Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/03/2005

TRIVIALIDADES: lugares comuns

A última vez que fiz um inventário completo dos candidatos ao lugar de presidente da República foi em 15-12-2003, no post «Senhor livra-me deles». Listei então os seguintes presuntivos candidatos:

  • Cavaco Silva,
  • Guterres
  • Santana Lopes
  • Soares (pai)
  • Soares (filho)
  • Marcelo Rebelo de Sousa
  • Freitas do Amaral
  • Carlos Monjardino
  • Vieira de Almeida
  • José Miguel Júdice

a que acrescentei a doutora Maria Barroso ou qualquer outro membro da família Soares, nascido ou nascituro.

Poucos meses depois, a listagem ficou desactualizada com o surgimento da transformista Valéria (ou Vitória?).

Mais tarde surgiu publicamente o incontornável doutor António Vitorio e, em círculos especializados, falou-se também a boca chiusa da doutora Maria de Belém Roseira e dos doutores Ferro Rodrigues e Jaime Gama. Nesta altura já se contavam 16 candidatos, afora os que ainda estavam na clandestinidade, como o candidato perpétuo do MRPP doutor Garcia Pereira.

Tanta abundância levou-me a debruçar no post «O ersatz do líder da oposição» sobre as possíveis causas da atracção irresistível que os portugueses parecem sentir pelo lugar de PR. Num momento de fraqueza sucumbi às teses anacletas e formulei, também eu, uma «teoria conspirativa: é mais barato e mais agradável ser presidente da República do que líder da oposição, que implica suportar a travessia do deserto do poder, aguentar uma cambada de potenciais traidores escondendo as navalhas da traição nas calças da pouca vergonha e suportar uma infinita corja de medíocres ansiando por uma sinecura, tudo isto apenas mitigado pelo séquito de seguidores incondicionais, que vai minguando, na medida em que mingua a esperança do governo de serviço cair.
Mais importante do que perceber o porquê daquelas almas se sentirem atraídas pela presidência, quais borboletas pelo candeeiro, é perceber as causas da popularidade da coisa. Porquê a populaça venera tal comportamento, que outras populaças doutras paragens achariam irresponsável e oportunista?
Deve haver algo nas profundezas da alma lusitana que o explica. Algo que leva os portugueses a criarem mecanismos sociais e políticos para entropicar a sua vida. O Impertinente acredita que a coisa remonta à ocupação da Lusitânia pelo império, se não antes - não é verdade que um governador romano escreveu ao imperador, lamentando-se, resignado, que os povos indígenas não ser governavam nem se deixavam governar?
»

Venho hoje, de corda ao pescoço, admitir a falha da minha teoria conspirativa, devidamente demonstrada pela enésima candidatura agora protagonizada pelo poeta Manuel Alegre, que obviamente não será candidato para liderar a oposição ao engenheiro Sócrates.

Ou será?

30/03/2005

SERVICE PUBLIC: un faux pas de M. Chirac?

«De acordo com o semanário L"Express, "o gabinete de Jean-Pierre Rafarin encarregou-se de solicitar aos responsáveis de France Telévisions para renunciarem ao projecto" de transmitir uma entrevista com o presidente da Comissão Europeia, na sequência da "cólera" do Presidente Jacques Chirac, que teria sido motivada pelo convite dirigido a Barroso que considerou "inoportuno" no meio da campanha para o referendo sobre a Constituição Europeia». [Público]
Se o doutor Barroso é um perigoso liberal para M. Chirac, o que será M. Chirac para um liberal perigoso?

BLOGARIDADES: Será o liberalismo um estado de espírito? (2)

Depois dum vibrante começo (ver ponto de situação no dia 15-03 aqui), a secção liberal da bloguilha ainda deu mais alguns sinais de vida nos dias imediatos.

No dia 19, o blasfemo RAF escreve «Sobre a constituição de um Partido Liberal», concluindo «o que interessa é trabalhar o liberalismo dentro dos partidos de poder».

O insurgente AAA recomenda a leitura daquele post blasfemo, acrescentando que «não devemos confundir alguns escassos milhares de leitores de blogs e algumas dezenas de bloggers com o país real, para quem o liberalismo continua a ser um papão.» Bem lembrado.

No mesmo dia, o blasfemo Gabriel Silva atira a toalha ao chão e confessa «que nunca terei estofo para ser um infiltrado em organizações defensoras de visões da sociedade que pessoalmente sinto o dever de contrariar».

No dia seguinte, o blasfemo RAF reincide argumentando «ser bem mais viável e efectivo disseminar o liberalismo na comunicação social, nas universidades, e nos partidos de poder, não limitando o raio de acção ao espaço político que seria concedido a um partido de matriz liberal

Ainda nesse dia (20) a discussão extinguiu-se com os speakers do Speakers Corner Liberal Social que defenderam que a questão do partido liberal seria sobretudo de oportunidade e de conjuntura política mais do que de princípio.

Talvez ajude contribuir com umas quantas trivialidades para ajudar a trazer o debate de volta à terra.

É claro que o liberalismo, seja lá o que isso for, que pelos vistos é uma coisa para cada liberal, mas que dou de barato que todos concordam o que seja, é uma ideologia, um corpo de ideias contendo uma visão que se pretende coerente sobre a organização política, social e económica.

É claro que a promoção do liberalismo, seja lá o que isso for, não precisa dos partidos, basta-lhe a blogosfera, ou os think tanks, ou a miríade disponível de formas de associação que permitem debater e difundir ideias.

Onde os partidos começam a fazer falta é para passar das ideias à sua aplicação, coisa que até hoje só se conseguiu fazer com partidos, sendo difícil de imaginar como será possível de outro modo.

E se faz falta um partido para disputar o poder e aplicar essas ideias liberais, só há duas maneiras de lá chegar. Ou faz-se um novo quimicamente puro, ou contamina-se um já existente transformando-o num partido (mais) liberal. Parece ter sido o que se passou pela mão de Tony Blair com o partido Trabalhista (ver a propósito a review de The Economist da biografia de Jo Grimond - «Liberal Lion: Jo Grimond, A Political Life»)

Chegados a este ponto, e recordando as sábias palavras do iliberal Von Bismarck, visto que a política é a arte do possível, é altura da pergunta fatal: um partido de pendor liberal será viável aqui e agora?

Dependendo do grau de inclinação liberal, pessoalmente tenho imensas dúvidas, como já por aqui escrevi inúmeras vezes. Para citar uma só dessas inúmeras: «Serão (seriam) precisas gerações para corroer este amor extremado ao estado e esta desconfiança da livre iniciativa e do mercado enterrada nas entranhas de cada português. É por isso que os liberais, esses linces da serra da Malcata da política, terão que continuar a escolher o mal menor até ao fim dos tempos

O colectivismo que enforma a cultura portuguesa é refractário ao liberalismo. Isso explica o «partido do estado» de que falou Medina Carreira e explica até a trivial tragédia do falhanço do auto-governo dos condomínios a que se referiu o insurgente João (ver aqui).

(Continua. Talvez)

29/03/2005

TRIVIALIDADES: a Constituição europeia e o requeijão serra da Estrela

Ainda estou para perceber de que estão à espera os incondicionais da aprovação da Constituição europeia para apresentar o argumento definitivo para calar de vez os cépticos: o Requeijão Serra da Estrela foi um dos dez foodstuffs a ganhar o estatuto de Designação Protegida de Origem.

28/03/2005

SERVIÇO PÚBLICO: demasiadas coincidências (ACTUALIZADO)

«Haverá pluralidade de partidos e vários candidatos» (nas eleições legislativas e presidenciais) disse a vários jornalistas Bashar al-Assad o ditador de serviço na Síria, sucessor do ditador seu pai Hafez al-Assad.

Depois do ditador de serviço na Líbia ter desistido do terrorismo, depois de 8 milhões de eleitores votarem nas primeiras eleições decentes alguma vez realizadas no Iraque, depois de Osni Mubarak, o ditador de serviço no Egipto, ter anunciado também eleições «livres», depois da organização nacionalista-terrorista OLP se ter disposto a eleger um novo líder e a negociar com Israel, depois do governo libanês pró-sírio se ter demitido e convocado eleições, depois da Síria ter anunciado a retirada do seu exército de ocupação do Líbano, depois de tudo isto, Bashar al-Assad descobre também o seu amor tardio pela democracia.

A que se devem os ventos de mudança? Às diligências diplomáticas do eixo Paris-Berlim? Aos auspícios da ONU? Por muito brutal e inconveniente que seja a verdade, para quase todos os que pensam por uma cartilha, é difícil esconder que esses ventos se devem à intervenção da coligação americana no Iraque e à atitude firme de Bush para defender os interesses americanos que, uma vez mais, e por enquanto, coincidem com os interesses da democracia e dos mercados livres, isto é do mundo livre.

Convém lembrar, a propósito, que a falta de aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU da intervenção no Iraque, que tanto incomodou alguns governos europeus, não lhes trouxe grandes problemas de consciência quando pediram aos EU para apagar o fogo nas suas traseiras que lavrava no Kosovo.

DIÁRIO DE BORDO: a maiêutica do aborto (5)

Depois de (1), (2), (3) e (4), continuando a especular.

Porque procuram mulheres portuguesas abortar em Espanha que tem uma lei do aborto copiada da lei portuguesa? Porque não sentem os espanhóis necessidade de alterar a lei do aborto que copiaram da portuguesa?

Porque nunca é mencionado que os fetos abortados têm um progenitor? Qual o papel reservado ao progenitor na decisão de abortar? Se o progenitor não tem responsabilidades nem desempenha nenhum papel nessa decisão, porquê terá que assumir responsabilidades e ter um papel como pai quando nasce uma criança?

Num país com um défice de nascimentos (saldo demográfico de 0,04pm em 2003), porque não se persuadem as mulheres com gravidezes indesejadas a darem os seus filhos nascituros para adopção? Porquê existem milhares de casais na fila de espera da adopção? O que levará muitos casais a desistirem, procurando com sucesso a adopção internacional?

27/03/2005

CASE STUDY: programa de governo - mais do mesmo? (1)

Respondendo ao pendor estatizante do governo, os empresários portugueses, através das suas associações, marcam lugar já na fila dos investimentos públicos dando palpites sobre as suas preferências.

À parte o engenheiro Belmiro que não tem interesses no lóbi do betão e das obras públicas, nem papas na língua, e por isso foi dizendo que mais valia ter fábricas do que o TGV, a generalidade dos empresários apronta-se para o bodo.

Investimentos preferidos pelos empresários: TGV (a prioridade das prioridades), energias renováveis (eólica e mais barragens), mais estradas, mais hospitais.

Qual o interesse estratégico do TGV? Do lado do investimento, a infra-estrutura fixa, a cargo do lóbi do betão, manterá ocupada durante uns poucos anos os imigrantes brasileiros e do leste. O investimento em material rolante irá, em boa parte, engrossar as importações. Do lado da oferta, o TGV não vai transportar as nossas evanescentes exportações, não vai transportar turistas que continuarão a chegar por automóvel (os espanhóis, alguns franceses, alemães e holandeses) e por avião (o resto). Servirá para quê então? Aparentemente para os nossos empresários e gestores chegarem mais depressa às reuniões no Porto, em Lisboa e em Madrid, e aos nossos excluídos do consumo sofisticado que vivem no interior poderem vir fazer compras aos centros comerciais dos grandes centros urbanos.

Qual será o contributo do TGV para melhorar a nossa produtividade e competitividade da economia portuguesa?

26/03/2005

ARTIGO DEFUNTO: o benefício da dúvida e o prejuízo da certeza

Um observador minimamente neutro (ou honesto) pode todos os dias constatar o enviesamento esquerdizante dos média. O bombo de festa em que foi transformado o doutor Lopes, à custa da sua falta de jeito e incompetência, em contraste com o «colo» que foi dado aos governos de Guterres que alimentaram a fornalha de Moloch, e em contraste com o tom reverencial com que a tribo jornalista fala do governo do engenheiro Sócrates, é disso uma demonstração.

Valem os silêncios, como a falta de referência, salvo de O Independente, a respeito do tribalismo socialista.

Valem as palavras, como no exemplo, referido por Zé Diogo Quintela em O Independente, do acolhimento dado ao facto do secretário de estado do Turismo do governo em exercício ser filho do presidente do grupo turístico madeirense Porto Bay, facto que a SIC Notícias apresentou como muito positivo (o rapaz ouviu falar de turismo desde o berço), em contraste com o ataque descabelado à falta de independência ambientalista do doutor Nobre Guedes, ministro do Ambiente do governo do doutor Lopes, pelo facto de ser advogado de empresas do sector.

A coisa é tão notória que tem implícito, quase explícito, um insulto à inteligência, demonstrativo da pouca consideração que os jornalistas nutrem pelos clientes.

25/03/2005

SERVIÇO PÚBLICO: tribalismo socialista

O Independente escalpeliza o processo em curso de montagem da teia familiar no governo do engenheiro Sócrates: os Cravinhos, os Campos, os Mendes, os Mateus, os Vieiras da Silva, sem falar dos namorados e dos enteados, estão já devidamente acoitados no aparelho governamental. Seguir-se-à a propagação para o aparelho estatal no seu conjunto.

Como os estudos de Hofstede amplamente demonstram (ver os posts impertinentes aqui, aqui e aqui), a sociedade portuguesa é a mais colectivista da Europa e uma das mais colectivistas do mundo. Não é por isso de estranhar que a tribo socialista, ela mesma la crème de la crème do colectivismo, transporte para o governo as relações familiares. Nisso a tribo socialista, porque o faz sob a capa moral da implantação do socialismo exigir pessoal da confiança, só se distingue das tribos PSD e CDS que o fazem por razões mais prosaicas - arranjar emprego para família.

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Assassinamento de carácter?

Secção Albergue espanhol
Noutros pontos do planeta, onde as coisas seguem o seu curso normal, às pessoas cai-lhes o cabelo, os dentes, começam a sofrer da próstata, das artroses e de todo um ror de outras maleitas. Como fraca contrapartida da decadência, ganham um módico de siso e à medida que os radicais livres circulam em maior quantidade nos seus corpos, quase desaparecem das suas mentes. Nesses outros pontos do planeta, o professor Freitas do Amaral seria um alienígena. Entre nós, as coisas passam-se frequentemente de forma singular e até os nossos políticos são atacados de esquerdismo senil em idades avançadas. É o caso, também, do doutor Soares.

A mudança de opinião do professor Freitas, passando sucessivamente de delfim do professor Marcelo Caetano, a fundador do CDS, de fundador do CDS a seu inimigo declarado, de fascista aos olhos do doutor Soares e de toda a esquerdalhada, a compagnon de route do doutor Soares e dos Anacletos, por muito excessiva que seja a sua mudança para uma só vida, em si mesmo não tem nada de censurável.

O que se pode censurar - já outros o disseram e escreveram - é que tendo recentemente exprimido convicções absolutamente incompatíveis com o alinhamento internacional do seu país, o professor Freitas tenha aceite ser ministro dos Negócios Estrangeiros, posto onde se espera que aplique uma política consistente com esse alinhamento.

É certo que ele não disse que o presidente Chirac é um político corrupto que fez e fará tudo para se manter no poder, beneficiando de leis aprovadas com o propósito preciso de evitar a sua condenação. Não, ele apenas deu, segundo as palavras do doutor Marques Mendes no debate na AR, «dez razões para considerar Bush um político de extrema-direita. Em quatro delas expressa uma equiparação a Hitler, em três a Salazar, em duas a Pinochet e numa ao generalíssimo Franco» [Visão]

O professor merece 5 ignóbeis porque, mais do que ter aceite, se fez ao posto de MNE, justificando-se com o esfarrapado e ridículo argumento de que «hoje a situação é muito diferente, sobretudo depois da vinda de Bush à Europa» - um insulto à inteligência de quem o ouviu.

Leva mais 5 bourbons pelo ego, permanentemente enfatuado, que ostenta há muitos anos, no convencimento de ser portador dum génio incompreendido que nunca encontrou um cargo à sua altura. «Estão cheios de inveja deste governo que tem pessoas, como EU, que os deixam esmagados» disse a luminária e escreve o Impertinências, esforçadamente, saindo com dificuldade debaixo do peso esmagador do Dinossauro Excelentíssimo.

E já que escrevo sobre o passado, escrevo também sobre o futuro, arriscando um prognóstico. Tal como no passado ele traiu o doutor Soares, aliando-se com ele para chegar ao governo e dele saindo para o fazer cair, o professor Freitas irá trair no futuro o engenheiro Sócrates, mesmo que este aceite pagar o preço de o deixar preparar um futuro radioso à medida da sua vaidade. Está na sua natureza.

Não, este post não é necessariamente um assassinamento de carácter. Para haver crime teria que haver vítima. Ou não?


Perguntar não ofende: você emprestaria o seu automóvel a este sujeito?

24/03/2005

CASE STUDY: as SCUTS da água

Porque será o consumo per capita de água em Portugal dos mais elevados da UE? perguntava-me ontem.

Dos mais elevados? O mais elevado e o quarto mais alto do mundo. 1.090 m3 por pessoa/ano, com uma eficiência de 58 por cento nas cidades e de 71 por cento na agricultura, segundo a OCDE [relatório citado aqui].

Apesar de 800 mil portugueses não terem água em casa [CM]. Se tivessem, o consumo per capita subiria para 1.185 m3 por pessoa/ano ou 2,25 litros por pessoa/minuto

Trocando medicamentos por água posso repetir o que escrevi ontem:

Surpreendente? Nem por isso. Os «utentes», isto é os «clientes» que não pagam o preço de mercado dos bens ou serviços que consomem, limitam-se a reagir aos sinais que os não-mercados lhes dão através dum preço subsidiado. Que incentivos têm os «utentes» para utilizar racionalmente a água que pagam por uma pequena fracção do seu custo?

Que fazer? Campanhas de sensibilização? Será torrar dinheiro inutilmente. Não adiantam discursos se a linguagem dos preços continuar a falar outras coisas mais alto.

Então e os pobrezinhos?


(Tema dos pobrezinhos a tratar mais tarde. Talvez.)

23/03/2005

DIÁRIO DE BORDO: a maiêutica do aborto (4)

«A proposta dos deputados do PS prevê que as mulheres possam abortar até às 10 semanas.» [Público]

aqui e aqui confessei dúvidas, e uma certeza aqui, em matéria de aborto. Dúvidas sobre o Quê?, o Onde?, o Quando?, o Como? e o Porquê?.


O Quê? com 12 semanas

CASE STUDY: as SCUTS da saúde

Foi recentemente divulgado o estudo promovido pela Associação Nacional de Farmácias e pelo Núcleo de Farmacovigilância do Centro que estima em 50% o desperdício de medicamentos na região Centro. [ver, por exemplo, o Semanário Económico de 18-03].

Não havendo razões para supor que será diferente no resto do país, o desperdício nacional poderá atingir 1,5 milhões de euros por ano ou 1,1% do PIB.

Surpreendente? Nem por isso. Os «utentes», isto é os «clientes» que não pagam o preço de mercado dos bens ou serviços que consomem, limitam-se a reagir aos sinais que os não-mercados lhes dão através dum preço subsidiado. Que incentivos têm os «utentes» para utilizar racionalmente medicamentos que pagam por uma pequena fracção do seu custo?

Que fazer? Campanhas de sensibilização? Será torrar dinheiro inutilmente. Não adiantam discursos se a linguagem dos preços continuar a falar outras coisas mais alto.

Então e os pobrezinhos? O problema dos medicamentos não é diferente em substância de muitos outros bens e serviços. Da água, por exemplo.

Por falar em água, porque será que o consumo per capita em Portugal é dos mais elevados da UE?

22/03/2005

SERVIÇO PÚBLICO: reductio ad absurdum

Na longínqua época em que o Impertinências estudou filosofia, havia naquela turma uns quantos cábulas que não percebiam a lógica do argumento reductio ad absurdum.

Teriam percebido se lessem o post «A Carroça Volvo vai à Frente dos Bois Lusos» no qual o Jaquinzinhos reduz ao absurdo o projecto vamos torrar mais dinheiro na fornalha do nosso Moloch para alcançarmos um estado social parecido com o do «modelo nórdico de desenvolvimento».

SERVIÇO PÚBLICO: ressuscitados para julgar (2)

O filme exibido o fim de semana passado na Torre de Tombo tem um casting à altura do argumento, mas a montagem é execrável. Os seus autores perderam o timing. A condenação da «invasão e ocupação do Iraque», depois de oito milhões de iraquianos elegerem 189 iraquianos e 86 iraquianas ficou rançosa e perdeu quase tanto a validade como o companheiro Vasco e o almirante vermelho.

Seria um pouco mais oportuno se os juizes que emergiram do formol condenassem a Rússia e a China (que) têm estado a impedir que sejam aplicadas sanções ao regime (sudanês) de Omar Hassan Al-Bashir, que tomou o poder em 1989».

É só uma sugestão.

21/03/2005

SERVIÇO PÚBLICO: O oráculo do engenheiro Sócrates acerta 1 em 2

O engenheiro Sócrates disse esta manhã na apresentação do programa de governo muitas coisas bastante vagas e duas um pouco menos.

O primeiro-ministro anunciou «que serão investidos durante a actual legislatura mais de 20 mil milhões de euros em áreas que considera vitais para o país». Donde virão esses 13,7 milhões de euros por dia, ou mais de meio milhão por hora ou quase 10 mil euros por minuto? Ainda bem que perguntam. Esses milhões terão «"origem principal em capitais privados». [Público]

Parabéns ao oráculo do engenheiro Sócrates que leu as mentes dos donos dos capitais privados com os quais principalmente se investirá durante a legislatura.

A segunda coisa mais ou menos concreta que o engenheiro Sócrates anunciou foi reduzir as férias judiciais de dois para um mês. Um ataque demolidor ao lóbi da justiça? Nem por isso. Aqui o oráculo não leu as mentes dos funcionários judiciais cujo sindicato, meia hora depois, bateu o engenheiro Sócrates em arrojo propondo que «que os tribunais funcionem durante todo o ano»

NÓS VISTOS POR ELES: «maltrapilha, mas simpática»

Depois de «o país adora falar, mas depois vê-se pouca acção» do gestor Nadim Habib e do «escarro anatómico» do romancista Alfred Doeblin o Nós vistos por eles continua com o «maltrapilha, mas simpática» de Albert Einstein.
«Tinha o costume de escrever um diário em viagem, por isso conhecemos as impressões com que ficou de Lisboa. Einstein passou só um dia na capital, a 11 de Março de 1925, e comentou a incursão pela cidade: "Dá uma impressão maltrapilha, mas simpática. A vida parece transcorrer confortável, bonacheirona, sem pressa ou mesmo objectivo ou consciência. Por toda a parte temos consciência da cultura antiga. Graciosa. Vendedora de peixes fotografada com uma bandeja de peixe na cabeça, gesto orgulhoso, maroto."» [Público]

20/03/2005

SERVIÇO PÚBLICO: ressuscitados para julgar

O Tribunal Mundial do Iraque, um auto-constituído tribunal de opinião, dará amanhã o seu veredicto sobre a invasão do Iraque.

O tribunal é composto por personalidades independentes que vão desde a doutora Isabel do Carmo, ex-brigadista, ao major Tomé, a voz da classe operária na AR, passando pelos doutores Garcia Pereira, candidato perpétuo do MRPP, e Carvalho da Silva, secretário perpétuo da CGTP, acompanhados por inúmeros emplastros. A condizer com o local da realização do evento - Torre de Tombo - foram retirados do gavetão da primeira metade da década de 70, onde se encontravam conservados em formol, os camaradas general Vasco Gonçalves e almirante Rosa Coutinho que também participam no happening.

Aguarda-se com grande expectativa o veredicto sobre as penas a aplicar aos acusados: os incontornáveis George Bush e Tony Blair, e, entre outros, o ex-patrício doutor Durão Barroso, actual presidente José Barroso, e como supra-numerário o saudoso doutor Santana Lopes.

19/03/2005

CASE STUDY: prevendo a previsão

Segundo o estudo do Barclays Capital citado por The Economist, a evolução das previsões do Banco Central Europeu do crescimento do PIB nos últimos anos vai do superoptimista, 2 anos antes do ano de referência, até ao realista, no início do ano seguinte, perdendo-se pelo caminho entre 1% a 2%.

(The Economist , March 12th 2005]
Se as metodologias do BCE forem consistentes, podemos antecipar com base nas suas previsões actuais que o crescimento da economia europeia será praticamente nulo ou negativo em 2005 e nulo ou ligeiramente positivo em 2006.

Más notícias. Nos próximos tempos nem de Bruxelas virá chuva.

18/03/2005

SERVIÇO PÚBLICO: o Moloch sobre rodas

«A produtividade média das empresas de transportes públicos controladas pelo Estado é cerca de 30% da verificada nas restantes empresas da economia portuguesa....
Na análise do custo operacional, desta vez em comparações com cidades europeias, Lisboa também sai a perder.
O resultado é o agravamento dos prejuízos que em 2003 atingiram 422 milhões de euros. O agravamento dos resultados líquidos negativos, reflecte sobretudo o aumento dos encargos financeiros com a dívida.
O passivo total das empresas têm crescido cerca de 14% ao ano, tendo em 2003 chegado a 10 mil milhões de euros, ou seja, 7,7% do PIB. Um diagnóstico há muito conhecido, mas para o qual ainda não houve solução.»
[Jornal de Negócios]

17/03/2005

SERVIÇO PÚBLICO: A maneira estúpida de fazer política (2)

A propósito da subtil montagem da «central de comunicação» que o novo governo tem em curso, escreve Pacheco Pereira em «Os colocadores de feltro», hoje no Público:
«Os "argumentos" são os mesmos: onde Santana Lopes e o seu grupo viam a dominação de comentadores de esquerda, agora afirma-se que os melhores espaços são para comentadores de "direita", o que não corresponde ao novo ciclo político. É preciso "contraditório". Ouvem-se recicladas as vozes de que agora há que dar um estado de graça ao Governo, deixá-los trabalhar, ver o que valem, o que era exactamente o que Lopes pedia. Quem não o fizer só pode ser um empedernido e faccioso partidário, impulsionando a sua agenda ou a do seu partido, que deverá ser substituído por um académico, ponderado e equilibrado, independente e isento, por coincidência da área do moderno "bloco central".»
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, ou, como se diz no futebol, o que era ontem mentira pode ser hoje verdade, ou vice versa.

16/03/2005

SERVIÇO PÚBLICO: A maneira estúpida de fazer política

«PS e PSD já chegaram a acordo para avançar com uma revisão constitucional extraordinária, que deve ser feita em tempo recorde, de forma a permitir uma pergunta clara no referendo europeu e que este se realize ao mesmo tempo que as autárquicas de Outubro. ... na revisão constitucional do ano passado os sociais-democratas propuseram que referendos e eleições pudessem ser no mesmo dia, mas que na altura os socialistas recusaram.» [DN]

15/03/2005

BLOGARIDADES: Será o liberalismo um estado de espírito?

Por alguma razão que me escapa, nos últimos dias as mentes liberais andaram agitadas.

Primeiro foi o blasfemo CAA que confessou não ter «jeito para ser "homem de partido"».

Seguiu-se o insurgente AAA que, no mesmo dia, invoca Vargas Llosa que por sua vez tinha invocado uns dias antes von Mises, insurgindo-se «contra a criação de um partido liberal».

AAA insurge-se também, pouco depois, concluindo que "se houvesse condições para um partido liberal ter sucesso, é porque ele seria desnecessário".

O insurgente João, a propósito da «tragédia dos condomínios», vai mais ainda mais longe, pondo em dúvida os fundamentos - «aparentemente, o auto-governo não funciona nem na mais básica das comunidades.»

Nos dias seguintes os blasfemos entram a matar com a série «Porque não devem os liberais formar partidos "liberais"»

Primeiro o blasfemo Rui A. que postula que «o liberalismo não deve qualificar-se como uma ideologia, menos ainda como uma ideologia que se possa definir de esquerda ou de direita. Não é uma ideologia porque não assenta em pressupostos programáticos para a sociedade (pelo contrário, o liberalismo defende a auto-regulação social)».

Em seguida, o blasfemo João Miranda, se dúvidas ainda restassem, avança o argumento definitivo: «os partidos e os liberais trabalham para mercados diferentes. Os partidos estão no negócio do poder, os liberais estão no negócio das ideias»

Estava o assunto praticamente arrumado, mas faltava o golpe de misericórdia que ainda foi dado nesse dia por mais dois blasfemos reincidentes - CAA e Rui A. que avança mais três razões, duas estéticas e uma ética.

Se o liberalismo não é uma ideologia, não é compatível com um partido, por razões estéticas e éticas e (um enorme E) duvida-se que os seus princípios possam ser socialmente exequíveis, o que será o liberalismo?

Será um estado de espírito?

Anda a esquerdalhada ocupadíssima a imaginar os demónios liberais a atacarem as conquistas de Abril, os direitos adquiridos, o estado social e aquelas relíquias que sustentam o culto, e afinal.

Afinal andam os liberais, aquela meia-dúzia de gatos, mais raros do que o lince de Malcata, a sofrer uma crise de identidade. Puf.

(Continua, talvez)

14/03/2005

DIÁRIO DE BORDO: «La donna e un animale stravagante»

Sensibilizado pela reacções de indignação das fêmeas do Parque Jurássico à composição por géneros do governo do engenheiro Sócrates, o Impertinências acrescenta mais uma área temática dedicada às fêmeas, para garantir a paridade com a já antiga Condição Masculina.

(La) Donna e un animale stravagante
Uma área temática inspirada no dueto da ópera de Gaetano Donizetti Elisir d'amore em que o charmoso Belcore e a alma simples Nemorino disputam o coração volúvel de Adina. É, por assim dizer, uma homenagem às gajas que um homem se esforça por compreender sem sucesso e, à falta de outra coisa, se limita a amá-las o melhor que pode e sabe.

Agora que escrevi uma treta simpática posso continuar a dar com o pau nas fêmeas do Parque Jurássico, como as baptizou a Joana do Semiramis.

Deviam ter vergonha de reclamar lugares no governo, ou em qualquer outro sítio, em nome da paridade. Em nome da paridade pode-se reclamar a presença no governo de pretos nos países de predominância branca, de brancos nos países de predominância preta, de anciães nos países jovens, de jovens nos países envelhecidos, de coxos, de marrecos, e, claro, de homens - uma minoria demográfica. Em vez disso, deviam, só para dar um exemplo, pugnar pela troca do songamonga ministro da Justiça por uma gaja, ou por um gajo, com tomates para fazer funcionar capazmente uma das poucas missões indiscutíveis do Estado.

Em tempo: o Parque Jurássico também tem machos, como o doutor Mesquita que gizou, em colaboração com uma fêmea sua aluna, um contra-governo provocatório.

13/03/2005

ARTIGO DEFUNTO: a Cóltura (com maiúscula) só trata de dinheiro

O caderno Actual do Expresso é uma fonte inesgotável de demonstrações da dependência da arte independente ou, se quiserem, de materializações da Cóltura (com maiúscula), a actividade das pessoas cóltas, que concebem óbjectos cólturais invendáveis.

Uma vez mais, o caderno traz no seu bojo um acervo de pedidos, exigências, constatações, solicitações, exposições, apoios mendigados, concursos criticados, prémios anunciados. Numa só palavra, a Cóltura do Actual só trata de dinheiro.

Só trata de dinheiro, e nisto é igual ao Banco Privado Português. Igual mas diferente, porque o BPP paga a publicidade mais inteligente que se pode ler na imprensa portuguesa. O penúltimo anúncio, escrito por Miguel Esteves Cardoso, e o último de José Eduardo Agualusa, são exemplos notáveis de humor refinado e de bom gosto ou, dito de outro modo, são objectos culturais vendáveis e portanto vendidos.

12/03/2005

NÓS VISTOS POR ELES: O escarro anatómico

Depois de Nadim Habib, prossegue a saga do Nós vistos por eles com o romancista alemão Alfred Doeblin («Berlin Alexandreplatz»).

O maradona de A Causa Foi Modificada, evoca o rigor cirúrgico de Alfred Doeblin a descrever o escarro anatómico, inspirado na visão durante a sua passagem por Lisboa em 1940.

«Lisboa pratica a espécie mais horrível de escarro, o escarro anatómico. Que começa por um aclarar da garganta, um expectorar, um acumular nas partes superiores da cavidade nasal, após o que se desencadeia o trabalho propriamente dito, que baixa às profundezas, como que um labor mineiro, uma cuidadosa, circunspecta dragagem, bombagem, sucção da descarga a partir de todas as esquinas do palato, da faringe, da cavidade nasal posterior, de toda a casta de cavernas acessórias do nariz. Conforme o ponto de aplicação, assim a tarefa é acompanhada de um crocitar, um estertorar, um esganar. Por fim, tudo aquilo termina em explosões, na expulsão do património tão esforçadamente acumulado. Há que ter cautela quando ocorre a descarga propriamente dita. O disparo pode borrifar-nos a cara ou apontar aos nossos pés. Tudo aquilo é de horror, mas, conforme disse, prática comum.»

[Alfred Doeblin, "Viagem ao Destino", Edições ASA - via maradona]

O Impertinências, que é quase contemporâneo da passagem de Doeblin por Lisboa, poderia prestar testemunho das inúmeras vezes em que correu riscos de ser atingido pelas descargas disparadas nas ruas de Lisboa em todas as direcções pelos populares alfacinhas. Só uma coluna flexível sem escolioses, como era a do Impertinências nessa época, lhe permitiu ser poupado.

11/03/2005

SERVIÇO PÚBLICO: O jornalismo com causas

Graças ao insurgente R. Oliveira, temos mais um exemplo do que como pensam e agem os praticantes do jornalismo com causas, na circunstância a militante Giuliana Sgrena de "Il Manifesto" - um jornal ligado ao movimento com o mesmo nome, fundado nos finais dos anos sessenta pela esquerdalhada aparentada aos brigadistas da luta armada, actualmente disfarçados de democratas anacletos.

O artigo do «Nederlands Dagblade» escrito por Harald Doornbos, que conheceu de perto a jornalista militante, foi traduzido a pedido do insurgente em nosso benefício, aqui. Obrigado ó insurgente. Nunca se arrependa duma boa acção.

10/03/2005

ARTIGO DEFUNTO: No melhor pano cai a pior nódoa

É uma tristeza constatar que um jornalista que o Impertinências tem em boa conta, como é o caso de Sérgio Figueiredo, tenha cometido um imperdoável plágio ao escrever o «Porque cai o dólar?» no seu Jornal de Negócios.

É uma alegria constatar que um bloguenauta atento e culto possa denunciar o plágio, exemplificando como o blogosfera pode mudar definitivamente o jornalismo.

[Ler o post «Mises Institute influencia jornalismo económico português» do Causa Liberal que presta um serviço inestimável ao jornalismo de qualidade]

CASE STUDY: A tanga socialista não chega para tapar as partes pudibundas

1. As juras
O engenheiro Sócrates disse em, várias ocasiões, com sofisma ou por distracção (não é muito relevante, por agora), que os impostos não iam aumentar. Não há a menor dúvida sobre isso. Para não perder mais tempo a catar os links, remeto para o post Read my lips do blasfemo João Miranda. Cito: «Mas também não estou de acordo com a subida de impostos, não estou. Porque isso também já foi uma receita do passado. Isso já foi feito no passado e não produziu bons resultados. Eu não acho que os problemas das contas públicas em Portugal se possam fazer à custa da Economia, fazendo lançar impostos.»

É claro que foi um compromisso no mínimo imprudente e, para quem costuma ruminar todo o que diz, irresponsável, quando até o porteiro do ministério das Finanças suspeita do estado de calamidade em que se encontra a gestão financeira do Moloch.

2. A dura realidade
No sábado passado, o indigitado ministro das Finanças professor Campos e Cunha «disse o óbvio» em entrevistas à TSF e Rádio Renascença: «é provável que nos primeiros tempos tenha de haver um aumento de impostos».

3. Protestos e uivos
Nos dias seguintes as luminárias do PS protestaram que o indigitado ministro não queria dizer o que disse. Os analectos uivaram imediatamente para a lua os seus protestos, pela garganta do tele-evangelista.

4. O lugar do outro
Na 2ª Feira o DN publica dois textos de mais luminárias do PS. O texto do engenheiro Cravinho protesta que «o Estado paquidérmico, burocratizado, despesista e constrangedor ou mesmo anulador do dinamismo do mundo dos negócios e da pujança de iniciativas do mundo empresarial» não passa duma invenção dos média. Para ele o estado das coisas deriva da falta de «um capitalismo capaz de gerar e desenvolver empresas fornecedoras de produtos e serviços desejados no mercado global pela sua alta qualidade». O que não deixa de ser verdade, mas passa ao lado do problema. O governo não tem que fazer nascer «um mundo de PME competitivas e inovadoras das cinzas do capitalismo tradicional». Não se espera tanto, senhor engenheiro. Espera-se apenas que os seus camaradas no governo tratem da parte deles: pôr o Moloch a trabalhar aceitavelmente no seu core business, seja ele o que for, e fazer-lhe uma brava lipoaspiração.

5. As inconveniências do outsider
O outro texto do DN de 2ª Feira é a lúcida entrevista do professor Daniel Bessa onde, sem o sentido das conveniências políticas, conclui que «o perigo maior que Portugal corre é de se tornar numa espécie de Sicília. Proteccionista, muito dependente do Estado, pouco liberal, pouco aberta, com pouca concorrência ou espaço para o mérito e para a afirmação. Todos sabemos a rota descendente que a Sicília cumpre e cumprirá enquanto continuar assim. A minha convicção profunda é que, se as coisas correrem bem, o desemprego aumentará.»

6. A poção mágica de Asterix
Esgotada a venda dos anéis para pagar as mercearias e à míngua das reformas da administração pública, resta alterar as medidas - ó filho se pesas 90 kg e medes 1,60 m o que tens a fazer é passar o quilograma para 1.250 g e o metro para 90 cm e ficas um gajo esbelto com 72 kg e 1,78 m. Foi o que esteve a tratar em Bruxelas, com o beneplácito do PS, o doutor Bagão Félix, ministro em extinção das Finanças em extinção. Felizmente não chegaram a acordo sobre se a peso devia ser em jejum ou depois do almoço e incluiria ou não o paletó, nem sobre se a altura seria medida com ou sem sapatos.

7. O que nos espera?
Os diagnósticos são variados. O prognóstico sobre a saúde do «homem doente da Europa», que no passado era o império otomano e hoje é o quinto império é reservado.
O aumento do IVA para 20% já está escrito nas estrelas. Com o elixir que vier de Bruxelas talvez se possa descontar as despesas de investimento ao défice, ou praticar outra qualquer manigância parecida. Com a competitividade da Alemanha a melhorar empurrando a economia (ver o Economic Focus de 19-02), espera-se que esta puxe, por sua vez, pelo comboio europeu, e reza-se, para que a decrépita carruagem lusa seja penosamente arrastada durante algum tempo. Não muito, apenas o suficiente, para chegar às próximas eleições. Entretanto, talvez resulte destes epifenómenos uma passageira melhoria que justifique uma euforia pontual antes de cair na próxima depressão - uma espécie de dead cat jump como chamam os analistas financeiros ao aumento ligeiro e não sustentado que se segue a um crash nas bolsas de valores que afunda as cotações durante os meses (ou anos) seguintes.

09/03/2005

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Um presidente masculino excêntrico

Secção George Orwell
«Não é justo nem razoável que persistam enviesamentos masculinocêntricos tão acentuados na selecção das questões políticas agendáveis», disse o presidente da República na sessão comemorativa do Dia Internacional da Mulher. [Público]

Três chateaubriands para o doutor Jorge Sampaio pelo pensamento esotérico e dois bourbons para a primeira dama para o caso de ter sido ela a musa.

SERVIÇO PÚBLICO: É um bom começo

«O Governo mudou, mas a pasta da Educação voltou a ser atribuída a uma pessoa desconhecida dos parceiros educativos. Embora seja investigadora universitária, tenha estado na origem do Observatório das Ciências e das Tecnologias e seja elogiada pelo meio científico, o nome de Maria de Lurdes Rodrigues não diz nada aos professores, pais e outros parceiros.» [Público]

DIÁRIO DE BORDO: Deve haver uma explicação

Deve haver algo nas convoluções, ou nos neurónios, ou nas sinapses, ou nos lóbulos frontais, ou nos lóbulos parietais, ou no córtex, ou noutro qualquer componente dos bestuntos dos artistas politicamente correctos que explique que funcionem assim.

Assim como a mente do jovem cantor canadiano Rufus Wainwright que, na entrevista ao Indígena da semana passada, depois de confessar ter sido violado aos 14 anos em Hyde Park (terá sido no Speakers' Corner?), ter consumido crysthal meth (uma droga 'desinibidora'), ser um homossexual à procura dum «messias homossexual», frequentar boogie nights, entrarem-lhe pelo quarto «desconhecidos nus», depois de confessar tudo isto, dizia eu, admitiu ter visto o atentado do World Trade Center como «terrivelmente simbólico. bíblico, um despertar lançado ao mundo».

E mais confessa que, com o «ogro na sala oval», «não vai ser bonito», e que «na América há muitas pessoas que querem regressar à Idade Média». Apesar disso, ainda tem «esperança que algumas almas inteligentes ... possam ressuscitar das cinzas o bom senso». É claro que tanta desgraça só pode levar o jovem a escrever «versos bastante sombrios sobre o actual estado do mundo».

Percebo-o perfeitamente. Com a vivência do rapaz eu escreveria posts ainda mais sombrios do que os versos dele. E ele, coitado, ainda não viu nada. Imagine ele que a sharia era aplicada no estado de NY, que ele visita regularmete, por um aiatolah governador vitalício, coadjuvado por um bando de talibã no NYPD, com cerimónias de delapidação, decapitação, empalação, e outros requintes, da comunidade LBGT e de todos os infiéis que pululam em NY. Quem sabe se o jovem Rufus, enquanto esperava pela sua vez na fila da empalação, ainda tinha tempo para escrever o Want Three com uma canção dedicada ao «ogro» da sala oval.

ESCLAREÇO que não tenho nada contra a música do rapaz. Mas, por muito boa que ela seja, não o qualifica para falar sobre as coisas que se passam no mundo real fora da sua mente perturbada pelos eflúvios de crysthal meth. Até o Wolfgang Amadeus teria delirado intensamente para os jornais se houvesse algum jornalista sem mais do que fazer do que recolher os seus delírios. Imagine-se o pobre Rufus, de quem ninguém se lembrará ainda antes de ele ter a idade com que Mozart morreu.

08/03/2005

LOG BOOK: Mighty Lord took Mourinho's chair

Arsene Wenger, Alex Ferguson, and Jose Mourinho all perish in a plane crash and went to meet their maker.

The supreme deity turned to Wenger and asked, tell what is important about yourself. Wenger responded that he felt that the earth was the ultimate importance and that protecting the earth's ecological system was most important. God looked to Wenger and said, "I like the way you think, come and sit at my left hand".

God then asked Ferguson what he revered most. Ferguson responded that he felt people and their personal choices were most important. God responded, "I like the way you think, come and sit at my right hand".

God then turned to Mourinho, who was staring at him indignantly. God asked "What is your problem Mourinho?" Mourinho responded "I think you are sitting in my chair".

07/03/2005

TRIVIALIDADES: Não ganhei para o susto

Não ganhei para o susto ao ler o título do Público «Portugal coordena um quarto do mundo». Está-se falar de quê? O que seria esse quarto do mundo coordenado pelos indígenas que não conseguem coordenar menos de 100.000 km2? Receei por esse quarto. Pensei até em emigrar para os três quartos.

Afinal não é nada de cuidado. É só um senhor italiano naturalizado português (por acaso cônjuge duma Espírita) com uma ligeira megalomania. Ou até, coitado, talvez não seja isso - pode ser um excesso de zelo ou um estilo gongórico public relations da empresa de imagem.

DIÁRIO DE BORDO: O governo de Sócrates e as salsichas de Bismarck

Otto von Bismarck comparou um dia a feitura das leis ao fabrico de salsichas: quando menos se souber como são feitas, melhor. Sabia do que falava e, se falasse da feitura de governos, mais cuidados recomendaria.

Que o engenheiro Sócrates tenha seguido o avisado conselho de Bismarck, evitando mostrar gorduras, carnes de qualidade duvidosa e tripas, só abona a seu favor, por muito que os média lhe grunham nas canelas por lhes ter sido vedado chafurdarem no chiqueiro.

Que a salsicha que nos apresenta seja de boa qualidade isso é outra questão, para uma outra altura.

Já que falo nos média, espero que o «habituem-se» do doutor Vitorino seja premonitório duma relação mais higiénica e menos promíscua entre o governo e os média.

06/03/2005

NÓS VISTOS POR ELES: «O país adora falar, mas depois vê-se pouca acção»

Nós vistos por eles é uma nova área temática do Impertinências onde se quer dar voz aos desgraçados dos estrangeiros que têm que nos aturar todos os dias.

Inaugura esta área Nadim Habib, um líbano-dinamarquês, diplomado pela London Schoool of Economics, que vive em Portugal há alguns anos onde dirige a Hill & Knowlton, nº 1 mundial das relações públicas. Deveríamos pagar-lhe por se ter dignado dar uma entrevista ao Semanário Económico da passada semana.

«Adoro Portugal, lembra-me muito o Líbano. Mas... parece que importamos o pior de fora e não aproveitamos o nosso melhor. Quando motivados, os portugueses são altamente trabalhadores. As pessoas investem muito emocionalmente, querem acreditar na empresa e, quando não acreditam, tornam-se apáticas rapidamente e desistem. Nunca como aqui vi tanta gente empenhada, mas como não há a cultura da meritocracia, desperdiça-se o talento. Raramente se vê quem se esforça, quem faz, ser premiado. É muito frustrante, as pessoas desistem rapidamente, a infra-estrutura burocrática é país de padrinhos e pais, que ajudam as pessoas a desenvolver carreiras. Acredito muito no network nas neste sistema não está a funcionar. Um recém licenciado, por exemplo, não sabe por onde começar e isso é tão frustrante! A taxa de desemprego de recém-licenciados é de 40% Porquê?! Para mim, é chocante. Por exemplo, a relação fornecedor-cliente vive muitas vezes uma cultura de ameaça e suspeição contínua. É muito difícil trabalhar num ambiente desses. E há outras frustrações que se sentem em quase todos os portugueses, e que têm que ver com o Estado, grandes grupos económicos e o resto da população. Uma barreira enorme separa as grandes cúpulas de poder e o resto da população e ninguém faz um esforço para construir uma ponte. O país adora falar, mas depois vê-se pouca acção, parece que não se quer renovar. Apesar disso os portugueses no estrangeiro têm grande sucesso!»

04/03/2005

SERVIÇO PÚBLICO: Os ventos da mudança sopram em Beirute

Contra quem sopram os ventos da mudança?

Onde estão as bandeiras queimadas e os tiros para o ar do culto da morte?


Onde está a burkha?

03/03/2005

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Não há dinheiro, não há palhaços

Sumário executivo
Talvez os Artistas tenham que desistir da Arte (com maiúscula). Um dia, o mais tardar em 2057 quando o primeiro governo liberal tomar posse, os Artistas serão despromovidos a artistas e terão que resignar-se a produzir arte (com minúscula).


Alguns leitores do Impertinências insurgiram-se contra o post A dependência da arte independente. [Quem se insurgiu não foram os insurgentes que, aliás, parece terem-no apreciado.]

Quem se insurgiu foram detractores e o que escreveram (e disseram) pode ser resumido à pergunta feita por um deles: «como é possível num país pobre fazer-se Arte (com maiúscula) sem recurso aos subsídios pagos pelo Estado (com maiúscula), que afinal somos todos nós (com minúscula)?»

Possível ou não, não é um problema exclusivo da Arte (com maiúscula). Seria possível produzir no país quase todos os produtos se a sua produção fosse subsidiada pelo governo com o dinheiro dos contribuintes. Em que são diferentes dos outros os produtos culturais? Essencialmente por terem um mercado com um número limitado de clientes - umas elites urbanas que, tudo por junto, dificilmente ultrapassam uma centena de milhar de clientes potenciais para esses produtos.

O populacho está-se borrifando para esses produtos culturais e não se vê razão para seja ele a pagar com os seus impostos os gostos extravagantes dumas elites que, ainda por cima, dispõem de rendimentos que fariam a felicidade da plebe. O populacho está-se tão nas tintas, como as elites se estão nas tintas para os seus gostos vulgares.

O que fazer? O preço de mercado resulta dos custos de produção e os clientes pagam o preço de mercado. Mas, nesse caso, o que seria feito do nosso teatro, do nosso cinema, da nossa ópera? Os produtores morreriam de fome ou mudariam. Mudar, adaptando os seus produtos às preferências dum público com dimensão suficiente para viabilizar o produto, em vez de fazerem, por exemplo, filmes vistos por 62 espectadores e sustentados pelo denominado modelo de financiamento do cinema português

Mudando, deixariam assim de olhar «demasiado para o umbigo (fazendo) filmes para que os seus colegas digam muito bem (sem) pensar no público». [ver aqui uma parte da entrevista de Mário Dorminsky]

02/03/2005

BLOGARIDADES: Um ano passa num instante

Com o cérebro congelado é difícil a gente aperceber-se seja do que for. Até mesmo do primeiro aniversário do Blasfémias, um blogue impertinente desde o primeiro vagido.

SERVIÇO PÚBLICO: Body language

«António Vitorino vai ficar de fora do próximo Governo, que o primeiro-ministro José Sócrates está a constituir. O Jornal de Negócios sabe que o ex-comissário europeu está a estudar o regresso à advocacia, para um grande projecto numa sociedade de advogados.
O destino deverá ser uma sociedade de advogados. E há várias propostas entre as maiores firmas do País. Incluindo das duas maiores: a de José Miguel Júdice e a de André Gonçalves Pereira. Contactado pelo Jornal de Negócios, António Vitorino afirmou apenas que "não tomei nenhuma decisão sobre o meu futuro".
» [Jornal de Negócios]

«O social-democrata José Pedro Aguiar-Branco afastou hoje a hipótese de se candidatar à liderança do PSD.» [Público]

«Na noite eleitoral de domingo, António Borges rejeitou a possibilidade de avançar com uma candidatura à liderança do PSD» [Público]

ESTÓRIA E MORAL: You too

Estória
Já tinha lido a estória no Aviz que citava a FolhaOnLine. Pelo sim, pelo não, fui confirmar ao Money da CNN.

Não há dúvidas. O Los Angeles Times propôs de facto no editorial de 6ª feira passada a nomeação de Bono, vocalista e chefe dos U2, para presidente do Banco Mundial em substituição de James Wolfensohn, que termina o mandato em Maio. Sendo Bono «a única pessoa no mundo a ter em seu currículo indicações para o Oscar, o Grammy, o Globo de Ouro e o Prémio Nobel da Paz», essas seriam para o LAT referências suficientes para propor Bono.

Ontem o preconceito venceu-me. Hoje o argumento parece-me inatacável. Pois se Bono está habituado a privar com as luminárias globais, que vão desde Gates até Blair, e segundo o LAT «é profundamente versado nos problemas que afligem os nações menos desenvolvidas do mundo».

Só via uma pequena dificuldade. Quem substituirá Bono nos U2? Não precisei mais do que alguns segundos para encontrar a resposta: Gordon Brown, o chanceler do Tesouro britânico, por coincidência um dos candidatos mais falados para presidente do Banco Mundial. É certo que, por um lado, Brown tem uma voz de baixo, mais afeiçoada para substituir o Boris Christoff na Boris Godunov do que para substituir o Bono no How To Dismantle An Atomic Bomb. Mas, por outro, e se Brown tiver sido na sua adolescência, como é provável, um sujeito profundamente versado na música pop?

Moral
In dubio pro bono



ANTEVISÃO: Gordon Brown ensaindo Vertigo / Bono apresentando o relatório do BM

01/03/2005

ESTÓRIA E MORAL: A dependência da arte independente

Estória
Em tempos o Impertinências acrescentou ao Glossário o termo Teatro independente, definindo-o como o teatro que depende do estado; o teatro a quem o estado diz «toma lá dinheiro e faz qualquer coisa» (A. Feio). Por extensão, o conceito pode aplicar-se a qualquer outra arte «independente» cujo público é um qualquer júri a quem pagam para dar pareceres.

Parece um pouco exagerado? Só à primeira vista. Tome-se, por exemplo, o último caderno Actual do Expresso.
  • Na página 5 encontramos um anúncio da Companhia Nacional de Bailado, subsidiada pelas «verbas» do MC;
  • Na página seguinte podemos ler o drama do desaparecimento da «verba» para o S. Carlos que impedirá(ia) a apresentação de O Rapto no Serralho e Wozzeck;
  • Ainda na mesma página anuncia-se a demissão do director da Torre de Tombo, por achar que o lugar é «político», lamentando-se por não ter conseguido fazer mais por «falta de verbas»;
  • Na página 8 o director do Instituto das Artes lamenta-se que a única «verba» que tem para 2005 são 177 euros;
  • Na página seguinte o MC «condena» o aqueduto das Águas Livres ao corte parcial - quem sabe se para reforçar a «verba» noutro orçamento;
  • Na página 11 mais um anúncio da Companhia Nacional de Bailado,
  • Na página 12 anuncia-se um Guia das Artes, inevitavelmente financiado pelo MC
  • Na mesma página fala-se de projectos para «antigas casas de mineiros (das minas de S. Domingos) para turismo de habitação (que) vai permitir usufruir do primitivo ambiente das minas» (mal posso esperar), tudo, uma vez mais, com «verbas» que ainda não se sabe donde virão;
  • Na página 13 mais 4 anúncios de mais «teatro independente» ;
  • Na página seguinte referem-se várias «iniciativas culturais» a realizar em instituições contempladas com mais «verbas»;
  • Nas páginas 16 e 17 escalpeliza-se o Dioniso, Rè di Portogallo, ópera igualmente beneficiária das «verbas» do MC
  • Depois de um interregno que vai até à página 27, onde se fala de produtos artísticos dependentes (do sucesso), as artes «independentes» voltam na página 28, ponto onde sucumbi interrompendo este deprimente inventário.

Moral
São duas:
1) Res non verba
2) Com arte e engano vivo metade do ano, e com engano e arte, a outra parte.

Este último ditado popular assenta como uma luva aos trabalhadores franceses da cultura, os intermitentes, que vão desde o barítono até à telefonista da Ópera ou ao porteiro do Louvre, e que na última contagem eram uma legião - nada menos de 100 mil, sempre a aumentar desde a criação da legião que remonta às sequelas do Maio 68.

Esperem para ver se esta categoria dos intermitentes, uma brainchild concebida num processo de clonagem e parida para a política doméstica pelo Bloco de Esquerda, a ser um dia adoptada pelo inefável professor Carrilho. Cfr. a página 84 do programa de governo dos Anacletos:

«a criação do estatuto sócio-profissional do artista, de forma a garantir protecção social (reforma, subsídio de desemprego, acesso ao serviço nacional de saúde...) aos trabalhadores intermitentes ou sazonais, bem como a garantia de uma aposentação precoce para as profissões de alto desgaste físico (bailarino, artista de circo)»