A última vez que fiz um inventário completo dos candidatos ao lugar de presidente da República foi em 15-12-2003, no post «Senhor livra-me deles». Listei então os seguintes presuntivos candidatos:
- Cavaco Silva,
- Guterres
- Santana Lopes
- Soares (pai)
- Soares (filho)
- Marcelo Rebelo de Sousa
- Freitas do Amaral
- Carlos Monjardino
- Vieira de Almeida
- José Miguel Júdice
a que acrescentei a doutora Maria Barroso ou qualquer outro membro da família Soares, nascido ou nascituro.
Poucos meses depois, a listagem ficou desactualizada com o surgimento da transformista Valéria (ou Vitória?).
Mais tarde surgiu publicamente o incontornável doutor António Vitorio e, em círculos especializados, falou-se também a boca chiusa da doutora Maria de Belém Roseira e dos doutores Ferro Rodrigues e Jaime Gama. Nesta altura já se contavam 16 candidatos, afora os que ainda estavam na clandestinidade, como o candidato perpétuo do MRPP doutor Garcia Pereira.
Tanta abundância levou-me a debruçar no post «O ersatz do líder da oposição» sobre as possíveis causas da atracção irresistível que os portugueses parecem sentir pelo lugar de PR. Num momento de fraqueza sucumbi às teses anacletas e formulei, também eu, uma «teoria conspirativa: é mais barato e mais agradável ser presidente da República do que líder da oposição, que implica suportar a travessia do deserto do poder, aguentar uma cambada de potenciais traidores escondendo as navalhas da traição nas calças da pouca vergonha e suportar uma infinita corja de medíocres ansiando por uma sinecura, tudo isto apenas mitigado pelo séquito de seguidores incondicionais, que vai minguando, na medida em que mingua a esperança do governo de serviço cair.
Mais importante do que perceber o porquê daquelas almas se sentirem atraídas pela presidência, quais borboletas pelo candeeiro, é perceber as causas da popularidade da coisa. Porquê a populaça venera tal comportamento, que outras populaças doutras paragens achariam irresponsável e oportunista?
Deve haver algo nas profundezas da alma lusitana que o explica. Algo que leva os portugueses a criarem mecanismos sociais e políticos para entropicar a sua vida. O Impertinente acredita que a coisa remonta à ocupação da Lusitânia pelo império, se não antes - não é verdade que um governador romano escreveu ao imperador, lamentando-se, resignado, que os povos indígenas não ser governavam nem se deixavam governar?»
Venho hoje, de corda ao pescoço, admitir a falha da minha teoria conspirativa, devidamente demonstrada pela enésima candidatura agora protagonizada pelo poeta Manuel Alegre, que obviamente não será candidato para liderar a oposição ao engenheiro Sócrates.
Ou será?