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13/09/2024

A política industrial nas economias de mercado é um sucedâneo dos planos quinquenais nas economias soviéticas (1)

Algures na segunda década deste século começaram a ser visíveis as consequências imprevistas e indesejadas de uma globalização que tirou da miséria centenas de milhões de pessoas nos países do Terceiro Mundo, entretanto rebaptizados de países em desenvolvimento, e trouxe ainda mais prosperidade aos países desenvolvidos. Entre essas consequências, duas em particular criaram na Europa e nos Estados Unidos um sentimento de insegurança nos trabalhadores dos sectores convencionais da economia: o aumento da desigualdade (muito exagerado pelos mídia) e a concorrência das economias emergentes, sobretudo da China, que tornou inviáveis empresas e mesmo sectores inteiros e destruiu milhões de empregos. Apesar das economias se terem adaptado e os efeitos no desemprego e nos níveis de vida não terem sido muito significativos, a percepção de insegurança foi muito forte e, entre outros efeitos, criou as bases para a emergência dos partidos iliberais à esquerda e à direita.

A resposta dos governos europeus e americano tem sido aumentar o intervencionismo estatal e entre as velhas políticas desenterradas do passado encontramos o que se chama tradicionalmente a política industrial, que podemos definir como um conjunto de medidas, políticas e iniciativas estratégicas adoptadas por um governo para dirigir e influenciar o desenvolvimento, o crescimento e a competitividade de sectores específicos de uma economia (esta entrada da Wikipedia faz um resumo aceitável).

No caso dos Estados Unidos, há um estudo muito interessante publicado há 3 anos pelo Peterson Institute for International Economics (PIIE) dos efeitos da adopção da política industrial num período de meio século (Scoring 50 years of US industrial policy, 1970–2020) que concluiu em síntese: 

«A política industrial pode salvar ou criar empregos, mas muitas vezes a um custo elevado. Um importante argumento político para a política industrial é salvar ou criar empregos em um sector ou local específico. Na maioria dos casos, a protecção à importação não cria uma indústria competitiva nos EUA e impõe custos extremos aos consumidores e às empresas por ano de trabalho economizado. A política comercial concentrada na abertura de mercados no exterior é uma aposta melhor. Escolher uma única empresa para desenvolver a tecnologia produz resultados inconsistentes.»

Alguns exemplos permitirão exemplificar e concretizar estas conclusões.

(Continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

A Economia é errática, fosse ela mais fiável tudo seria mais fácil.