Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

31/08/2016

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (44) O clube dos incréus reforçou-se (IX)

Outras marteladas.

Na subsérie de posts «O clube dos incréus reforçou-se» tenho vindo a dar conta do número crescente de cépticos que estão a romper o aparente consenso sobre as medidas não convencionais que nos últimos anos alguns bancos centrais (nomeadamente Fed, BOE, ECB e BOJ) adoptaram, consistindo em taxas de juro negativas, nulas ou próximas de zero e alívio quantitativo, isto é injecções maciças de liquidez através da compra de dívida pública e privada.

Entre os cépticos mais recentes, começo por citar Robert Skidelsky, membro da British House of Lord, professor emérito de Política Económica na Warwick University e, nas suas próprias palavras, biógrafo e aficionado de John Maynard Keynes, que mantendo-se fiel às soluções de Keynes e concedendo um papel primordial ao investimento público conclui num artigo recente: «as taxas de juro negativas são simplesmente uma distracção do que deveria ser uma análise mais profunda do que deu errado - e que continua a dar errado

Também John Cryan, CEO do Deutsche Bank, declarou há dias «a actual política monetária está a comprometer os objectivos de reforçar a economia e tornar o sistema bancário europeu mais seguro».

James Grant, um guru de Wall Street, aponta o risco, muitas vezes referido nesta série de posts, das «taxas de juro muito baixas induzirem especulação e investimento imprudente e má alocação de capital» e considera o mercado de dívida soberana como o mais sobrevalorizado em todo o mundo, «onde não se ganha nada ou menos do que nada para ter o privilégio de emprestar dinheiro a um governo que se comprometeu a depreciar a moeda em que estamos a investir».

A descrença atinge até a Bloomberg, cujos analistas foram até recentemente adeptos fervorosos do QE e das taxas evanescentes. Num artigo recente, transcrito no Público, dois deles põem a tónica nas limitações das políticas monetárias apontando o risco de «os bancos centrais continuarem fechados num ciclo de estímulos que não conseguem quebrar».

A falta de fé vai para além das políticas monetárias não convencionais e chega até a pôr em causa os supostos poderes miraculosos dos bancos centrais que, segundo um estudo recente de Elroy Dimson, Paul Marsh e Mike Staunton da London Business School, compreendendo o período de mais de um século, historicamente parecem estar a ser manipulados pelos investidores. Usando as palavras da Economist num artigo significativamente intitulado «Slaves of the markets», «os investidores podem, assim, ter aprendido que, se eles fizerem as suas birras como as crianças, os bancos centrais no final virão em seu socorro. A longo prazo isto pode ter encorajado o comportamento de risco do tipo que era comum no período que antecedeu à crise de 2007-08».

De como um comendador pode entender melhor Mr Keynes do que os keynesianos


«Ele era assim um bocado como o Jesus, o Jorge Jesus: arranjava respostas para tudo, mesmo quando as coisas pareciam correr mal. Maynard, a quem os mais distantes chamavam Mr. Keynes, sabia de economia como ninguém. Em Portugal eram todos, ou quase, seguidores de metade da sua teoria (aquela parte que diz que o Estado deve gastar em contraciclo); a outra metade (aquela que diz que o Estado deve poupar quando a economia cresce) só um ou outro subscrevia. Por isso, mal rebentou a crise, formou-se em Portugal uma seleção de keynesianos (nome dos seguidores do Maynard), absolutamente notável. Ia desde os bloquistas, capitaneados por Louçã, a homens insuspeitos de simpatias com a esquerda, como Bagão Félix ou Manuela Ferreira Leite. Passava por inúmeras sumidades, entre as quais o Presidente da República e professor de Economia Cavaco Silva, que sabiam precisamente o que fazer»

Comendador Marques de Correia, «Ai, meu Deus, a falta que o Maynard faz nestas alturas em que tudo se baralha», na Revista do Expresso

30/08/2016

ACREDITE SE QUISER: O lugar do outro

Não é preciso ser piloto-aviador, nem mesmo ter estado na tropa para compreender que a Força Aérea, que nem tem os meios capazes e suficientes para defender o país dos inimigos externos e cumprir as obrigações que as nossas alianças requerem, muito menos dispõe das aeronaves, do know-how, dos pilotos e restante pessoal para andar a apagar fogos, fazer a manutenção da parafernália e tudo o mais necessário durante doze meses por ano para manter os aviões no ar três ou quatro semanas.

Deve haver algumas razões para mesmo em países que dispõe de Forças Aéreas incomensuravelmente melhor apetrechadas não se inclui o combate a incêndios nas suas missões.

Consigo perceber que um desempregado, residente em Odivelas ou em qualquer outro ponto do país, à falta do que fazer, torture as suas meninges e tenha tempo disponível para promover uma petição para pôr a FA a fazer de bombeiros. Com um pouco mais de dificuldade, ainda consigo perceber, que 32 mil outras criaturas se tivessem disposto a assinar a petição - afinal de contas são apenas 0,33% dos eleitores e se até o MRPP teve 60 mil votos.

Porém, está para além da minha compreensão que o ministro da Defesa, ainda que só depois de feito ministro tenha entrado num quartel, considere «inevitável que a FAP venha a ser dotada dessa capacidade» e fico ainda preocupado com o destino do país quando o ministro acrescenta que «o primeiro-ministro coincide nessa abordagem».

ESTADO DE SÍTIO: Estará Pedro Passos Coelho a fazer de Charles Erwin Wilson?

Durante o processo de nomeação como secretário da Defesa de Eisenhower em 1953, Charles Erwin Wilson, que tinha sido presidente executivo da General Motors e à data ainda detinha acções da GM, quando questionado pela comissão de Defesa do Senado sobre os potenciais conflitos de interesse, terá respondido com a maior ingenuidade «what was good for the country was good for General Motors and vice versa».

Ocorreu-me o episódio de Charles Erwin Wilson quando li a pergunta de Pedro Passos Coelho ao país: «Quem é que põe dinheiro num país dirigido por comunistas e bloquistas?». Pergunta que não sei se é boa para o maior partido da oposição mas estou certo que é péssima para o país que esse partido pretende governar.

29/08/2016

ESTADO DE SÍTIO: Habituem-se (5)

«Enfim, é expectável (e justo) que muitos assinalem, gozem ou se indignem com as incongruências, cada vez mais gritantes, do “Cenário Macroeconómico” do PS – e, até, que estas sirvam de arma retórica nos duelos parlamentares. Mas convém não esquecer que, na política portuguesa, os factos contam pouco. E que, por isso, o país se entusiasmará sempre mais a discutir as finanças públicas da perspectiva dos estados de espírito (o “pessimismo” de Passos contra o “optimismo” de Costa) do que recorrendo aos indicadores do INE. Em 2009, foi aliás o que aconteceu, quando o “optimista” Sócrates venceu a “bota-abaixista” Ferreira Leite, para dois anos depois entregar o país à troika. E, hoje, se a direita não aprender a lição, arrisca-se a brevemente repetir a derrota: denunciar contas falhadas não chega, é necessário oferecer uma ideia de futuro. Não basta ter os factos do seu lado. Porque, perante a mensagem certa, serão sempre mais as pessoas que preferirão mentiras. E o “Cenário Macroeconómico” prova que António Costa sabe isso muito bem.»

Estas palavras de Alexandre Homem Cristo no Observador identificam bem este facto elementar na política portuguesa, historicamente provado e evidentíssimo nos anos que antecedem as grandes crises (como o consolado de Sócrates): «serão sempre mais as pessoas que preferirão mentiras». A esse facto devemos adicionar um outro que é o enviesamento da maioria dos jornalistas - por isso os costumamos chamar jornalistas de causas. Tanto os de esquerda como os de direita, sendo que por cada 1 destes há n daqueles e por isso, subitamente, desde a ascensão da geringonça ao poder, todas desgraças, injustiças, desemprego, fome e miséria evaporaram-se, para usar as palavras do presidente Marcelo – o evaporador-mor do Reino de Pacheco.

É neste contexto que Passos Coelho tem de fazer oposição sem cair no «bota-abaixismo», que se revela contraproducente, nem no «optimismo» que seria uma mistificação e, de resto, nesse terreno, perderia em toda a linha para Costa. É uma saída muito estreita e certamente exige uma dose mínima de carisma (que não é abundante em PPC, to say the least) e, sobretudo, uma visão para o país, própria, realista, distinta e distinguível do social-corporativismo de quase toda a esquerda (que PPC ainda não mostrou) que mobilize aquela parte do eleitorado que não vive pendurada no Estado e que contenha a legião de apparatchiks que povoam o PSD, impacientes por recuperarem o estatuto de novos situacionistas.

É mais fácil de dizer do que de fazer e, se for possível, levará sempre um certo tempo e requer alguma paciência. Habituem-se.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (46)

Outras avarias da geringonça.

Se os caros leitores não suportarem mais o tema «Caixa» que, concedo, é demasiado mau até para a geringonça, sugiro que voltem à Crónica na próxima semana porque este é o prato de sustância no menu de hoje (recomendo a leitura deste artigo de Helena Garrido, um oásis no deserto da imprensa apologética).

Finalmente a CE aprovou a capitalização da Caixa com várias condições, umas humilhantes para o governo, outras simplesmente muito difíceis de realizar.

28/08/2016

Pro memoria (316) - Mais ou menos «arrumada» a banca já está. Acabar a obra até ao fim do ano é um bocadinho ambicioso



"arrumar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
6. Deixar sem capacidade de agir ou de reagir. = ANIQUILARLIQUIDAR
7. Ficar em estado ou situação difícil ou negativa (ex.: não arrume mais confusão).

CASE STUDY: Se os industriais da cerâmica estrutural não se cuidarem podem vir a «fazer tijolo»

Uma das poucas indústrias que ainda restam em Portugal com produtos não transaccionáveis protegidos da concorrência externa é a indústria cerâmica estrutural cujos produtos (telha, tijolo e abobadilha), de alta densidade de peso e baixa densidade de valor, tornam economicamente inviável o comércio internacional. A indústria empregava em 2007 cerca de 2.600 trabalhadores e tinha um volume de negócios de 205 milhões de euros, com uma produtividade (medida em toneladas por trabalhador) 40% inferior à da Espanha. (Fonte: «Caracterização do subsector da Indústria cerâmica estrutural em Portugal», estudo promovido pelo COMPETE, QREN e outras instituições, Coimbra, Setembro de 2009)

Como noutros casos (recordemos o Acordo Multifibras que praticamente acabou com a produção têxtil e de vestuário em Portugal), o fim da protecção contra a concorrência internacional poderá não estar longe.

As telhas e os tijolos convencionais são muito densos, são fracos no isolamento de calor e a sua produção é carbono-intensiva. Que tal se estivessem para breve tijolos leves, bons isolantes de calor e fabricados com materiais reciclados e, portanto, de baixo teor de carbono e, cereja no topo do bolo, capazes de armazenar mais dióxido de carbono do que o necessário para a sua produção?

Ficção científica? Nem por isso a Wienerberger, o fabricante austríaco maior produtor mundial de tijolos, está a tratar disso. É bem possível que a indústria cerâmica estrutural portuguesa venha nos próximos anos a ter um destino semelhante ao da têxtil, com uma diferença apesar de tudo: ainda que a densidade de valor aumente pode continuar a não ser económico o comércio internacional, e nesse caso os fabricantes tecnologicamente mais avançados, como a Wienerberger, poderão optar pelo fabrico local. De um modo ou outro a indústria cerâmica estrutural portuguesa enfrentará o mesmo dilema dos dinossauros: ou muda ou é exterminada ou seja condena-se a fazer tijolo.

Para os mais novos: «Fazer tijolo» é uma expressão significando «morrer» surgida no período de reconstrução de Lisboa, após o sismo de 1755, em que foi usada argila proveniente de um «almacávar», um antigo cemitério mouro, para os lados da rua das Olarias para fabricar tijolos que por vezes tinham ossos no seu interior.

ACREDITE SE QUISER: Desperdício de comida

Em 2012 a Europa desperdiçou 88 milhões de toneladas de comida no valor de 143 mil milhões de euros, ou uma média por cada europeu de 173 kg num ano ou 474 g por dia, o equivalente entre 1/5 e 1/3 da quantidade média de comida ingerida pelos humanos. O total desperdiçado seria suficiente para alimentar uns 140 milhões de bocas- a Rússia, por exemplo.

Em parte este desperdício e a consequente poluição devem-se à regulamentação com prazos de validade ridiculamente curtos e às dificuldades kafkianas de doação de comida pelos restaurantes e supermercados. Ao que parece a CE está a tratar do assunto. Esperemos que não seja nomeado um comissário para o Desperdício de Comida e, se o criarem, oxalá seja português.

27/08/2016

A metalúrgica do regime afunda-se com ele (9)

Actualização de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7) e (8)

Recordando: A Martifer, dos irmãos Martins, em tempos um dos exemplos de sucesso de José Sócrates e uma das meninas dos olhos do jornalismo promocional (uma variante do jornalismo de causas), mesmo depois de ter sido acolhida em 2007 pela Mota-Engil, a construtora mais emblemática do regime, de que foi presidente executivo Jorge Coelho, teve mais 137 milhões de euros de prejuízos em 2014 e estava desde Abril do ano passado a tentar vender 55% da Martifer Solar que contribuiu com metade dos prejuízos do grupo.

Foi agora alcançado o acordo de venda de 55% da Martifer Solar à francesa Voltalia. A Martifer Solar foi avaliada em de nove milhões de euros, uma fracção do que lá foi torrado.

Assim continua a purga dos 6 anos do festim socrático e se consuma mais um episódio da defesa dos centros de decisão nacional.

ARTIGO DEFUNTO: A arte de bem titular (9)

Factos:
  • O défice até Julho diminuiu 543 milhões de euros em relação ao mesmo período do ano passado, devido ao aumento maior da receita (2,8%) do que o aumento da despesa (1,3%), em contabilidade pública;
  • As cativações e outros expedientes estão a ser usados para minimizar a despesa em contabilidade pública;
  • As receitas, despesas e défice que interessam para Bruxelas (e para Lisboa, não fosse a manipulação das mentes levada a cabo pela geringonça) são em contabilidade nacional para a qual os expedientes são neutros;
  • A maioria dos impactos resultantes da re-governação da geringonça é no 2.º semestre, por exemplo IVA da restauração, reposição de cortes de salários, novas contratações e horas extra para compensar a redução do horário para 35h, etc. (*)
Leiam-se, à luz destes factos, os títulos de alguns jornais:
  • «Défice encolhe mais de 500 milhões mas receita com impostos abranda» - Público
  • «Défice caiu 543 milhões de euros» - Económico
  • «Retenção na despesa mais do que compensa desaire nos impostos» - Diário de Notícias
  • «Marcelo considera "boa notícia" redução do défice orçamental» - Negócios
  • «Défice diminui até Julho» - Jornal i
(*) No «etc.» podemos encontrar uma profusão de receitas sobre-orçamentadas e despesas sub-orçamentadas como, por exemplo, entre as primeiras, a receita do ISP como muito bem se faz notar neste comentário.

26/08/2016

NÓS VISTOS POR ELES: Visto de fora, sem o nevoeiro da imprensa amiga, vê-se melhor

Why Portugal could be Europe’s next economic disaster


“A major bond selloff upon a downgrade could force Lisbon to apply for help again” Holger Schmieding, Berenberg

Spanish success, Portuguese risk

Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (68) - Saudades do regime corporativo (II)

Continuação de (I)

«Médicos recusam dezenas de vagas no interior e no Algarve, titula o JN. Nos Hospitais da Guarda, Covilhã e Castelo Branco só apareceram 9 candidatos para 61 vagas de especialistas. No Algarve ficaram por preencher 31 dos 73 lugares. Um caso que mostra bem o problema das assimetrias geográficas de um país tão pequeno.» (Expresso)

«Os responsáveis do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) acreditam que o reforço remuneratório na Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi uma das 'terapêuticas' adequadas para evitar a 'sangria' de funcionários para os concorrentes privados e reclamam que o tratamento seja administrado também ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), a padecer da mesma maleita.» (Expresso)

Quando leio estas histórias, recordo aquele responsável pelo plano quinquenal soviético que numa visita a Londres se manifestou surpreendido pelo facto das padarias londrinas não parecerem ter dificuldade em abastecer de pão os londrinos e estes não pareciam ter dificuldades em abastecer-se, e quis conhecer o departamento do planeamento inglês que fazia um trabalho tão bom.

ACREDITE SE QUISER: Trump & Sócrates terão coisas em comum?

Terão mais coisas, mas uma é indiscutível: ambos gostam tanto dos livros por si escritos mandados escrever que os compram às resmas.

Com uma diferença, Sócrates, proprietário de umas casinhas e com umas contas na Suíça (diz serem do amigo), gastou 170 mil euros para comprar metade dos 20 mil exemplares, ou seja 8,5 euros por peça. Trump, proprietário de casinos e torres, mais dotado, digamos assim, gastou 55 mil dólares para comprar cerca de 4 mil a $13,75 cada.

Em conclusão, se é verdade o que dizem os boatos sobre os problemas de tamanho de Trump e se, como disse Ortega y Gasset, o homem é o homem e a circunstância, e, digo eu, se a circunstância não ajuda, o homem tem de empertigar-se, então Sócrates precisou mais de empertigar-se do que Trump.

Para quem pretender aprofundar o assunto remeto para este case study.

25/08/2016

Chávez & Chávez, Sucessores (51) – Maduro, o herdeiro de Chavéz, & Erdogan, diferentes mas iguais

Outras obras do chávismo.

Termina hoje o prazo que Nicolás Maduro fixou à administração pública e às empresas estatais para demitir todos os gestores que assinaram uma petição para um referendo para o demitir. A oposição, que está a pressionar para o referendo ter lugar até o final deste ano, diz que alguns trabalhadores já foram despedidos. Este tipo de assédio dos funcionários públicos faz lembrar os tempos de Hugo Chávez, o antecessor do Maduro. Em 2004 ele aprovou a publicação de uma lista de 2,4 m pessoas que assinaram uma petição para um referendo contra ele; muitas dessas pessoas perderam os seus empregos. Numa altura em que a inflação está descontrolada, é uma tentativa desajeitada de um presidente impopular para imitar a táctica que pode não funcionar. Perder um salário público miserável é hoje muito menos importante do que nos tempos de Chávez. (Fonte: The Economist Espresso)

Note-se como regimes autocráticos aparentemente tão diferentes como o socialismo bolivariano e o estado muçulmano de Erdogan, usam o aparelho de estado como instrumento de opressão dos seus opositores.

Pro memoria (315) – a nacionalização do BPN não custou nada e o nada vai já em 4,5 6,5 7 9 mil milhões (XI)

Posts anteriores (I), (II), (III), (IV), (V), (VI), (VII), (VIII), (IX) e (X)

Em retrospectiva: Teixeira dos Santos, co-autor com José Sócrates do desastre da nacionalização de um banco que valia 2% do mercado, ainda em 2012, decorridos 4 anos da sua decisão fatídica, justificava a inevitabilidade da sua decisão porque não custaria nada e a falência do BNP, segundo ele, levaria à quebra do PIB em 4%.

Já que estamos a recordar, recordemos que a nacionalização do BPN foi entusiasticamente apoiada pelo Berloque na pessoa do seu Querido Líder Louçã, agora semi-aposentado, o que não impediu sete anos depois a sua sucessora Querida Líder Catarina Martins dizer com grande descaro que o Novo Banco «é cada vez mais o novo buraco (...) e cada vez lembra mais o BPN».

Essa nacionalização para Teixeira dos Santos não custaria nada aos contribuintes, segundo a última versão publicada pelo Expresso, o semanário do regime que à época da nacionalização seguiu solícito a opinião oficial e oficiosa, o nada andará agora pelos 9 mil milhões de euros, dos quais 5 mil milhões já torrados e 4 mil milhões enfiados nos veículos que gerem os restos do BPN.

E por onde andam os 9 mil milhões, perguntareis? Segundo a esquerdalhada foram «destruídos» pela banca, segundo o presidente Marcelo devem ter-se «evaporado», como a crise. Evidentemente ninguém está interessado em mostrar que estes milhões e os outros são, como aqui exemplifiquei, o custo dos elefantes brancos públicos e privados do regime promovidos pelos seus amigos, custo suportado não pelo Estado, mera instância de extorsão, mas pelos contribuintes, também adequadamente chamados sujeitos passivos.

Pro memoria (314) – «Novas oportunidades», a re-posição

Recordam-se do programa socrático «Novas Oportunidades» que até 2011 torrou 1,8 mil milhões de euros para distribuir diplomas que não valem nem o papel em que estão impressos e que nem um empresário analfabeto impressionariam?

Pois bem, no seu afã de re-pôr, a geringonça ressuscita o programa «Novas Oportunidades» mudando-lhe o nome para «Qualifica», propondo-se gastar 50 milhões por ano para emitir diplomas.

Nada surpreendente, na concepção socialista da educação combate-se o analfabetismo funcional atribuindo um diploma ao analfabeto funcional em troca de uma estória da vida dele. De caminho atinge-se «a meta de 40% de diplomados entre 30 e 34 anos» (Expresso).


Se fosse ministro da Educação da geringonça (vade retro satana!), inspirava-me na anedota de Milton Friedman e, em vez de dinheiro, lançaria diplomas a partir dos helicópteros dos bombeiros aproveitando a época morta dos incêndios.

24/08/2016

ACREDITE SE QUISER: Berloquismo defende «mulheres com deficiência de foro mental» pessoas do género feminino com deficiência intelectual da exploração capitalista

O BE tem uma nova causa: a defesa de «quatro mulheres com deficiência de foro mental» contra a sua exploração na «oficina das hóstias, no Instituto Monsenhor Airosa, em Braga. Duas, numa sala, escolhem partículas usadas na eucaristia. Outras duas, noutra sala, partem e separam aparas, iguaria cada vez mais apreciada como aperitivo.»

Uma responsável do Instituto confessou o crime e admitiu que as pessoas do género feminino «além de participar em actividades lúdicas, como natação ou zumba, colaboram nas actividades da casa».

Chamada de atenção politicamente correcta:
O Público, que publicou a referida notícia, deve enviar as suas jornalistas à universidade de Verão do BE para participarem no «comboio de massagens» e aprenderem o newspeak PC, como exemplifico neste post.

Olimpíadas Socialistas

KAL's cartoon, Economist

SERVIÇO PÚBLICO: Impertinências que outros escreveram e nós temos pena de não ter escrito

«O choradinho olímpico» - João Miguel Tavares, no Público, desmistifica a mendicância medalhística.

«10 Erros sobre o turismo em Lisboa» - Tomás Belchior, no Insurgente, desmistifica as teses da ciência de causas de um geógrafo PhD.

23/08/2016

ESTÓRIA E MORAL: A maior prova de insanidade

Estória

«Solução para o "Brexit" é mais integração, defendem Renzi, Merkel e Hollande»


Era uma vez uma sociedade que durante décadas de vacas gordas se foi alargando e integrando novos sócios. Chegaram as vacas magras e a sociedade está em crise. Um dos sócios decidiu sair e outros dividem-se entre os que estão descontentes por receberem de menos e os que estão descontentes por pagarem de mais.

Três sócios fundadores reuniram-se e decidiram que a solução será fazer a mesma coisa mais depressa e com mais intensidade.

Moral

«Fazer todos os dias as mesmas coisas e esperar resultados diferentes é a maior prova de insanidade» (Albert Einstein, Benjamin Franklin ou Rita Mae Brown, um deles disse isso).

A mentira como política oficial (20) – Primeiro estranha-se, depois entranha-se

Com vista a combater a evasão fiscal, a geringonça pretendia meter o bedelho nas contas bancárias dos «ricos», nome que os socialistas aplicam à classe média que não depende do Estado Sucial e paga 3/4 dos impostos. Primeiro a coisa ficou escondida na Lei do Orçamento do Estado para 2016 sob a forma de uma autorização legislativa.

Depois quando o governo se preparava para criar o dispositivo legal necessário mandou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Tributários falar em nome do Fisco ficando a perceber-se que o governo pretendia conhecer os saldos das contas de todos os sujeitos passivos. Como isso gerou um certo borborinho, o governo apressou-se a esclarecer que essa informação apenas respeitaria aos indígenas com contas bancárias com saldo igual a 50 mil euros ou superior.

Como o borborinho continuasse, a geringonça mandou dizer através de fonte não reveladas (e o Observador vai nessa) que «pretende cumprir os compromissos internacionais do Estado português nesta matéria e reforçar os mecanismos que são internacionalmente considerados necessários como meios de combate à fraude e evasão fiscal, ao branqueamento de capitais e ao financiamento da criminalidade organizada e do terrorismo».

Na verdade, a directiva comunitária que cria esses controlos só se aplica aos estrangeiros residentes em Portugal e aos portugueses residentes no estrangeiro e não a todos os portugueses.

SERVIÇO PÚBLICO: A geometria não euclidiana do GES

Diagrama do Expresso
Esquema montado durante pelo menos duas décadas por Ricardo Salgado e a sua clique, com numerosos cúmplices pela acção e pela omissão, para fazer circular e multiplicar o dinheiro.

22/08/2016

Mitos (239) - A troika deixou os portugueses mais pobres e mais desiguais

Há dois anos, com base em dados do período 2007-2011 do estudo da OCDE «Rising inequality: youth and poor fall further behind», Insights from the OECD Income Distribution Database, June 2014, desmontei neste post a parte do mito antes da intervenção da troika, demonstrando que nesse período:
  • em relação aos rendimentos disponíveis as desigualdades diminuíram;
  • os mais afectados foram os ricos; 
  • os idosos tiveram ganhos nos rendimentos disponíveis;
  • a «austeridade neoliberal» foi menos penosa do que a «austeridade socialista» do Dr. Soares
Agora, com base em dados do Instituto Nacional de Estatística, o Expresso num artigo intitulado «Pós-troika: mais poder de compra e menos desigualdades?», com um extraordinário ponto de interrogação supérfluo pelos dados citados no texto e só explicado pela doutrina oficial do jornalismo de causas, vem reconhecer que «após três anos de troika, o mercado de trabalho em Portugal sofreu algumas alterações. Já depois da intervenção externa no país, o salário mínimo subiu e também os rendimentos médios tiveram uma melhoria. Houve uma subida de 4,5% em dois anos. Ou cerca de 3,2% em termos reais».

Como explicar que, contrariamente à lengalenga e ao discurso da esquerdalhada, os portugueses estejam hoje melhor do que antes do início da crise em 2008 e, sobretudo, depois de 4 anos de intervenção da troika?

Fonte: Trading Economics

A resposta é dada pelo diagrama que mostra que entre 2007 e a actualidade a dívida pública portuguesa duplicou, significando que o Estado português fez uma redistribuição do rendimento à custa dos credores, nomeadamente FMI, BCE e CE. Em conclusão, os portugueses estão melhor hoje porque Portugal está pior, o que significa que os portugueses estão melhor no presente à custa de ficarem pior no futuro.

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: A igualdade a todo o custo custa a liberdade e sem liberdade há mais desigualdade

«Em Portugal, não há uma economia privada, uma sociedade civil ou uma classe dominante que dirija o país e comande o Estado. É o contrário. Sempre foi. À esquerda ou à direita, com interesses nacionais ou estrangeiros e com ou sem a Igreja, é o Estado que comanda. Por isso é tão frequente encontrar quem exerça o poder com o Estado, pelo Estado e através do Estado. É um Estado para todas as estações. E todos os azimutes. Nas últimas décadas, o Estado fez a guerra e a descolonização, fez a revolução e a contra-revolução, nacionalizou e reprivatizou a economia.

(...)

O trabalho, a justiça, a cultura e a igualdade são valores de esquerda. Ou antes, também são de esquerda. Mas a liberdade vem à cabeça. Pelo menos com a esquerda democrática. Quando um partido ou um governo substitui, entre as prioridades políticas, a liberdade pela igualdade, não restam dúvidas: esse partido ou esse governo está a abandonar a democracia! A igualdade não é uma arma de luta pela liberdade. Com a igualdade, é difícil defender a liberdade. Pelo contrário, com liberdade, podemos combater a desigualdade. A liberdade é mesmo a principal arma de luta pela igualdade.»

Liberdade e igualdade, António Barreto no DN

Ocorre-me o pensamento de António Alçada Baptista que serve de epígrafe a este blogue:
«Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.»

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (45)

Outras avarias da geringonça.

É uma fatalidade. Só o governo acredita, melhor, diz acreditar, nas suas metas. A UTAO estima que a dívida pública tenha subido para 131,6% no fim do 1.º semestre já acima da meta do governo no final do ano (124,8%).

É claro que, com toda a naturalidade, a situação portuguesa vista de fora inspira as maiores reservas. Como ao Commerzbank que vê Portugal e Espanha em «planetas diferentes». É natural, basta olhar para o diagrama seguinte com os yields a 10 anos para ter de concordar com esse juízo que a gerigonça talvez possa ignorar. Contudo, já será mais difícil ignorar o que pensa a DBRS, a agência de rating que é a única a manter a dívida portuguesa acima do nível junk e dela depende o acesso ao crédito do BCE. E o que diz a DBRS? Diz que está «preocupada» o que em reitinguês quer dizer cuidem-se que estamos a considerar o downgrade.

21/08/2016

ESTÓRIA E MORAL: Os pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam têm um défice estrutural de memória

Estória

Era uma vez um pastorinho da economia dos amanhãs que cantariam mas não cantaram e, pelos vistos, não cantarão. Chamava-se Nicolau Santos e tinha o blogue  «Keynesiano, graças a Deus», no Expresso, onde escrevia coisas que o John Maynard se ressuscitasse lhe diria Nicolau, Sir, you got stuck in the 30s.

Desta vez escreveu um artigo baptizado «O que dá vender empresas a estrangeiros». Escrevi baptizado, em vez de intitulado, em homenagem ao seu episódio com o vigarista Baptista da Silva que constitui o conto do vigário mas notável do século XXI, o que não é dizer pouco neste país onde há imensa gente a viver de contos do vigário.

Nesse artigo Nicolau Santos atira-se ao «hipermercado das ideias económicas (onde) há quem defenda que não interessa a nacionalidade de quem detém as empresas bla bla bla» e para demonstrar a justeza da sua tese, que parece ser a de que o que interessa é nacionalidade das empresas, apresenta dois exemplos, a PT e a Cimpor, com a mesma infelicidade que evidenciou a escolha de Baptista da Silva para demonstrar uma outra sua tese.

Quanto à PT, recordemos que o seu activo mais valioso (uma participação de 50% na Vivo) foi vendido à Telefónica pela agência Sócrates, Lula & Cª, por conta e ordem de Ricardo Salgado, para tapar o buraco do GES, em troca imposta pelo governo de Sócrates da compra de um chaço falido chamado Oi que servia de abrigo aos empresários amigos de Lula e que com esta operação se iniciou a irremediável queda do que Nicolau chama «uma bandeira de Portugal nos mercados externos», bandeira que, na verdade, se limitava à Vivo. Ver a este respeito os inúmeros posts do (Im)pertinências onde esta saga foi acompanhada.

Quando à Cimpor remeto para este post recordando que a Caixa, o lugar geométrico do socialismo bancário, e o BCP, nessa época dominado pela clique socrática que o assaltou, que detinham participações na Cimpor, aceitaram a OPA da Camargo à Cimpor e recusaram uma proposta de Pedro Queiroz Pereira, um empresário desalinhado do regime.

Por último, recordo que a venda dos ridiculamente chamados centros de decisão nacional foi levada a cabo pelos seus maiores defensores (ver a série de posts «A defesa dos centros de decisão nacional») por razões muito simples: a falta de capital português e o pesadíssimo e crescente endividamento ao estrangeiro, produto de várias décadas de desequilíbrio das contas externas resultante das políticas económicas das várias modalidades de socialismo «keynesiano».

Morais

Uma moral fabricada nos centros de decisão nacional: Nicolau foi buscar lã e saiu tosquiado.

Outra moral fabricada na pérfida Albion por Sir Fred Hoyle, um astrónomo com mais jeito para os provérbios do que para a astronomia: «Things are the way they are because they were the way they were».

20/08/2016

Curtas e grossas (36) - António Costa, um falhado

Se um primeiro-ministro tivesse apeado à custa de manobras várias o seu concorrente à liderança do seu partido, tivesse perdido as eleições que acusou o concorrente de não conseguir ganhar, se tivesse aliado com os partidos que mais tinham combatido o seu, se tivesse falhado uma a uma as promessas de crescimento, de reestruturação da dívida, etc., se tivesse proporcionado um espectáculo ridículo de incompetência e insensatez como a recapitalização da Caixa e a nomeação da sua administração, o que diriam dele a comentadoria, os opinion dealerso jornalismo de causas, as corporações que parasitam o Estado sucial e toda a nomenclatura do regime?

Diriam que o homem é um falhado. Por que o poupam? Porque ele é um deles, um novo situacionista sem alternativa à vista de outro que garanta que tudo continua na mesma.

SERVIÇO PÚBLICO: O papel da dupla Animal Feroz-Dono Disto Tudo na sabotagem da OPA da Sonae à PT

Era um segredo de Polichinelo para quem tivesse seguido atentamente o processo, o conluio Sócrates-Ricardo Salgado na sabotagem da OPA da Sonae à PT em 2007. Deixou de ser com as declarações de Paulo Azevedo aos investigadores da Operação Marquês publicadas pelo Observador.

Vale a pena ler a dezena de páginas A4 do artigo «Paulo Azevedo, o homem que antecipou o fim do GES sete anos antes» para se confirmar a extensão da teia de cumplicidades que vão desde a participação activa na sabotagem até aos numerosos prudentes silêncios de Conrado. Muito revelador do que são os interesses e conluios corporativos é a afirmação de Paulo Azevedo de que «a informação da degradação financeira do grupo (GES) ..., seria do conhecimento generalizado dos bancos portugueses e só a influência que Ricardo Salgado tinha no sistema de negócios português terá permitido que a derrocada do império da família Espírito Santo apenas tivesse ocorrido em 2014».

Crescimento da dívida durante o consolado de Sócrates
Não há universos paralelos nem realidades alternativas, se houvesse e fosse possível recuar no tempo e evitar a sabotagem, teríamos tido a queda do GES quatro anos antes da intervenção da troika que teria sido provavelmente antecipada e pouparia a 4 anos de delírios de José Sócrates, de assalto ao orçamento e ao crescimento explosivo da dívida.

19/08/2016

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (15)

Outras preces.

Palavras para quê? É um artista português.

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (138) - Então? Não se indignam por eles não quererem «gajas»?

«Santos Silva critica Ban Ki-moon por este preferir uma mulher como sucessora»

«Temos muitas líderes mulheres distintas e eminentes em governos nacionais ou em outras organizações ou mesmo em comunidades empresariais, políticas e culturais, e em todos os aspetos da nossa vida. Não existe nenhuma razão para que isso não aconteça nas Nações Unidas», comentou Ban Ki-moon numa declaração politicamente correcta que deveria ser aplaudida de pé pela esquerdalhada.

Por que razão Santos Silva, o MNE em exercício, o tal que gosta de malhar na direita, acompanhado por uma legião de defensores da igualdade de sexos géneros, se insurgiu contra Ban Ki-moon? Obrigado por perguntaram. A resposta é simples: o próximo SG da ONU deveria ser uma mulher a menos que o nosso candidato seja um homem.

18/08/2016

Surpreendente! Quem diria?

MPLA reelege José Eduardo dos Santos

ACREDITE SE QUISER: O BE do ano passado não é o mesmo deste ano e o PCP também não

Se o Pedro do ano passado não é o Soares deste ano, é natural que o BE do ano passado não seja o mesmo deste ano e o PCP também não.

Pelo menos é o que nos diz o Expresso, o semanário do regime e uma autoridade em matéria de geringonça, logo no título da peça: «Passos acusa, Costa responde (e BE e PCP fingem que não é com eles)». Dado o interesse historiográfico da coisa e considerando que a peça do Expresso só está disponível para assinantes vou citar o trecho relevante acerca da mudança de paradigma de bloquistas e comunistas mostrando assim grande desvelo pela doutrina Somoza. Aqui vai.

«A 14 de agosto de 2015, o INE divulgou os dados da evolução da economia no segundo trimestre desse ano: 1,50% de variação homóloga, 0,4% de crescimento em relação ao trimestre anterior. Jorge Pires, do PCP, considerou que era “crescimento anémico, muito aquém das necessidades". 

Três meses depois, já a seguir às eleições, o Instituto de Estatística voltava à carga, com os dados relativos a julho, agosto e setembro: 1,4% de crescimento homólogo, variação em cadeia quase nula (+0,1%). Os comunistas voltaram à carga, considerando que o crescimento apregoado pela coligação durante a campanha eleitoral era uma ficção. “Afinal tudo aquilo que foi intensamente dito aos portugueses não passava de um grande embuste”, denunciou António Filipe, considerando que "a evolução da economia portuguesa caracteriza-se pela estagnação e pela desaceleração". 

Do lado do BE, o discurso era parecido. Ao olhar para os números do terceiro semestre, os últimos da responsabilidade da direita antes de eleições, Mariana Mortágua afirmou: “Os dados contradizem toda a narrativa de sucesso económico que foi apresentado por PSD e CDS durante campanha. A economia não está a crescer, está a estagnar”. Perante os 1,4% de subida do PIB, a economista do BE afirmou que o que existe é uma “economia estagnada e incapaz de recuperar da crise que viveu nos últimos anos”.

Meses antes, Pedro Filipe Soares, tinha igualmente desvalorizado os dados do primeiro trimestre de 2015 que foram os mais positivos que o país conheceu em muito tempo: crescimento homólogo de 1,7% e variação em cadeia de +0,5%. Uma melhoria que “não está a responder ao essencial", acusou o líder parlamentar do BE, pois “a vida real das pessoas mostra que os salários não chegam para pagar as contas no final do mês”.

Nesse dia de maio de 2015, quando foram revelados os dados do primeiro trimestre, o PCP olhava para os 1,7% e frisava que “o crescimento económico é inferior à previsão do Governo". Mais: segundo o comunista Paulo Sá, “este crescimento económico é insuficiente e não traduz uma melhoria das condições de vida dos portugueses, mas apenas uma acumulação de riqueza nas grandes empresas e nos grupos económicos".»

E pronto. Agora não me peçam para, à luz disto, explicar os resultados destas sondagens. Se insistirem, lá terei de responder que, se não é possível saber se um povo tem a oposição que precisa (só se vê depois), é indisputável que tem sempre o governo que merece.

17/08/2016

Os poderes mágicos do optimismo

«Afinal é este governo que acredita nos poderes mágicos do otimismo, porventura depois de terem lido meia dúzia de best sellers de autoajuda: se acreditares que vai correr bem, então vai correr bem. E, se não correr, a comunicação social amiga finge que sim e os papalvos dos eleitores pensarão que as suas desgraças individuais não se replicam pelo resto da população.»

«A ministra da festa cor-de-rosa e da reforma agrária», Maria João Marques no Observador

DIÁRIO DE BORDO: Senhor, concedei-nos a graça de não termos outros cinco anos de TV Marcelo (14)

Outras preces.

Devemos invejar o Japão, não por terem um PIB per capita PPP 40% superior ao português – afinal conseguem isso em parte à custa de serem vítimas do karoshi, mas apenas pelo facto prosaico do seu imperador Akihito só fazer declarações quando tem alguma coisa a comunicar. Desde 1989 só o fez duas vezes, a segunda para declarar que iria renunciar para se reformar por sentir já não dar conta do recado.

Talvez por isso os japoneses são tão produtivos, imagino. Se o imperador Akihito tomasse o exemplo do nosso presidente dos afectos que em qualquer manhã mais sossegada faz mais declarações do que Akihito em 30 anos, certamente os japoneses só poderiam ouvi-lo à custa de arruinarem a produtividade.

Se os portugueses não forem completamente tontos, as declarações do presidente Marcelo tenderão, gradualmente, a entrarem por um ouvido e saírem por outro, até um dia em que escutarão com muita ansiedade e redobrada atenção apenas os primeiros segundos da sua próxima declaração esperando, em vão (receio), ouvi-lo anunciar que irá seguir o exemplo de Akihito.

Lost in translation (276) – Estão a falar de países diferentes com línguas diferentes

Respondendo às críticas de Passos Coelho na sua homilia anual no Pontal sobre o esgotamento da geringonça e a estagnação da economia, António Costa ripostou ad hoc à entrada do quartel de bombeiros de Arouca (um local apropriado para ripostar) que não, não era nada disso, o seu governo estava a «reconstruir o país» e a fazer a «inversão da trajectória económica» e a oposição só anunciava desgraças, que aliás não se verificavam.

Para quem escreve todas as semanas uma Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça, as declarações de Costa foram uma surpresa. Por coincidência, quando li esta citação de Costa tinha acabado de ler o post «Aniversário do Plano Macroeconómico do PS» de O Insurgente do qual tomo a liberdade de reproduzir os diagramas, confiando que Confúcio saberia do que estava a falar se tivesse dito «uma imagem vale mais do que mil palavras», apesar de ter vivido sem televisão. Escrevo se tivesse dito, porque dizem os sinólogos, os caracteres que supostamente significariam isso na verdade significam outra coisa.

A reconstrução do país e a inversão da trajectória segundo Costa

Créditos: Insurgente

16/08/2016

ACREDITE SE QUISER: O Pedro do ano passado não é o Soares deste ano. A Constança é a mesma

Há quem tenha citado as críticas de um Pedro Soares de um Bloco de Esquerda à «incompetência do Governo (que) não pode encontrar justificação na meteorologia» por ter deixado arder não sei quantos milhares de hectares de floresta.

Ora acontece que o Pedro Soares do Bloco de Esquerda que produziu tais críticas não é o mesmo Pedro Soares do Bloco de Esquerda a falar sobre os incêndios deste Verão que o outro atribuiu à incompetência do governo. O Pedro Soares do Bloco de Esquerda que falou sobre os incêndios e os atribuiu à incompetência do governo é o Pedro Soares do Bloco de Esquerda do ano passado. O Pedro Soares do Bloco de Esquerda deste ano não falou sobre os incêndios e não falou porque não havia nada para falar, pois se os incêndios foram devidos à meteorologia.

Em contrapartida, a Constança Urbano de Sousa, professora da UAL no Verão passado, é a mesma Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna este Verão, que, segundo o JN, «quer incendiários a pagar custos do combate». Pode começar pelo retardado, drogado e desempregado, suspeito do fogo posto no Funchal.

Mitos (238) - O governo PSD-CDS e as PPP

Fonte: Pinho Cardão no 4R
«Esta ideia (a de que renegociação das PPP foi uma área onde o governo anterior falhou), tão generalizada na opinião pública portuguesa, é errada.

E é errada porque o necessário é impossível. O necessário seria não ter assinado tantos contratos ao longo de mais de uma década com pagamentos postecipados para um futuro que parecia longínquo mas que para nós, pagadores de impostos em anos de crise, se tornou presente. A ideia das PPPs, tão acarinhadas por alguns governos mas principalmente pelo de José Sócrates, era simples, nas mentes de políticos de vistas curtas. As PPPs eram obras públicas pagas com dívida que não ficava registada nas contas do estado mas sim nas contas do parceiro privado. Nós fazemos a festa antes das eleições, quem vier depois de nós que pague a conta. Publica-se um défice razoável e enganador porque a verdade ficou escondida nos livros de contabilidade de uma sociedade veículo qualquer. Compramos votos hoje a pagar com impostos futuros.

Continue a ler «O Necessário é Impossível» no Blasfémias.

Chávez & Chávez, Sucessores (50) – Realizações do socialismo bolivariano (actualização)

Outras obras do chávismo.

Ler no NYT
É este o modelo da geringonça, ou pelo menos de 2/3 dela.

15/08/2016

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: «Atribuir a culpa do nosso insucesso a outros guia-nos ao próximo fracasso»

«Pois é. Tendo a crer que, três décadas passadas, não mudámos muito. Telma, e regresso à sua autobiografia, escreve que “atribuir a culpa do nosso insucesso a outros guia-nos ao próximo fracasso”. Se ela o tivesse feito, há muito que teria desistido, pois não pode vencer sempre e cometeu muitos erros. Mas sabemos que não desistiu, e estas palavras valem tanto mais quanto é verdade que quando acabava de escrever o seu livro estava também a recuperar de mais uma operação ao joelho e o que tinha por mais incerto era conseguir regressar ao topo a tempo dos Jogos Olímpicos. Conseguiu, para bem dela e de nós todos.

Mas nós todos é que não somos assim. Passamos mesmo a vida a fazer o contrário do que ela aconselha. A crise do país não foi culpa do nosso governo de então, foi da crise internacional – disse-se isso na altura e continua-se a repetir hoje. A crise do endividamento privado não resultou de decisões de quem quis comprar aquilo para que não tinha dinheiro, mas apenas produto dos maliciosos bancos, que andaram a atazanar as pessoas.

O crescimento que nos prometeram não regressou, mas já estamos a ouvir as desculpas: a culpa é do governo anterior, pois o abrandamento vinha detrás; ou então a culpa é de Bruxelas, que obrigou a mudar o orçamento; ou ainda a culpa é dos juros baixos (como podia ser dos juros altos) ou do petróleo barato (como podia ser do petróleo caro).

A nossa floresta voltou a arder? A culpa é de quem não limpa as matas, como antes foi dos madeireiros, ou dos reaccionários, ou das celuloses, ou da falta de meios. Nunca é de quem podia ter mudado as políticas há dez anos e não o fez.

Temos sempre um motivo para choramingar. Há mais turistas e centenas de obras de reabilitação nas cidades históricas? Ai meu deus que os alugueres estão a ficar caros. Há empresas que inovam, da Uber aos rapazes dos tuk-tuk? Aqui del-rei que o negócio dos taxistas está pelas ruas da amargura. Os exames nos vários graus de ensino revelam debilidades que não gostamos de ver? Acabe-se com os exames, não fiquem as criancinhas traumatizadas.»

«O país da choraminguice. E o país de Telma Monteiro», José Manuel Fernandes no Observador

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (44)

Outras avarias da geringonça.

Começo pela anunciada segunda visita de Costa a Tsipras para discutir a reestruturação da dívida e remeto para este post de ontem que me dispensa de mais comentários.

E, por falar em reestruturação da dívida, da qual mais de 12 mil milhões é detida pelo FEFSS, vem a propósito lembrar que os funcionários públicos contratados nos últimos anos estão abrangidos pelo regime geral da SS pelo que a CGA deixou de ter novos subscritores e, em consequência, o número de pensionistas já ultrapassou o número de activos e a CGA passou a ser um esquema Ponzi em estado puro - dentro de alguns anos acontecerá o mesmo ao regime geral. Dir-se-à que isto não tem nada a ver com a geringonça, mas passa a ter porque o PS foi governo a maior parte dos últimos 42 anos e todos os parceiros da geringonça metem a cabeça na areia e negam a insustentabilidade da SS ou, o que é a mesma coisa, dizem que criarão novos impostos para a financiar.

14/08/2016

SERVIÇO PÚBLICO: Algumas perguntas sobre a segunda visita de Costa a Tsipras

Segundo o semanário SOL, António Costa vai estar a 9 de Setembro em Atenas com Tsipras, Hollande e Renzi para discutir uma «agenda alternativa às políticas de austeridade impostas por Bruxelas por pressão dos estados da Europa do norte». Um dos pontos da agenda é, sem surpresa, a reestruturação da dívida ou, mais precisamente, a reestruturação da dívida é a agenda, o resto é só para compor.


Primeira pergunta: que reestruturação que estará em causa? O perdão da dívida? A Grécia já teve o seu perdão de mais de 100 mil milhões de euros em 2011. Redução dos juros? Portugal e a Grécia já o tiverem por várias vezes e pagam hoje taxas muito mais baixas do que antes da crise financeira. Reescalonamento das maturidades? Portugal e a Grécia já o tiverem por várias vezes.

Segunda pergunta: também são para reestruturar os mais de 100 mil milhões de euros detidos pelos bancos portugueses, pelo Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) e por particulares portugueses?

Terceira pergunta: em particular, também são para reestruturar as duas emissões de OTRV de 750 milhões de Maio e 1,2 mil milhões de Agosto destinadas a particulares portugueses e subscritas por muitas dezenas de milhares de famílias?

Quarta pergunta: aquele pateta que está hoje no governo e que há 5 anos disse: «Estou marimbando-me para os bancos alemães (…) Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida” e se o fizermos “as pernas dos banqueiros alemães até tremem”» já terá percebido que os bancos alemães se estão marimbando para ele e para a dívida portuguesa de que detêm uma parte ínfima e as pernas que tremeriam são as dos banqueiros portugueses, dos contribuintes portugueses que pagariam o resgate dos bancos portugueses e dos pensionistas portugueses que veriam evaporar-se uma parte significativa das reservas da segurança social?

Mitos (237) - O problema do fundamentalismo islâmico não são os infiéis, são os islamitas

"Um intelectual é tão frequentemente um imbecil que devíamos sempre, à partida, tê-lo como tal, até que tenha provado o contrário
Georges Bernanos
1. Não há dois Islāos. Está tudo no mesmo, a face tolerante e a intolerante, guerreira e sanguinária. Há um só Islão, que os muçulmanos — e só eles, não “nós”, não o “outro” — têm de libertar do que contém de obscurantista, obsoleto e intolerável.

Ignorarmos ou fingir que a tragédia do Islão e dos muçulmanos não é marcada por essa dimensão religiosa só contribui para adiar a consciência e prolongar a passividade relativamente a uma realidade que os muçulmanos têm de enfrentar.

Se o Islão não contivesse essa dimensão de intolerância, violência e guerra santa, não era possível a fanatização em massa a que se assiste. É essa dimensão de um Islão desde sempre refém de poderes e ambições políticas, que que seja usado por líderes, bem esclarecidos e pragmáticos esses, com projectos políticos coerentes e historicamente sustentados. Um desses projectos sempre recorrente é o sonho fantasmático do regresso ao califado. É à luz dessa ambição e desse projecto que se pode compreender toda o quadro da guerra na Síria, no Iraque e na Líbia conduzida pelo Exército Islâmico e a atracção de tantos combatentes às suas hostes.

(...)

Continue a ler «Que fazer com o Islão?», um corajoso artigo contra a corrente de Guilherme Valente no Observador

13/08/2016

Chávez & Chávez, Sucessores (49) – Realizações do socialismo bolivariano (actualização)

Outras obras do chávismo.

A caminho da sociedade socialista (versão bolivariana)


Fonte: Economist

ESTADO DE SÍTIO: Habituem-se (4)

Uma sondagem  Eurosondagem do regime para o semanário do regime

Se, apesar deste aviso e deste lembrete e deste alarme, ainda pensais que, numa bela manhã de nevoeiro, o povo, percebendo que a governação da geringonça nos levará a percorrer um caminho já quase familiar de corda ao pescoço de novo até Bruxelas, se levantará como um só homem, perdão, como uma só pessoa do «género» humano, abdicando deste saboroso e distendido intermezzo e da renovação do living room, das férias nas Caraíbas, da troca do chaço, da substituição do hifi, do ipod, do iphone e do ai o caraças que aí vem a troika outra vez, se levantará, dizia eu, em poderosas manifs semelhantes às cariocas e paulistas, se não no clima pelo menos no ímpeto, exigindo a impugnação da geringonça, se ainda pensais, dizia eu, é melhor aproveitardes as ganas para renovardes o living room, trocardes chaço, o hifi, o ipod, o iphone e o ai o caraças porque, se vier aí a troika, deixai-a vir, depois logo se vê.

12/08/2016

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O Leónidas do século XXI

Secção Still crazy after all these years

Ontem Michael Phelps facturou a sua 13.ª medalha de ouro individual nos 200 m livres ultrapassando assim qualquer ser vivo e até mesmo os mortos. Leónidas de Rodes que participou em 4 Olimpíadas, só ganhou 12 medalhas de ouro, as últimas há 2.168 anos.

Leva 5 afonsos e uma entrada directa para o Olimpo.


Quem também merece uma medalha é o ex-ministro da Economia, ausente em parte incerta, Manuel Pinho - o dos corninhos -  que há 8 anos apareceu numa foto montada na primeira página do DN na companhia do Leónidas.

ESTÓRIA E MORAL: Se pára de se mover, subsidia-se

Estória 

Era uma vez uma cidade com um centro histórico degradado, casas em ruínas de proprietários sem dinheiro para as recuperar por décadas de rendas fixadas administrativamente. Gradualmente, as coisas foram mudando e muitas dessas casas foram compradas por gente com iniciativa que as recuperou e as começou a utilizar para aluguer de curta duração a turistas, aproveitando o afluxo de estrangeiros, que em parte temos de agradecer ao fundamentalismo islâmico que os afastou doutros destinos.

Passado algum tempo, o governo do país onde se situa essa cidade, pressionado pelos partidos apoiantes que não gostam de iniciativas e, sobretudo, não gostam de gente que ganhe dinheiro com as iniciativas, anunciou que vai fixar uma quota aos proprietários de casas com aluguer de curta duração para reservarem uma parte não especificada para o aluguer de longa duração.

Moral

«A visão do governo sobre a economia pode ser resumida em poucas frases curtas: 'Se se movimenta, taxa-se. Se continua a movimentar-se, regula-se. Se pára de se mover, subsidia-se'.»

Conversa fiada (17) – Manobras de diversão que são insultos à inteligência

A coisa é tão parva que só pode ter sido encomendada pelo chefe Costa para distrair o povo das viagens do SE dos Assuntos Fiscais por conta da Galp e do agravamento solar do IMI. Antes dos incêndios, claro, porque agora já não faltam distracções.

O ministro Adjunto, Eduardo Cabrita, declarou enfaticamente que a geringonça iria corrigir uma gravíssima falha do governo anterior, a saber: «as isenções automáticas de IMI atribuídas a quem tem baixos rendimentos permitiram que estrangeiros e emigrantes sem rendimentos em Portugal deixassem de pagar, só em abril, 57 milhões de euros deste imposto às câmaras».

O jornalismo de causas correu a propalar esta gravíssima injustiça sem se dar ao trabalho de constatar que a isenção de IMI por baixos rendimentos (até 15.295 euros por ano) só se aplica aos imóveis com valor patrimonial tributário até 66.500 euros. Fica assim por explicar quem serão os estrangeiros e emigrantes cheios de grana interessados em comprar um T0 na Reboleira com valor patrimonial tributário até 66.500 euros.

11/08/2016

A mentira como política oficial (19) - O milagre das 35 horas

Uma boa gestão dos recursos humanos iria garantir que da redução do horário para 35 horas semanais não resultariam mais contratações nem aumento da despesa, foi a lengalenga que Costa e Centeno nos contaram durante vários meses.

Nem os próprios terão acreditado nesta treta como agora se veio a saber. Desde Março o governo dispõe de um estudo sobre o impacto da redução estimando que um quarto das entidades públicas precisará de reforçar os efectivos e «o Executivo vai responder a estas necessidades com contratados a prazo, tendo de garantir 3.621 empregos na Saúde e na Educação. [..]  na Educação serão renovados 2.621 contratos que terminavam no final deste mês. Na Saúde serão contratados “de forma faseada” mil novos enfermeiros. Na Justiça, o Governo preferiu aumentar as horas extraordinárias, revela o memorando sobre o impacto das 35 horas

Sem surpresa, o MF manda dizer que bla bla bla isso não terá consequências na execução orçamental. Podemos apostar singelo contra dobrado que todas estas previsões sairão furadas.

Chávez & Chávez, Sucessores (48) – Realizações do socialismo bolivariano (actualização)

Outras obras do chávismo.

Algumas medidas, talvez inspiradas por el pajarito, que o regime socialista-bolivariano comandado por Nicolás Maduro, o herdeiro do coronel Chávez, tomou para combater a fome no país que tem as maiores reservas de petróleo do mundo:

  • Aumentou o preço da gasolina em 1.500% e desvalorizou o bolívar em 300%. O dólar cambial passou de 6,30 a 10 bolívares
  • Criou o Ministério do Poder Popular para as Comunas e a Agricultura Urbana. Propôs a criação de "galinheiros verticais". Consiste em criar animais em casas particulares.
  • A mesma ideia aplica-se aos produtos agrícolas. Os venezuelanos devem criar hortas verticais para consumo privado.
  • Criou Comités Locais de Abastecimento e Produção (Clap) que distribuem comida a quem está afiliado no Partido Socialista da Venezuela. Os privilegiados queixam-se que têm cada vez menos comida
  • Decretou trabalhos forçados. As empresas públicas e privadas são obrigadas a ceder trabalhadores para irem para o campo produzir alimentos
  • Militarizou a economia ao dar o controlo dos Clap ao ministro da Defesa, que tutela a Grande Missão de Abastecimento Soberano e Seguro.Há relatos de militares que confiscam alimentos

(Fonte: Observador)

Recordemos a propósito que temos em Portugal e na Espanha dois partidos admiradores da autocracia venezuelana que se, tivessem oportunidade, fariam dos dois países Venezuelas sem petróleo: Bloco de Esquerda e Podemos.

10/08/2016

CASE STUDY: Um imenso Portugal (34)

[Outros imensos Portugais]

Enviado por JARF
Evidentemente que é uma paródia e vale o que vale uma paródia. É claro que o dinheiro correspondente ao défice deixado pelo PT não se evaporou - foi enterrado em elefantes brancos e nos bolsos da rede de corrupção montada pelo PT de onde saiu para pagar gastos sumptuários, isto é consumos que, segundo as teorias vigentes na Mouse School of Economics, fazem crescer a economia.

Já o ouro trazido pelos portugueses foi de facto extraído aos brasileiros e teve mais ou menos ou mesmo destino: elefantes brancos, que com uma pátina de 400 anos são considerados monumentos nacionais, e sustento de uma corte ociosa e parasitária.

Em 1926, quando caiu a 1.ª República os cofres estavam vazios. Em 48 anos o salazarismo deixou à democracia em herança cerca de 866 toneladas de ouro - deve ser a isso que a esquerdalhada chama «pesada herança do fascismo» - por coincidência uma quantidade comparável à que o Portugal colonial extraiu do Brasil. Durante os 42 anos seguintes, o Estado sucial vendeu cerca de 60% da herança.

Dúvidas (170) - Será a anti-mafia italiana mafiosa?

Italy’s anti-mafia: All in the family

«Members of Italy’s anti-mafia groups are among the most respected people in the country. Yet they are now under investigation themselves. Judges, businessmen and members of civil-society groups have been accused of taking bribes, extortion and misusing public funds. The drive to purge the anti-mafia movement of undesirable elements should help restore public confidence, writes our Italy correspondent»

Mitos (236) - A lengalenga do politicamente correcto sobre a vitimização do «afro-americano» resiste mal aos factos

A eterna vitimização do negro

«O típico videoclip de hip-hop é assim: um cantor negro e os seus amigos andam pelas ruas acenando Glocks, 38s e Magnums enquanto dão palmadinhas em bundas ao léu. A instrumentalização machista do corpo feminino e a glorificação das armas estão no centro da canção negra por excelência. Portanto, quando se fala em armas nos EUA, convém perceber que a cultura do gatilho feliz não é exclusiva dos brancos, dos hillbillies, dos sulistas confederados. Os negros também têm a sua NRA, chama-se hip-hop. O curioso é que é raríssimo ouvirmos algum americano do mainstream mencionar esta evidência da cultura negra. Se criticar um muçulmano ou um determinado aspeto de comunidades muçulmanas, um indivíduo corre o risco de ser rotulado de "islamofóbico". Se criticar um negro ou um determinado aspeto da cultura negra, o risco é maior, porque o rótulo será mais simples e corrosivo, "racista". O exercício que vou fazer de seguida também só pode ser "racista" aos olhos da narrativa vigente.

Todos os dias ouvimos falar nos números que provam que a polícia americana é racista. Mas será mesmo assim? Metade dos mortos em tiroteios com a polícia são brancos, a outra metade é composta por todas as minorias; contudo, se compararmos o rácio entre mortos e o peso demográfico de cada comunidade, vemos que um negro tem 2,5 mais chances de ser morto pela polícia do que um branco. Este segundo dado estatístico é jogado aos céus todos os dias. Sucede que a montante deste dado encontramos outros factos menos comentados: a taxa de crimes violentos é muito mais elevada entre negros do que em qualquer outra comunidade. 40°/o dos agentes do FBI abatidos em serviço foram baleados em confrontos com negros, quando os negros representam apenas 13% da população geral. Nos 75 maiores condados dos EUA, 57% dos assassinatos foram executados por negros, quando a comunidade negra representa apenas 15% da população geral desses condados.

Uma professora do Manhattan Institute, Heather Mac Donald, autora do livro "The War on Cops", estudou estes e outros números que tornam a realidade um pouco mais complexa do que a narrativa maniqueísta do Black Lives Matter. Querem mais exemplos? Ainda há dias, José Manuel Fernandes mencionou este dado: em 2014, 6.065 negros foram vítimas de homicídio, contra 5.397 vítimas das restantes comunidades. A quase totalidade dos negros foi assassinado por outros negros. Portanto, o problema está muito longe de ser a "polícia racista". O problema é que a cultura de violência é muito mais forte junto de negros do que junto de brancos, hispânicos, indianos, coreanos, etc. Resta saber porquê. Racismo? Talvez. Mas aqui temos de alertar para dois pontos. Primeiro, o racismo não é monopólio dos brancos, também há racismo entre hispânicos e negros, asiáticos e negros. Segundo, se o racismo é uma causa, porque é que os hispânicos e asiáticos não são tão violentos como os negros? Antes de apontar o dedo ao sistema (e há muito para apontar), a comunidade negra devia fazer uma autocrítica, que podia começar, por exemplo, pela recusa do próprio conceito de "comunidade negra" ou de "afro-americano". Porquê o afro? Porquê esta insistência na divisão da sociedade em tribos?»

Henrique Raposo, no Expresso

09/08/2016

DIÁRIO DE BORDO: já dei que chegue para o peditório dos incêndios (mas continuo sem juízo)

Com mil desculpas, retorno a este enfastiante tema que todos os anos parece exaltar os mídia portugueses. Antes de prosseguir, confesso que a causa próxima desta minha recaída foi este artigo de João Miguel Tavares, um jornalista com quem costumo estar de acordo, que pretende tirar consequências de um estudo da UE sobre incêndios florestais nos países da bacia do Mediterrâneo que, em minha opinião, não podem ser tiradas.

Não se pode comparar a percentagem de área ardida em Portugal com as correspondentes percentagens totais de Espanha, França, Itália e Grécia. Basta olhar para uma carta de curvas isotérmicas no Verão para constatar que o norte da Espanha e a maior parte da França jogam noutro campeonato.

Isotérmicas em Julho (fonte)
Se considerarmos o tipo de floresta, onde em Portugal predominam pinhais e eucaliptais, então teremos de concluir ser absolutamente natural que Portugal tenha mais incêndios e uma área ardida proporcional muito superior. Por isso, convocar «todos os ministros do Ambiente e ministros da Administração Interna (António Costa incluído) que ocuparam os cargos entre 2000 e 2013» não deve servir de muito.

Antes de prosseguir sobre o tipo de florestação, façamos um ponto de situação dos incêndios florestais para concluir que não há nada para concluir, a não ser a influência de meteorologia.

Fonte: Relatório ICNF

Chegado aqui, espero merecer a benevolência do leitor, por vir, pela quarta vez, publicar um post com 13 anos, que espero esclareça a outra vertente do problema: o tipo de florestação.