30/09/2024

Crónica de um Governo de Passagem (20)

Navegando à bolina
(Continuação de 19)

Em matéria de peditório o Dr. Montenegro não fica atrás do Dr. Costa

Primeiro foi o anúncio pelo ministro da Agricultura de que o governo iria pedir “ajudas” a Bruxelas para compensar os agricultores afectados pelos incêndios. De seguida, o Dr. Montenegro deu a boa nova que Frau Von der Leyen autorizara a utilização de 500 milhões de euros do fundos de coesão.

A arimética incendiária do peditório

Henrique Pereira dos Santos (que sabe mais disto a dormir que eu acordado) estimou um valor de 100 euros por hectare de três em três anos como um ponto de partida razoável para assegurar a limpeza da floresta, ou seja 33 euros por ano/hectare. O custo total anual da limpeza da floresta de 3,2 milhões de hectares seria assim de cerca de 106 milhões de euros e, com este valor anual, os 500 milhões de euros do peditório dariam para financiar quase 5 anos de limpeza da floresta. É só fazer as contas, como disse o Sr. Eng. Guterres a propósito do PIB.

[Aditamento: seguindo a ideia de Mira Amaral, a acrescentar aos 33 euros por ano/hectare a pagar aos proprietários poderia somar-se o rendimento de venda dos resíduos florestais depositados em ecopontos florestais às centrais de biomassa que produziriam electricidade com tarifas subsidiadas justificadas pelas externalidades positivas] 

Contas certas sustentadas pelo saque fiscal

Graças a um aumento da carga fiscal de 34,4% no 1.º semestre do ano passado para 36% no mesmo período deste ano, apesar do aumento de 7,5% da despesa pública, o superavit no mesmo período aumentou de 1,1% para 1,2%.

Em matéria de demissões o Dr. Montenegro é uma sombra das performances do Dr. Costa

Escreve o semanário de reverência que este governo já fez 90 mudanças de quadros dirigentes, como se fosse um feito notável e não é. Segundo o mesmo semanário o Dr. Costa ao fim de três meses já tinha um score de 273 demissões.

O socialismo será alcançado quando o salário mínimo for igual ao salário médio

O governo AD também não quer fica atrás do governo socialista em matéria de salário mínimo e propõe-se obrigar as empresas a pagar um salário mínimo de 870 euros em 2025 e de 1.010 euros em 2028.
 
mais liberdade

Sabendo-se que quase todos os trabalhadores com salário mínimo estão nas micro e nas pequenas empresas, tal significaria que muitas delas poderiam ser inviáveis não fora a prodigiosa imaginação dos fura-vidas tugas que levará a que recorram ainda mais intensamente à economia paralela.

Este IRS não é para velhos

Parece que o governo não quer abrir mão do IRS Jovem medida que, além de ser pouco eficaz para reter os jovens profissionais como concluiu o FMI, constitui uma discriminação injusta e inconstitucional como defendeu o professor Xavier de Basto e, como Helena Garrido escreveu levaria os mais velhos a pagar quase quatro vezes mais de IRS.




29/09/2024

ARTIGO DEFUNTO: Omitir factos relevantes pode ser tão enganador como falsificar factos (2)

Há duas semanas mostrei no post anterior que, ao contrário do que o artigo do Jornal Eco insinuava, os professores portugueses são relativamente privilegiados no contexto dos salários portugueses.

Por coincidência, ou não, o site +Liberdade publicou alguns dias depois o diagrama seguinte.

mais liberdade

E o que mostra o diagrama? Do lado direito confirma que, de facto, os professores portugueses têm salários em paridades de poder de compra 17% mais baixos do que a média dos 38 países da OCDE  o que é normal visto que estamos a falar dos países mais ricos do mundo com PIB per capita  mais elevado.

O lado esquerdo do diagrama mostra que «os professores portugueses ganham cerca de 35% acima da média dos trabalhadores portugueses com formação superior. Na OCDE, em média, os professores ganham -12% que a média dos trabalhadores com ensino superior. Ou seja, em termos comparativos, face aos salários médios em cada país, os números revelam que a classe docente portuguesa é mais valorizada em termos de rendimentos que os professores de outros outros países». 

28/09/2024

Ser de esquerda é... (28) - ... é praticar a mentira de causas e, já agora, o humor de causas

A estória resumida é a seguinte (a estória completa está contada aqui pela deputada municipal Margarida Bentes Penedo): o executivo da câmara de Lisboa presidida pelo Dr. Medina abriu em 2016 um concurso para a colocação de painéis digitais publicitários cujo júri aprovou a proposta da JC Decaux, incluindo as localizações dos painéis que agora foram contestadas pelo Berloque de Esquerda. Por razões administrativas o contrato só foi assinado pelo actual executivo depois de aprovado em Setembro de 2022 por quase todos os vereadores, incluindo os do Berloque de Esquerda, cujas deputadas municipais Dr.ª Escaja e Dr.ª Teixeira na assembleia municipal do dia 17 acusaram o Eng. Moedas de mentir ao dizer a verdade sobre quem tinha decidido e aprovado as localizações.

Foi o suficiente para o agitprop esquerdalho iniciar o processo habitual propagando os seus factos alternativos pelos trombones dos jornalistas amigos que produziram umas dezenas de peças até que um artigo do Público repôs a verdade. Um dos trombones foi o humorista de causas Ricardo Araújo Pereira no domingo passado no seu programa da SIC, onde, além de reproduzir a mentira, já depois do referido artigo do Público, fez o seu número habitual de imitação da voz de falsete do Eng. Moedas.

Esta gente não tem emenda e sempre que lhes dá jeito mentem pelas suas "boas causas".

Outros "Ser de esquerda é..."

27/09/2024

Mitos (341) - O contrário do dogma do aquecimento global (XXXI) - Pero que las hay, las hay

Outros posts desta série

Em retrospectiva: que o debate sobre o aquecimento global, principalmente sobre o papel da intervenção humana, é muito mais um debate ideológico do que um debate científico é algo cada vez mais claro. Que nesse debate as posições tendam a extremar-se entre os defensores do aquecimento global como obra humana – normalmente gente de esquerda – e os outros – normalmente gente de direita – existindo muito pouco espaço para dúvida, ou seja para uma abordagem científica, é apenas uma consequência da deslocação da discussão do campo científico, onde predomina a racionalidade, para o campo ideológico e inevitavelmente político, onde predomina a crença.
______________

A revista Science acabou de publicar um interessante artigo («A 485-million-year history of Earth’s surface temperature») com os resultados de estimativas  por uma equipa de investigadores de universidades americanas e britânicas (Emily J. Judd da universidade do Arizona e seis outros investigadores) das temperaturas médias globais à superfície a partir de mais de 150 mil provas fósseis abrangendo um período de 485 milhões de anos. O estudo revelou que as temperaturas variaram muito mais do que até agora se pensava, como se pode ver no diagrama abaixo, e confirmaram o papel decisivo do dióxido de carbono nas mudanças de temperatura. 
 
[PhanDA designa o método adoptado no estudo para estimar as temperaturas médias globais à superfície
durante o éon Farenozóico que abrange a existência de vida na Terra] 

Não sendo esta a minha praia, remeto os interessados para a leitura do paper e apenas saliento que as conclusões evidenciam a falta de fundamento da tese implícita na dramatização mediática do aumento das temperaturas globais de que os terráqueos desde a Revolução Industrial estão a subverter uma suposta harmonia climática existente num passado idílico. Como confirmam «uma forte correlação entre o dióxido de carbono atmosférico (CO2) e as temperaturas médias globais à superfície, identificando o CO2 como o controlo dominante nas variações no clima global fanerozóico e sugerindo uma sensibilidade aparente do sistema terrestre de ~ 8 ° C» . Como ainda confirmam os aumentos das temperaturas de natureza antropogénica nos últimos 300 mil anos, que contudo não são significativos à escala do Fanerozóico e, segundo Emily J. Judd  em entrevista ao Washington Post, «mesmo nos piores cenários, o aquecimento provocado pelo homem não empurrará a Terra para além dos limites da habitabilidade».

De onde, me permito concluir que se, por um lado o estudo mostra que o histerismo climático não parece ter fundamento, por outro confirma que as mudanças climáticas estão de facto a ocorrer e, ainda que possam não ter as consequências que o histerismo climático trombeteia, têm consequências e seria inteligente fazer o que pudermos para mitigar os seus efeitos.

26/09/2024

CASE STUDY: A Madeira como região de culto (11) - O herdeiro do Bokassa das Ilhas

Sequela de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9) e (10)

O herdeiro (H. Monteiro)
Durante uns três anos e picos publiquei vários posts desta série dedicados à governação e à pessoa do Dr. Alberto João Jardim, a quem muito anos atrás o Dr. Jaime Gama prantou o cognome de Bokassa das Ilhas. Com a sua substituição pelo Dr. Miguel Albuquerque, uma figura aparentemente menos caricaturável, interrompi a série até que nos últimos tempos, em que se tornou mais notória a emergência do mesmo tipo de governação e de um estilo trauliteiro semelhante, senti um impulso incontornável para retomar a série, desta vez dedicada ao substituto do Dr. Jardim que, com o seu ar sofredor e postura vitimizada, fica muito longe do substituído.
   
O pretexto para retomar a série foi a louvável preocupação do Dr. Albuquerque que face aos oito apparatchiks detidos e às suspeitas que recaíram sobre os três membros do seu governo, se manifestou contra o recurso às denúncias anónimas que «só abre as portas ao populismo», populismo instalado há cinquenta anos na região pela mão do seu antecessor e agora continuado pela mão do sucessor. 

25/09/2024

The hypocrisy of Iranian revolutionary elites. First they chant death to West, then they go to West

«Growing up, Iran’s aghazadehs, the children of the elite, chanted death to America each morning at school. But as soon as they had finished their education, they set off in search of the American dream. Iran touts its pivot to Russia and China, but the aghazadehs of the Islamic Republic still want to go West.

Among them are close relatives of two of the front-runners in Iran’s presidential election on June 28th, Ali Larijani and Mohammad Qalibaf. They have settled in Britain and Canada. The supreme leader, Ayatollah Ali Khamenei, has several family members in Britain and France, including his nephew, Mahmoud Moradkhani. Grandchildren of the founder of the Islamic revolution, Ayatollah Ruhollah Khomeini, have settled in Canada. According to one outraged former minister, 5,000 aghazadehs live in America, the Great Satan, alone.

How many go to bury the regime and how many to praise it is hard to gauge. Mr Khamenei’s nephew calls for the death of his uncle. By contrast, Maasumeh Ebtekar, who was a spokesperson for the students who seized the American embassy in 1979, says she moved to Canada to lambast her enemy better (and her son went to America). Some fill Iran’s Islamic centres in Western capitals and spread the Islamic Republic’s teachings. Others allegedly bust sanctions, for instance by setting up gambling websites to launder money. Still more move in search of knowledge. Mr Larijani’s brother lectures in cyber-security at the Glasgow Caledonian University in Scotland. Most come simply for the opportunities they lack at home. Freed from their parents’ scrutiny, they post scenes of their sybaritic lifestyles online.

They may yet become an election issue. The Guardian Council, a quango of clerics and lawyers, will vet all 80-odd candidates. Mr Qalibaf has strong regime credentials. Related to Mr Khamenei, he has commanded the Islamic Revolutionary Guard Corps, and was the chief of police and parliament’s speaker. But he is dogged by stories that his son declared he had funds of $150,000 available to him in support of his application for permanent residency in Canada. (It was initially declined.)

The Paydari (or stability) Front, a bloc of religious hardliners with growing clout in Iran, cries betrayal. But it is far from immune, too. Its favourite cleric, Morteza Aqa-Tehrani, got a green card when he ran Iran’s Islamic centre in New York. If only, notes a wag in Tehran, any senior official with personal ties to the West could be barred. “They would have to disqualify our supreme leader, too.”»

The children of Iran’s revolution still want to go West 

24/09/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (26)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.


Há sete anos ainda não tinham arrefecido as cinzas do incêndio de Pedrógão Grande, o Dr. Costa anunciava «este é o momento» de se fazer uma «profunda reforma florestal». Dois meses depois, o governo anunciava mais uma reforma da floresta e criava com grande pompa e circunstância uma Estrutura de Missão para o Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais presidida pelo Engenheiro Florestal Tiago Martins Oliveira, apresentado como o mago das florestas, que criou a Agência de Gestão Integrada de Fogos Rurais. Cinco anos depois, o Eng. Oliveira, poucos dias antes do início da temporada de incêndios em exibição em todos os canais, veio dizer-nos que «o problema dos incêndios não passa pela existência de mais meios de combate, mas pela gestão da propriedade florestal». That’s it.

Talvez receando que lhe lembrassem a falhada maior revolução da floresta desde D. Dinis, o Dr. Pedro Nuno manifestou-se surpreendentemente compreensivo: «Não vamos fazer o que o PSD fez em 2017. Não estamos a pedir a cabeça de nenhum ministro, como aconteceu em 2017».

Too much of a good thing could be a bad thing

Os possuidores de mentes unidimensionais dividem-se entre os que a consideram a imigração uma coisa boa e os que a consideram uma coisa má, tal como em relação ao vinho tinto. Se falássemos do vinho tinto poderíamos dizer que se está a beber cada vez mais e em 2023 o Portugal dos Pequeninos apanhou uma bebedeira.

Expresso

A bebedeira teve origem na alteração da lei da iniciativa socialista que permitiu aos cidadãos da CPLP titulares de vistos de curta duração ou que tenha entrado legalmente em Portugal requerer na AIMA autorização de residência, e permitiu a outros cidadãos «autorizações de residência para exercício de actividade profissional subordinada com dispensa de visto». O resultado foi a concessão em 2023 de mais de 320 mil vistos. Em cima desta imigração legal temos naturalmente a imigração ilegal que ninguém sabe quantificar.

A famiglia socialista é muito unida e tem muito jeito para o negócio

É frequente os profissionais que têm carreira quando enveredam pela política serem nomeados para cargos relacionados com essa carreira. No PS português o caminho é mais o inverso. Os políticos que tem uma carreira política quando saem do governo atravessam o deserto até ao próximo oásis montados num camelo que julgam ter apreendido a conduzir no seu cargo político. Foi o caso do Dr. Duarte Cordeiro, ex-ministro do Ambiente e Transição Climática, que lançou um negócio de consultoria sobre estratégias de sustentabilidade cujos putativos clientes suspeito virão do sector público.

Mostrando uma visão de longo prazo, o Dr. Cordeiro convidou para sócio o Dr. Tiago Centeno um jovem de 28 anos que, por feliz coincidência, é filho do Dr. Centeno, o Ronaldo das Finanças, agora a estagiar no BdP para, espera ele, vir a morar em Belém, para o que continua a trabalhar a sua imagem de amigo do povo que no BdP combate os falcões do BCE.

Escondido atrás da secretária

O depoimento na comissão parlamentar de inquérito da secretária do Dr. Lacerda Sales arruinou a cortina de fumo do ex-SE da Saúde sobre a sua intervenção no caso das gémeas brasileiras a quem foi atribuída com urgência nacionalidade portuguesa, seguida da administração de um medicamento milionário, à custa de uma cunha do Dr. Rebelo de Sousa Filho, com a prestimosa colaboração do Dr. Lacerda Sales.

23/09/2024

Crónica de um Governo de Passagem (19)

Navegando à bolina
(Continuação de 18)

A cabala incendiária. O costume

Na conferência de imprensa de terça-feira passada, o Dr. Montenegro resumiu aos «interesses» que «sobrevoam» os incêndios florestais as consequências de décadas de desertificação do interior, impotência ou desleixo dos que ficaram, negligência das autoridades, a começar pelo governo, da ausência de algo que se possa chamar gestão das florestas, das políticas erradas de combate aos incêndios florestais, de que resultou a acumulação de combustíveis que só esperavam por temperaturas muito altas, humidades muito baixas e ventos muito fortes para produzir incêndios devastadores, circunstâncias meteorológicas de ocorrência provável em qualquer Verão.

Nada disso foi novidade, porque é o costume. São atribuídas as responsabilidade umas vezes aos madeireiros, outras aos eucaliptos e às celuloses, e, sempre, aos pirómanos. Ninguém se dá ao trabalho de explicar porque os pirómanos actuam pouco no Alentejo, apesar das temperaturas muito altas, humidades muito baixas e por vezes ventos muito fortes.

A cabala incendiária. A novidade

Novidade foi a encenação do aparecimento dos incêndios numa reunião extraordinária do conselho de ministros que lhes foi dedicada com a presença insubstituível de S. Ex.ª o PR.

O orçamento. O costume

Continuam os jogos florais a pretexto do orçamento que ainda ninguém parece saber o que virá a ser, mas toda a gente tem uma opinião definitiva sobre a coisa. Uns que tem de ser aprovado, outros que não pode ser aprovado, e ainda outros que talvez se possa cozinhar qualquer coisa.

O orçamento. A novidade

A novidade é que a CE adoptou um novo indicador central para aprovar os orçamentos que é crescimento médio da despesa líquida (sem os juros da dívida), que não pode no mesmo período ultrapassar o crescimento potencial da economia, isto é o crescimento máximo estimado que a economia pode atingir sem criar tensões inflacionistas. E é aqui que a porca torce o rabo porque, segundo o Conselho das Finanças Públicas (CFP), o crescimento potencial da economia entre 2025 e 2028 não deve ultrapassar 3,6% e o crescimento nominal da despesa líquida será de 4,2%. Acresce que segundo o mesmo CFP a entrada em vigor do IRS Jovem levará ao défice orçamental em 2026 o que dá ao Dr. Pedro Nuno um excelente álibi para não o aprovar.

22/09/2024

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Viva a diferença!

Este post poderia ser e não é uma continuação deste outro

 «A afirmação de que as mulheres não devem ser discriminadas foi substituída pela ideia de que homens e mulheres são realmente iguais.

(...) ao confundir “fairness” [equidade ou justiça] com “sameness” [igualdade], muitas feministas têm defendido políticas públicas que forçam a igualdade, sem considerar as diferenças. Mas se as considerassem, percebiam que muitas situações interpretadas como discriminação ou injustiça resultam, na verdade, de homens e mulheres terem características diferentes e revelarem, por isso, interesses diferentes. Interesses diferentes, não capacidades diferentes, determinam escolhas diferentes – e, por essa razão, estabelecer, por princípio, a regra dos 50% na ocupação de lugares ou profissões, como muitas feministas fazem, é simplesmente arbitrário e contraprodutivo.»

Excerto, à laia de teaser de Os problemas da teoria da autodeterminação de Patrícia Fernandes

21/09/2024

Um dia como os outros na vida do Estado sucial (44) - A semana dos quatro dias

Como aqui constatámos, como quer que se meça a produtividade no Portugal dos Pequeninos ela é fraca, esse é um dos nossos maiores problemas e a produtividade total poderia aumentar se trabalhássemos mais horas, fazendo o contrário do que o pensamento económico milagroso nos está a sugerir que façamos: a semana dos quatro dias. Por isso, se há reformas que fazem falta no Portugal dos Pequeninos a semana de quatro dias não é seguramente uma delas.

Quando ao SNS, como tenho repetidamente referido na rubrica «Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro» das Crónicas dedicadas à governação socialista, sabendo-se que a despesa do SNS aumentou de 9,1 mil milhões em 2015 para 14 mil milhões em 2023 e o número de efectivos passou de 120 mil para 150 mil e, não obstante, o número de pessoas sem médico de família aumentou no mesmo período 700 mil e a resposta do SNS degradou-se, seremos obrigados a concluir que, se a semana de quatro dias não faz falta em nenhum sector, no caso da SNS seria um desastre anunciado a consumar a redução das 40 para as 35 horas que o Dr. Costa, o Dr. Centeno e o Dr. Marcelo nos garantiram que não teria impacto orçamental

É neste contexto que a conclusão dos coordenadores do projecto-piloto da semana de quatro dias de que testar semana de quatro dias no SNS «teria muito interesse» revela um lunatismo insanável só ultrapassado pela irresponsabilidade de quem inventou o projecto-piloto e os nomeou coordenadores.

20/09/2024

Portugal dos Pequeninos, por enquanto um velho rico face aos mais pobres, e um novo pobre face aos mais ricos

The world’s richest countries in 2024

O diagrama acima (de que já usámos os dados num post anterior) mostra-nos que a posição relativa de Portugal no PIB per capita, o indicador mais usado para comparar a prosperidade dos países, melhora substancialmente quando, em vez de ser calculado em dólares às taxas de câmbio vigentes, esse indicador é calculado a paridades do poder de compra ou seja tendo em conta os preços internos, e ainda mais quando se considera o produto por hora trabalhada.

mais liberdade

O segundo diagrama mostra os rankings de Portugal entre os países da União Europeia, em vez dos rankings mundiais, e dá-nos uma outra visão complementar ao mostrar que descemos seis lugares no ranking quando se compara a riqueza acumulada, isto é a riqueza produzida no passado, com riqueza produzida no ano evidenciando um declínio.

19/09/2024

A política industrial nas economias de mercado é um sucedâneo dos planos quinquenais nas economias soviéticas (2)

Continuação de (1)

Um dos exemplos mais recentes de políticas industriais lançadas por Joe Biden é o CHIPS Act de 2022 que prevê torrar US $50 mil milhões nos cinco anos seguintes para relançar a indústria de semicondutores. O sucesso não está garantido e é no mínimo duvidoso.

«Os semicondutores são o caso de teste mais importante para o renascimento da manufatura nos Estados Unidos. Nas últimas duas décadas, a maioria dos fabricantes de chips de computador deixaram a América. O país ainda tem investigadores  e designers de semicondutores de classe mundial, mas perdeu a força de trabalho que transforma wafers de silício em circuitos electrónicos em escala. (…)

Uma estimativa básica da Semiconductor Industry Association, é que até 2030 o sector de chips dos Estados Unidos enfrentará um défice de 67.000 técnicos, cientistas da computação e engenheiros, e cerca de 1,4 milhão desses trabalhadores em toda a economia. Compare-se isso com o total de cerca de 70.000 alunos que anualmente concluem a graduação em engenharia nos Estados Unidos, e a escala do défice torna-se visível. Seja qual for a lacuna exacta, ela marca a diferença entre fábricas funcionando em plena capacidade com os custos de mão de obra sob controle ou acabando afundadas em altos custos e baixa produtividade. (…)

As empresas de chips da América já estão configuradas para uma força de trabalho pequena, mas qualificada. À medida que mudaram a fabricação para o exterior, especializaram-se mais em casa, colocando a América no comando da indústria global. Qualcomm, Nvidia e outras tornaram-se líderes mundiais no desenvolvimento e design de chips avançados. Era uma divisão de trabalho altamente lucrativa.

Agora os Estados Unidos estão tentando retomar aos níveis mais baixos da indústria, reaprendendo habilidades básicas, como cortar wafers em chips e embalá-los em invólucros de plástico rígido. O imperativo político é a protecção contra a dependência excessiva da China. Para as empresas, há também uma lógica em diversificar as cadeias de logísticas e aproximar a manufatura das operações de pesquisa.»

18/09/2024

The Treason of the Intellectuals (5th and last forgotten part)

Continued from (1), (2), (3) and (4)

«The lesson of German history for American academia should by now be clear. In Germany, to use the legalistic language of 2023, “speech crossed into conduct.” The “final solution of the Jewish question” began as speech— to be precise, it began as lectures and monographs and scholarly articles. It began in the songs of student fraternities. With extraordinary speed after 1933, however, it crossed into conduct: first, systematic pseudo-legal discrimination and ultimately, a program of technocratic genocide. 

The Holocaust remains an exceptional historical crime—distinct from other acts of organized lethal violence directed against other minorities— precisely because it was perpetrated by a highly sophisticated nation-state that had within its borders the world’s finest universities. That is why American universities cannot regard antisemitism as just another expression of “hate,” no different from, say, Islamophobia—a neologism that should not be mentioned in the same breath. That is why Claudine Gay’s double standards—with their implication that African Americans are somehow more deserving of protection than Jews—are so indefensible. 

That is why rational minds recoil from her argument that antisemitism on the Harvard campus is tolerable so long as genocide is not being perpetrated.

Well, the backlash against our contemporary treason of the intellectuals has finally arrived.

Donors such as the chief executive of Apollo, Marc Rowan (a Penn graduate), Pershing Square founder Bill Ackman (Harvard), and Stone Ridge founder Ross Stevens (Penn) have each made clear that their support will no longer be forthcoming for institutions run in this fashion. 

On Saturday, Penn president Liz Magill stepped down, along with the chair of the Penn board of trustees, Scott Bok. Perhaps others will follow. 

Yet it will take a lot more than a few high-profile resignations to reform the culture of America’s elite universities. It is much too entrenched in multiple departments, all dominated by a tenured faculty, to say nothing of the armies of DEI and Title IX officers who seem, at some colleges, now to outnumber the undergraduates.

In La trahison des clercs, Julien Benda accused the intellectuals of his time of dabbling in “the racial passions, class passions, and national passions. . . owing to which men rise up against other men.” Today’s academic leaders would never recognize themselves as the heirs of those Benda condemned, insisting that they are on the left, whereas Benda’s targets were on the right. And yet, as Victor Klemperer came to understand after 1945, totalitarianism comes in two flavors, though the ingredients are the same. 

Only if the once-great American universities can reestablish—throughout their fabric—the separation of Wissenschaft from Politik can they be sure of avoiding the fate of Marburg and Königsberg.»

Last excerpt from The Treason of the Intellectuals, Niall Ferguson. The Free Press

17/09/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (25)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Take Another Plan. Estória da carochinha: de repente uma TAP sem dinheiro financia a sua compra

Pouco a pouco vão reemergindo informações soterradas pelo agitprop socialista agora claramente desencadeado para comprometer a indigitação de Maria Luís Albuquerque para comissária, atrapalhar o actual ministro das Infraestruturas e limpar a folha do anterior ministro das Infraestruturas e actual chefe socialista, um dos responsáveis pela renacionalização da TAP e por torrar mais de 3.000 milhões de euros.

Só para citar algumas referências publicadas recentemente que desmancham a estória da carochinha: Pedro Ávila (10-09) Maria João Marques (11-09), Observador (12-09), Observador (12-09), Henrique Pereira dos Santos (13-09). a que acrescento um post impertinente do ano passado que faz parte de uma imensa colecção que vimos publicando há anos.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

O Dr. Pedro Nuno da TAP agora ao leme do Partido Socialista, não esqueceu o aniversário do SNS e publicou uma mensagem celebrando «uma das nossas maiores vitórias enquanto democracia: um SNS que responde às necessidades de toda a população». Por modéstia, não salientou o papel do PS que aumentou a despesa do SNS de 9,1 mil milhões em 2015 para 14 mil milhões em 2023 e aumentou o número de efectivos de 120 mil para 150 mil e, não obstante, o número de pessoas sem médico de família aumentou no mesmo período 700 mil e a resposta do SNS degradou-se. Se isto não é uma obra notável, então não sei o que é notável.

«Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central». Lost in translation

Na última contagem após quatro anos de nacionalização da EFACEC, soube-se a semana passada que o total de perdas pode chegar aos 564 milhões e o Dr. Costa Silva antigo ministro da Economia teve um acesso de realismo moderado e reconheceu que «será muito difícil o Estado recuperar tudo», o que no patuá politiquês significa será fácil o Estado perder tudo e os contribuintes pagarem a factura das políticas socialistas e da incompetência dos apparatchiks.

O que é ontem verdade pode ser mentira hoje

Em 2016 o Tribunal de Contas presidido pelo Dr. Silva Caldeira (nomeado por um governo socialista) concluiu que a ANA foi concessionada à empresa que apresentou «a melhor proposta» no concurso público internacional, e que «a privatização cumpriu o seu objectivo principal: a redução da dívida pública maximizando o valor da venda»

Oito anos depois, o mesmo TdC, agora presidido pelo Dr. José Tavares, considera que «a privatização da ANA não salvaguardou o interesse público, por incumprimento dos seus objetivos».

No topo da Óropa, outra vez

mais liberdade

O Dr. Galamba anda a ler o (Im)pertinências ou teve uma epifania?

Nos últimos quatro anos o (Im)pertinências publicou vários posts dedicados ao tema «O balão de hidrogénio do Dr. Galamba ou mais um elefante branco a caminho». Surpreendentemente, ficámos agora a saber que o mesmo Dr. Galamba fez um «'mea culpa' por ter sido demasiado entusiasta do hidrogénio». Moral da estória: não devemos perder a esperança, mesmo nos piores casos, apesar de serem escassas e tardias as epifanias dos nossos governantes.

16/09/2024

Crónica de um Governo de Passagem (18)

Navegando à bolina
(Continuação de 17)

Talvez seja uma reforma

Há três meses o governo AD demitiu a presidente da Santa Casa da Misericórdia que depois de um ano no cargo descobriu que as receitas previstas no orçamento de 2024 eram fantasistas. Tinha sucedido a outro apparatchik socialista que torrou milhões para internacionalizar o jogo e acabou a internacionalizar os escândalos e as perdas. O novo presidente apresentou agora um plano que prevê várias medidas e entre elas a venda dos hospitais (incluindo o Hospital da Cruz Vermelha), venda de parte do património imobiliário (quase 700 imóveis em que só um quarto gera rendimentos), redução de mais de 200 apparatchiks, entre outras.

E por falar no Hospital da Cruz Vermelha, recordo que foi sempre uma quinta do PS. Falido e nacionalizado em 1998 pelo governo do Eng. Guterres, passaram por lá desde a Dr.ª Maria Barrosa, esposa do Dr. Soares, até ao Dr. Francisco Ramos, o coordenador da fracassada task force de vacinação. Falido, no final de 2020 a Santa Casa da Misericórdia comprou uma participação de 55% à Parpública depois desta lá torrar muitos milhões.

Boa Nova

O governo do Dr. Montenegro duplicou as promessas do Dr. Costa na oferta pública de habitação e anunciou que em vez das 26 mil casas até 2026, das quais só foram entregue 2 mil, e 10 mil já se sabe que não ficarão prontas a tempo para serem financiadas pela bazuca. Talvez pensando que o rigor do número aumentaria o rigor da promessa o Dr. Montenegro prometeu 58.993 casas. Segundo a Confederação da Construção e Imobiliário, para construir tantas casas serão precisos mais 80 emigrantes. O Dr. Ventura vai votar contra.

Os problemas do Estado sucial português resumem-se a falta de pessoal

a) Nas escolas

Em oito anos de governo do Dr. Costa o número de alunos no ensino não universitário reduziu-se de 1.716.155 em 2015 para 1.610.300 em 2023, o número de professores aumentou de 141.274 para 149.816, pelo que o número de alunos por professor passou de 12,1 para 10,7. Face a isto o que vai fazer o governo? Ora, o que haveria de ser? Vai recrutar mais professores.

b) Nas prisões

Em 2015 havia 121 mil detidos e 122 mil em 2022. A média de funcionários prisionais no período 2020-2022 era de 55 por 100 mil habitantes contra 58 na UE (dados Eurostat). O número de polícias por 100 mil habitantes em Portugal era mais de 40% superior à média da UE (veja-se a propósito a série de posts Vivemos num estado policial?). Face a isto, a que atribuir a fuga de cinco cadastrados? Ora, a que haveria de ser? A falta de efectivos (foi o que o jornalista pôs na boca do ministro que atribuiu a coisa a “desinvestimento”).

[Ninguém se lembrou de atribuir a causa adequada (como se diz em juridiquês) desta fuga em concreto à incompetência e desleixo dos dirigentes e do pessoal da prisão de Vale de Judeus]

15/09/2024

ARTIGO DEFUNTO: Omitir factos relevantes pode ser tão enganador como falsificar factos

Jornal Eco

É certo que «os salários dos docentes em Portugal em 2023 eram 9,4% inferiores à média dos salários registados nos 38 países da OCDE», facto que descontextualizado levará muitos leitores a concluir que os professores portugueses são uns desgraçadinhos. 

Conclusão completamente falsa quando se comparam os salários médios em Portugal com os dos 38 membros da OCDE e se constata que os salários dos trabalhadores em Portugal em 2022 eram 37,3% inferiores à média dos salários registados nos 38 países da OCDE, facto que no contexto significa que os professores portugueses são relativamente privilegiados face aos restantes trabalhadores.

14/09/2024

ARTIGO DEFUNTO: Jornalismo económico ao nível das redes sociais

Jornal Eco

Para quem tenha dúvidas sobre o enorme disparate da peça com o título acima (que ao contrário do que é habitual até sintetiza bem o conteúdo da peça) remeto para o artigo "O Orçamento, a política e o jornalismo" de Helena Garrido de onde respigo o parágrafo seguinte:

«O Quadro Plurianual das Despesas Públicas nunca mereceu atenção mediática, apesar de todos os anos ser publicado. Este ano foi o centro das atenções, por várias razões. E como o Governo o enviou para o Parlamento atrasado e isolado e, dessa forma, para o espaço público, sem qualquer explicação ou contexto, de repente fomos confrontados com uma receita de impostos que atingia praticamente o valor do PIB que se pode prever para 2025. Era óbvio que isso não podia ser, o que não impediu que acabasse por ser essa a mensagem, com alguns títulos a apontar para um crescimento da receita de impostos da ordem dos 20% e até com a oposição a usar meias verdades para utilizar esse número.»

Sendo certo que o governo tem responsabilidades pela forma opaca como divulgou as Grandes Opções do Plano, a grande responsabilidade recai sobre o jornalismo tosco e profissionalmente incompetente que trata estes temas com um nível pouco diferente da ignorância e do primarismo que predominam nas redes sociais, ao mesmo tempo que se lamenta da concorrência destas.

13/09/2024

A política industrial nas economias de mercado é um sucedâneo dos planos quinquenais nas economias soviéticas (1)

Algures na segunda década deste século começaram a ser visíveis as consequências imprevistas e indesejadas de uma globalização que tirou da miséria centenas de milhões de pessoas nos países do Terceiro Mundo, entretanto rebaptizados de países em desenvolvimento, e trouxe ainda mais prosperidade aos países desenvolvidos. Entre essas consequências, duas em particular criaram na Europa e nos Estados Unidos um sentimento de insegurança nos trabalhadores dos sectores convencionais da economia: o aumento da desigualdade (muito exagerado pelos mídia) e a concorrência das economias emergentes, sobretudo da China, que tornou inviáveis empresas e mesmo sectores inteiros e destruiu milhões de empregos. Apesar das economias se terem adaptado e os efeitos no desemprego e nos níveis de vida não terem sido muito significativos, a percepção de insegurança foi muito forte e, entre outros efeitos, criou as bases para a emergência dos partidos iliberais à esquerda e à direita.

A resposta dos governos europeus e americano tem sido aumentar o intervencionismo estatal e entre as velhas políticas desenterradas do passado encontramos o que se chama tradicionalmente a política industrial, que podemos definir como um conjunto de medidas, políticas e iniciativas estratégicas adoptadas por um governo para dirigir e influenciar o desenvolvimento, o crescimento e a competitividade de sectores específicos de uma economia (esta entrada da Wikipedia faz um resumo aceitável).

No caso dos Estados Unidos, há um estudo muito interessante publicado há 3 anos pelo Peterson Institute for International Economics (PIIE) dos efeitos da adopção da política industrial num período de meio século (Scoring 50 years of US industrial policy, 1970–2020) que concluiu em síntese: 

«A política industrial pode salvar ou criar empregos, mas muitas vezes a um custo elevado. Um importante argumento político para a política industrial é salvar ou criar empregos em um sector ou local específico. Na maioria dos casos, a protecção à importação não cria uma indústria competitiva nos EUA e impõe custos extremos aos consumidores e às empresas por ano de trabalho economizado. A política comercial concentrada na abertura de mercados no exterior é uma aposta melhor. Escolher uma única empresa para desenvolver a tecnologia produz resultados inconsistentes.»

Alguns exemplos permitirão exemplificar e concretizar estas conclusões.

(Continua)

12/09/2024

Títulos inspirados (95) - Titilando mentes fracas com palavras fortes

A Euronext Lisboa é uma bolsa da terceira divisão de uma economia periférica e o seu índice começou por ser o PSI 20 e encolheu até ao PSI 16 de hoje que é constituído por ALTRI, BCP, Corticeira Amorim, CTT, EDP, EDP Renováveis, Galp Energia, Greenvolt, Ibersol, Jerónimo Martins, Mota-Engil. Navigator, NOS, REN, Sonae. O número total de empresas cotadas que já tinha sido 150 é hoje 53.

Além disso, a importância da Euronext Lisboa medida pela valorização tem vindo a decair como se vê quando se compara a evolução dos últimos 15 anos do PSI com, por exemplo, o SBF 120 (calculado com as cotações do CAC40 adicionado das 80 acções mais líquidas da Bolsa de Paris).  Enquanto o PSI se desvalorizou 7%, o SBF 120 valorizou-se no mesmo período 125%

Não é difícil imaginar que a bolsa de Lisboa nunca foi, não é e nunca será um terreno atractivo para grandes investidores, muito menos grandes fundos. É neste quadro que temos de entender o exercício patético desta peça do semanário de reverência com um título estilo agitprop à altura do conteúdo:  "Quem são os 'fundos abutres' que investem quase €300 milhões para a bolsa nacional se afundar?". Estes "fundos abutres" são, segundo o jornalista de causas em causa, fundos que praticam o short selling ou venda a descoberto, uma prática que consiste em vender um activo esperando comprá-lo mais tarde a uma cotação menor, prática especulativa o que só faz sentido se o short seller tiver expectativas fundadas que o activo em causa está sobreavaliado o que em mercados evoluídos é considerado uma prática que reduz o risco dos investidores e aumenta a liquidez e a estabilidade dos mercados. 

Como quer que seja, como a própria peça reconhece, esses "fundos abutres" tem uma posição total que corresponde a menos de 0,5% da capitalização bolsista das 11 empresas portuguesas onde detêm posições, ou seja peanuts. Se a bolsa de Lisboa se afunda, que é o que tem vindo a fazer nos últimos 15 anos, isso deve-se tanto aos fundos abutres como a mortalidade do gado em Portugal se deve ao Gyps fulvus, uma espécie necrófaga.

11/09/2024

CASE STUDY: Trumpology (80) - Erratic ideas, inconsistency and rambling speech

More trumpology.

Thursday last week, at the Economic Club of New York, Donald Trump was asked a very specific question (video):

 “If you win in November, can you commit to prioritizing legislation to make child care affordable, and if so, what specific piece of legislation will you advance?”

«Trump’s reply was not only not specific; it was incoherent. After a little throat-clearing about how “important” an issue child care is, he seemed to turn to a discussion of his nebulous idea to increase tariffs on foreign imports, although even that is hard to ascertain. Trump said:

"But I think when you talk about the kind of numbers that I’m talking about, that—because, look, child care is child care. It’s, couldn’t—you know, there’s something … You have to have it. In this country, you have to have it.

But when you talk about those numbers compared to the kind of numbers that I’m talking about by taxing foreign nations at levels that they’re not used to, but they’ll get used to it very quickly. And it’s not going to stop them from doing business with us, but they’ll have a very substantial tax when they send product into our country.

Those numbers are so much bigger than any numbers that we’re talking about, including child care, that it’s gonna take care. We’re gonna have—I, I look forward to having no deficits within a fairly short period of time, coupled with, uh, the reductions that I told you about on waste and fraud and all of the other things that are going on in our country—because I have to stay with child care. I want to stay with child care, but those numbers are small relative to the kind of economic numbers that I’m talking about, including growth."

In a rare occurrence, Trump here seems to acknowledge that he has diverged from the topic at hand. But he suggests that tariffs are, for some reason, the topic worth talking about instead. He continues:

"But growth also headed up by what the plan is that I just, uh, that I just told you about. We’re gonna be taking in trillions of dollars, and as much as child care is talked about as being expensive, it’s, relatively speaking, not very expensive compared to the kind of numbers we’ll be taking in.

We’re going to make this into an incredible country that can afford to take care of its people, and then we’ll worry about the rest of the world. Let’s help other people. But we’re gonna take care of our country first. This is about America first. It’s about: Make America great again. We have to do it, because right now we’re a failing nation. So we’ll take care of it. Thank you. Very good question."»

(The Atlantic)

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By the way, I can understand that a cynical, realistic and rational person could support Mr. Trump in the likely wrong hope that he will defend what that person would like to be defended, and for that reason the person silences a critical judgment about Mr. Trump's character flaws, his pretending religious faith, his intellectual onanism, his megalomania, the dangerous volatility of his erratic ideas and even the inconsistency and rambling of his speeches. In this case, the reason of that person could be similar to the reason allegedly attributed to Mr. Roosevelt for defending the Somoza dictator: «Somoza may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch».

I do not understand the motivation of the sincerely devotees of Mr. Trump.

10/09/2024

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (24)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Esta oposição não viveu em Portugal nos últimos 25 anos

Roubei o título a Henrique Monteiro que concluiu ser esta a possível explicação para muitos dos inexplicáveis temas e da sua inexplicável oportunidade, alguns deles abordados nestas crónicas, que o PS acolitado pelos parceiros da geringonça tem levantado nos últimos quatro meses.

«A educação é a nossa paixão»

Segundo as contas do Expresso, na quarta-feira passada havia 1.536 horários por preencher de resultariam quase 180 mil alunos do básico e do secundário com pelo menos uma disciplina sem professor. Ora, não sendo conhecido nenhum êxodo súbito de profs nem o aumento súbito de 180 mil alunos, a coisa só pode dever-se aos 8 anos de governos do Dr. Costa durante os quais o número de alunos no ensino não universitário se reduziu em 75 mil e o número de professores aumentou 10 mil. Então, perguntareis, como é possível faltarem professores? Por duas razões: (1) aumento do número de disciplinas, com dois propósitos: (a) criar mais lugares de profs e (b) adicionar disciplinas de doutrinamento woke por encomenda dos parceiros da geringonça; e (2) a erupção de milhares de baixas de longo prazo de profs no início de cada ano lectivo.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

Em 2015 o Dr. Costa prometeu que mais meio milhão de “utentes” passariam a ter médico de família, reduzindo para metade os cerca de um milhão que ainda não tinham. Sete anos depois em 2022, o milhão do governo neoliberal transformou-se em um milhão e quatrocentos mil portugueses sem médico de família e em Agosto atingiu chegou quase a um milhão e setecentos mil. Espera-se a todo o momento que o Dr. Pedro Nuno responsabilize o governo AD pelo descalabro.

A bazuca está encravada (talvez seja melhor assim)

Até ao final de Agosto, dos 16,6 mil milhões da bazuca, financiada com o dinheiro dos contribuintes europeus, Bruxelas entregou ao governo português 8,5 mil milhões e este pagou aos “beneficiários” 5,2 mil milhões (fonte). Se grande parte dos fundos já entornados numa economia que não sabe o que fazer com eles foi mal aplicada, imagine-se como serão torrados os milhões ainda não entregues com a pressa de não os “perder”.

«Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central»

No último balanço que fizemos sobre a EFACEC em Março, concluímos que decorridos mais de quatro anos da nacionalização, a facturação da EFACEC caiu de 430 milhões para menos de 100 milhões, foram torrados mais de 300 milhões e o total de perdas do Estado e dos outros accionistas atingiria 513 milhões. Cinco meses depois, sabe-se que o total de perdas pode chegar aos 564 milhões.

Continua a saga da aprovação de um orçamento que ninguém ainda conhece

O Dr. Pedro Nuno já disse tudo sobre a aprovação do OE2025 e o seu contrário e agora a Drª Alexandra Leitão, que também já confessou que gostaria de ser um dia a chefe socialista, anunciou que o PS não aprovará um orçamento “de direita” de um “governo ultraminoritário” (ela esqueceu que o Dr. Costa formou o seu primeiro governo "ultraminoritário" com 86 deputados, derrubando um governo PSD-CDS com 107 deputados). O Dr. Ventura, falhada a troca da sua aprovação por um referendo sobre a imigração, também já disse que não quer conversas sobre este tema. A Dr. Mortágua juntou-se-lhe ameaçando o PS se este viabilizar o orçamento.

Take Another Plan. E repente fez-se luz. Se parece um pato, nada como um pato e grasna como um pato, provavelmente é um pato

Decorridos nove anos da privatização pelo governo PSD-CDS resultante de uma obrigação do memorando de acordo negociado e também assinado pelo governo socialista em 2011, decorridos mais de oito anos da renacionalização em 2016 pelo primeiro governo do Dr. Costa que pagou aos accionistas privados mais do que estes aplicaram e quatro anos depois começou a torrar um montante que atingiria 3,2 mil milhões de euros, incluindo pelo meio trapalhadas e escândalos vários com Mme Ourmières-Widener, decorrido mais de um ano da aprovação do relatório final da comissão parlamentar de inquérito (CPI) à TAP, decorrido quase um ano do Dr. Costa ter admitido privatizar a TAP “na totalidade” depois de a ter renacionalizado oito anos antes, surge vindo do nada um relatório da Inspecção-Geral de Finanças, por coincidência dias depois do Dr. Montenegro ter anunciado que Maria Luís Albuquerque seria proposta para comissária europeia, relatório cujo texto não foi tornado público e está a ser "interpretado" pela mídia como denunciando ilegalidades e apontando responsabilidades à mesma Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças à época da privatização da TAP. C'est ça.

[Para quem queira perceber melhor a distorção do agitprop da esquerdalhada, pode ver neste vídeo o que disse na audição da CPI no parlamento o Dr. Lacerda Machado, um amigo do peito do Dr. Costa e uma personagem insuspeita de simpatia pelo governo PSD-CDS que negociou a privatização.]

09/09/2024

Crónica de um Governo de Passagem (17)

Navegando à bolina
(Continuação de 16)

Previsível choque da Boa Nova com as consequências imprevistas

Os apoios aos jovens até aos 35 anos para compra de habitação arriscam-se a acelerar o aumento dos preços de venda e das rendas que no 1.º trimestre aumentaram respectivamente 7% e 10,5%. É o que geralmente acontece quando se pretende resolver os problemas pelo lado da procura.

Apesar de haver mal que nunca acaba, não há bem que sempre dure

O índice da produção industrial em Julho deste ano desceu 4% em relação ao mesmo período do ano passado e o peso das exportações no PIB que o ano passado ultrapassaram 50%, no primeiro semestre deste ano ficaram em 47% (convém saber que os 50% do ano passado se deveram mais ao aumento dos preços e do que ao aumento físico das exportações). 

O governo AD também têm dificuldades com a aritmética…

Depois de três alterações da lista das medidas concluídas do Plano de Emergência da Saúde, a ministra considerou concluídas 8 das 15 medidas urgentes a executar em 3 meses.

… e vai aproveitando a carga fiscal que o PS lhe ofereceu

Nos sete primeiros meses deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, as receitas de impostos aumentaram quase 10%, destacando-se o IRC que aumentou 22,3% e o imposto sobre os produtos petrolíferos que aumentou 15,7%.

Dívida pública. Boas e más notícias

Banco de Portugal

A boa notícia é que a dívida bruta diminuiu em Julho. A má notícia é que é um pouco mais alta do que no final de 2022 e 12 mil milhões mais elevada do que no final de 2023 quando começou a aumentar por via das medidas do governo do Dr. Costa para salvar a eleição.

08/09/2024

Mitos (340) - Da produção de graduados não nasce o desenvolvimento (2) - Vamos todos para o aeroespaço

Continuação de (1)

Seguindo a sugestão de um dos comentários ao post anterior vou fazer um breve escrutínio ao artigo Engenharia Aeroespacial: “As empresas não querem estar à espera dos alunos, estão a instalar-se cá para aceder aos nossos recursos humanos”,  publicado no mesmo jornal na sequência do artigo anterior, com uma entrevista ao director do Departamento de Mecânica da FEUP, entrevista que se destina obviamente a promover o curso de Engenharia Aeroespacial, promoção a que o Expresso se presta con gusto.

Quem lê regularmente e com atenção meia dúzia de jornais, percebe sem dificuldade que um grande número de jornalistas se dedica a este jornalismo promocional que trata as matérias a promover com completa ausência de sentido crítico e rigor, desculpando-se com as boas intenções de promoção do que "está certo" ou "é bom", sobretudo quando ao mesmo tempo se exaltam os supostos feitos dos tugas. 

Por falar em exaltação, temos a série de posts Portugueses no topo do mundo que lhe é dedicada, e acreditamos que emana da síndrome que Eduardo Lourenço descreveu como o estado de «permanente representação, tão obsessivo é neles (os portugueses) o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo».

No seu esforço promocional, o director do Departamento de Mecânica da FEUP «não tem dúvidas de que o espaço pode funcionar como alavanca da economia nacional e destaca alguns números auspiciosos. Temos cerca de 18.500 pessoas já a trabalhar neste ecossistema. Temos verbas geradas de um €1,72 mil milhões. Temos cerca de 30 institutos de investigação e laboratórios de investigação associados a este setor”».

Num país que tinha há três anos 119 observatórios, não ponho em dúvida que o ecossistema aeroespacial tenha 30 institutos de investigação e laboratórios. Ignorando, porém, o que sejam "verbas geradas" e supondo que a criatura se refere ao Valor Acrescentado Bruto (VAB), os €1,72 mil milhões são quase o triplo do VAB da indústria têxtil, mais do que o das telecomunicações e fariam do ecossistema Engenharia Aeroespacial o sector industrial com maior VAB. Se a coisa tem esta dimensão a solução para a economia portuguesa é simples: esqueçamos o calçado, esqueçamos a Auto-Europa e vamos todos para o aeroespaço.

07/09/2024

ARTIGO DEFUNTO: Pensamento mágico e factos alternativos ao serviço do jornalismo de causas

Há duas ou três semanas, primeiro a CNN e mais tarde outros mídia, citaram um working paper com um título ("Taxing extreme wealth: What countries around the world could gain from progressive wealth taxes") mais adequado a um panfleto do que a um paper, que foi publicitado com títulos vibrantes capazes de fazer atingir o orgasmo a qualquer esquerdista. Desde logo o título da peça da própria CNN: «Se Portugal taxasse os super-ricos encaixaria mais 3.589 milhões de euros. Dava para pagar três vezes o IRS Jovem».

Confesso que se me acendeu o desconfiómetro pelo tom igualmente vibrante e o pendor demagógico do paper e pelo perfil áctivista da instituição que o publicou - Tax Justice Network (TJN), um grupo de pressão britânico de pendor anticapitalista.

Felizmente, o economista Luís Aguiar-Conraria, que se quisesse arrumá-lo numa caixinha diria que se enquadra na esquerda, o que o faria ver com bons olhos um panfleto que promove uma das bandeiras da esquerda, porque é da facção bem-pensante, não embarcou na treta demagógica do working paper e "escavou-o". Fez umas contas e concluiu na peça "Populismo fiscal de esquerda" na sua coluna semanal do Expresso que o valor avançado pela CNN para o resultado da taxação dos super-ricos em Espanha, cujo "Imposto Solidário sobre Grandes Fortunas" que serviu da base ao paper do Tax Justice Network , é 15 vezes superior a uma estimativa realista. Estamos conversados.

06/09/2024

Mass deportation, diz ele

Desde 2015 que Donald Trump ameaça deportar muitos (ou todos, conforme os dias) dos mais de 10 milhões de emigrantes ilegais nos Estados Unidos, o que, além de praticamente irrealizável a essa escala em apenas alguns anos, por várias razões incluindo as negociações difíceis com os países de origem. É uma promessa para os seus devotos e uma ameaça para os seus detractores não suportada pelos créditos do Sr. Trump no seu mandato de 2017–2021.

 Removal = Deportation; Return = Saída voluntária ; 
Title 42 = Medidas sanitárias durante a Covid
 (Fonte

Na verdade, durante o mandato do Sr. Trump foram deportados menos emigrantes do que nos mandatos de Barack Obama apesar de lhe chamarem “deporter-in-chief".

Na imigração, como em tudo o resto, os propósitos do Sr. Trump são voláteis e as realizações ficam muito longe das suas panglossianas declarações, o que para o próprio não constitui qualquer problema e, pelos vistos, para os seus devotos também não. Num caso, como no outro, porque o contacto com a realidade é escasso e a devoção é muita, sendo o seu objecto o mesmo em ambos os casos.

05/09/2024

Mitos (339) - Da produção de graduados não nasce o desenvolvimento

Adaptado do Expresso 

Se admitirmos (uma hipótese talvez ousada) que as notas para admissão no ensino universitário em Portugal traduzem o talento dos candidatos, 250 dos alunos portugueses mais talentosos vão estudar matérias e concluir licenciaturas e mestrados, e talvez doutoramentos, em áreas onde com altíssima probabilidade não vão encontrar colocação profissional em Portugal e, como tantos outros, emigrarão. (*)

É apenas mais um exemplo do que baptizo de teorema Pulido Valente, em homenagem ao Vasco que nos faz tanta falta, que postula que nenhum país se desenvolve à custa de aumentar o número de graduados. Teorema do qual resulta o seguinte corolário:

A produção de graduados favorece o desenvolvimento dos países para onde emigram os graduados provenientes dos países que esperavam desenvolver-se à custa desses graduados.

______________

(*)  Em boa verdade, não é apenas nas áreas mais exóticas que os graduados emigram. Até na prosaica engenharia civil emigram mais de 1/3 dos graduados, segundo o presidente da Ordem dos Engenheiros da Região Sul.