Segundo os spin doctors do engenheiro Pinóquio, Chico Buarque, o conhecido compositor, cantor, poeta e romancista acidental brasileiro, teria pedido ao presidente Lula para interceder junto do senhor engenheiro licenciado ao domingo para lhe conceder a honra de o convidar a ele Chico. Como dizem os brasileiros, só um retardado mental com o desconfiómetro avariado acreditaria em tal patranha. Quais as razões que Chico poderia ter para querer ser recebido por uma criatura de outra galáxia com um passsado de trapalhadas, para dizer o menos, pouco presente e nenhum futuro?
É claro que Chico Buarque desmentiu esta versão e classificou-a como absurda. Face ao desmentido e para limitar os danos, os spin doctors esclarecerem que tinha sido the other way round - o primeiro-ministro teve que interromper uma reunião com empresários e ir a correr para ser recebido por Chico e pedir-lhe autógrafos. Felizmente a media brasileira dá menos importância à visita do primeiro-ministro português do que ao desquite dum casal da socialite e por isso só se encontram ecos desta bronca na imprensa regional.
[Lido pela primeira vez no nortadas]
Post Scriptum:
Só li agora (cerca das 18:50H) o post do Mar Salgado de ontem com o título «MAIS DEPRESSA SE APANHA UM COXO...». A coincidência, mais do que do foro do plágio involuntário, é do foro de les bons esprits se rencontrent.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
31/05/2010
30/05/2010
ARTIGO DEFUNTO: Porque não havemos nós também de ganhar?
14 horas por dia? Hum...
O pastorinho da economia dos amanhãs que cantam Nicolau Santos, à falta de amanhãs para cantar, dedica-se à promoção da auto-estima dos portugueses, como se de entre os múltiplos défices de que sofrem os portugueses também sofressem desse. O nosso padecimento não é falta de auto-estima, sobretudo na sua versão auto-comiseração, é falta de gosto pelo risco, pela iniciativa, por assumir responsabilidades, é falta de diligência e de perseverança.
«O Real já tinha os melhores jogadores do mundo. Mas não tinha o melhor treinador do mundo – que é português, trabalha com portugueses, e vence, vence, vence. E se ele ganha, porque não havemos nós também de ganhar as batalhas que temos pela frente?», pergunta-se o pastorinho no Expresso a respeito de José Mourinho.
Sim, porque não havemos nós de ganhar? Para início de conversa: que tal começar por trabalhar 14 horas por dia?
O pastorinho da economia dos amanhãs que cantam Nicolau Santos, à falta de amanhãs para cantar, dedica-se à promoção da auto-estima dos portugueses, como se de entre os múltiplos défices de que sofrem os portugueses também sofressem desse. O nosso padecimento não é falta de auto-estima, sobretudo na sua versão auto-comiseração, é falta de gosto pelo risco, pela iniciativa, por assumir responsabilidades, é falta de diligência e de perseverança.
«O Real já tinha os melhores jogadores do mundo. Mas não tinha o melhor treinador do mundo – que é português, trabalha com portugueses, e vence, vence, vence. E se ele ganha, porque não havemos nós também de ganhar as batalhas que temos pela frente?», pergunta-se o pastorinho no Expresso a respeito de José Mourinho.
Sim, porque não havemos nós de ganhar? Para início de conversa: que tal começar por trabalhar 14 horas por dia?
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29/05/2010
Pro memoria (4) – na melhor hipótese são delírios inofensivos, na pior ...
Devido ao estado comatoso das finanças públicas portuguesas e espanholas e das dificuldades de financiamento privado, é pouco provável que a rejeição pelo PS, BE e PCP do adiamento por 3 anos da linha de alta velocidade Lisboa-Madrid e da revogação do decreto-lei da linha Poceirão-Caia tenha consequências práticas. Em todo o caso, aqui fica registado à cautela o respectivo débito na conta da esquerda paralamentar.
Fica também registada a fundamentação dum pastorinho da economia dos amanhãs que cantam, ilustrada com o melhor da doutrina keynesiana: «é preferível abrir e tapar buracos a deixar recursos por utilizar». Se esta doutrina fosse convictamente adoptada, a sua aplicação óptima consistiria em usar os alegados 100 mil empregos para abrir e tapar buracos algures no Alentejo, com a vantagem de evitar as importações e os défices de exploração que irão ser pagos por nós e os nossos descendentes até à 5.ª geração.
«Com isto, escreveu o pastorinho Daniel Amaral, chego ao TGV, versão Poceirão-Caia. Passo por cima do blá-blá-blá, que já não suporto, e cinjo-me apenas ao estudo feito pelo ISCTE, a pedido da RAVE: o investimento é de €1,4 mil milhões, a incorporação nacional é de 85% e a TIR de 5,9%; serão criados 100 mil empregos na fase de construção; e o financiamento está assegurado, tendo à cabeça 47% de fundos comunitários».
Fica também registada a fundamentação dum pastorinho da economia dos amanhãs que cantam, ilustrada com o melhor da doutrina keynesiana: «é preferível abrir e tapar buracos a deixar recursos por utilizar». Se esta doutrina fosse convictamente adoptada, a sua aplicação óptima consistiria em usar os alegados 100 mil empregos para abrir e tapar buracos algures no Alentejo, com a vantagem de evitar as importações e os défices de exploração que irão ser pagos por nós e os nossos descendentes até à 5.ª geração.
«Com isto, escreveu o pastorinho Daniel Amaral, chego ao TGV, versão Poceirão-Caia. Passo por cima do blá-blá-blá, que já não suporto, e cinjo-me apenas ao estudo feito pelo ISCTE, a pedido da RAVE: o investimento é de €1,4 mil milhões, a incorporação nacional é de 85% e a TIR de 5,9%; serão criados 100 mil empregos na fase de construção; e o financiamento está assegurado, tendo à cabeça 47% de fundos comunitários».
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First things first
Enquanto não apresenta um projecto de lei para nacionalizar todas as empresas com mais de 10 trabalhadores, o Berloque de Esquerda não perde tempo e continua a tratar da agenda fracturante. Desta vez são os «direitos de identidade dos transexuais», segundo a notícia do diário da manhã DN. Até agora, uma criatura com pénis que pretendesse ser arrolado como mulher teria que recorrer ao SNS para cortar o apêndice e abrir uma cavidade. Inversamente, uma criatura sem pénis que pretendesse passar por homem teria que fechar a cavidade e adicionar um apêndice. Tudo isto custa dinheiro e numa altura de crise o Berloque assume a vanguarda da poupança e vai propor, com o anunciado apoio do PS e dos comunistas verdes (ainda não se sabe o que farão os vermelhos), uma alteração legislativa que permite a mudança de sexo no BI sem cirurgia. Está bem pensado.
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Ridendo castigat mores
28/05/2010
A caminho dos amanhãs que choram os pastorinhos abandonam o barco
É cada vez mais difícil disfarçar. Os pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam, um após outro, abandonam discretamente o barco Sócrates que faz água pelos múltiplos rombos, e põem-se a jeito na praia para apanhar o próximo vapor. Inexplicavelmente (só à primeira vista), segundo o estudo de opinião da Eurosondagem, 38,1% dos portugueses continuam satisfeitos com o primeiro-ministro, o qual parece igualmente continuar muito satisfeito consigo próprio.
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ESTÓRIA E MORAL: Somos todos gregos
Estória
Segundo os resultados preliminares duma investigação em curso, 70 funcionários do ministério das Finanças grego podem ser acusados de corrupção. São proprietários de imóveis com valores entre os 800 mil e os 3 milhões de euros e uma média de 1,2 milhões apesar do seu rendimento médio declarado ao fisco ser de apenas 50 mil euros. A versão em inglês da press release do ministério grego pode ser apreciada aqui.
Moral
Quem cabritos vende e cabras não tem, de algures Ihe vem (ditado popular).
Segundo os resultados preliminares duma investigação em curso, 70 funcionários do ministério das Finanças grego podem ser acusados de corrupção. São proprietários de imóveis com valores entre os 800 mil e os 3 milhões de euros e uma média de 1,2 milhões apesar do seu rendimento médio declarado ao fisco ser de apenas 50 mil euros. A versão em inglês da press release do ministério grego pode ser apreciada aqui.
Moral
Quem cabritos vende e cabras não tem, de algures Ihe vem (ditado popular).
27/05/2010
A vida pública dos políticos é privada
Na sequência da providência cautelar de Rui Pedro Soares, o alegado testa-de-ferro de José Sócrates para a comprar duma posição na Media Capital, proprietária da TVI, o Tribunal Cível de Lisboa condenou o director do Sol e duas jornalistas a pagar no total cerca de 400 mil euros por terem publicado resumos de escutas do «Face Oculta». Estranhamente o despacho do tribunal reconhece que tais resumos «não respeitam à vida íntima e privada».
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AVALIAÇÃO CONTÍNUA: A realidade financeira virtual não tem becos nem paredes
Secção Com a verdade me enganas
Fernando Ulrich, presidente do BPI, é um homem com reputação de falar claro ou, como ele diz, falar de forma «rústica», ou como a ele se referiu João Salgueiro no mesmo dia, um homem que não varre o lixo para debaixo do tapete, como costumam fazer os seus colegas banqueiros. À sua maneira rústica Ulrich avisou que «o dia em que batermos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. E bater na parede significa, por exemplo, a intervenção do FMI».
Ricardo Salgado, o chefe dos Espíritos, seguramente não é rústico. Pelo contrário, o seu discurso é tão elaborado, ambíguo, redondo e cinzento que tanto pode significar uma coisa como o seu contrário. A não ser, como foi agora, quando no seu papel de banqueiro do regime se assume como bombeiro dos fogos ateados pelas palavras «incendiárias» (Sócrates dixit) de Ulrich. Neste caso, ele foi claro a garantir que «não estamos num beco sem saída, nem vamos contra a parede». Só não explicou como essa garantia resulta duma situação que segundo as suas próprias palavras se caracteriza pelo mercado interbancário fechado pelo que «se formos agora buscar financiamento de médio e longo prazo, com estes spreads, não conseguimos financiar a economia».
Quatro afonsos atrasados para Fernando Ulrich, pela tesura, e cinco urracas para Ricardo Salgado, pela falta dela; já que estou com a mão na massa leva também quatro chateaubriands por imaginar que modifica a realidade com o discurso (vê-se logo que está condenado a entender-se bem com José Sócrates).
Fernando Ulrich, presidente do BPI, é um homem com reputação de falar claro ou, como ele diz, falar de forma «rústica», ou como a ele se referiu João Salgueiro no mesmo dia, um homem que não varre o lixo para debaixo do tapete, como costumam fazer os seus colegas banqueiros. À sua maneira rústica Ulrich avisou que «o dia em que batermos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. E bater na parede significa, por exemplo, a intervenção do FMI».
Ricardo Salgado, o chefe dos Espíritos, seguramente não é rústico. Pelo contrário, o seu discurso é tão elaborado, ambíguo, redondo e cinzento que tanto pode significar uma coisa como o seu contrário. A não ser, como foi agora, quando no seu papel de banqueiro do regime se assume como bombeiro dos fogos ateados pelas palavras «incendiárias» (Sócrates dixit) de Ulrich. Neste caso, ele foi claro a garantir que «não estamos num beco sem saída, nem vamos contra a parede». Só não explicou como essa garantia resulta duma situação que segundo as suas próprias palavras se caracteriza pelo mercado interbancário fechado pelo que «se formos agora buscar financiamento de médio e longo prazo, com estes spreads, não conseguimos financiar a economia».
Quatro afonsos atrasados para Fernando Ulrich, pela tesura, e cinco urracas para Ricardo Salgado, pela falta dela; já que estou com a mão na massa leva também quatro chateaubriands por imaginar que modifica a realidade com o discurso (vê-se logo que está condenado a entender-se bem com José Sócrates).
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dissonância cognitiva,
Princípio de Kahn
26/05/2010
A caminho dos amanhãs que choram
Segundo a OCDE, com 10,2% Portugal tem o maior défice do comércio externo entre os 30 membros cujo défice no conjunto é de 0,8%, com um excedente médio de 0,3% na Zona Euro – cortesia da Alemanha. Com o investimento directo estrangeiro praticamente seco, esse défice estrutural aumenta todos os anos o endividamento externo em 10% do PIB. Como só uma parte residual das importações são bens de investimento, o défice do comércio externo tem um efeito negligenciável no aumento da capacidade produtiva.
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: «Casa de penhores»
«O Governo encontra-se reduzido a duas escassas personagens políticas - o primeiro-ministro no papel de relações públicas e o ministro das Finanças como chefe da contabilidade. Todo o restante elenco ministerial tem pasta mas não tem capacidade política.»
[«Casa de penhores», Carlos Marques de Almeida no DE]
[«Casa de penhores», Carlos Marques de Almeida no DE]
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E agora José?,
eu diria mesmo mais
SERVIÇO PÚBLICO: queimando a banha
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RESUMO DAS DESPESAS ORÇAMENTADAS DA AR [enviado por JARF]
1 - Vencimento de Deputados ................... 12 milhões e 349 mil Euros
2 - Ajudas de Custo de Deputados................ 2 milhões e 724 mil Euros
3 - Transportes de Deputados ................... 3 milhões 869 mil Euros
4 - Deslocações e Estadas ...................... 2 milhões e 363 mil Euros
5 - Assistência Técnica ........................ 2 milhões e 948 mil Euros
6 - Outros Trabalhos Especializados ............ 3 milhões e 593 mil Euros
7 - SERVIÇO RESTAURANTE,REFEITÓRIO,CAFETARIA.... 961 mil Euros
8 - Subvenções aos Grupos Parlamentares......... 970 mil Euros
9 - Equipamento de Informática ................. 2 milhões e 110 mil Euros
10 - Outros Investimentos ...................... 2 milhões e 420 mil Euros
11 - Edifícios ................................. 2 milhões e 686 mil Euros
12 - Transferências Diversas .................. 13 milhões e 506 mil Euros
13 - SUBVENÇÃO aos PARTIDOS representados na AR 16 milhões e 977 mil Euros
14 - SUBVENÇÕES PARA CAMPANHAS ELEITORAIS ......73 milhões e 798 mil Euros
Isto são, então, ALGUMAS das rubricas do orçamento da ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA! Em resumo e NO TOTAL a DESPESA ORÇAMENTADA relativamente ao ANO de 2010, é : 191.405.356,61 (191 Milhões 405 mil 356 Euros e 61 cêntimos) - Ver Folha 372 do Diário da República nº 28 - 1ª Série , de 10 de Fevereiro de 2010.
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quem não tem dinheiro não pode ter vícios
25/05/2010
ESTADO DE SÍTIO: A melhor maneira de estragar a vida dos alunos
Numa entrevista ao Expresso, o director do Gabinete de Avaliação Educacional, justificando a facilidade dos exames de matemática das provas de aferição (exemplo: «escreve dois números ímpares maiores do que 100», questão que foi mal respondida por 23% dos alunos do 4.º ano), disse que «exames não servem para estragar a vida dos alunos». Tem toda a razão. O que tem servido para estragar a vida aos alunos é a degradada qualidade e o baixíssimo grau de exigência do ensino, em particular da matemática, para os quais contribui o facilitismo dos exames.
Por isso ao comparamos os resultados dos nossos alunos com os países que participaram no último programa PISA da OCDE ficamos no 8.º decil no grupo de países «statistically significantly below the OCDE average» (ver neste post do (Im)pertinências a classificação completa).
Por isso ao comparamos os resultados dos nossos alunos com os países que participaram no último programa PISA da OCDE ficamos no 8.º decil no grupo de países «statistically significantly below the OCDE average» (ver neste post do (Im)pertinências a classificação completa).
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Desfazendo ideias feitas,
inducação
Pegando o animal pelas hastes
George Osborne, ministro da Finanças do Reino Unido, e David Laws (*), secretário do Tesouro, informaram na conferência de imprensa da manhã de 2.ª feira que o governo irá cortar imediatamente mais de 6 mil milhões libras na despesa. O Sunday Times, citado pelo DE, revela que 300 mil funcionários públicos poderão ficar sem emprego e os que o mantiverem perderão várias mordomias.
(*) Este mesmo, que recebeu uma mensagem do seu antecessor trabalhista a informar não ter sobrado nem um cêntimo.
(*) Este mesmo, que recebeu uma mensagem do seu antecessor trabalhista a informar não ter sobrado nem um cêntimo.
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antes isso que outra coisa,
reformas
24/05/2010
Pro memoria (3) – pensando o impensável
Em 9 de Março Vítor Constâncio garantia que «as medidas que vieram a público ao longo do dia de hoje são adequadas ao objectivo» (reduzir o défice para menos de 3% do PIB em 2013).
Em 23 de Maio, enquanto acaba de fazer as malas para Frankfurt, o ministro anexo admite com o maior desfaçatez poder haver uma redução de salários no sector público e, pasme-se, no sector privado.
Em 23 de Maio, enquanto acaba de fazer as malas para Frankfurt, o ministro anexo admite com o maior desfaçatez poder haver uma redução de salários no sector público e, pasme-se, no sector privado.
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a memória dos povos é curta,
ministro anexo
BLOGARIDADES: Duas coisas que não me surpreenderam
Há imensas coisas de que percebo muito pouco. Uma delas é o futebol. Há algumas coisas de que percebo muito. Uma delas é o funcionamento da mente duma criatura radical chic (quando tiver tempo, explico porquê). É por isso que estou à vontade para concluir, sem qualquer hesitação: a vitória concludente, até aos olhos dum leigo, de José Mourinho na Liga dos Campeões foi largamente superada pela vitória esmagadora do argumentário do blogueiro maradona de A causa foi modificada sobre a retórica requentada do blogueiro Daniel Oliveira do Arrastão. Mais do que a primeira vitória, explicada pelo talento de Mourinho e a ancilose táctica de Van Gaal (este disse «atacar é mais difícil do que defender», em vez de ter dito exactamente o oposto, depois duma derrota por 2 secos que não conseguiu defender), a segunda não foi surpresa nenhuma devida à notória ancilose táctico-estratégica do conhecido blogueiro radical chic.
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delírios pontuais,
eu diria mesmo mais,
Ridendo castigat mores
23/05/2010
ESTADO DE SÍTIO: O protectorado
O termo protectorado usado, depois do regresso do animal feroz de Bruxelas com o rabito entre as pernas, para classificar o estado para que caminha o estado português entrou na moda. Primeiro Campos e Cunha, o distraído ministro das Finanças de José Sócrates, invocou como protector a Alemanha. Depois Jerónimo de Sousa, o papa em exercício do marxismo-leninismo português, invocou Bruxelas como protector - vem a dar no mesmo, visto o protector de Bruxelas ser a Alemanha. A diferença é Campos e Cunha considerar que, não sabendo os nativos governarem-se, «boa dose de colonialismo não deixa de ser saudável», enquanto Sousa pressupõe que, apesar de Moscovo já não ser o que era, os comunistas estariam à altura do desafio e levariam o país não para «esta União Europeia, esta união monetária (que) não serve Portugal nem os portugueses» mas possivelmente a uma outra que poderia ir desde a serra da Estrela até aos montes Urais (Urálskiye góry) - a tese do general de Gaulle com 50 anos de atraso. O primeiro vê o protectorado como uma medicina para os males dos indígenas e o segundo vê o protectorado como o mal dos indígenas. Nenhum terá razão, mas o segundo está bastante mais longe da verdade.
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Óropa,
um país talvez normal mas rançoso
LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: Jovens de todas as classes, preparai-vos
Esquecei a classe A frequentando a nouvelle cuisine e torrando os excessos de calorias em spas, massajando as flacidezes e oleando as juntas com o personal trainer; são meia dúzia de gatos e quando chegar a reforma da segurança social só vai dar para os alfinetes. Esquecei a classe B suando nos ginásios sem personal trainer, subscrevendo com esforço os seus PPR; sendo mais, não são multidões e também não vai ser por aí que o gato vai às filhoses. Esquecei a classe E, no fundo da escala social - vai ter uma esperança de vida muito menor e receberão pensões irrelevantes.
São as classes C, D e E que vos devem preocupar se olharem para as legiões cada vez mais numerosas de reformados, pré-reformados e aspirantes a reformados que se abatem (por exemplo) sobre os passeios marítimos da linha de Cascais, arrastando-se, caminhando ou correndo, agitando as banhas e beberricando da garrafinha de água.
No spa, no ginásio ou no passeio marítimo, vão todos eles chegar aos 80 ou 90 anos a receber durante 20, 30 ou mais anos, as suas gordas, entremeadas ou magras reformas pagas por filhos e netos que nem magras reformas podem ter a certeza de conseguir aos 75 ou 80 anos.
São as classes C, D e E que vos devem preocupar se olharem para as legiões cada vez mais numerosas de reformados, pré-reformados e aspirantes a reformados que se abatem (por exemplo) sobre os passeios marítimos da linha de Cascais, arrastando-se, caminhando ou correndo, agitando as banhas e beberricando da garrafinha de água.
No spa, no ginásio ou no passeio marítimo, vão todos eles chegar aos 80 ou 90 anos a receber durante 20, 30 ou mais anos, as suas gordas, entremeadas ou magras reformas pagas por filhos e netos que nem magras reformas podem ter a certeza de conseguir aos 75 ou 80 anos.
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Desfazendo ideias feitas,
direitos adquiridos,
reformas
22/05/2010
Depois do inglês técnico, o castelhano de negócios
Segundo o Expresso, José Sócrates, no encontro com empresários espanhóis em Madrid, insistiu em falar em castelhano, apesar de haver tradução simultânea. Em cerca de uma hora deu uma centena de calinadas, à média de 1,666 calinadas por minuto ou uma em cada 36 segundos. Nada mau.
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incorrigível,
pela boca morre o peixe
O CAMINHO PARA A SERVIDÃO: o ventre do monstro continua a inchar
Alguns factos extraídos do Boletim Informativo de Abril da secretaria de estado do Orçamento relativos aos 4 primeiros meses do ano comparativamente com o período homólogo de 2009 (valor em mil milhões de euros):
- A carga fiscal aumentou de 8,49 para 8,68;
- A despesa corrente diminui 0,18 de 13,61 para 13,43 devido à redução da contribuição financeira UE que baixou 0,15 de 0,80 para 0,65 e aos juros que baixaram 0,17 de 1,11 para 0,94;
- As despesas com pessoal aumentaram de 3,19 para 3,20 (vá-se lá perceber como isto acontece ao mesmo tempo que o governa jura que diminui o número dos utentes da vaca marsupial pública);
- Sem a redução daquelas duas rubricas, para as quais o governo em nada contribuiu, as despesas correntes teriam aumentado 0,14 ou 1,03%;
- Os subsídios aumentaram de 0,10 para 0,11 (vá-se lá perceber como governo pretende justificar o défice com despesas que representam 0,9% da despesa corrente).
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vida para além do orçamento
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Uma questão de timing
«Que moral temos para chegar a África e dizer que é preciso fazer uma ponte?», lamentou-se o doutor Jorge Coelho, ex-estradista e actual CEO da Mota-Engil, a propósito das suspensão pelo governo do projecto da terceira travessia do Tejo. Quereria o emérito empreendedor fazer do país um salão de exposições para a Mota-Engil vender projectos às cleptocracias africanas? Não seria má ideia e teria nos governos de José Sócrates os parceiros ideais para lhe encomendarem obras para a exposição. Não fora os portugueses, pelo menos desde 2002, viverem acima das posses e os governos de José Sócrates terem torrado o que havia e o que não havia, seria uma excelente ideia.
Atribuo ao doutor Coelho 4 bourbons por continuar igual a si próprio e 5 chateaubriands por ter falhado o timing.
Atribuo ao doutor Coelho 4 bourbons por continuar igual a si próprio e 5 chateaubriands por ter falhado o timing.
Mitos (12) - temos que fazer sacrifícios durante algum tempo, mas depois business as usual
Segundo um estudo da business school suíça IMD, citado pelo JN, é mais business as unusual. A IMD prevê que Portugal só em 2037 regressará à dívida pública ao nível de 60% do PIB, sendo o terceiro país entre as economias desenvolvidas (*) que precisará de mais tempo para o atingir.
(*) Lamentavelmente, o IMD ainda não usa o conceito impertinente de economia em vias de subdesenvolvimento.
(*) Lamentavelmente, o IMD ainda não usa o conceito impertinente de economia em vias de subdesenvolvimento.
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ecoanomia,
quem não tem dinheiro não pode ter vícios
21/05/2010
Vou esperar sentado até a alavanca partir
A dívida da EDP aumentou nos últimos 12 meses de 12,1 para 14,6 mil milhões, o dobro dos capitais próprios. Bendita incumbência.
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quem não tem dinheiro não pode ter vícios
Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (46) change is in the air
Na Pensilvânia, no Kentucky e no Arkansas as eleições para o Senado mostraram uma fortíssima tendência do eleitorado para rejeitar o statu quo. A aprovação de Barack Obama continua nas fossas abissais. Change is in the air.
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é muito para um homem só
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Save your money or lose your souls
«Um dos temas fulcrais para a economia portuguesa é o da poupança. Não só porque poupamos pouco do ponto de vista absoluto mas também porque o peso do financiamento externo é demasiado o que origina a curto prazo uma situação de bloqueio com consequências gravíssimas.
Se compararmos com Espanha: 18,7% no último trimestre de 2009, 24,7% em Dezembro...
... estamos bem pior.
Para uma comparação mais longa em Portugal, eis os dados desde 1970:
Fontes: Pordata (excelente site), INE e BdP; INE (espanhol)»
[Enviado por AB]
Aditamento impertinente:
Uma das causas da queda da poupança com todas as suas consequências é a passagem depois do 25 de Abril do regime de capitalização para o regime de pay-as-you-go da segurança social, em que todas as contribuições que antes eram capitalizadas, e portanto investidas, passaram a pagar as pensões do ano e o que sobrava caía no buraco negro do OE, até finais dos anos 80, salvo erro. Sem poupança não há investimento ou há investimento com a poupança dos outros a que se costuma chamar endividamento.
Poupança em Portugal desde 2005
Se compararmos com Espanha: 18,7% no último trimestre de 2009, 24,7% em Dezembro...
... estamos bem pior.
Para uma comparação mais longa em Portugal, eis os dados desde 1970:
Fontes: Pordata (excelente site), INE e BdP; INE (espanhol)»
[Enviado por AB]
Aditamento impertinente:
Uma das causas da queda da poupança com todas as suas consequências é a passagem depois do 25 de Abril do regime de capitalização para o regime de pay-as-you-go da segurança social, em que todas as contribuições que antes eram capitalizadas, e portanto investidas, passaram a pagar as pensões do ano e o que sobrava caía no buraco negro do OE, até finais dos anos 80, salvo erro. Sem poupança não há investimento ou há investimento com a poupança dos outros a que se costuma chamar endividamento.
20/05/2010
SERVIÇO PÚBLICO: A obra feita dos governos Sócrates
- Aborto como contraceptivo
- Casamento gay
- Divórcio simplex
E ainda os seguintes recordes absolutos:
- Desemprego 10,6%
- Défice 9,3%
- Despesa corrente aumentou de 59,4 em 2004 para 75,6 mil milhões em 2010 (previsão)
- 70% da despesa pública são serviços do Estado prestados ao Estado
- Dívida pública 77% (2009)
- Dívida pública total 140 mil milhões (87% do PIB)
- Dívida externa bruta 220% do PIB
- Investimento internacional líquido -92%
- Carga fiscal 39% do PIB (prevista para 2011)
Cuidado com a segunda parte
«Como português, tenho pena, mas passámos a ser uma espécie de protectorado da Alemanha, do ponto de vista financeiro. Mas quando os nativos não se sabem governar, uma boa dose de colonialismo não deixa de ser saudável».
[Luís Campos e Cunha, ministro das Finanças de José Sócrates enquanto esteve distraído]
Diz a lenda que o general romano que tomava conta do então «protectorado» romano terá escrito para Roma que os indígenas não se governam, nem se deixam governar. Cuidado com a segunda parte.
[Luís Campos e Cunha, ministro das Finanças de José Sócrates enquanto esteve distraído]
Diz a lenda que o general romano que tomava conta do então «protectorado» romano terá escrito para Roma que os indígenas não se governam, nem se deixam governar. Cuidado com a segunda parte.
Delírios
Notícias do reino dos lunáticos:
«O ministro das Obras Públicas garantiu hoje na Assembleia da República, que em 2013 "todo o projecto" do TGV entre Lisboa e Madrid estará "em pé".»
«Crise não impede compra dos dois submarinos»
Entretanto, numa outra galáxia:
«O juro médio da emissão de dívida de curto prazo realizada hoje, com maturidade a nove meses, fixou-se em 2,443%. Este valor compara com a taxa média ponderada de 1,079% registada no último leilão realizado no dia 21 de Abril deste ano.»
«O ministro das Obras Públicas garantiu hoje na Assembleia da República, que em 2013 "todo o projecto" do TGV entre Lisboa e Madrid estará "em pé".»
«Crise não impede compra dos dois submarinos»
Entretanto, numa outra galáxia:
«O juro médio da emissão de dívida de curto prazo realizada hoje, com maturidade a nove meses, fixou-se em 2,443%. Este valor compara com a taxa média ponderada de 1,079% registada no último leilão realizado no dia 21 de Abril deste ano.»
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19/05/2010
DIÁRIO DE BORDO: conselho grátis
Não está ao alcance de todos fintar os conflitos de interesse. Em todo o caso, um conselho grátis a Miguel Frasquilho: ou bem que renuncia à política activa, ou bem que abandona o lugar de economista-chefe dos banqueiros do regime. Se quiser continuar na política a falar de economia e finanças será melhor não falar do mesmo na profissão e, em caso algum, exercer funções num grupo com uma relação simbiótica com o partido Socialista, o PSD e o CDS os poderes legitimos e fácticos.
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NÓS VISTOS POR ELES: Se ele o diz...
«Perhaps the most startling and frustrating thing about the debate over the fate of the euro is the way almost everyone avoids confronting the core issue — the elephant in the euro. With a unified currency, adjustment to differential shocks requires adjustments in relative wages — and because the nations of the European periphery have gone from boom to bust, their adjustment must be downward. At this point, wages in Greece/Spain/Portugal/Latvia/Estonia etc. need to fall something like 20-30 percent relative to wages in Germany. Let me repeat that:
WAGES IN THE PERIPHERY NEED TO FALL 20-30 PERCENT RELATIVE TO GERMANY.»
[Et Tu, Wolfgang?, no blogue de Paul Krugman The conscience of a liberal]
WAGES IN THE PERIPHERY NEED TO FALL 20-30 PERCENT RELATIVE TO GERMANY.»
[Et Tu, Wolfgang?, no blogue de Paul Krugman The conscience of a liberal]
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18/05/2010
Mitos (11) - quanto maior é o risco mais fácil é obter crédito
Na versão do primeiro-ministro grego George Papandreou, é isso que ele próprio, Angela Merkel, Nicolas Sarkozy e Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, parecem pensar ao escreverem a Barack Obama «pedindo o fim dos controversos CDS ('credit default swaps')». Conclui-se que imaginam que os investidores e os «especuladores», supondo que no espírito dos signatários existe alguma distinção entre estas duas classes, estarão tanto mais disponíveis para comprar dívida pública quanto menos puderem transferir o risco de crédito. Conclui-se também que os mesmos pensam que o Barack Obama é o deus ex-machina dos CDS.
O mesmo estado de espírito de George Papandreou pode tê-lo levado admitir a possibilidade de accionar bancos americanos por terem alegadamente assessorado os governos gregos na falsificação das contas públicas, em alternativa a accionar os dirigentes do seu partido PASOK e da Nova Democracia de Konstantinos Karamanlis por terem efectivamente falsificado as contas dos últimos 10 anos, pelo menos.
O mesmo estado de espírito de George Papandreou pode tê-lo levado admitir a possibilidade de accionar bancos americanos por terem alegadamente assessorado os governos gregos na falsificação das contas públicas, em alternativa a accionar os dirigentes do seu partido PASOK e da Nova Democracia de Konstantinos Karamanlis por terem efectivamente falsificado as contas dos últimos 10 anos, pelo menos.
17/05/2010
SERVIÇO PÚBLICO: o défice de memória (5)
[Para se compreender em toda a sua extensão a gravidade da falsificação descrita a seguir, recomenda-se a leitura deste post que actualizou este, este e este.]
«Ao longo de 2009, os dirigentes da Direcção-Geral dos Impostos seguiram a cobrança fiscal. Ao arrepio do discurso oficial traçado desde Maio desse ano, que insistia estar a cobrança fiscal "em linha com o previsto", a DGCI foi mensalmente assinalando uma degradação assinalável e chegou a estimar, a poucos dias das eleições legislativas de Setembro, uma quebra de 12,2 por cento face a 2008, quando o Governo ainda afirmava esperar uma queda de 9,1 por cento. Só em Novembro, o Governo admitiu o falhanço da previsão. O défice orçamental de 2009 acabaria por saltar para 9,3 por cento. O Ministério das Finanças não quis comentar.
As previsões da DGCI foram apresentadas nas reuniões do Conselho de Administração Fiscal (CAF) - um organismo de apoio ao director-geral dos Impostos que integra os subdirectores-gerais e os directores distritais de Lisboa e Porto.
Tal como se pode ler nas suas actas - cujo acesso só foi possível com a intervenção da Comissão de Acesso dos Documentos Administrativos (CADA) -, o CAF reúne-se mensalmente e, desde o final de 2008, os dirigentes da DGCI traçaram um quadro de incumprimento sucessivo das metas.»
[Público]
Alguém poderá explicar ao professor Cavaco Silva que não é possível confiar num homem que é o ministro das Finanças que engendrou, ou pelo menos participou activamente, nesta falsificação? Daqui podemos definitivamente concluir que Teixeira dos Santos nunca teria a honestidade e a coragem de Liam Byrne, secretário geral cessante do Tesouro do Reino Unido que deixou ao seu sucessor David Laws a seguinte mensagem:
«Dear Chief Secretary,
I’m afraid to tell you there’s no money left.»
«Ao longo de 2009, os dirigentes da Direcção-Geral dos Impostos seguiram a cobrança fiscal. Ao arrepio do discurso oficial traçado desde Maio desse ano, que insistia estar a cobrança fiscal "em linha com o previsto", a DGCI foi mensalmente assinalando uma degradação assinalável e chegou a estimar, a poucos dias das eleições legislativas de Setembro, uma quebra de 12,2 por cento face a 2008, quando o Governo ainda afirmava esperar uma queda de 9,1 por cento. Só em Novembro, o Governo admitiu o falhanço da previsão. O défice orçamental de 2009 acabaria por saltar para 9,3 por cento. O Ministério das Finanças não quis comentar.
As previsões da DGCI foram apresentadas nas reuniões do Conselho de Administração Fiscal (CAF) - um organismo de apoio ao director-geral dos Impostos que integra os subdirectores-gerais e os directores distritais de Lisboa e Porto.
Tal como se pode ler nas suas actas - cujo acesso só foi possível com a intervenção da Comissão de Acesso dos Documentos Administrativos (CADA) -, o CAF reúne-se mensalmente e, desde o final de 2008, os dirigentes da DGCI traçaram um quadro de incumprimento sucessivo das metas.»
[Público]
Alguém poderá explicar ao professor Cavaco Silva que não é possível confiar num homem que é o ministro das Finanças que engendrou, ou pelo menos participou activamente, nesta falsificação? Daqui podemos definitivamente concluir que Teixeira dos Santos nunca teria a honestidade e a coragem de Liam Byrne, secretário geral cessante do Tesouro do Reino Unido que deixou ao seu sucessor David Laws a seguinte mensagem:
«Dear Chief Secretary,
I’m afraid to tell you there’s no money left.»
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CAMINHO PARA A SERVIDÃO: De crise em crise o monstro engorda
Para o reforço da consolidação orçamental que o animal feroz foi obrigado a fazer, depois de ter regressado de Bruxelas com o rabinho entre as pernas, as medidas adicionais anunciadas pelo governo abrangem aumentos efectivos da receita através do agravamento do IRS (1,5% acima de 5 salários mínimos), do IVA (mais um por cento em todos as taxas), do IRC (aumento de 25% para 27,5% dos lucros acima de 2 milhões), aumento da tributação dos rendimentos de capital (taxas liberatórias agravadas em 1,5% e tributação das mais-valias realizadas em bolsa) e mais umas miudezas no imposto de selo.
E as medidas para redução da despesa? Redução de 300 milhões nas indemnizações compensatórias às empresas públicas, redução que irá aumentar o seu endividamento e o défice de capitais próprios que o governo terá que suprir nos próximos anos. Redução de 100 milhões nas transferências para as Administrações Regionais e Locais que estas irão compensar aumentando o seu endividamento que o governo terá que suprir nos próximos anos. Trata-se essencialmente de diferimento da despesa - empurrar o problema com a barriga para a frente.
Em resumo, para combater esta crise, como as anteriores, geram-se no bojo do monstro as condições para preparar a crise seguinte, mantendo a despesa e elevando uma vez mais a carga fiscal.
16/05/2010
Lost in translation (47) - Especuladores? Deixem-se de desculpas e façam o trabalho, diz Trichet
«SPIEGEL: Hedge funds and other speculative investors currently manage assets with a total value of $2.6 trillion. But even an unimaginable sum like that should not really be enough to bet against the euro area. So, do you think that we're vulnerable?
Trichet: Not if we do our job, properly.
SPIEGEL: The speculators just exacerbate existing problems?
Trichet: One has to put one's own house in order first. These big and highly leveraged institutions are a major issue to be addressed at the global level.
SPIEGEL: Was the attack on the euro not more dramatic for Europe than the Lehman affair?
Trichet: It is not an attack on the euro. It is an issue for the states' signatures and, as a consequence, of the financial stability of the euro area. It is clear that it is the primary responsibility of the Europeans to take the appropriate measures in order to counter the present severe tensions which have erupted in Europe .»
[Ler aqui o resto da entrevista de Jean-Claude Trichet, presidente do BCE, à Spiegel]
Estas opiniões de Trichet tiram o tapete aos governos, como o de José Sócrates, que têm andado com as costas supostamente quentes invocando a autoridade do BCE.
Trichet: Not if we do our job, properly.
SPIEGEL: The speculators just exacerbate existing problems?
Trichet: One has to put one's own house in order first. These big and highly leveraged institutions are a major issue to be addressed at the global level.
SPIEGEL: Was the attack on the euro not more dramatic for Europe than the Lehman affair?
Trichet: It is not an attack on the euro. It is an issue for the states' signatures and, as a consequence, of the financial stability of the euro area. It is clear that it is the primary responsibility of the Europeans to take the appropriate measures in order to counter the present severe tensions which have erupted in Europe .»
[Ler aqui o resto da entrevista de Jean-Claude Trichet, presidente do BCE, à Spiegel]
Estas opiniões de Trichet tiram o tapete aos governos, como o de José Sócrates, que têm andado com as costas supostamente quentes invocando a autoridade do BCE.
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DIÁRIO DE BORDO: Um homem que faz falta
Excerto de A última conversa de Saldanha Sanches com o Diário Económico
...
É a democratização.
São os males bons. É o mal da abundância, como é evidente, com as estradas cheias de carros. E essa classe média começa a crescer de uma forma espantosa. O bom capitalismo - e acho que essa questão é interessante - que é o que funciona, o capitalismo nórdico, mesmo o inglês no essencial, o francês, conseguiu ter taxas de crescimento de três, quatro por cento por ano e aumentar sempre a distribuição.
É esse o sistema que defende para a economia portuguesa?
O sistema tem de funcionar. Aliás, até responderia com uma coisa que dizíamos muito no tempo do marxismo, que é: "A prova do pudim é que se come".
Continua a pensar da mesma maneira?
Estas máximas ou marcas ficam. Não tenho nenhuma razão para as deitar fora ou para as negar. De facto essa ideia está certa. Aliás, o Marx foi um pensador fabuloso, mas a sua concretização foi a desgraça que se sabe. O socialismo como projecto é uma utopia e como aplicação é o fascismo e o estalinismo.
Não achava isso nos tempos em que militava no MRPP, quando foi preso justamente por defender esses ideais?
Achava que era um preço a pagar, não se sabe bem porquê. Esse era um preço que devia ser pago. Era o que pensava. Isso passava pela prisão, pela tortura. A gente pagaria aquele preço porque era necessário para mudar o mundo. Era um erro enorme.
Como é que hoje olha esses anos em que acreditava que isso era o correcto?
Primeiro é necessário ficar claro: era um erro enorme. Não se pode negar que se praticavam crimes em nome disso e nós com essa política conduzíamos a esses crimes. Primeira questão. Em segundo lugar, acho que estava a agir de boa fé, que estava a ser generoso e mal orientado. Não pensava em mim. Não era o meu bem-estar nem o meu interesse que contavam.
…
Mas estava a falar do bom capitalismo, do capitalismo dos países escandinavos. Acha que é possível transpô-lo para cá?
Nós cá temos um mau capitalismo. Hoje temos a crise que não tem nada a ver com isso, e que atingiu todos, ninguém escapou. Mas o nosso mau capitalismo tem um crescimento do produto muito baixo, meio por cento, e esse mau capitalismo... Hoje vimos aqui (numa conferência no CCB) Francisco Louçã enunciar alguns aspectos do pior do nosso capitalismo; mas para o Francisco Louça não há mau capitalismo. O capitalismo para ele é mau. Ponto. Acabou. A conclusão dele é que o capitalismo é mau em si. O PS e o CDS e o PSD, como são a expressão política desse mau capitalismo, não o podem denunciar. Isto é trágico. Os partidos com um programa que podia ser realista estão comprometidos com as piores formas de capitalismo. Aliás, para citar um homem do PSD, o Pacheco Pereira, são escolas do crime. Criam o crime. Não vale a pena tentar dizer mais. Quer dizer, nós não podemos ir a lado nenhum enquanto uma auto-estrada custar não 500, mas mil. Não podemos. Não há meios suficientes para fazer isso. Agora quem denuncia esse tipo de práticas são apenas aqueles que são contra o capitalismo.
Ou seja, acha que não temos nenhuma força partidária que possa pôr em prática esse bom capitalismo de que fala?
E que se revolte contra o mau capitalismo. Não temos. O PC denuncia o mau capitalismo de forma atabalhoada, o Francisco Louçã denuncia-o brilhantemente, mas ambos acham que o capitalismo nunca pode ser bom. Portanto, há que ser abatido porque não há bom capitalismo. Isso é uma tragédia. Partidos políticos que governem e podem governar não têm qualquer tentativa séria para acabar com a corrupção, para acabar com as disfunções que tornam o capitalismo em Portugal algo que não pode funcionar.
…
Estou a falar com alguém que é um defensor da iniciativa privada.
Obviamente, com regras. Numa economia de mercado cumprem-se regras.
Por exemplo, que regras faltam?
Por exemplo, meter na cadeia os corruptos. Não é aceitável que alguém que saia do governo e que domina o Partido Socialista depois vá para uma empresa privada cujo principal objecto é fazer negócios com o Governo e com o Estado, mesmo que seja tudo feito com a maior clareza, há aqui uma suspeita e como é que se pode ultrapassar essa suspeita. O Dr. Jorge Coelho dominava o Parido Socialista. É capaz de ter excelentes qualidades como gestor. Aceito isso. Ele podia ter ido para uma empresa que se dedicasse à exportação, ou às obras públicas na Polónia, ou na República Checa, ou em Angola. Não tínhamos nada com isso. Mas ele está numa empresa que tem negócios importantíssimos com o Estado português. Ora quem é que está no poder? São os seus camaradas do PS. Dirimir esta suspeita é um trabalho de Hércules. Como é que é possível? E vamos supor que tudo corre de acordo com as regras, mas como é que nos libertamos da suspeita e como é que convencemos as pessoas comuns que tudo funcionou de acordo com as regras? Não quero discutir se são ou não cumpridas. Sei que é impossível convencer disso a pessoa comum.
...
Pro memoria
Saldanha Sanches cedo se distanciou da paranóia lunática do marxismo-leninismo-maoísmo e passou a ser para o MRPP, o seu partido de que foi fundador, o «renegado Saldanha Sanches».
...
É a democratização.
São os males bons. É o mal da abundância, como é evidente, com as estradas cheias de carros. E essa classe média começa a crescer de uma forma espantosa. O bom capitalismo - e acho que essa questão é interessante - que é o que funciona, o capitalismo nórdico, mesmo o inglês no essencial, o francês, conseguiu ter taxas de crescimento de três, quatro por cento por ano e aumentar sempre a distribuição.
É esse o sistema que defende para a economia portuguesa?
O sistema tem de funcionar. Aliás, até responderia com uma coisa que dizíamos muito no tempo do marxismo, que é: "A prova do pudim é que se come".
Continua a pensar da mesma maneira?
Estas máximas ou marcas ficam. Não tenho nenhuma razão para as deitar fora ou para as negar. De facto essa ideia está certa. Aliás, o Marx foi um pensador fabuloso, mas a sua concretização foi a desgraça que se sabe. O socialismo como projecto é uma utopia e como aplicação é o fascismo e o estalinismo.
Não achava isso nos tempos em que militava no MRPP, quando foi preso justamente por defender esses ideais?
Achava que era um preço a pagar, não se sabe bem porquê. Esse era um preço que devia ser pago. Era o que pensava. Isso passava pela prisão, pela tortura. A gente pagaria aquele preço porque era necessário para mudar o mundo. Era um erro enorme.
Como é que hoje olha esses anos em que acreditava que isso era o correcto?
Primeiro é necessário ficar claro: era um erro enorme. Não se pode negar que se praticavam crimes em nome disso e nós com essa política conduzíamos a esses crimes. Primeira questão. Em segundo lugar, acho que estava a agir de boa fé, que estava a ser generoso e mal orientado. Não pensava em mim. Não era o meu bem-estar nem o meu interesse que contavam.
…
Mas estava a falar do bom capitalismo, do capitalismo dos países escandinavos. Acha que é possível transpô-lo para cá?
Nós cá temos um mau capitalismo. Hoje temos a crise que não tem nada a ver com isso, e que atingiu todos, ninguém escapou. Mas o nosso mau capitalismo tem um crescimento do produto muito baixo, meio por cento, e esse mau capitalismo... Hoje vimos aqui (numa conferência no CCB) Francisco Louçã enunciar alguns aspectos do pior do nosso capitalismo; mas para o Francisco Louça não há mau capitalismo. O capitalismo para ele é mau. Ponto. Acabou. A conclusão dele é que o capitalismo é mau em si. O PS e o CDS e o PSD, como são a expressão política desse mau capitalismo, não o podem denunciar. Isto é trágico. Os partidos com um programa que podia ser realista estão comprometidos com as piores formas de capitalismo. Aliás, para citar um homem do PSD, o Pacheco Pereira, são escolas do crime. Criam o crime. Não vale a pena tentar dizer mais. Quer dizer, nós não podemos ir a lado nenhum enquanto uma auto-estrada custar não 500, mas mil. Não podemos. Não há meios suficientes para fazer isso. Agora quem denuncia esse tipo de práticas são apenas aqueles que são contra o capitalismo.
Ou seja, acha que não temos nenhuma força partidária que possa pôr em prática esse bom capitalismo de que fala?
E que se revolte contra o mau capitalismo. Não temos. O PC denuncia o mau capitalismo de forma atabalhoada, o Francisco Louçã denuncia-o brilhantemente, mas ambos acham que o capitalismo nunca pode ser bom. Portanto, há que ser abatido porque não há bom capitalismo. Isso é uma tragédia. Partidos políticos que governem e podem governar não têm qualquer tentativa séria para acabar com a corrupção, para acabar com as disfunções que tornam o capitalismo em Portugal algo que não pode funcionar.
…
Estou a falar com alguém que é um defensor da iniciativa privada.
Obviamente, com regras. Numa economia de mercado cumprem-se regras.
Por exemplo, que regras faltam?
Por exemplo, meter na cadeia os corruptos. Não é aceitável que alguém que saia do governo e que domina o Partido Socialista depois vá para uma empresa privada cujo principal objecto é fazer negócios com o Governo e com o Estado, mesmo que seja tudo feito com a maior clareza, há aqui uma suspeita e como é que se pode ultrapassar essa suspeita. O Dr. Jorge Coelho dominava o Parido Socialista. É capaz de ter excelentes qualidades como gestor. Aceito isso. Ele podia ter ido para uma empresa que se dedicasse à exportação, ou às obras públicas na Polónia, ou na República Checa, ou em Angola. Não tínhamos nada com isso. Mas ele está numa empresa que tem negócios importantíssimos com o Estado português. Ora quem é que está no poder? São os seus camaradas do PS. Dirimir esta suspeita é um trabalho de Hércules. Como é que é possível? E vamos supor que tudo corre de acordo com as regras, mas como é que nos libertamos da suspeita e como é que convencemos as pessoas comuns que tudo funcionou de acordo com as regras? Não quero discutir se são ou não cumpridas. Sei que é impossível convencer disso a pessoa comum.
...
Pro memoria
Saldanha Sanches cedo se distanciou da paranóia lunática do marxismo-leninismo-maoísmo e passou a ser para o MRPP, o seu partido de que foi fundador, o «renegado Saldanha Sanches».
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eu diria mesmo mais,
R.I.P.
15/05/2010
Quem disse que a banca portuguesa era um cofre forte?
Como já aqui se referiu, a participação do estado português no bailout à Grécia soma-se aos 7,4 mil milhões de exposição da banca portuguesa à dívida grega, parte dos quase 50 mil milhões de exposição da banca à dívida dos PIGS. Segundo um relatório da Moodys Capital Markets Research Group citado pelo JN, a exposição à dívida grega dos bancos com sede em Portugal corresponde a cerca de 23% do seu capital. Portugal é o país com a banca mais exposta, a longa distância do segundo (Irlanda) e terceiro (França) que não atingem 13%. Adivinhem que lhes acontece se a Grécia entrar em incumprimento.
BREIQUINGUE NIUZ: ministro anexo chama ao governo incompetente e/ou mentiroso (e a ele próprio)
Complemento ao post anterior:
O ministro anexo não só deixou implícito que o primeiro-ministro e o ministro das Finanças são incompetentes e/ou mentirosos, como colocou o mesmo labéu a si próprio. Como oportunamente recordou o Blasfémias, ainda em 26 de Março Vítor Constâncio corrigiu o que tinha dito em Fevereiro e considerou que o PEC afastava a necessidade de um aumento de impostos até 2013. Coloca-se assim em relação a ele próprio o mesmo trilema (*): ou bem em 3 meses mudou 3 vezes de opinião por incapacidade de previsão, isto é por incompetência, ou bem nunca teve opinião e foi dizendo o que em cada momento pensava ser mais conveniente para si próprio ou para o governo, e é mentiroso. Ou bem acumula incompetência com mentira.
(*) Suspeito que se trate de uma variedade do trilema de Žižek onde a alternativa comunista é substituída por socialista. Este trilema, formulado por Slavoj Žižek, postulava a incompatibilidade, sob um regime de constrangimento ideológico como o comunismo, entre as virtudes de honestidade, inteligência e adesão sincera a esse regime.
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ministro anexo,
se non è vero,
trilema de Žižek
14/05/2010
BREIQUINGUE NIUZ: ministro anexo considera o governo incompetente e/ou mentiroso
«Estas medidas eram inevitáveis, como disse, visto que numa situação em que é preciso reduzir o défice orçamental de uma forma rápida, precisamente os impostos indirectos são os mais rápidos a produzir receita», disse Vítor Constâncio. O Público recordou que «em Fevereiro deste ano … previu um aumento dos impostos indirectos (na altura foi criticado pelos membros do Governo)». Dito de outro modo, o ministro anexo em fim de mandato classificou implicitamente o primeiro-ministro e o ministro das Finanças como incompetentes e/ou mentirosos.
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Conto do vigário,
ministro anexo,
se non è vero
BLOGARIDADES: Aplaudindo a maleita e o remédio
Mão amiga enviou-me uma mensagem chamando a atenção para este e este posts onde Vital Moreira desanca «responsavelmente» a «esquerda irresponsável e arcaica» que imagina que o Estado Social é uma cornucópia e, de caminho, espanca a Grécia por ter «desrespeitado grosseiramente, anos a fio, o Pacto de Estabilidade e Crescimento, incluindo com a falsificação das contas nacionais».
Comentei assim a conversão de VM:
Se lerem o que VM escreveu no seu blogue desde 2003 e as suas intervenções públicas, confirmarão que o discurso era outro. A realidade tem muita força e o homem percebeu que hoje o lip service ao governo tem de passar por justificar as medidas de aperto do cinto.
Porém, a conversão foi entre aspas, porque a verdadeira só aconteceria se VM percebesse que as medidas que agora pretende justificar tornaram-se indispensáveis precisamente devido às políticas, que ele justificou no passado, de promoção do estado social, isto é de ocupação pelo estado duma economia deprimida com empresários dependentes constantemente chantageados, de engorda da máquina administrativa, de distribuição do que não se produz, dos direitos adquiridos, etc. (um grande etc. que inclui a falsificação das contas nacionais, embora a uma escala mais modesta do que a grega). Se percebesse … e tirasse as consequências.
Assim que o susto passar (se passar, enquanto ele ainda andar por aí pendurado no estado social), voltará ao discurso antigo promovendo as mesmas políticas.
Comentei assim a conversão de VM:
Se lerem o que VM escreveu no seu blogue desde 2003 e as suas intervenções públicas, confirmarão que o discurso era outro. A realidade tem muita força e o homem percebeu que hoje o lip service ao governo tem de passar por justificar as medidas de aperto do cinto.
Porém, a conversão foi entre aspas, porque a verdadeira só aconteceria se VM percebesse que as medidas que agora pretende justificar tornaram-se indispensáveis precisamente devido às políticas, que ele justificou no passado, de promoção do estado social, isto é de ocupação pelo estado duma economia deprimida com empresários dependentes constantemente chantageados, de engorda da máquina administrativa, de distribuição do que não se produz, dos direitos adquiridos, etc. (um grande etc. que inclui a falsificação das contas nacionais, embora a uma escala mais modesta do que a grega). Se percebesse … e tirasse as consequências.
Assim que o susto passar (se passar, enquanto ele ainda andar por aí pendurado no estado social), voltará ao discurso antigo promovendo as mesmas políticas.
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a memória dos povos é curta,
novos situacionistas
13/05/2010
Mitos (10) – energias renováveis, uma bandeira do governo Sócrates
Segundo as contas do Público, em cada euro da factura da EDP apenas 31 cêntimos pagam o custo da energia consumida. Os restantes 69 cêntimos dividem-se em 27 para a gestão do sistema de distribuição e 42 para subsidiar a produção de energias renováveis mas também, por incrível que pareça, as centrais a carvão, gás natural e fuel.
Das diversas formas de atacar o problema das emissões, a via escolhida pelo governo de subsidiar a produção de energias supostamente «limpas» usando certas tecnologias, é a pior de todas, porque implica distorções nas decisões de investimento (veja-se a crescente plantação de geradores de energia eólica, a que falta totalmente a racionalidade económica, apenas para fornecer energia, ao triplo do preço das convencionais, em parte desperdiçada ou oferecida aos espanhóis) e não promove a inovação (para quê com preços subsidiados e garantidos a longo prazo?).
Das diversas formas de atacar o problema das emissões, a via escolhida pelo governo de subsidiar a produção de energias supostamente «limpas» usando certas tecnologias, é a pior de todas, porque implica distorções nas decisões de investimento (veja-se a crescente plantação de geradores de energia eólica, a que falta totalmente a racionalidade económica, apenas para fornecer energia, ao triplo do preço das convencionais, em parte desperdiçada ou oferecida aos espanhóis) e não promove a inovação (para quê com preços subsidiados e garantidos a longo prazo?).
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: duas ilegalidades não fazem uma legalidade
«A esquerda intelectual descobriu que o juiz Baltazar Garzón não cumprir a lei é desejável, e até parte importante do Estado de direito. Curioso Estado de direito em que um magistrado judicial não se submete à lei. Certamente essa mesma lei é inconstitucional. Mas a esquerda parlamentar, em maioria desde 2004, não a revogou. E essa mesma esquerda, parlamentar ou intelectual, jamais solicitou a inconstitucionalidade da lei de amnistia de 1977 (porque quando o fizer sabe que Santiago Carrillo terá de responder pelo massacre de Paracuellos). Mas deve ser que, num Estado de direito democrático, o folclore nas ruas é mais importante que o princípio da legalidade.»
[Nuno Garoupa, Notícias do mundo da justiça no JN]
[Nuno Garoupa, Notícias do mundo da justiça no JN]
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justiça de causas
12/05/2010
Pro memoria (2) - a crise acabou (outra vez)
Face ao crescimento no 1.º trimestre divulgado pelo INE de 1,7% (homólogo) e 1% (em cadeia), José Sócrates embandeirou em arco e, grandiloquentemente, declarou «Portugal registou o maior crescimento económico da Europa no primeiro trimestre deste ano … economia recuperou e está a recuperar … Portugal foi o primeiro país a sair da condição de recessão técnica e o que melhor resistiu à crise».
Pro memoria
[Recordado pelo DE]
Veja-se também a declaração do vice-presidente do BCE, em anterior encarnação ministro anexo Vítor Constâncio, reclamando um ajustamento «mais abrupto, mais rápido e mais severo».
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11/05/2010
DIÁRIO DE BORDO: Agora percebo
Agora percebo a inveja, ciúme e despeito da esquerdalhada a invectivar o papa Bento XVI nas últimas semanas, exigindo que acabe com o celibato dos padres, ordene mulheres e gays, aceite o aborto contraceptivo (esta não tenho a certeza), promova o preservativo, peça desculpa todos os dias pela homossexualidade pedofilia dos padres. Há décadas que a esquerdalhada não consegue encher a praça do Comércio.
A esquerdalhada não exigiu que Bento XVI renegasse o reforço do papel do Estado. Estranho.
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DIÁRIO DE BORDO: preso por ter cão e preso por não ter
Depois de vários meses a tergiversar, alimentando a crescente desconfiança dos mercados, a UE apresenta uma medicina muito mais poderosa do que a necessária no princípio do ano, quando já não havia margem para dúvida sobre a gravidade da situação financeira da Grécia. Medicina poderosa, com os seus 750 mil milhões, incluindo 250 mil milhões do FMI (um sapo engolido por Sarko Boinaparte) e perigosa, com o potencial efeito multiplicador dos créditos e garantias e a perda de independência do BCE, pressionado para passar a comprar obrigações da dívida pública.
Apesar disso, o pior pode estar ainda para chegar, porque todas estas medidas não atacam a causa: vulnerabilidade duma zona monetária sem políticas fiscal e orçamental únicas. Dito de outro modo, a UE vai ser forçada a resolver o dilema de desmantelar a zona Euro, ou pelo menos expurgá-la dos PIGS, ou dar o passo seguinte de integração – um governo económico e financeiro europeu, passo nada fácil quando se comparam as visões germânica e francesa, para já não falar da britânica.
Apesar disso, o pior pode estar ainda para chegar, porque todas estas medidas não atacam a causa: vulnerabilidade duma zona monetária sem políticas fiscal e orçamental únicas. Dito de outro modo, a UE vai ser forçada a resolver o dilema de desmantelar a zona Euro, ou pelo menos expurgá-la dos PIGS, ou dar o passo seguinte de integração – um governo económico e financeiro europeu, passo nada fácil quando se comparam as visões germânica e francesa, para já não falar da britânica.
Mitos (9) – a situação de Portugal é muito diferente da Grécia
Diferente será, com aspectos melhores. E piores, como por exemplo a dívida total líquida ao estrangeiro. Como se pode ver no quadro seguinte é mais alta do que a da Grécia, da Espanha e da Irlanda, em proporção do PIB.
Já agora, veja-se este diagrama publicado no NYT, representando a dívida total bruta ao estrangeiro e as interdependências entre os PIGS e destes com os restantes países da EU, e antecipe-se o que poderá ser o dominó das falências, em particular na Zona Euro.
Já agora, veja-se este diagrama publicado no NYT, representando a dívida total bruta ao estrangeiro e as interdependências entre os PIGS e destes com os restantes países da EU, e antecipe-se o que poderá ser o dominó das falências, em particular na Zona Euro.
10/05/2010
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: país em via de subdesenvolvimento
Dois exemplos triviais, da semana passada, do que é o Portugal dos Pequeninos que teima em nos manter amarrados à mediocridade, à negligência, ao desleixo, à falta de gosto pelo risco e pela iniciativa, ou seja na via do subdesenvolvimento.
Exemplo 1
A Rohde, uma fábrica alemã de calçado em Santa Maria da Feira na iminência de fechar, colocou à votação dos cerca de 1.000 operários um plano de viabilização que garantia emprego a 150. A maioria dos operários votou contra, preferindo fechar a fábrica a continuar a dar emprego aos 150.
Exemplo 2
A reunião do Conselho de Governadores do BCE reuniu em Lisboa e marcou para as 13:30 de quinta-feira uma conferência de imprensa, hora imprópria para os costumes dos jornalistas domésticos que a essa hora ainda costumam estar no hors-d’œuvre e para quem um evento marcado para as 13:30 é um evento que não começa antes das 13:45. Neste caso particular, como se tratava de uma entidade alienígena, terão feito um enorme esforço para chegar só alguns minutos depois e estranharam a resistência dos assessores à sua entrada, atrasada para estes, mas pontualíssima para os costumes locais.
Exemplo 1
A Rohde, uma fábrica alemã de calçado em Santa Maria da Feira na iminência de fechar, colocou à votação dos cerca de 1.000 operários um plano de viabilização que garantia emprego a 150. A maioria dos operários votou contra, preferindo fechar a fábrica a continuar a dar emprego aos 150.
Exemplo 2
A reunião do Conselho de Governadores do BCE reuniu em Lisboa e marcou para as 13:30 de quinta-feira uma conferência de imprensa, hora imprópria para os costumes dos jornalistas domésticos que a essa hora ainda costumam estar no hors-d’œuvre e para quem um evento marcado para as 13:30 é um evento que não começa antes das 13:45. Neste caso particular, como se tratava de uma entidade alienígena, terão feito um enorme esforço para chegar só alguns minutos depois e estranharam a resistência dos assessores à sua entrada, atrasada para estes, mas pontualíssima para os costumes locais.
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um país talvez normal mas rançoso
Já que vamos alterar a Constituição…
Não me parecia defensável que admitir o casamento entre humanos e animais vertebrados domésticos fosse considerada uma «provocação discriminatória e ridícula» por quem preconiza o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e ainda menos quando a questão é colocada por um docente num exame de Direito Constitucional a alunos.
Pelo contrário, parece-me agora uma questão muito pertinente, depois de saber que o alemão Uwe Mitzscherlich de 39 anos pagou a uma actriz 300 euros para oficiar o seu matrimónio com a gata Cecilia que desde sempre dormiu na sua cama.
Pelo contrário, parece-me agora uma questão muito pertinente, depois de saber que o alemão Uwe Mitzscherlich de 39 anos pagou a uma actriz 300 euros para oficiar o seu matrimónio com a gata Cecilia que desde sempre dormiu na sua cama.
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relativismo,
ser singular é cada vez mais plural
09/05/2010
Lost in translation (46 ) – porreiro pá, nem sabem fazer questionários
«Em nenhuma das 80 questões há uma pergunta que o confronte (a José Sócrates) com uma prova de que o Governo sabia do negócio» disse Pedro Silva Pereira, o clone do primeiro-ministro, à saída da audição da comissão de inquérito ao negócio PT/TVI.
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eu diria mesmo mais
DIÁRIO DE BORDO: O tamanho dos líderes importa
Por falar em grandes líderes, como Robert Schuman e Claude Monnet, fundadores da EU, ou mesmo, a uma outra escala, François Miterrand, Helmut Kohl e Jacques Delors, recordei o alívio de José António Saraiva, à altura director do Expresso, ao constatar, a propósito do choroso Jorge Sampaio, então presidente da República, termos entrado numa época na qual os líderes começavam a ser pessoas comuns, pouco se distinguindo do cidadão vulgar – salvo no tocante à obsessiva mediatização, acrescento. Constatação incontestável, como se pode confirmar pela dimensão da maioria dos políticos em funções. Por exemplo: uma Angela Merkel, tolhida de medo do efeito das decisões sobre o bailout da Grécia nas eleições de hoje na Renânia do Norte-Westfália, ou um Boinaparte Sarkozy embrulhado nas suas trapalhadas domésticas, ou a espécie de secretário-geral Herman Van Rompuy ou a espécie de primeiro secretário de embaixada baronesa Ashton, ou o nosso Sócrates, com todos os vícios portuguesíssimos da chico-esperteza (servidos por uma incomum obstinação, reconheça-se), submerso em inúmeras trampolinas e preocupado em ter o parágrafo da maior falência do estado português no livro de história.
Pergunto-me: se os riscos e as decisões extraordinárias, com impacto num país, num continente ou mesmo no mundo, estão a cargo de dirigentes que são pessoas comuns – salvo a circunstância, não neutra, da obsessão mediática – o que fazemos às pessoas extraordinárias que por aí devem andar, cujo lugar natural essas pessoas comuns ocupam? Esperamos que tratem dos riscos correntes e tomem as decisões ordinárias?
Pergunto-me: se os riscos e as decisões extraordinárias, com impacto num país, num continente ou mesmo no mundo, estão a cargo de dirigentes que são pessoas comuns – salvo a circunstância, não neutra, da obsessão mediática – o que fazemos às pessoas extraordinárias que por aí devem andar, cujo lugar natural essas pessoas comuns ocupam? Esperamos que tratem dos riscos correntes e tomem as decisões ordinárias?
CASE STUDY: Euro – a chicken slaughtered and running around headless
«One of the incidents that I remember from my youth was the first time I saw a chicken slaughtered and running around headless for quite a few minutes before it keeled over and died. The euro is at that stage. Its life is finished, but it will be around for some time before it becomes a subject of historical analysis. Actually the euro was always a short term solution, even on the day it was born. There were only two possible outcomes: the euro would blow up, or it would lead to an EU with taxing and borrowing authority. Theoretically those two choices are still possible, but the euro’s disintegration is moving so quickly and the political barriers are rising so fast that the chances of a much closer and ever tightening political bond between the internal surplus countries and the internal deficit countries is basically non-existent. Fifty years ago, Europe had some great leaders in Robert Schuman and Claude Monnet, who had the vision to start the common market, but it does not have the visionaries necessary to take the next step. Building Europe has always been done from the top, by the politicians and the corporate chieftains who had the most to gain from it. In the beginning, the man on the street went along with it because it cost him nothing and it would keep his children out of the next war. Most of the time, there was no cost to the average European, only benefits: more products to buy, better roads and holiday destinations, and the feeling of being a global leader. The farmers got mad in the 1980’s but the Common Agricultural Policy exploded with butter and other mountains growing larger and the farm lobby was paid off. When the euro came along, interest rates dropped everywhere south of the Alps and this meant that things bought on time – like cars and appliances – were cheaper and houses were easier to own. Despite some gripes about inflation as prices were rounded higher, the changes were pleasant, not painful. All of that has changed. Now having the euro and being a member of the European Monetary Union will be hard on almost every voter – for as far as the eye can see.»
[Dead Man Walking, John R. Taylor, Jr., Global Macro Research, FX CONCEPTS]
(Read more here)
[Dead Man Walking, John R. Taylor, Jr., Global Macro Research, FX CONCEPTS]
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eu diria mesmo mais,
Óropa
08/05/2010
José Sócrates começa hoje a entrar para história
Hoje será assinado o 1.º contrato do projecto TGV. É uma data histórica para Portugal no início duma longa crise financeira, com um endividamento sem precedentes e começar a torrar os milhares de milhões que serão necessários durante as próximas décadas para construir e manter uma obra faraónica sem qualquer impacto para resolver os problemas essenciais do país.
É, sobretudo, uma data histórica para José Sócrates - sem esta obra faraónica ficaria para a história com o quê? Com a dúzia de trapalhadas em que esteve ou está envolvido: os projectos das casinhas na Beira, a compra da casinha no Heron Castilho, o caso Cova da Beira, o curso na UI acabado ao domingo, o caso Freeport, o caso PT-TVI, o caso Face Oculta, o caso Taguspark-Luís Figo e, eventualmente, vários outros que o seu controlo sobre a média e o sistema judicial mantém debaixo do tapete?
Talvez ficasse para a história como o político do aborto como meio contraceptivo e do casamento dos homossexuais – um simples rodapé no livro de história. Assim, ficará como o político que mais contribuiu para a ruína financeira dum país em vias de subdesenvolvimento nas próximas décadas. Temos que reconhecer que não é pouco – dá um parágrafo no livro de história.
É, sobretudo, uma data histórica para José Sócrates - sem esta obra faraónica ficaria para a história com o quê? Com a dúzia de trapalhadas em que esteve ou está envolvido: os projectos das casinhas na Beira, a compra da casinha no Heron Castilho, o caso Cova da Beira, o curso na UI acabado ao domingo, o caso Freeport, o caso PT-TVI, o caso Face Oculta, o caso Taguspark-Luís Figo e, eventualmente, vários outros que o seu controlo sobre a média e o sistema judicial mantém debaixo do tapete?
Talvez ficasse para a história como o político do aborto como meio contraceptivo e do casamento dos homossexuais – um simples rodapé no livro de história. Assim, ficará como o político que mais contribuiu para a ruína financeira dum país em vias de subdesenvolvimento nas próximas décadas. Temos que reconhecer que não é pouco – dá um parágrafo no livro de história.
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E agora José?,
elefantes brancos,
TGV
O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: falidos mas generosos
«O novo estádio da cidade de Al-Kahder, nos arredores de Belém, na Cisjordânia, cuja construção foi financiada por Portugal, através do Instituto Português de Cooperação para o Desenvolvimento … custou dois milhões de dólares, tem capacidade para seis mil espectadores, é certificado pela FIFA e dispõe de piso sintético e iluminação. A cerimónia de inauguração abrirá com uma marcha de escuteiros locais, conduzindo as bandeiras de Portugal e da Palestina, e a execução dos respectivos hinos nacionais.
Já fechámos urgências, maternidades, centros de saúde e escolas primárias, mas oferecemos um estádio à Palestina. Devíamos fechar o Hospital de Santa Maria e oferecer um pavilhão multi-usos ao Afeganistão. A seguir fechávamos a cidade universitária e oferecíamos um complexo olímpico (também com estádio) à Somália e por último fechávamos a Assembleia da República e oferecíamos os nossos políticos aos crocodilos do Nilo.»
[Enviado por AB]
Comentário impertinente:
Podia ser pior (ou melhor, depende da perspectiva). Por exemplo, Portugal oferecer rockets ao Hamas para massacrar judeus. Aposto que nos meios da esquerdalhada esta hipótese deve ter sido equacionada. O estádio deve ser o resultado duma negociação: a esquerdalhada avança com rockets, o PS com 10 km de AE com 5 rotundas entre Belém e Jerusalém (empreitada a cargo da Mota-Engil) e a coligação PSD-CDS com um mercado municipal (por pressão de Paulo Portas). Depois de muitas discussões (a Fundação Luís Figo também esteve envolvida), chegou-se a uma solução de compromisso: o estádio.
Já fechámos urgências, maternidades, centros de saúde e escolas primárias, mas oferecemos um estádio à Palestina. Devíamos fechar o Hospital de Santa Maria e oferecer um pavilhão multi-usos ao Afeganistão. A seguir fechávamos a cidade universitária e oferecíamos um complexo olímpico (também com estádio) à Somália e por último fechávamos a Assembleia da República e oferecíamos os nossos políticos aos crocodilos do Nilo.»
[Enviado por AB]
Comentário impertinente:
Podia ser pior (ou melhor, depende da perspectiva). Por exemplo, Portugal oferecer rockets ao Hamas para massacrar judeus. Aposto que nos meios da esquerdalhada esta hipótese deve ter sido equacionada. O estádio deve ser o resultado duma negociação: a esquerdalhada avança com rockets, o PS com 10 km de AE com 5 rotundas entre Belém e Jerusalém (empreitada a cargo da Mota-Engil) e a coligação PSD-CDS com um mercado municipal (por pressão de Paulo Portas). Depois de muitas discussões (a Fundação Luís Figo também esteve envolvida), chegou-se a uma solução de compromisso: o estádio.
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delírios pontuais,
vida para além do orçamento
DIÁRIO DE BORDO: Deve ser um bom filme
Só pode ser um bom filme, para me conseguir manter pregado na cadeira durante longos 107 minutos, sem contar com aqueles anúncios completamente estúpidos (por exemplo o can’t hear you da Pepsi que deveria ter ganho o razzie da publicidade) e os trailers de filmes completamente desinteressantes. A não ser assim, como explicar que duas personagens no limiar do insuportável (um adolescente com 40 anos, rebelde sem causa, encalhado algures nos nineties e uma jovem mulher-ameba) numa estória completamente banal (not so boy meets girl) prendam a atenção duma criatura durante tanto tempo?
[Imaginei a versão lusa: cenas de violência doméstica, subsidiadas pelo FICA, entre um marmanjo quarentão beneficiário do rendimento social de inserção (no original, o marmanjo Roger Greenberg trabalha de carpinteiro para fazer pela vida) e uma jovem problemática da Zona J (no original, Florence Marr faz pela vida como assistente do irmão do adolescente quarentão)]
[Imaginei a versão lusa: cenas de violência doméstica, subsidiadas pelo FICA, entre um marmanjo quarentão beneficiário do rendimento social de inserção (no original, o marmanjo Roger Greenberg trabalha de carpinteiro para fazer pela vida) e uma jovem problemática da Zona J (no original, Florence Marr faz pela vida como assistente do irmão do adolescente quarentão)]
07/05/2010
Lost in translation (45) – não há vida para além do orçamento foi o que ele quis dizer
Henrique Granadeiro, colocando o seu chapéu de economista e mostrando uma «visão sombria» dos amanhãs que já não cantam, defendeu na conferência do Diário Económico, em alternativa à desvalorização da moeda, que não é possível com o euro, o aumento do IVA. Os esforços para construir versões da trapalhada TVI compatíveis com as de Sócrates, Bava e os boys podem ter afectado a sua ciência económica, fazendo equivaler duas soluções diferentes com resultados radicalmente diferentes.
Da desvalorização poderiam resultar efeitos positivos no comércio externo por aumento da competitividade e efeitos negativos directos na inflação, por aumento dos preços dos bens importados, e um efeito induzido e diferido pelo aumento dos salários para ajustamento à perda de poder de compra. Do aumento do IVA não resultaria directamente nada em relação ao comércio externo e teríamos um aumento da inflação, da carga fiscal e do peso do Estado. Adicionalmente teríamos um efeito induzido e diferido de perda de competitividade pelo aumento dos salários para ajustamento à perda de poder de compra que no final aumentaria o défice do comércio externo. Em resumo, o aumento do IVA, ao conseguir apenas um aumento das receitas correntes e uma eventual redução do défice orçamental (supondo que as despesas correntes aumentariam menos, o que é tudo menos garantido), constitui a via do não há vida para além do orçamento.
Da desvalorização poderiam resultar efeitos positivos no comércio externo por aumento da competitividade e efeitos negativos directos na inflação, por aumento dos preços dos bens importados, e um efeito induzido e diferido pelo aumento dos salários para ajustamento à perda de poder de compra. Do aumento do IVA não resultaria directamente nada em relação ao comércio externo e teríamos um aumento da inflação, da carga fiscal e do peso do Estado. Adicionalmente teríamos um efeito induzido e diferido de perda de competitividade pelo aumento dos salários para ajustamento à perda de poder de compra que no final aumentaria o défice do comércio externo. Em resumo, o aumento do IVA, ao conseguir apenas um aumento das receitas correntes e uma eventual redução do défice orçamental (supondo que as despesas correntes aumentariam menos, o que é tudo menos garantido), constitui a via do não há vida para além do orçamento.
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CASE STUDY: Uma agência de rating europeu
O ministro Teixeira dos Santos tem nos últimos meses pesadelos com suores frios em que lhe aparecem as agências de rating com caudas satânicas e tridentes a espetarem-lhe o traseiro. É compreensível. Por isso, é igualmente compreensível pensar na criação de uma agência europeia de rating. Já é menos compreensível considerar não ser «saudável para economia europeia … o monopólio norte-americano» - parece um pensamento da época Bush, inadequado aos tempos do redentor habitando hoje a Casa Branca.
Como seria então uma agência europeia de rating? Qual a diferença duma agência de rating americana? A resposta é difícil, mas o comissário Karel De Gucht dá-nos uma pista ao reconhecer ao Figaro (citado por l’Echo) «en 2001, l’UE savait que la Grèce la trompait".
Podemos então concluir que para a burocracia de Bruxelas uma agência europeia de rating seria uma agência de rating europeu.
Como seria então uma agência europeia de rating? Qual a diferença duma agência de rating americana? A resposta é difícil, mas o comissário Karel De Gucht dá-nos uma pista ao reconhecer ao Figaro (citado por l’Echo) «en 2001, l’UE savait que la Grèce la trompait".
Podemos então concluir que para a burocracia de Bruxelas uma agência europeia de rating seria uma agência de rating europeu.
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06/05/2010
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (15) – o deputado que confisca
Ricardo Rodrigues, um dos vice-presidentes do grupo parlamentar do PS, é um homem cujo passado inquieta até alguns dos seus camaradas socialistas, não gostou das perguntas dos «foi sujeito a violência psicológica» pelos jornalistas da Sábado que o entrevistavam e abandonou a entrevista confiscando-lhes os gravadores.
O presidente do grupo parlamentar do PS apressou-se a declarar que mantém «em absoluto» a confiança política no sujeito. Segundo ele, Ricardo Rodrigues «é um homem correcto, de princípios e com um grande sentido de solidariedade».
O presidente do grupo parlamentar do PS apressou-se a declarar que mantém «em absoluto» a confiança política no sujeito. Segundo ele, Ricardo Rodrigues «é um homem correcto, de princípios e com um grande sentido de solidariedade».
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Se temos tomado sempre as prescrições socialistas porque estamos cada vez mais pobres?
«1. Se é verdade que as leis laborais devem proteger os trabalhadores para contrabalançar o poder das empresas, porque é que em Portugal, que tem as leis laborais mais rígidas da Europa, temos salários tão baixos e desemprego tão elevado?
2. Se é verdade que as obras públicas são uma fonte de desenvolvimento para o futuro, porque é que o pais que fez a Expo, o Euro, o CCB e a Casa da Música e plantou SCUTS de Norte a Sul no passado não é um dos países mais desenvolvido na Europa?
3. Se é verdade que há vida para alem do défice, porque é que Portugal continua anémico, quase em coma?
4. Se é verdade que a aposta na educação pública é essencial para a expansão do conhecimento, porque é que os alunos das nossas escolas públicas, que são das mais caras da Europa, sabem tão pouco quando os comparamos com alunos de outros países?
5.Se é verdade que o controle de rendas é muito importante para proteger os cidadãos dos abusos dos proprietários de imóveis, porque é que as casas onde vivem os cidadãos protegidos estão a cair aos pedaços e as nossas cidades estão a desertificar-se?
6. Se é verdade que a redistribuição é um factor de desenvolvimento e eliminação de desigualdades, porque é que em Portugal, cujo estado já açambarca metade da riqueza produzida em cada ano, quanto mais distribui, menos se iguala?
7. Se é verdade que as ajudas dos estados foram imprescindíveis para evitar a crise, porque é que estamos enterrados numa crise bem mais profunda que antes das ajudas?
8. Se é verdade que precisamos dum novo aeroporto em Lisboa, porque é que no aeroporto que já não serve e vai encerrar, renovaram o terminal de partidas, o terminal de chegadas, fizeram o terminal 2, construíram uma nova zona internacional, construíram um novo terminal de cargas e um novo parque de estacionamento, estão a construir uma nova zona comercial e de recolha de bagagens e uma nova linha de metro?»
[Será mesmo? no Blasfémias]
2. Se é verdade que as obras públicas são uma fonte de desenvolvimento para o futuro, porque é que o pais que fez a Expo, o Euro, o CCB e a Casa da Música e plantou SCUTS de Norte a Sul no passado não é um dos países mais desenvolvido na Europa?
3. Se é verdade que há vida para alem do défice, porque é que Portugal continua anémico, quase em coma?
4. Se é verdade que a aposta na educação pública é essencial para a expansão do conhecimento, porque é que os alunos das nossas escolas públicas, que são das mais caras da Europa, sabem tão pouco quando os comparamos com alunos de outros países?
5.Se é verdade que o controle de rendas é muito importante para proteger os cidadãos dos abusos dos proprietários de imóveis, porque é que as casas onde vivem os cidadãos protegidos estão a cair aos pedaços e as nossas cidades estão a desertificar-se?
6. Se é verdade que a redistribuição é um factor de desenvolvimento e eliminação de desigualdades, porque é que em Portugal, cujo estado já açambarca metade da riqueza produzida em cada ano, quanto mais distribui, menos se iguala?
7. Se é verdade que as ajudas dos estados foram imprescindíveis para evitar a crise, porque é que estamos enterrados numa crise bem mais profunda que antes das ajudas?
8. Se é verdade que precisamos dum novo aeroporto em Lisboa, porque é que no aeroporto que já não serve e vai encerrar, renovaram o terminal de partidas, o terminal de chegadas, fizeram o terminal 2, construíram uma nova zona internacional, construíram um novo terminal de cargas e um novo parque de estacionamento, estão a construir uma nova zona comercial e de recolha de bagagens e uma nova linha de metro?»
[Será mesmo? no Blasfémias]
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Desfazendo ideias feitas,
E pur non si muove
05/05/2010
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (14) – também descontou para o Fonds national de réserve des retraites argelino?
«Manuel Alegre vai receber uma reforma de 3.215,95 euros mensais pelo cargo de coordenador de programas de texto da Rádio Difusão Portuguesa que ocupou por alguns meses. A informação faz parte da lista dos aposentados e reformados divulgada pela Caixa Geral de Aposentações (CGA), citada pelo Correio da Manhã.
Em declarações ao jornal, Alegre garantiu que nem se lembraria da reforma, se não fosse a CGA a escrever-lhe uma carta. O deputado explicou que foi funcionário da RDP durante “pouco tempo”, já que começou a trabalhar na rádio quando voltou do exílio, após o 25 de Abril, e saiu em 1975 quando foi eleito deputado, cargo que ocupou desde então. “Nunca mais lá trabalhei, mas descontei sempre”, disse o deputado.»
[Enviado por JARF]
Em declarações ao jornal, Alegre garantiu que nem se lembraria da reforma, se não fosse a CGA a escrever-lhe uma carta. O deputado explicou que foi funcionário da RDP durante “pouco tempo”, já que começou a trabalhar na rádio quando voltou do exílio, após o 25 de Abril, e saiu em 1975 quando foi eleito deputado, cargo que ocupou desde então. “Nunca mais lá trabalhei, mas descontei sempre”, disse o deputado.»
[Enviado por JARF]
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ética republicana
ESTADO DE SÍTIO: Afundando o buraco
O TGV Lisboa-Madrid, o comboio para os madrilenos transformarem Lisboa na praia de Madrid (disse o ministro das Obras Públicas) ou virem assistir ao Rock in Rio (não disse porque estava distraído), aumentará o endividamento ao estrangeiro em mais de mil milhões de euros.
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elefantes brancos,
TGV
ESTADO DE SÍTIO: Palhaçadas
Enquanto o país desliza para o abismo financeiro empurrado pelas obras públicas faraónicas, o ministro das mesmas faz o papel de vereador dos transportes da câmara de Lisboa ou de relações públicas da Carris ou do Metro e aparece a pavonear-se em bicos de pés numa conferência de imprensa a anunciar o protocolo «Vá de transportes públicos ao Rock in Rio». É um bom aluno: em poucos meses aprendeu os truques do chefe. Se o ridículo fosse mortal, teríamos dois terços de baixas no governo.
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Lunatismo,
mais do mesmo,
Ridendo castigat mores
04/05/2010
O lixo debaixo do tapete grego
O pacote mínimo de ajuda à Grécia estimado em 40 ou 50 mil milhões euros há umas semanas é agora 110 mil milhões e nos meios financeiros admite-se possa vir a atingir 150 mil milhões. Mesmo não ultrapassando os 110 mil milhões, o custo do bailout já bateu todos os recordes (ver primeiro diagrama, em dólares).
Quanto ao défice e à dívida pública também foram revistos em alta (ver segundo diagrama) e é agora inegável que o défice em 2013 será mais do dobro do previsto inicialmente e a divida pública continuará a aumentar, ao contrário das estimativas anteriores.
Aceitam-se apostas como as projecções do défice e da dívida pública virão ser revistas em alta antes do final do ano. Porquê? Se, diz-se, a fiabilidade das contas públicas gregas é inferior à das portuguesas, se as contas públicas portugueses nos últimos anos têm sido ajeitadas como se viu (*) e como ainda se há-de ver, imagine-se o lixo ainda por descobrir debaixo do tapete grego.
[Fonte: Greece's Costs Seen Exceeding EU-IMF Help, WSJ]
(*) Ver a série de posts I a IX de Lost in translation – Rigor? Já fizemos engenharia orçamental no passado. Voltaremos a fazê-lo no futuro, queria ele dizer.
SERVIÇO PÚBLICO: se um A- não vale porque teria valido um A+?
Voltando à vaca fria da falta de credibilidade das agências de rating resultante das trapalhadas descobertas e aqui já referidas, recomenda-se a leitura da press release do senador Carl Levin, presidente da comissão que investiga o papel das agências de rating na crise financeira, sobre a terceira audição da comissão. É um documento objectivo de síntese cujo estudo deveria fazer parte dos trabalhos para casa dos empregados dos partidos fazendo as vezes de deputados da assembleia da República.
A comissão do senado identificou as seguintes causas na origem do enviesamento das agências:
A comissão do senado identificou as seguintes causas na origem do enviesamento das agências:
- Inaccurate Rating Models. From 2004 to 2007, Moody’s and Standard&Poor’s used credit rating models with data that was inadequate to predict how high risk residential mortgages, such as subprime, interest only, and option adjustable rate mortgages, would perform.
- Competitive Pressures. Competitive pressures, including the drive for market share and need to accommodate investment bankers bringing in business, affected the credit ratings issued by Moody’s and Standard&Poor’s.
- Failure to Re-evaluate. By 2006, Moody’s and Standard&Poor’s knew their ratings of residential mortgage backed securities (RMBS) and collateralized debt obligations (CDOs) were inaccurate, revised their rating models to produce more accurate ratings, but then failed to use the revised model to re- evaluate existing RMBS and CDO securities, delaying thousands of rating downgrades and allowing those securities to carry inflated ratings that could mislead investors.
- Failure to Factor In Fraud, Laxity, or Housing Bubble. From 2004 to 2007, Moody’s and Standard&Poor’s knew of increased credit risks due to mortgage fraud, lax underwriting standards, and unsustainable housing price appreciation, but failed adequately to incorporate those factors into their credit rating models.
- Inadequate Resources. Despite record profits from 2004 to 2007, Moody’s and Standard&Poor’s failed to assign sufficient resources to adequately rate new products and test the accuracy of existing ratings.
- Mass Downgrades Shocked Market. Mass downgrades by Moody’s and Standard&Poor’s, including downgrades of hundreds of subprime RMBS over a few days in July 2007, downgrades by Moody’s of CDOs in October 2007, and downgrades by Standard&Poor’s of over 6,300 RMBS and 1,900 CDOs on one day in January 2008, shocked the financial markets, helped cause the collapse of the subprime secondary market, triggered sales of assets that had lost investment grade status, and damaged holdings of financial firms worldwide, contributing to the financial crisis.
- Failed Ratings. Moody’s and Standard&Poor’s each rated more than 10,000 RMBS securities from 2006 to 2007, downgraded a substantial number within a year, and, by 2010, had downgraded many AAA ratings to junk status.
- Statutory Bar. The U.S. Securities and Exchange Commission is barred by statute from conducting needed oversight into the substance, procedures, and methodologies of the credit rating models.
- Legal Pressure for AAA Ratings. Legal requirements that some regulated entities, such as banks, broker- dealers, insurance companies, pension funds, and others, hold assets with AAA or investment grade credit ratings, created pressure on credit rating agencies to issue inflated ratings making assets eligible for purchase by those entities.
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a nódoa cai em qualquer pano,
teorias da conspiração
03/05/2010
Mais borrasca no horizonte
A dívida pública portuguesa a 5 anos tem actualmente um spread de quase 3% ou seja mais do dobro do spread médio dos novos empréstimos para compra de habitação a prazos médios de 30 anos. O que acontecerá à banca portuguesa quando o BCE secar as cedências de liquidez a taxas políticas e os bancos tiverem de se financiar nos mercados a taxas iguais ou superiores às da dívida pública?
Entretanto, o estado português empresta 2 mil milhões à Grécia a somar aos 7,4 mil milhões de exposição da banca portuguesa à dívida grega, parte dos quase 50 mil milhões de exposição da banca à dívida dos PIGS.
Ao mesmo tempo, o BCE anuncia a aceitação, independentemente da notação, da dívida grega como colateral nos empréstimos à banca que continuarão durante mais algum tempo a pedir a curto prazo ao BCE a taxas que são uma fracção das taxas que o estado grego lhes paga pela dívida de médio-longo prazo. Ainda recentemente a esta prática e à incongruência do funding dos empréstimos à habitação chamava-se asset-liability mismatch, capaz de gerar falta de liquidez, no mínimo, ou a bancarrota, no máximo, e considerada de alto risco.
Enquanto isso, o governo delira com o TGV e mais estradas no país com a 9.ª melhor rede rodoviária do mundo.
Entretanto, o estado português empresta 2 mil milhões à Grécia a somar aos 7,4 mil milhões de exposição da banca portuguesa à dívida grega, parte dos quase 50 mil milhões de exposição da banca à dívida dos PIGS.
Ao mesmo tempo, o BCE anuncia a aceitação, independentemente da notação, da dívida grega como colateral nos empréstimos à banca que continuarão durante mais algum tempo a pedir a curto prazo ao BCE a taxas que são uma fracção das taxas que o estado grego lhes paga pela dívida de médio-longo prazo. Ainda recentemente a esta prática e à incongruência do funding dos empréstimos à habitação chamava-se asset-liability mismatch, capaz de gerar falta de liquidez, no mínimo, ou a bancarrota, no máximo, e considerada de alto risco.
Enquanto isso, o governo delira com o TGV e mais estradas no país com a 9.ª melhor rede rodoviária do mundo.
Sacudindo a água do capote
Se há alguém difícil de ver como inocente na crise do crédito subprime é Alan Greespan, presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) durante quase 20 anos de 1987 a 2006 e nessa qualidade principal responsável pela política monetária e pela regulação do sistema financeiro. No entanto, Greenspan durante as audições da Financial Crisis Inquiry Commission apontou o dedo para toda a gente menos para ele próprio. Leia aqui um relato sintético do mumble-jumble de Greenspan sacudindo a água do capote.
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a nódoa cai em qualquer pano
02/05/2010
BREIQUINGUE NIUZ: estão a ver-se gregos
Corte dos 13.º e 14.º meses dos salários dos funcionários públicos e das pensões dos reformados e aumento de 1% do IVA são algumas das medidas que o governo grego foi forçado a aceitar para ter acesso ao pacote de ajuda da UE e do FMI. [JN]
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E agora José?,
Iguais mas diferentes
Lost in translation (45) - Cérebros atraídos do estrangeiro, disse o ministro Gago, querendo dizer cérebros atraídos pelo estrangeiro
«A situação portuguesa é excepcional e Portugal é um dos países da OCDE com crescimento mais rápido na área científica, seja em que parâmetro medirmos, desde o número de artigos em publicações científicas, ao número de cientistas no activo e, em resumo, à criação de uma massa crítica que possibilita a existência de centros de investigação com capacidade para produzir resultados e atrair cérebros do estrangeiro» disse o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior em Paris durante um seminário da OCDE.
Não sei se o ministro está a falar do país que aparece na lista seguinte dos países cujos cérebros são mais atraídos:
Emigration rate of university educated workers - countries most affected
1 Haiti 83.6%
2 Sierra Leone 52.5%
3 Ghana 46.8%
4 Mozambique 45.1%
…
14 Cuba 28.7%
…
21 Afghanistan 23.3%
22 Dominican Rep. 21.6%
23 Portugal 19.5%
24 Togo 18.7%
…
30 Zambia 16.8%
Ou talvez do país que aparece nesta outra lista:
Emigration rate of tertiary educated workers
Ireland 28.6%
Portugal 18.0%
United Kingdom 14.3%
Poland 12.7%
Hungary 11.1%
Greece 10.9%
Slovenia 10.1%
Romania 9.2%
Italy 8.3%
Slovakia 7.7%
Netherlands 7.6%
Czech Republic 7.2%
Germany 3.7%
Spain 3.3%
France 1.7%
[Fonte: The Portuguese Brain Drain no blogue The Portuguese Economy]
Não sei se o ministro está a falar do país que aparece na lista seguinte dos países cujos cérebros são mais atraídos:
Emigration rate of university educated workers - countries most affected
1 Haiti 83.6%
2 Sierra Leone 52.5%
3 Ghana 46.8%
4 Mozambique 45.1%
…
14 Cuba 28.7%
…
21 Afghanistan 23.3%
22 Dominican Rep. 21.6%
23 Portugal 19.5%
24 Togo 18.7%
…
30 Zambia 16.8%
Ou talvez do país que aparece nesta outra lista:
Emigration rate of tertiary educated workers
Ireland 28.6%
Portugal 18.0%
United Kingdom 14.3%
Poland 12.7%
Hungary 11.1%
Greece 10.9%
Slovenia 10.1%
Romania 9.2%
Italy 8.3%
Slovakia 7.7%
Netherlands 7.6%
Czech Republic 7.2%
Germany 3.7%
Spain 3.3%
France 1.7%
[Fonte: The Portuguese Brain Drain no blogue The Portuguese Economy]
NÓS VISTOS POR ELES: A diferença de ser diferente
Tendo a ficar irritado com o discurso oficial obsessivo da situação de Portugal ser diferente da situação da Grécia, insistência que talvez revele falta de fé na crença da grande diferença. E, contudo, não pareceria haver fundamento para tal obsessão - não há conhecimento de alguém ter defendido a exacta igualdade das duas situações, nem mesmo os «especuladores», sobretudo eles que estão a arriscar o seu dinheiro e só por isso as suas análises merecem muito mais credibilidade do que as dos «duzentos palhaços que vão à televisão falar de economia» (César das Neves, num dia de inspiração). Ao contrário, os «especuladores» têm mostrado eloquentemente considerar por agora as duas situações bastante diferentes, tão diferentes quanto o spread da dívida a 5 anos e a probabilidade de incumprimento, respectivamente, são diferentes:
Grécia 7,2% 44,1%
Portugal 2,9% 22,2%
[Fonte: CMA]
Tão diferentes quanto a probabilidade de incumprimento da dívida portuguesa resultante da avaliação dos «especuladores» é metade da grega. Então porquê insistir na diferença, em vez de insistir nas medidas de consolidação? Alguém escutou o governo irlandês a gritar a sua diferença? E não foi por não ter gritado que os «especuladores» deixaram de ver a diferença (ver gráfico seguinte - fonte: Citi Global Economics). Apesar de a Irlanda ter um défice previsto para 2010 (14,7%) maior do que o de Portugal (8,3%) e da Grécia (12,2%), os «especuladores» deram mais importância às medidas efectivas de consolidação orçamental, nomeadamente ao corte da despesa pública corrente (redução de 10% dos salários dos funcionários públicos, entre outras medidas).
Sendo diferentes, nem todas as diferenças nos são favoráveis (ver quadro seguinte). Por exemplo a dívida externa bruta e o investimento internacional e a sua evolução nos últimos anos.
Tudo isto a propósito do artigo da Economist de 24 de Abril (The importance of not being Greece) que, admitindo as diferenças, considera algumas delas bastante negativas para Portugal, nomeadamente a falta de competitividade da economia e o fraco potencial de crescimento (ver gráfico), para os quais contribuem uma burocracia sufocante, escolas de má qualidade, sectores protegidos da concorrência e rigidez das leis laborais.
O balanço da Economist teria sido ainda mais negativo se não tivesse tomado como fiável a informação atribuída a José Sócrates dos efectivos do funcionalismo público se terem reduzido de 747.000 para 675.000. Porém, isso é pura conversa fiada – a Economist deveria ter perguntado ao primeiro-ministro como explica da alegada redução de 10% dos utentes da vaca marsupial pública ter resultado um aumento da despesa corrente de 16,1%, entre 2004 e 2007, e de 9,6% entre 2007 e 2010, em plena crise. É conversa fiada porque, em primeiro lugar, o governo ainda hoje não sabe quantos são exactamente os funcionários públicos. Em segundo lugar, porque essa redução a ter tido lugar, desconsiderando uns poucos milhares de mortos e sabendo-se que não há despedimentos na função pública e sendo a sua transferência para o sector privado em número significativo matéria de ficção, só podia ter sido por reforma (assim reduzindo apenas dez ou quinze por cento a despesa transferida para a CGA) ou para o sector público empresarial, ou seja mantendo a despesa corrente consolidada do Estado e dos seus apêndices ao mesmo nível.
O resultado de décadas de políticas intervencionistas e da omnipresença e omnipotência do Estado na economia só poderia ser o que é e os gráficos seguintes evidenciam claramente [fonte «Abril: pior depois do que antes (economicamente falando), Jorge Vasconcellos e Sá, jornal SOL de 30-04].
Ao ver estes gráficos, um marciano chegado a Portugal em 2010 seria tentado a concluir que, ao contrário da doutrina dominante, um regime totalitário pode ser uma melhor plataforma para o desenvolvimento do que um regime democrático e, em particular, um país fraco ao partilhar uma moeda forte poderá ficar ainda mais fraco. A primeira conclusão não pode ser dada como provada porque em Portugal, quer o regime totalitário, quer o democrático, foram infectados por um colectivismo secular deixado intacto pela morte de Salazar e aproveitado pela esquerdalhada durante o PREC para construir as bases do Estado Social Português, uma espécie de Estado Novo vivendo acima das suas posses e, por isso, irremediavelmente endividado. A segunda conclusão tem o fundamento dado pela falta das reformas indispensáveis e a permanência do Estado na economia e o seu intervencionismo na sociedade civil. Por isso, a adesão ao euro nesse contexto, ao proporcionar-nos crédito abundante e artificialmente barato, fez numa década o que de outro modo teria requerido várias.
Voltando ao Portugal-Grécia, para terminar, o igual é preocupante e o diferente nalguns casos é, por enquanto melhor, e noutros a médio prazo será pior, a não ser se o igual for tornado diferente.
Grécia 7,2% 44,1%
Portugal 2,9% 22,2%
[Fonte: CMA]
Tão diferentes quanto a probabilidade de incumprimento da dívida portuguesa resultante da avaliação dos «especuladores» é metade da grega. Então porquê insistir na diferença, em vez de insistir nas medidas de consolidação? Alguém escutou o governo irlandês a gritar a sua diferença? E não foi por não ter gritado que os «especuladores» deixaram de ver a diferença (ver gráfico seguinte - fonte: Citi Global Economics). Apesar de a Irlanda ter um défice previsto para 2010 (14,7%) maior do que o de Portugal (8,3%) e da Grécia (12,2%), os «especuladores» deram mais importância às medidas efectivas de consolidação orçamental, nomeadamente ao corte da despesa pública corrente (redução de 10% dos salários dos funcionários públicos, entre outras medidas).
Sendo diferentes, nem todas as diferenças nos são favoráveis (ver quadro seguinte). Por exemplo a dívida externa bruta e o investimento internacional e a sua evolução nos últimos anos.
Tudo isto a propósito do artigo da Economist de 24 de Abril (The importance of not being Greece) que, admitindo as diferenças, considera algumas delas bastante negativas para Portugal, nomeadamente a falta de competitividade da economia e o fraco potencial de crescimento (ver gráfico), para os quais contribuem uma burocracia sufocante, escolas de má qualidade, sectores protegidos da concorrência e rigidez das leis laborais.
O balanço da Economist teria sido ainda mais negativo se não tivesse tomado como fiável a informação atribuída a José Sócrates dos efectivos do funcionalismo público se terem reduzido de 747.000 para 675.000. Porém, isso é pura conversa fiada – a Economist deveria ter perguntado ao primeiro-ministro como explica da alegada redução de 10% dos utentes da vaca marsupial pública ter resultado um aumento da despesa corrente de 16,1%, entre 2004 e 2007, e de 9,6% entre 2007 e 2010, em plena crise. É conversa fiada porque, em primeiro lugar, o governo ainda hoje não sabe quantos são exactamente os funcionários públicos. Em segundo lugar, porque essa redução a ter tido lugar, desconsiderando uns poucos milhares de mortos e sabendo-se que não há despedimentos na função pública e sendo a sua transferência para o sector privado em número significativo matéria de ficção, só podia ter sido por reforma (assim reduzindo apenas dez ou quinze por cento a despesa transferida para a CGA) ou para o sector público empresarial, ou seja mantendo a despesa corrente consolidada do Estado e dos seus apêndices ao mesmo nível.
O resultado de décadas de políticas intervencionistas e da omnipresença e omnipotência do Estado na economia só poderia ser o que é e os gráficos seguintes evidenciam claramente [fonte «Abril: pior depois do que antes (economicamente falando), Jorge Vasconcellos e Sá, jornal SOL de 30-04].
Ao ver estes gráficos, um marciano chegado a Portugal em 2010 seria tentado a concluir que, ao contrário da doutrina dominante, um regime totalitário pode ser uma melhor plataforma para o desenvolvimento do que um regime democrático e, em particular, um país fraco ao partilhar uma moeda forte poderá ficar ainda mais fraco. A primeira conclusão não pode ser dada como provada porque em Portugal, quer o regime totalitário, quer o democrático, foram infectados por um colectivismo secular deixado intacto pela morte de Salazar e aproveitado pela esquerdalhada durante o PREC para construir as bases do Estado Social Português, uma espécie de Estado Novo vivendo acima das suas posses e, por isso, irremediavelmente endividado. A segunda conclusão tem o fundamento dado pela falta das reformas indispensáveis e a permanência do Estado na economia e o seu intervencionismo na sociedade civil. Por isso, a adesão ao euro nesse contexto, ao proporcionar-nos crédito abundante e artificialmente barato, fez numa década o que de outro modo teria requerido várias.
Voltando ao Portugal-Grécia, para terminar, o igual é preocupante e o diferente nalguns casos é, por enquanto melhor, e noutros a médio prazo será pior, a não ser se o igual for tornado diferente.
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