as eleições para o UKIP de Nigel Farage que fazia uma campanha para a saída e a premissa de que o eleitorado britânico acabaria por recusar a saída. O propósito foi conseguido, à custa de demagogia e distorção dos factos e dos números que não ficou atrás do UKIP e teve um resultado inesperado que foi a aprovação do Brexit. O que se passou a seguir confirmou que o Brexit não resolveu nenhum problema e criou outros, o que já foi percebido pela maioria do eleitorado.

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (102) - O Portugal dos Pequeninos sempre em contramão

As ondas que percorrem ciclicamente a Europa e o Mundo chegam a Portugal com décadas de atraso. Assim de repente, lembro uma ditadura que sobreviveu à segunda guerra, quando no mundo ocidental só restavam as ditaduras nos países do império soviético, lembro a chegada da democracia, lembro que se seguiu um putsch, quando não havia putschs na Europa há trinta anos, para implantar um regime comunista-esquerdista, seguido de um outro putsch para afastar a clique que tentara o anterior, e alguns anos depois o bombismo esquerdista das FP25, já a Brigate Rosse e a Rote Armee Fraktion tinham arrumado as botas no sótão.

Fast-forward e mudando de assunto, na primeira década deste século quando a Óropa assumia a rectitude fiscal os governos portugueses praticavam a libertinagem orçamental e o endividamento compulsivo.


E chegamos aos dias de hoje em que a maioria dos governos ocidentais saíram da recessão da Covid aumentando a despesa e criando défices pletóricos (ver o diagrama acima) e dívida pública e, ao invés, os governos socialistas portugueses reduziram os défices e a dívida pública à pala das "contas certas", um expediente em que investimento público não era executado e as despesas sociais eram cativadas, e de outros expedientes de engenharia orçamental.

03/05/2024

The case against right-wing racialism

«As a practical matter, too, the politics of colorblind equality is vastly superior to the politics of “white identity.” Whatever one’s judgment on mass immigration, America is now a mixed, multiracial republic, and any successful political movement will need to build a coalition beyond any single racial group. The good news for conservatives—and a point against arguments for demographic determination—is that many racial minorities, most notably Latinos and Asians, oppose critical race theory-style discrimination, support the principle of colorblind equality, and have begun to shift politically to the right. By contrast, the advocates of “white racial consciousness” have a track record with the opposite results: from the late author Sam Francis to the racialist website VDare, such efforts have failed to garner an audience, much less a political coalition, beyond the fringes. Such a politics is perceived, rightly, as victim-oriented and antithetical to deeply held American principles.

The vision of racialists, whether on the left or right, is pessimistic: the first is driven by a spirit of vengeance, the second by a sense of inferiority. They are two sides of the same coin. Despite real tensions and disparities, Americans are, on the whole, a tolerant, cooperative people who aspire to a colorblind standard, derived from the natural rights tradition, that remains the best guidepost for the country’s future. The temptation of racial politics must be resisted. The solution is not to mirror the frame of left-wing racialists, but to persuade strong majorities to abolish racialism from public life and entrench the higher principle of colorblind equality. That is our fight. Slowly but steadily, we can win it.»

Excerpt from «No to the Politics of “Whiteness” - The case against right-wing racialism» by Christopher F. Rufo, from whom I quoted several excerpts of his "America's Cultural Revolution: How the Radical Left Conquered Everything"

02/05/2024

Mitos (336) - Os jovens vivem pior do que os seus pais e avós

Fonte

Não vivem pior, vivem melhor, pelo menos os jovens americanos. Como se pode ver nos diagramas acima, não só os mais jovens têm nas últimas décadas sistematicamente aumentos salariais mais elevados (diagrama da esquerda) como, para as mesmas idades, o rendimento mediano a preços constantes das gerações mais recentes é sistematicamente mais elevado do que das gerações anteriores.

01/05/2024

O preconceito pode fazer parecer estúpido quem pode ser inteligente. A economia de causas

Outros exemplos de pessoas inteligentes que o preconceito fez passar por estúpidas.

Era uma vez a professora de Economia Susana Peralta, geralmente identificada com a esquerdalhada (1), que escreveu no Avante! da Sonae o artigo «Quando Portugal era mesmo pobre» onde, num exercício muito comum entre os praticantes da sua disciplina, se aplicou a distorcer a história usando a economia de causas, especialidade da ciência de causas, ignorando os dados disponíveis que contrariam a sua tese que consistia em tentar demonstrar que o Estado Novo, além de ser uma ditadura, foi uma fábrica de pobres mais produtiva do que o regime actual.

Para demonstrar a sua tese de que o Portugal dos finais do Estado Novo era «mesmo pobre», a Dr.ª Peralta usou o melhor da sua ciência económica a qual, contudo, não convenceu Henrique Pereira dos Santos que, como arquitecto paisagista especialista em conservação da Natureza, não tinha obrigação nenhuma de desmontar a tese da professora de economia como o fez fundamentadamente em três acutilantes posts (2) que a mim, economista por acidente, me pareceram irrefutáveis. 

No lugar da Dr.ª Peralta, se fosse professor de economia, pediria transferência para o departamento de Economia mediática.

_______________

(1) Escreve regularmente no Esquerda Net o que a indicia como pertencente à mesma escola de pensamento do tele-evangelista professor Louçã e da Dr.ª Mortágua.

(2) "Concordo com o viva o 25 de Abril...", "Como é possível, Susana?",  "E por último"

30/04/2024

CASE STUDY: Imigração ilegal, uma prioridade transversal a toda a Europa

Bruxelas deveria prestar mais atenção às prioridades dos cidadãos europeus, em particular à imigração ilegal que como mostram as sondagens Ipsos para a Euronews publicadas há dias é um tema importante para quase 60%. 

euronews

E em todos os Estados membros, salvo Finlândia e Roménia, o combate à imigração ilegal é prioritário para a maioria. Para os portugueses, diferentemente do que a esquerda e os governos do PS têm propalado, a prioridade deste tema está acima média europeia é a terceira maior a seguir à Holanda e à Alemanha.

euronews

Considerando as tendências políticas, a importância do combate à imigração ilegal é mais alta, como seria de esperar, ao centro e à direita, no entanto, mesmo à esquerda é importante para a maioria da população.

euronews

29/04/2024

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Também me parece

«(...) parece-me que a razão que leva a que muitas escritoras femininas recebam menos reconhecimento do que aquele que desejariam não resulta do facto de serem mulheres, mas de terem sido convencidas a escrever como feministas. Quando o fazem, sujeitam a arte a objetivos políticos, escrevendo não para criar um livro de qualidade, mas para dar voz a uma visão política – logo, torna-se mais difícil que esses textos sejam reconhecidos como bons livros.»

Patrícia Fernandes no Observador

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (4)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

A engenharia financeira do Dr. Medina vai levá-lo ao parlamento

O Dr. Medina vai ter de explicar ao parlamento como reduziu uns 9 mil milhões da dívida pública nos últimos dias do ano passado, em conivência com a ministra do Trabalho Dr.ª Mendes Godinho, obrigando o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social e a Caixa Geral de Aposentações (a SS dos funcionários públicos) a comprarem obrigações do Tesouro, fazendo o que João César das Neves descreveu como emprestar dinheiro a si mesmo para o gastar.

A gestão socialista transforma qualquer actividade lucrativa num elefante branco

A somar ao desastre da “estratégia de internacionalização” da Santa Casa de Misericórdia de que resultaram perdas estimadas em 20 milhões, enquanto o número de apparatchiks aumentava de cinco mil, incluindo 290 chefes, para seis mil, incluindo 348 chefes (fonte), as “raspadinhas” que têm contribuído que têm aumentado todos os anos e contam para mais de metade das receitas este ano estão a começar a cair.

O impacto do socialismo na economia - uma imagem vale mais do que mil palavras

Créditos Carlos Tavares (no jornal Sol)

Choque da realidade com a Boa Nova da redução da carga fiscal

Foi muito celebrada a Boa Nova do Dr. Costa e do Dr. Medina terem baixado 0,2% ao rácio de carga fiscal.


Foi menos celebrada a notícia da carga fiscal sobre o salário de um trabalhador médio solteiro em Portugal aumenta há cinco anos consecutivos, aumentou 0,13 pontos percentuais em 2023 e é 7,5 pontos percentuais superior à média da OCDE.

28/04/2024

O sistema português de pensões em termos comparativos

Se quisermos comparar o sistema de pensões português (englobando a segurança social e os fundos privados de pensões) com outros sistemas um bom instrumento é o Institute Global Pension Index da Mercer, uma multinacional de consultoria de gestão e recursos humanos.  O índice avalia 44 sistemas sistemas de pensões, en três dimensões: 

  • adequação (os benefícios que os futuros pensionistas provavelmente receberão);
  • sustentabilidade (a probabilidade do sistema actual suportar as adversidades demográficas e financeiras futuras) e 
  • integridade (confiança inspirada pela regulação dos fundos privados de pensões).

Mercer CFA Institute Global Pension Index 2023

Como mostra o diagrama, em termos de adequação e integridade (dos fundos privados de pensões), o sistema português está bem posicionado. O problema sério é em relação à sustentabilidade, como aqui no (Im)pertinências se tem vindo a demonstrar em dezenas de posts (ver etiqueta "pensões").

27/04/2024

Dúvidas (371) - Não será um poucochinho exagerado? (8) - O surto inovador e inventivo que nos assalta

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)

Esta série de posts é dedicada a demolir o mito das patentes que pretende exaltar a suposta inventividade inata no Portugal dos Pequeninos e é apenas mais um expediente de compensação do complexo de inferioridade que infecta o país e as suas elites.

No último post publicado a seguir à divulgação pelo European Patent Office (EPO) do Patent Index 2023 referi que os pedidos de patentes portuguesas em 2023 correspondem a percentagens ínfimas do número total de pedidos dos 39 países do IPO (0,38%) e do número total de países (0,17%) e o rácio de 33,9 patentes por milhão de habitantes colocam-nos no terceiro lugar a contar do fim do ranking dos países que apresentaram pedidos de patentes ao EPO.


O diagrama acima do mais liberdade com os dados do Global Innovation Index 2023 confirma as conclusões que retirei a partir do Patent Index 2023. Deveríamos dedicar pelo menos uma parcela das masturbações delirantes como «Portugal triplicou o número de pedidos de patentes europeias numa década» ou  «Portugal volta a bater recorde de pedidos de patentes» a uma análise crítica e racional das causas e das possíveis soluções.

26/04/2024

DIÁRIO DE BORDO: Elegeram-no? Então aguentem outros cinco anos de TV Marcelo (21) - Vindo dele, pior é difícil, mas sempre possível

Então aguentem outros cinco anos, uma espécie de sequência indesejada da série Outras preces (não escutadas).

Só quando me enviaram o vídeo de ontem do Canal A Cor do Dinheiro de Camilo Lourenço me dei conta de que poucos dias depois de ter insinuado propósitos políticos à PGR, o Dr. Marcelo meteu no mesmo saco da conversa com os correspondentes estrangeiros o caso das gémeas e do seu filho, juízos pessoais sobre o Dr. Costa e o Dr. Montenegro, a escravatura, os crimes coloniais e as suas indemnizações aos descendentes das vítimas. Só há uma justificação que se poderia considerar aceitável: demência senil.


Para mim não deixou de ser porque nunca foi o meu presidente, pelas razões que venho explicando há oito anos. Os dois mandatos do Dr. Marcelo tornam um exemplo de dignidade e decência os mandatos dos seus homólogos durante o Estado Novo, generais Carmona e Craveiro Lopes e almirante Américo Thomaz.

25/04/2024

Mitos (335) - O Estado Novo foi uma ditadura feroz e Portugal viveu uma longa noite escura que terminou com a alvorada de 25 de Abril e os amanhãs que cantam

Por razões que possivelmente radicam na consciência difusa e não assumida das fraquezas e contradições do regime actual saído da queda do Estado Novo, a esquerda, e com ela a legião de jornalistas e comentadores afectos, em vez de contribuir para reduzir essas fraquezas, desperdiça o seu talento a incensar o actual regime, ao mesmo tempo que distorce a história vilipendiando o Estado Novo.

A realidade, como habitualmente, é mais complexa do que o retrato resultante das simplificações ideológicas. Sem elaborar muito sobre este tema, remeto para «As causas do atraso português», o livro de Nuno Palma, a respeito do qual publiquei a série de oito posts Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos e acrescento agora meia dúzia de factos e considerações. 

Tivemos o PREC do qual quase saiu uma ditadura pior do que a do Estado Novo, tivemos a reforma agrária e as nacionalizações que expropriaram o "capitalismo monopolista", desmantelou-se o sector financeiro, hoje quase totalmente controlado por capital estrangeiro, a indústria foi reduzida a microempresas e PME e a uma ou outra sobra das grandes empresas industriais. Foi construído um Estado sucial pletórico que faliu três vezes nos últimos 50 anos, povoado por um número de funcionários (750 mil) que é o dobro da soma dos "servidores do Estado" (200 mil) com os mobilizados para a guerra colonial (170 mil). As Forças Armadas foram reduzidas a uma tropa pelintra, desmoralizada, mal equipada e incapaz de defender o país. O ensino público foi gradualmente infectado por ideologias neo-marxistas a um grau que rivaliza com a endoutrinação no ensino do Estado Novo mas fica longe do seu grau de exigência técnica. A qualidade do pessoal político degradou-se e a maioria dos ministros do regime actual não teriam por incompetência técnica lugar num governo do Dr. Salazar ou do Dr. Marcelo. O resultado é um país ultrapassado pelos países saídos das ruínas do império soviético, com uma economia pouco competitiva de baixa produtividade, endividado e dependente dos dinheiros europeus.

Por coincidência, li ontem uma carta de Francisco Pereira de Moura (FPM), antigo professor de Economia do ISCEF (actualmente ISEG), escrita em 1965 aos membros do colégio eleitoral que haveria de reeleger o factótum almirante Américo Tomás. Nessa carta, cuja leitura proporciona uma visão matizada e realista do que era o Estado Novo, FPM, então considerado um homem da "Situação", critica frontalmente a designação do presidente da República por um colégio eleitoral, de que ele próprio fazia parte como procurador da Câmara Corporativa, colégio que substituiu o sufrágio universal directo em resposta aos «acontecimentos que rodearam a eleição presidencial de 1958» (em que participou o general Humberto Delgado).

A crítica de FPM foi muito para além da alteração do processo eleitoral, ditada pela necessidade do governo controlar os seus resultados, e pôs em causa de forma claríssima os fundamentos do próprio regime. É certo que nesse mesmo ano FPM terminou o mandato na Câmara Corporativa mas continuou a ser tolerado pelo salazarismo, não sofreu retaliações, veio a ser um dos fundadores da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), daria origem ao MDP/CDE, e só em 1973 foi demitido da função pública pelo governo de Marcelo Caetano por ter participado na vigília anticolonial na Capela do Rato. 

O que mostra esta carta? A falsidade de dois mitos em contraponto: o mito da ditadura despótica do salazarismo cultivado pelos "anti-fascistas" (a propósito, o Estado Novo nunca foi fascista) e o mito do Estado Novo como um quase paraíso cultivado pelos situacionistas retardados.

24/04/2024

Não misturemos o alho com o bugalho

A AD escolheu para cabeça de lista às eleições para o PE Sebastião Bugalho, um jovem talentoso com carteira de jornalista. Fez a AD muito bem, ou muito mal, isso é lá com a AD e fez Sebastião muito bem, ou muito mal, isso é lá com ele. O que não é só com ele, é que lhe chamam jornalista quando em boa verdade não pratica jornalismo e faz comentário político o que no Portugal dos Pequeninos faz do comentador um político avant la lettre, e nalguns casos, après la lettre

A evolução de comentador político para político é uma evolução respeitável, o que deixará de ser respeitável é a hipotética involução de político para comentador a fingir de jornalista que, a verificar-se, agravaria a confusão nociva entre comentador e jornalista.

SERVIÇO PÚBLICO: Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos (8)

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)

O último post sobre os mitos cuja demolição considero mais importante versa sobre o Estado Novo ter sido uma espécie de idade das trevas, mito que é um favorito da esquerdalhada e funciona como contraponto do mito de que a Primeira República foi um regime salvífico que tratei no post anterior.

Em primeiro lugar o Estado Novo não foi uma ditadura particularmente repressiva e muito menos um Estado totalitário. Na verdade, suporta bem a comparação com a "democracia" republicana. 

Em segundo lugar, a década de 50 o salazarismo colocou o país num processo acelerado de desenvolvimento traduzido por um aumento do PIB per capita  de cerca de 37% da média da Europa Ocidental para mais de 55% no final da década 60, apesar do crescimento fortissimo da maioria dos países dessa zona na mesma época. 

O mito do crescimento se ter dado à custa da exploração das colónias não tem pés nem cabeça, desde logo porque as exportações para as colónias no período de crescimento mais forte representavam apenas cerca de 3% do PIB. O mito do Portugal agrícola cai quando se compara a população activa na agricultura que nos anos 20 era quase 60% com os menos de 25% no final do regime.
 
Do ponto de vista da educação, o analfabetismo que no início do século XX atingia três quartos da população no final dos anos sessenta era residual e não existia analfabetismo infantil.

Na saúde pública todos os índices mostram fortes melhorias. A percentagem de homens com deficiências de crescimento reduziu-se a metade; a mortalidade infantil reduziu-se de mais de 140 por mil para menos de 60 por mil no final do regime. As percentagens da população com acesso aos serviços de saúde pública foi aumentando gradualmente de 10% em 1954 para quase 80% em 1975, ainda antes do tão incensado SNS.

23/04/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (3b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta».

(Continuação de 3a)

O Dr. Medina diz que a UTAO não tem de “imiscuir-se” na engenharia financeira

A UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) tem como missão prestar apoio à comissão parlamentar permanente do parlamento com a «elaboração de estudos e documentos de trabalho técnico sobre a gestão orçamental e financeira pública». No desempenho da sua missão a UTAO concluiu que a redução do valor nominal da dívida em 2023 resultou, em grande medida, do «facto de entidades em todos os subsetores públicos serem investidores em parcelas significativas de dívida pública portuguesa», e que «este efeito subiu consideravelmente em 2023 (mais 12,1 mil milhões de euros do que no ano anterior)

Como seria de esperar, mostrando que está em sintonia com a visão socialista de que não há entidades públicas independentes e que todas devem ser câmaras de eco do governo, o ex-ministro das Finanças Dr. Medina criticou asperamente a UTAO não pelas suas conclusões mas porque «não tem de ter opinião sobre a afetação do Fundo de Estabilização financeira da Segurança Social».

Boa Nova: O Dr. Costa e o Dr. Medina tiraram 0,2% ao rácio de carga fiscal

Em 2023 o rácio de carga fiscal (relação entre a receita fiscal e o PIB nominal) desceu de 36,0% para 35,8%

Choque a realidade com a Boa Nova


O outro lado da questão é que a redução minúscula do rácio resulta da inflação e a carga fiscal aumentou 8,8% em termos nominais e atingiu 95 mil milhões de euros.

O peso dos elefantes brancos no Estado sucial é elefantesco


O endividamento das entidades do sector empresarial do Estado em 2022 representava 7,9% do PIB nacional (19,1 mil milhões). As garantias do Estado para com as entidades do SEE atingiam 2,1% do PIB (5,0 mil milhões).

A bazuca para as casinhas

O Dr. Costa conseguiu extrair à Óropa 22,2 mil milhões de euros para torrar até 2026 no Plano de Recuperação e Resiliência (“o plano que vai preparar Portugal para o Futuro”). Um sétimo desse montante (3,2 mil) serão aplicados para construir casinhas em Lisboa, Seixal, Setúbal e V. R. Stº António onde residem 8% da população. (fonte) Como é que isto promoverá o crescimento futuro da economia não sabemos e ele também não explicou.