Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

18/04/2025

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Os defensores das cotas atribuem às mulheres uma baixa cotação

«As sacrossantas cotas, porque “as cotas favorecem as mulheres”. A sério? Quais mulheres? Sim, as cotas favorecem as incompetentes e prejudicam as mais capazes. Mais uma vez, tratam as mulheres como se fossem iguais entre si, apenas diferentes dos homens, velhacos sem emenda que só pensam em achincalhá-las. Na verdade, é precisamente o contrário. Ser contra as cotas é compreender que homens e mulheres têm a mesma aptidão para atingir o mérito. Os homens não são à nascença mais capazes do que as mulheres, portanto, as mulheres não precisam da condescendência dos homens para chegar aos lugares reservados pela esquerda. Nenhum cidadão merece ser castigado por nascer homem. E nenhum cidadão, homem ou mulher, precisa de ser protegido com paternalismo. As cotas são uma forma de infantilização.»

«Dia das Mulheres Extraordinárias», Margarida Bentes Penedo no Observador

17/04/2025

Dúvidas (350) - Europa é diferente dos EU? E qual é o problema? (II)

Continuação de (I)

«O problema da Europa é que não tem um apego absolutista à liberdade de expressão. Veja-se como os juízes na Romênia e na França descarrilaram as carreiras de políticos de extrema direita, que se convenceram (com poucas evidências) de que foi sua ideologia, e não sua violação da lei, que os colocou em apuros. No entanto, para muitos europeus, a ideia de que a liberdade de expressão está ameaçada parece estranha. Os europeus podem dizer quase tudo o que quiserem, tanto na teoria como na prática. As universidades europeias nunca se tornaram focos de policiamento da expressão por uma raça de guerreiros culturais ou de outra. Pode expressar-se uma opinião controversa em qualquer campus europeu (fora da Hungria, pelo menos) sem medo de perder seu mandato ou sua bolsa. Nenhum centro de detenção aguarda estudantes estrangeiros que têm opiniões erradas sobre Gaza; as agências de notícias não são processadas por entrevistar políticos da oposição. Os escritórios de advocacia não são obrigados a curvar-se aos presidentes como penitência por terem trabalhado para os seus inimigos políticos.»

O que acontece com a Europa é que está a enfrentar uma crise demográfica. Está evitando um declínio acentuado na população apenas reforçando sua força de trabalho com imigrantes, alguns dos quais se integraram mal. Essa imigração mostra o apelo do modo de vida europeu; para aqueles que vêm em busca de refúgio da guerra, mostra a generosidade dos europeus (às vezes equivocada). E embora os europeus ocasionalmente façam uma demonstração de repressão aos migrantes ilegais, eles geralmente dependem dos legais para colher suas colheitas.

O problema da Europa é que sua economia está permanentemente presa no marasmo, um pesadelo global. E não é de admirar. Os europeus aproveitam o mês de Agosto, reformam-se no auge e passam mais tempo a comer e a socializar com as suas famílias do que os habitantes de qualquer outra região. Estranhamente, as pesquisas mostram que as pessoas em países ricos e pobres valorizam esse tempo de lazer; de alguma forma, os europeus conseguiram obter dos seus empregadores para que lhes dessem uma fatia maior. Mesmo quando estavam diminuindo o PIB perdendo tempo brincando com seus filhos, os habitantes da Europa também conseguiram manter a desigualdade relativamente baixa enquanto ela aumentava em outros lugares nos últimos 20 anos. Ninguém na Europa ficou a semana passada a olhar para sua carteira de ações, receando se ainda poderia mandar seus filhos para a universidade. Os europeus não têm ideia do que é "falência médica". Ah, e nenhum líder da UE jamais lançou sua própria criptomoeda.

O problema da Europa é que é ingénua, o único bloco comercial global apegado a normas morais. Insiste em cumprir os decretos da Organização Mundial do Comércio, digamos, ou fazer sua parte para reduzir as emissões de carbono. Não é um lugar que exige que aliados venham rastejando até ele implorando por "favores" nos direitos aduaneiros.

O problema da Europa é que é como um museu ao ar livre, o continente de ontem. Seu modelo é mesmo sustentável? Uma boa pergunta - uma que pressupõe que vale a pena defender o modelo europeu. É um lugar abençoado com cidades onde se pode caminhar, longa esperança de vida e crianças vacinadas que não precisam ser treinadas para se esquivar de atiradores nas escolas. O reino de Carlos Magno é um lugar de muitas falhas, muitas delas duradouras. Mas, à sua maneira, os europeus criaram um lugar onde lhes são garantidos os direitos ao que os outros anseiam: vida, liberdade e procura da felicidade.»

Excerto de The thing about Europe: it’s the actual land of the free now

16/04/2025

Dúvidas (349) - Europa é diferente dos EU? E qual é o problema? (I)

«O problema da Europa é ser excessivamente regulamentada. Imensa burocracia e impostos punitivos significam que não há empreendimentos empresariais de triliões de dólares na França ou na Alemanha que se igualem à Amazon, Google ou Tesla. Mas isso não é tudo que falta à Europa. Também ausentes do continente estão os broligarcas que se sentam em cima desses gigantes, alguns dos quais controlam melhor o poder do que a realidade. Portanto, não há Rasputins europeus injetando incontáveis milhões em campanhas políticas, obtendo um lugar de destaque nas posses dos líderes ou em seus próprios departamentos governamentais recém-criados para administrar. Infelizmente, existem poucos unicórnios na Europa e muito pouca inovação. Dito isso, não há absolutamente nenhum executivo de tecnologia gabando-se nas redes sociais de passar seus fins de semana alimentando pedaços do estado no "triturador de madeira".

O problema da Europa é que é indecisa, lenta demais para agir. Toda crise requer várias cimeiras dos líderes nacionais da União Europeia, muitas vezes discutindo até tarde da noite. Os processos enfadonhos de governo por consenso podem atrasar a UE: foram necessários quatro dias e quatro noites de negociação para chegar a um acordo sobre o último orçamento de sete anos do bloco, em 2020. Por outro lado, o aparelho de estado europeu não fecha arbitrariamente a cada poucos anos quando não é alcançado o acordo político sobre o financiamento, deixando milhões de funcionários públicos em licença e serviços básicos indisponíveis por dias ou semanas. A regra de consenso também significa que os tweets petulantes de um político equivocado - tarifas de 125% sobre a China - não fazem os mercados de globais de acções ficarem de pernas para o ar. O topo da UE não é eleito e, às vezes, não presta contas. Ainda assim, eles não ousariam ser fotografados jogando uma partida de golfe depois de terem encolhido as poupanças de milhões de seus compatriotas.

O problema da Europa é que ela se aproveita da defesa, não gastando o suficiente nas forças armadas para se defender sozinha das ameaças. Isso continuará a ser verdade por muito tempo, mesmo que os orçamentos de defesa sejam aumentados na maior parte do continente. Mas também reflete uma compreensão diferente do que significa "defesa". Por um lado, ninguém na Europa - fora da Rússia, pelo menos - está sugerindo que invadirá outros países. Não há piadas em Bruxelas sobre transformar um vizinho relutante no "nosso 28.º estado" (pelo contrário, muitos dos vizinhos da UE estão desesperados para se juntar ao clube). Os vice-presidentes europeus também não voam sem serem convidados para lugares que procuram anexar, sob o pretexto de que seu cônjuge quer assistir a uma corrida de trenós. A Europa pode ter economizado na recolha de informações, mas os seus vários líderes conhecem a identidade do agressor que iniciou os combates na Ucrânia (dica: não é a Ucrânia). Muitos deles anteciparam as armadilhas de invadir o Iraque há algum tempo.»

Excerto de The thing about Europe: it’s the actual land of the free now

(Continua)

15/04/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (56)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Eu diria mesmo mais, «as propostas do secretário-geral do PS são uma mistura de Marx com Pai Natal»

A fórmula de Rui Moreira em entrevista ao jornal Sol para caracterizar o programa eleitoral do PS parece muita adequada à falta de reformas e medidas estruturais e ao cabaz com IVA zero, ao "pé-de-meia" para os jovens e a redução da semana de trabalho previstos no programa eleitoral do PS.

A demagogia das políticas de imigração da extrema-direita são filhas da políticas socialistas

Segundo a AIMA, em 2017 viviam em Portugal cerca de 420 mil estrangeiros, um número que em 8 anos se multiplicou quatro vezes para cerca de 1,6 milhões, a cavalo das “manifestações de interesse” inventadas pelos governos socialistas. Só um milagre permitiria integrar um número desta dimensão. Recordemos que durante o PREC, a chegada em dois anos de um número três vezes inferior de retornados das colónias durante o PREC, portugueses e não estrangeiros, teve impactos sociais e gerou hostilidades.

Há um consenso sobre a governação: o fisco deve ser gerido como se fosse “privado”

O PS e o PSD podem divergir em várias áreas, mas não em relação ao fisco como máquina de extorsão. O instinto de sobrevivência levam-os a tratar o fisco como se fosse uma empresa privada. Exemplo: vai ser pago aos apparatchiks da Autoridade Tributária o bónus máximo de 5% da cobrança coerciva de impostos de 2023 no total de 65 milhões de euros.

¿Por qué no te callas?

A denúncia das supostas malfeitorias do Dr. Montenegro a que o Dr. Pedro Nuno deu um papel central na campanha eleitoral do PS é dificilmente compatível com a opacidade do seu percurso e com alguns factos conhecidos como viver em Lisboa e declarar morar em São João da Madeira para receber o subsídio, ter circulado num Porsche pago pelo pai, cuja empresa recebeu fundos europeus e beneficiou de adjudicação directa em contratos com o Estado. 

Sendo certo que isto são miudezas quando recordamos que a falência do BES que envolveu o Eng. Sócrates e outros membros do seu governo deixou uma perda superior a 11 mil milhões.

14/04/2025

DIÁRIO DE BORDO: R.I.P.

Mario Vargas Llosa (1936-2025)
«Todas las dictaduras, de derechas y de izquierdas, practican la censura y usan el chantaje, la intimidación o el soborno para controlar el flujo de información. Se puede medir la salud democrática de un país evaluando la diversidad de opiniones, la libertad de expresión y el espíritu crítico de sus diversos medios de comunicación.»

Crónica de um Governo de Passagem (48)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Nas eleições a fingir o Dr. Montenegro continua cada vez menos à frente. Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura

A evolução das sondagens mais recentes parece mostrar que a ligeira vantagem da AD está a minguar e na última sondagem da Intercampus o PS ficaria à frente da AD com 24,4% contra 23%. É difícil não admitir que a persistência da oposição, com a ajuda da maior parte da imprensa a escarafunchar os negócios do Dr. Montenegro, não tenha efeitos nas intenções de votos. Só as palavras “negócio” e “empresa” causam urticária num bom número de eleitores.

Se o Dr. Montenegro não perder as eleições não será por culpa do Expresso

No escarafunchar dos negócios do Dr. Montenegro há um especial destaque para o semanário de reverência que, mais uma vez, pelo pena do Grande Repórter Dr. Micael Pereira, dedica duas páginas do seu caderno principal para nos informar do resultado da sua investigação (que consistiu em consultar as contas anuais públicas do PSD depositadas na ECFP).

Nessas duas páginas o Grande Repórter elabora sobre as relações entre a família proprietária da gasolineira de Braga, por um lado, e, por outro, o Dr. Montenegro, a Spinumviva e o PSD, a quem a família doou em 8 (oito) anos a fabulosa quantia de € 30.500 (trinta mil e quinhentos euros). É certo que tal quantia está ainda longe dos mais de USD 200 milhões que o Dr. Musk doou à campanha do Dr. Trump, como também é certo que os € 30.500 da família Barros Rodrigues, ainda que tivessem sido pagos de um só vez, não lhe dariam direito a figurar a lista do Dr. Trump, mas é ainda certo que o Portugal dos Pequeninos é muito pequenino - apesar de ter um semanário com grandes repórteres - e os EUA, que já eram grandes, ficarão ainda maiores graças ao Dr. Trump.

Falta sempre qualquer coisa

Durante várias décadas, salvo em anos excepcionais, a taxa de poupança das famílias foi metade da média da UE, o que inevitavelmente reduziu a taxa de investimento também para cerca de metade (ver por exemplo este post).

Fonte

A cartola do Dr. Montenegro é quase tão grande como a do Dr. Costa. Reembalando pacotes

Entretanto, o governo anuncia um pacote de 10 mil milhões para “responder a Trump” (titula o semanário de reverência, agora em serviço para outro cliente). E em que consiste o este pacote? Consiste no Programa Reforçar «para mitigar o impacto das tarifas de Donald Trump na economia e empresas nacionais» programa que, milagre dos milagres, «praticamente não tem impacto orçamental» garante o Dr. Miranda Sarmento. E a que se deve o milagre? Deve-se a ser apenas um arranjo de programas e medidas já existentes que não envolvem «praticamente» despesa adicional.

De modo que temos de ter fé e esperar que do aumento do salário mínimo, aproximando-se mais do salário médio e comprometendo a viabilidade da multidão de pequenas empresas em que assenta a economia, e de uma nova redução do IRS que o programa da AD prevê, resulte um incentivo à poupança e os empresários resolvam pedir crédito aos bancos para o investimento produtivo e os bancos se disponham a concedê-lo, saindo do business as usual do crédito para consumo e compra de habitação.

Quem não parece ter fé é o Conselho das Finanças Públicas que prevê que este ano não haverá superavit e no próximo ano voltaremos aos défices orçamentais.

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Queixou-se o Dr. Álvaro Almeida, nomeado há 2 meses director executivo do SNS, que «são precisos 19 especialistas para assegurar uma urgência e os hospitais têm entre 8 a 11». Achei (o “achismo” é uma metodologia a que é difícil escapar) que 19 especialistas era um bocadinho exagerado.

Resumindo-se a minha ciência em matéria de gestão hospitalar a ser vítima rara dos hospitais, achei que faria sentido perguntar ao ChatGPT o que ele acharia. E o ChatGPT achou que 12 seriam suficientes, já incluindo especialidades esotéricas como psiquiatras e especialistas em doenças contagiosas. Em conclusão, ou bem o recém nomeado director executivo está um bocadinho fora do contexto ou está a coleccionar desculpas a priori, sendo que nenhuma das possibilidade será uma razão para confiar no SNS, como nos prometeu o Dr. Montenegro.

13/04/2025

The price of vassalage

Cartoon by Anne Telnaes, Pulitzer Prize-winning, refused to be published by Jeff Bezos' Washington Post / Bloomberg

Warren Buffett, who has the worst opinion of Mr. Trump, Bernard Arnault, who is in another league, Bill Gates and Steve Ballmer cannot be accused of vassalage.

12/04/2025

SERVIÇO PÚBLICO: Num oceano de delírios ideológicos ressabiados uma ilha de racionalidade. Se não leu, deverá ler

«Uns e outros projectam em Donald Trump os seus particulares e entranhados ódios e amores. Uns e outros sublinham aquilo com que concordam e desculpam ou ignoram tudo aquilo que não lhes é palatável. Funcionam basicamente como clubes de fãs, cultos idólatras, ou grupos de ódio. (...)

Pontapear a ideologia woke para fora das instituições, reforçar o apoio a Israel face ao tsunami do antissemitismo, disciplinar a balbúrdia das fronteiras abertas, recuperar o orgulho nacional, acabar com a roda livre de burocracias e intelectuais orgânicos instaladas na manjedoura do orçamento e nas instituições, impor o bom senso nas questões da energia e do clima, etc., são coisas saudáveis, fazem bem à América e ao mundo ocidental, se nos servirem de exemplo.

Dirigir a economia, esfaquear aliados, passear de braço dado com criaturas medonhas como Putin, intimidar os mais fracos e deslizar o estado de direito pelo fio da navalha são, pelo contrário, acções desastrosas para as mesmas entidades. Até porque atrás de tempos, tempos vêm, e quem trata mal aqueles por quem passa ao subir, vai dar-se mal quando voltar a passar por eles ao descer. (...)

A parte positiva disto tudo? Embora não acredite que tenha sido essa a intenção (basta atentar no modo condescendente e até de desprezo com que Donald Trump e a sua entourage se referem a nós, europeus), se o que se está a passar for assumido como um acordar violento a obrigar à acção, ainda poderemos vir a agradecer ao presidente americano este choque de realidade.

Tempos difíceis criam pessoas fortes e estas fazem tempos fáceis.»

A Administração Trump, entre o melhor e o pior, José António Rodrigues do Carmo no Observador