Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

15/09/2024

ARTIGO DEFUNTO: Omitir factos relevantes pode ser tão enganador do que falsificar factos

Jornal Eco

É certo que «os salários dos docentes em Portugal em 2023 eram 9,4% inferiores à média dos salários registados nos 38 países da OCDE», facto que descontextualizado levará muitos leitores a concluir que os professores portugueses são uns desgraçadinhos. 

Conclusão completamente falsa quando se comparam os salários médios em Portugal com os dos 38 membros da OCDE e se constata que os salários dos trabalhadores em Portugal em 2022 eram 37,3% inferiores à média dos salários registados nos 38 países da OCDE, facto que no contexto significa que os professores portugueses são relativamente privilegiados face aos restantes trabalhadores.

14/09/2024

ARTIGO DEFUNTO: Jornalismo económico ao nível das redes sociais

Jornal Eco

Para quem tenha dúvidas sobre o enorme disparate da peça com o título acima (que ao contrário do que é habitual até sintetiza bem o conteúdo da peça) remeto para o artigo "O Orçamento, a política e o jornalismo" de Helena Garrido de onde respigo o parágrafo seguinte:

«O Quadro Plurianual das Despesas Públicas nunca mereceu atenção mediática, apesar de todos os anos ser publicado. Este ano foi o centro das atenções, por várias razões. E como o Governo o enviou para o Parlamento atrasado e isolado e, dessa forma, para o espaço público, sem qualquer explicação ou contexto, de repente fomos confrontados com uma receita de impostos que atingia praticamente o valor do PIB que se pode prever para 2025. Era óbvio que isso não podia ser, o que não impediu que acabasse por ser essa a mensagem, com alguns títulos a apontar para um crescimento da receita de impostos da ordem dos 20% e até com a oposição a usar meias verdades para utilizar esse número.»

Sendo certo que o governo tem responsabilidades pela forma opaca como divulgou as Grandes Opções do Plano, a grande responsabilidade recai sobre o jornalismo tosco e profissionalmente incompetente que trata estes temas com um nível pouco diferente da ignorância e do primarismo que predominam nas redes sociais, ao mesmo tempo que se lamenta da concorrência destas.

13/09/2024

A política industrial nas economias de mercado é um sucedâneo dos planos quinquenais nas economias soviéticas (1)

Algures na segunda década deste século começaram a ser visíveis as consequências imprevistas e indesejadas de uma globalização que tirou da miséria centenas de milhões de pessoas nos países do Terceiro Mundo, entretanto rebaptizados de países em desenvolvimento, e trouxe ainda mais prosperidade aos países desenvolvidos. Entre essas consequências, duas em particular criaram na Europa e nos Estados Unidos um sentimento de insegurança nos trabalhadores dos sectores convencionais da economia: o aumento da desigualdade (muito exagerado pelos mídia) e a concorrência das economias emergentes, sobretudo da China, que tornou inviáveis empresas e mesmo sectores inteiros e destruiu milhões de empregos. Apesar das economias se terem adaptado e os efeitos no desemprego e nos níveis de vida não terem sido muito significativos, a percepção de insegurança foi muito forte e, entre outros efeitos, criou as bases para a emergência dos partidos iliberais à esquerda e à direita.

A resposta dos governos europeus e americano tem sido aumentar o intervencionismo estatal e entre as velhas políticas desenterradas do passado encontramos o que se chama tradicionalmente a política industrial, que podemos definir como um conjunto de medidas, políticas e iniciativas estratégicas adoptadas por um governo para dirigir e influenciar o desenvolvimento, o crescimento e a competitividade de sectores específicos de uma economia (esta entrada da Wikipedia faz um resumo aceitável).

No caso dos Estados Unidos, há um estudo muito interessante publicado há 3 anos pelo Peterson Institute for International Economics (PIIE) dos efeitos da adopção da política industrial num período de meio século (Scoring 50 years of US industrial policy, 1970–2020) que concluiu em síntese: 

«A política industrial pode salvar ou criar empregos, mas muitas vezes a um custo elevado. Um importante argumento político para a política industrial é salvar ou criar empregos em um sector ou local específico. Na maioria dos casos, a protecção à importação não cria uma indústria competitiva nos EUA e impõe custos extremos aos consumidores e às empresas por ano de trabalho economizado. A política comercial concentrada na abertura de mercados no exterior é uma aposta melhor. Escolher uma única empresa para desenvolver a tecnologia produz resultados inconsistentes.»

Alguns exemplos permitirão exemplificar e concretizar estas conclusões.

(Continua)

12/09/2024

Títulos inspirados (95) - Titilando mentes fracas com palavras fortes

A Euronext Lisboa é uma bolsa da terceira divisão de uma economia periférica e o seu índice começou por ser o PSI 20 e encolheu até ao PSI 16 de hoje que é constituído por ALTRI, BCP, Corticeira Amorim, CTT, EDP, EDP Renováveis, Galp Energia, Greenvolt, Ibersol, Jerónimo Martins, Mota-Engil. Navigator, NOS, REN, Sonae. O número total de empresas cotadas que já tinha sido 150 é hoje 53.

Além disso, a importância da Euronext Lisboa medida pela valorização tem vindo a decair como se vê quando se compara a evolução dos últimos 15 anos do PSI com, por exemplo, o SBF 120 (calculado com as cotações do CAC40 adicionado das 80 acções mais líquidas da Bolsa de Paris).  Enquanto o PSI se desvalorizou 7%, o SBF 120 valorizou-se no mesmo período 125%

Não é difícil imaginar que a bolsa de Lisboa nunca foi, não é e nunca será um terreno atractivo para grandes investidores, muito menos grandes fundos. É neste quadro que temos de entender o exercício patético desta peça do semanário de reverência com um título estilo agitprop à altura do conteúdo:  "Quem são os 'fundos abutres' que investem quase €300 milhões para a bolsa nacional se afundar?". Estes "fundos abutres" são, segundo o jornalista de causas em causa, fundos que praticam o short selling ou venda a descoberto, uma prática que consiste em vender um activo esperando comprá-lo mais tarde a uma cotação menor, prática especulativa o que só faz sentido se o short seller tiver expectativas fundadas que o activo em causa está sobreavaliado o que em mercados evoluídos é considerado uma prática que reduz o risco dos investidores e aumenta a liquidez e a estabilidade dos mercados. 

Como quer que seja, como a própria peça reconhece, esses "fundos abutres" tem uma posição total que corresponde a menos de 0,5% da capitalização bolsista das 11 empresas portuguesas onde detêm posições, ou seja peanuts. Se a bolsa de Lisboa se afunda, que é o que tem vindo a fazer nos últimos 15 anos, isso deve-se tanto aos fundos abutres como a mortalidade do gado em Portugal se deve ao Gyps fulvus, uma espécie necrófaga.

11/09/2024

CASE STUDY: Trumpology (80) - Erratic ideas, inconsistency and rambling speech

More trumpology.

Thursday last week, at the Economic Club of New York, Donald Trump was asked a very specific question (video):

 “If you win in November, can you commit to prioritizing legislation to make child care affordable, and if so, what specific piece of legislation will you advance?”

«Trump’s reply was not only not specific; it was incoherent. After a little throat-clearing about how “important” an issue child care is, he seemed to turn to a discussion of his nebulous idea to increase tariffs on foreign imports, although even that is hard to ascertain. Trump said:

"But I think when you talk about the kind of numbers that I’m talking about, that—because, look, child care is child care. It’s, couldn’t—you know, there’s something … You have to have it. In this country, you have to have it.

But when you talk about those numbers compared to the kind of numbers that I’m talking about by taxing foreign nations at levels that they’re not used to, but they’ll get used to it very quickly. And it’s not going to stop them from doing business with us, but they’ll have a very substantial tax when they send product into our country.

Those numbers are so much bigger than any numbers that we’re talking about, including child care, that it’s gonna take care. We’re gonna have—I, I look forward to having no deficits within a fairly short period of time, coupled with, uh, the reductions that I told you about on waste and fraud and all of the other things that are going on in our country—because I have to stay with child care. I want to stay with child care, but those numbers are small relative to the kind of economic numbers that I’m talking about, including growth."

In a rare occurrence, Trump here seems to acknowledge that he has diverged from the topic at hand. But he suggests that tariffs are, for some reason, the topic worth talking about instead. He continues:

"But growth also headed up by what the plan is that I just, uh, that I just told you about. We’re gonna be taking in trillions of dollars, and as much as child care is talked about as being expensive, it’s, relatively speaking, not very expensive compared to the kind of numbers we’ll be taking in.

We’re going to make this into an incredible country that can afford to take care of its people, and then we’ll worry about the rest of the world. Let’s help other people. But we’re gonna take care of our country first. This is about America first. It’s about: Make America great again. We have to do it, because right now we’re a failing nation. So we’ll take care of it. Thank you. Very good question."»

(The Atlantic)

__________________

By the way, I can understand that a cynical, realistic and rational person could support Mr. Trump in the likely wrong hope that he will defend what that person would like to be defended, and for that reason the person silences a critical judgment about Mr. Trump's character flaws, his pretending religious faith, his intellectual onanism, his megalomania, the dangerous volatility of his erratic ideas and even the inconsistency and rambling of his speeches. In this case, the reason of that person could be similar to the reason allegedly attributed to Mr. Roosevelt for defending the Somoza dictator: «Somoza may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch».

I do not understand the motivation of the sincerely devotees of Mr. Trump.

10/09/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (24)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Esta oposição não viveu em Portugal nos últimos 25 anos

Roubei o título a Henrique Monteiro que concluiu ser esta a possível explicação para muitos dos inexplicáveis temas e da sua inexplicável oportunidade, alguns deles abordados nestas crónicas, que o PS acolitado pelos parceiros da geringonça tem levantado nos últimos quatro meses.

«A educação é a nossa paixão»

Segundo as contas do Expresso, na quarta-feira passada havia 1.536 horários por preencher de resultariam quase 180 mil alunos do básico e do secundário com pelo menos uma disciplina sem professor. Ora, não sendo conhecido nenhum êxodo súbito de profs nem o aumento súbito de 180 mil alunos, a coisa só pode dever-se aos 8 anos de governos do Dr. Costa durante os quais o número de alunos no ensino não universitário se reduziu em 75 mil e o número de professores aumentou 10 mil. Então, perguntareis, como é possível faltarem professores? Por duas razões: (1) aumento do número de disciplinas, com dois propósitos: (a) criar mais lugares de profs e (b) adicionar disciplinas de doutrinamento woke por encomenda dos parceiros da geringonça; e (2) a erupção de milhares de baixas de longo prazo de profs no início de cada ano lectivo.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

Em 2015 o Dr. Costa prometeu que mais meio milhão de “utentes” passariam a ter médico de família, reduzindo para metade os cerca de um milhão que ainda não tinham. Sete anos depois em 2022, o milhão do governo neoliberal transformou-se em um milhão e quatrocentos mil portugueses sem médico de família e em Agosto atingiu chegou quase a um milhão e setecentos mil. Espera-se a todo o momento que o Dr. Pedro Nuno responsabilize o governo AD pelo descalabro.

A bazuca está encravada (talvez seja melhor assim)

Até ao final de Agosto, dos 16,6 mil milhões da bazuca, financiada com o dinheiro dos contribuintes europeus, Bruxelas entregou ao governo português 8,5 mil milhões e este pagou aos “beneficiários” 5,2 mil milhões (fonte). Se grande parte dos fundos já entornados numa economia que não sabe o que fazer com eles foi mal aplicada, imagine-se como serão torrados os milhões ainda não entregues com a pressa de não os “perder”.

«Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central»

No último balanço que fizemos sobre a EFACEC em Março, concluímos que decorridos mais de quatro anos da nacionalização, a facturação da EFACEC caiu de 430 milhões para menos de 100 milhões, foram torrados mais de 300 milhões e o total de perdas do Estado e dos outros accionistas atingiria 513 milhões. Cinco meses depois, sabe-se que o total de perdas pode chegar aos 564 milhões.

Continua a saga da aprovação de um orçamento que ninguém ainda conhece

O Dr. Pedro Nuno já disse tudo sobre a aprovação do OE2025 e o seu contrário e agora a Drª Alexandra Leitão, que também já confessou que gostaria de ser um dia a chefe socialista, anunciou que o PS não aprovará um orçamento “de direita” de um “governo ultraminoritário” (ela esqueceu que o Dr. Costa formou o seu primeiro governo "ultraminoritário" com 86 deputados, derrubando um governo PSD-CDS com 107 deputados). O Dr. Ventura, falhada a troca da sua aprovação por um referendo sobre a imigração, também já disse que não quer conversas sobre este tema. A Dr. Mortágua juntou-se-lhe ameaçando o PS se este viabilizar o orçamento.

Take Another Plan. E repente fez-se luz. Se parece um pato, nada como um pato e grasna como um pato, provavelmente é um pato

Decorridos nove anos da privatização pelo governo PSD-CDS resultante de uma obrigação do memorando de acordo negociado e também assinado pelo governo socialista em 2011, decorridos mais de oito anos da renacionalização em 2016 pelo primeiro governo do Dr. Costa que pagou aos accionistas privados mais do que estes aplicaram e quatro anos depois começou a torrar um montante que atingiria 3,2 mil milhões de euros, incluindo pelo meio trapalhadas e escândalos vários com Mme Ourmières-Widener, decorrido mais de um ano da aprovação do relatório final da comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP, decorrido quase um ano do Dr. Costa ter admitido privatizar a TAP “na totalidade” depois de a ter renacionalizado oito anos antes, surge vindo do nada um relatório da Inspecção-Geral de Finanças, por coincidência dias depois do Dr. Montenegro ter anunciado que Maria Luís Albuquerque seria proposta para comissária europeia, relatório cujo texto não foi tornado público e está a ser "interpretado" pela mídia como denunciando ilegalidades e apontando responsabilidades à mesma Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças à época da privatização da TAP. C'est ça.

[Para quem queira perceber melhor a distorção do agitprop da esquerdalhada, pode ver neste vídeo o que disse na audição da CPI no parlamento o Dr. Lacerda Machado, um amigo do peito do Dr. Costa e uma personagem insuspeita de simpatia pelo governo PSD-CDS que negociou a privatização.]

09/09/2024

Crónica de um Governo de Passagem (17)

Navegando à bolina
(Continuação de 16)

Previsível choque da Boa Nova com as consequências imprevistas

Os apoios aos jovens até aos 35 anos para compra de habitação arriscam-se a acelerar o aumento dos preços de venda e das rendas que no 1.º trimestre aumentaram respectivamente 7% e 10,5%. É o que geralmente acontece quando se pretende resolver os problemas pelo lado da procura.

Apesar de haver mal que nunca acaba, não há bem que sempre dure

O índice da produção industrial em Julho deste ano desceu 4% em relação ao mesmo período do ano passado e o peso das exportações no PIB que o ano passado ultrapassaram 50%, no primeiro semestre deste ano ficaram em 47% (convém saber que os 50% do ano passado se deveram mais ao aumento dos preços e do que ao aumento físico das exportações). 

O governo AD também têm dificuldades com a aritmética…

Depois de três alterações da lista das medidas concluídas do Plano de Emergência da Saúde, a ministra considerou concluídas 8 das 15 medidas urgentes a executar em 3 meses.

… e vai aproveitando a carga fiscal que o PS lhe ofereceu

Nos sete primeiros meses deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, as receitas de impostos aumentaram quase 10%, destacando-se o IRC que aumentou 22,3% e o imposto sobre os produtos petrolíferos que aumentou 15,7%.

Dívida pública. Boas e más notícias

Banco de Portugal

A boa notícia é que a dívida bruta diminuiu em Julho. A má notícia é que é um pouco mais alta do que no final de 2022 e 12 mil milhões mais elevada do que no final de 2023 quando começou a aumentar por via das medidas do governo do Dr. Costa para salvar a eleição.

08/09/2024

Mitos (340) - Da produção de graduados não nasce o desenvolvimento (2) - Vamos todos para o aeroespaço

Continuação de (1)

Seguindo a sugestão de um dos comentários ao post anterior vou fazer um breve escrutínio ao artigo Engenharia Aeroespacial: “As empresas não querem estar à espera dos alunos, estão a instalar-se cá para aceder aos nossos recursos humanos”,  publicado no mesmo jornal na sequência do artigo anterior, com uma entrevista ao director do Departamento de Mecânica da FEUP, entrevista que se destina obviamente a promover o curso de Engenharia Aeroespacial, promoção a que o Expresso se presta con gusto.

Quem lê regularmente e com atenção meia dúzia de jornais, percebe sem dificuldade que um grande número de jornalistas se dedica a este jornalismo promocional que trata as matérias a promover com completa ausência de sentido crítico e rigor, desculpando-se com as boas intenções de promoção do que "está certo" ou "é bom", sobretudo quando ao mesmo tempo se exaltam os supostos feitos dos tugas. 

Por falar em exaltação, temos a série de posts Portugueses no topo do mundo que lhe é dedicada, e acreditamos que emana da síndrome que Eduardo Lourenço descreveu como o estado de «permanente representação, tão obsessivo é neles (os portugueses) o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo».

No seu esforço promocional, o director do Departamento de Mecânica da FEUP «não tem dúvidas de que o espaço pode funcionar como alavanca da economia nacional e destaca alguns números auspiciosos. Temos cerca de 18.500 pessoas já a trabalhar neste ecossistema. Temos verbas geradas de um €1,72 mil milhões. Temos cerca de 30 institutos de investigação e laboratórios de investigação associados a este setor”».

Num país que tinha há três anos 119 observatórios, não ponho em dúvida que o ecossistema aeroespacial tenha 30 institutos de investigação e laboratórios. Ignorando, porém, o que sejam "verbas geradas" e supondo que a criatura se refere ao Valor Acrescentado Bruto (VAB), os €1,72 mil milhões são quase o triplo do VAB da indústria têxtil, mais do que o das telecomunicações e fariam do ecossistema Engenharia Aeroespacial o sector industrial com maior VAB. Se a coisa tem esta dimensão a solução para a economia portuguesa é simples: esqueçamos o calçado, esqueçamos a Auto-Europa e vamos todos para o aeroespaço.

07/09/2024

ARTIGO DEFUNTO: Pensamento mágico e factos alternativos ao serviço do jornalismo de causas

Há duas ou três semanas, primeiro a CNN e mais tarde outros mídia, citaram um working paper com um título ("Taxing extreme wealth: What countries around the world could gain from progressive wealth taxes") mais adequado a um panfleto do que a um paper, que foi publicitado com títulos vibrantes capazes de fazer atingir o orgasmo a qualquer esquerdista. Desde logo o título da peça da própria CNN: «Se Portugal taxasse os super-ricos encaixaria mais 3.589 milhões de euros. Dava para pagar três vezes o IRS Jovem».

Confesso que se me acendeu o desconfiómetro pelo tom igualmente vibrante e o pendor demagógico do paper e pelo perfil áctivista da instituição que o publicou - Tax Justice Network (TJN), um grupo de pressão britânico de pendor anticapitalista.

Felizmente, o economista Luís Aguiar-Conraria, que se quisesse arrumá-lo numa caixinha diria que se enquadra na esquerda, o que o faria ver com bons olhos um panfleto que promove uma das bandeiras da esquerda, porque é da facção bem-pensante, não embarcou na treta demagógica do working paper e "escavou-o". Fez umas contas e concluiu na peça "Populismo fiscal de esquerda" na sua coluna semanal do Expresso que o valor avançado pela CNN para o resultado da taxação dos super-ricos em Espanha, cujo "Imposto Solidário sobre Grandes Fortunas" que serviu da base ao paper do Tax Justice Network , é 15 vezes superior a uma estimativa realista. Estamos conversados.

06/09/2024

Mass deportation, diz ele

Desde 2015 que Donald Trump ameaça deportar muitos (ou todos, conforme os dias) dos mais de 10 milhões de emigrantes ilegais nos Estados Unidos, o que, além de praticamente irrealizável a essa escala em apenas alguns anos, por várias razões incluindo as negociações difíceis com os países de origem. É uma promessa para os seus devotos e uma ameaça para os seus detractores não suportada pelos créditos do Sr. Trump no seu mandato de 2017–2021.

 Removal = Deportation; Return = Saída voluntária ; 
Title 42 = Medidas sanitárias durante a Covid
 (Fonte

Na verdade, durante o mandato do Sr. Trump foram deportados menos emigrantes do que nos mandatos de Barack Obama apesar de lhe chamarem “deporter-in-chief".

Na imigração, como em tudo o resto, os propósitos do Sr. Trump são voláteis e as realizações ficam muito longe das suas panglossianas declarações, o que para o próprio não constitui qualquer problema e, pelos vistos, para os seus devotos também não. Num caso, como no outro, porque o contacto com a realidade é escasso e a devoção é muita, sendo o seu objecto o mesmo em ambos os casos.

05/09/2024

Mitos (339) - Da produção de graduados não nasce o desenvolvimento

Adaptado do Expresso 

Se admitirmos (uma hipótese talvez ousada) que as notas para admissão no ensino universitário em Portugal traduzem o talento dos candidatos, 250 dos alunos portugueses mais talentosos vão estudar matérias e concluir licenciaturas e mestrados, e talvez doutoramentos, em áreas onde com altíssima probabilidade não vão encontrar colocação profissional em Portugal e, como tantos outros, emigrarão. (*)

É apenas mais um exemplo do que baptizo de teorema Pulido Valente, em homenagem ao Vasco que nos faz tanta falta, que postula que nenhum país se desenvolve à custa de aumentar o número de graduados. Teorema do qual resulta o seguinte corolário:

A produção de graduados favorece o desenvolvimento dos países para onde emigram os graduados provenientes dos países que esperavam desenvolver-se à custa desses graduados.

______________

(*)  Em boa verdade, não é apenas nas áreas mais exóticas que os graduados emigram. Até na prosaica engenharia civil emigram mais de 1/3 dos graduados, segundo o presidente da Ordem dos Engenheiros da Região Sul.

04/09/2024

CASE STUDY: Um imenso Portugal (65) - O regime petista de Lula é uma ameaça à liberdade de expressão

Outros imensos Portugais

«Um juiz do Supremo Tribunal Federal ordenou na sexta-feira a suspensão da rede social X no Brasil, depois de Elon Musk se ter recusado a nomear um representante legal, conforme a ordem da justiça brasileira, avança a AP.

A decisão desta sexta-feira agrava ainda mais a disputa que dura há meses entre o juiz Alexandre de Moraes e Musk, o proprietário da rede social. Em abril, Moraes ordenou a suspensão de dezenas de contas por alegadamente espalharem desinformação, pedido que Musk denunciou como censura.» (Fonte)

Liberdade de expressão é aceitar a livre expressão de opiniões com as quais não se concorda, mas, pelos vistos, para o petismo lulista, a liberdade de expressão só se aplica às opiniões conformes. Depois do fim das ditaduras militares, o Brasil costumava ser uma democracia imperfeita. Sob a tutela do petismo lulista o Brasil caminha para deixar de ser uma democracia, ainda que defeituosa.

Disclaimer: Este post nada tem a ver com Elon Musk e muito menos modifica a minha opinião sobre a criatura, opinião que se pode ler aqui ou ali e noutros lugares.

03/09/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (23)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Agenda fracturante que se espera seja também facturante

A coisa partiu dos boys socialistas que estagiam na JS: aumentar de 10 para 12 semanas o prazo para o aborto, perdão, para a IVG praticada pelas pessoas que menstruam. E, já agora, porque não aumentar para 38 semanas?

Os boys tiveram a ideia, as redacções prontamente trombetearam a boa nova e a líder parlamentar Dr.ª Alexandra Leitão, uma pessoa com sobrepeso que menstrua e foi ministra do Dr. Costa, já mandou dizer para os jornalistas amigos que apoia a proibição, a que ela chama «regulamentação clara», da objecção de consciência dos médicos para garantir a liberdade das pessoas que menstruam abortarem.

O Dr. Pedro Nuno não tem mão nela

Refiro-me à mesma Dr.ª Alexandra Leitão a desmentir o Dr. Pedro Nuno, que tem tentado dar uma no cravo e outra na ferradura, com um definitivo «não contem com o PS» para aprovar o OE.

Os membros da Comissão Socialista de Censura têm problemas de audição

A Entidade Reguladora para a Comunicação (ERC) não poupou esforços de intimidação do jornalista José Rodrigues dos Santos pela sua entrevista à Dr.ª Temido, na qualidade de candidata ao PE, pelos «comentários laterais a afirmações da entrevistada que se situam no plano da opinião» entre os quais incluiu «é o caso da Ucrânia» que os membros da ERC ouviram como «por acaso, não creio».

Choque da realidade com a Boa Nova

Lembram-se do futuro do hidrogénio verde que o governo do Dr. Costa pela boca do Dr. Galamba augurava brilhante? Primeiro foi o consórcio Engie-Shell a anunciar o cancelamento do projeto de hidrogénio verde em Sines e agora foi a EDP a "emagrecer" outro em Alenquer.

Fazer do Banco de Portugal um púlpito promocional do governador é uma tradição do PS

O PS tem uma grande tradição nesta matéria. O Dr. Constâncio que foi governador do BdP duas vezes em 1985-1986 e 2000-2010, intercaladas com a liderança do PS em 1986-1989, foi um precursor do Dr. Centeno que saiu directamente do ministério das Finanças para o BdP e agora se promove e está a ser promovido a candidato pelo PS a Belém. Como parte dessa promoção, o Dr. Centeno esforça-se em contramão da ética profissional por repetidamente pré-anunciar a baixa dos juros pelo BCE de cujo Conselho Geral faz parte com governador do BdP.

A imitação é a melhor homenagem

O Dr. Pedro Nuno acusa o Governo do Dr. Montenegro de «aproveitar a boa situação orçamental herdada para medidas eleitoralistas» copiando os governos do Dr. Costa de que ele fez parte.

Ele tem toda a razão. A Dr.ª Albuquerque tem um «legado de austeridade» inevitável pelo legado da bancarrota do Eng. Sócrates

O Dr. Pedro Delgado Alves, vice-presidente do PS, não quis ficar atrás do outro Dr. Pedro, e associou à Dr.ª Albuquerque, acabada de ser proposta para comissária europeia, um «legado de austeridade» (por ter executado as medidas negociadas pelo Dr. Teixeira dos Santos), austeridade tornada indispensável pelo legado da bancarrota do governo socialista do Animal Feroz.

Take Another Plan

Depois de se terem felicitado pelos lucros de 177 milhões em 2023, os dirigentes da TAP felicitaram-se agora pelos 72 milhões no segundo trimestre que lá compuseram os prejuízos quase iguais do 1.º trimestre. Esqueceram-se de mencionar que a TAP recebeu 3,2 mil milhões de subsídios o que lhe poupou uns 200 milhões de juros por ano e ficou dispensada de margens para amortizar os 3,2 mil milhões.

02/09/2024

Crónica de um Governo de Passagem (16)

Navegando à bolina
(Continuação de 15)

Para o governo AD «o SNS é um tesouro», também?

Das 15 medidas urgentes na saúde que o governo definiu para três primeiros meses só 5 foram adoptadas (depois do artigo do Observador foram descobertas mais 5). Em contrapartida, no Hospital de Santa Maria foi adoptada uma medida não prevista – processos judiciais contra quem ofenda “a honorabilidade, reputação e bom nome” dos profissionais

Com 17 urgências de obstetrícia e ginecologia fechadas o governo do Dr. Montenegro tenta não ficar atrás dos governos do Dr. Costa. Trata-se, tudo o indica, de uma incapacidade de gerir as escalas de férias que os mídia e os sindicatos da função pública tentam transformar numa falta de médicos num país que tem mais médicos do que 24 outros países da UE.

O governo AD ainda tem de pedalar muito para chegar ao nível dos governos do Dr. Costa

O governo AD ainda vai muito longe do score do primeiro governo PS que por esta altura já ia a caminho das 300 demissões, mas está a fazer o possível por não ficar para trás e no caso do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana já vai na terceira tentativa.

Misturar alhos com bugalhos

O Dr. Sebastião Bugalho, a quem chamavam jornalista apesar de fazer comentário político, eleito na lista ao parlamento europeu da AD, agora chamam-lhe eurodeputado apesar de na melhor tradição pátria continuar a fazer comentário político na sua coluna do semanário de reverência, um exemplo de que a frescura na prática política é conciliável com a tradição.

L’arroseur arrosé

A Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna que tutela as polícias foi assaltada e foram roubados oito computadores, não se sabe com que propósito nem quem o fez porque as câmaras estavam avariadas e o Dr. Montenegro não havia prometido mandar repará-las.

O turismo que já salvou o Dr. Costa pode não ser suficiente para salvar o Dr. Montenegro (restam os contribuintes)

O PIB do 2.º trimestre praticamente estagnou (0,1%) em resultado da redução da procura externa. O que não estagnou foram as receitas do Estado na óptica da contabilidade pública a cavalo do IRC que subiu 36% no período até Julho em relação ao ano passado.

E também não estagnou o endividamento da economia nacional que no 1.º semestre aumentou 15,6 mil milhões (dos quais quase 90% se ficaram a dever ao aumento da dívida pública) para 811,3 mil milhões.

01/09/2024

Dúvidas (375) - A Alemanha que no passado era eficaz e aborrecida será agora apenas aborrecida?

A eficácia, isto é, fazer as coisas certas, é uma qualidade que até há uns anos não hesitaria em atribuir  aos alemães e à Alemanha, que por razões profissionais conheci razoavelmente. Já quanto à eficiência, isto é fazer as coisas que têm de ser feitas usando o mínimo de recursos, hesitaria.

Isso foi no passado, digamos até aos anos oitenta, vá lá, noventa. Desde há uma década ou duas as coisas complicaram-se. Dei-me conta disso pela primeira vez há uns 20 anos em Berlim, onde nessa época  se estava já há 10 anos a projectar o novo aeroporto Brandenburg de Berlim que ficou pronto 30 anos depois em 2020, por um custo 3,5 superior ao orçamentado (2,2 mil milhões de euros), depois de terem sido anunciadas 7 datas de inauguração, corrigidos mais de 100 mil defeitos e substituídos 170 mil km de cabos defeituosos.

E Brandenburg não foi um caso único. A estação central de Estugarda era para ser aberta no final de 2019 e agora prevê-se estar terminada em 2025 pelo triplo do custo orçamentado. A sala de concertos Elbphilharmonie em Hamburgo foi concluída por um custo de quase 900 milhões de euros, doze vezes superior ao orçamentado. A renovação do Pergamonmuseum em Berlim, que dispõe de uma das melhores colecções de arte grega, romana e etrusca já decorre há 14 anos e poderá levar mais 19 anos e custará 1,5 mil milhões de euros.

Será tudo assim? Não, não é. Esses são exemplos de projectos da responsabilidade do Estado alemão. As empresas Mittelstand, as PME alemãs, muitas delas empresas familiares e quase metade exportadoras, são altamente eficientes e constituem a coluna vertebral da economia alemã, para não falar das 20 ou 30 maiores grupos industriais e de serviços com volume de negócios entre os 30 mil milhões e 350 mil milhões (1,3 vezes o PIB português), alguns deles líderes mundiais nos respectivos mercados.