«Entretanto, lembro a curiosa retórica com que se recebe os refugiados que dia após dia chegam pelo Mediterrâneo e por onde calha. Segundo a voz corrente nos media, a responsabilidade pela tragédia (humanitária, é de bom-tom acrescentar) cabe inteirinha à Europa, a Europa que não recebe devidamente, a Europa que não integra adequadamente, a Europa que, em suma, não corresponde impecavelmente aos sonhos daqueles desgraçados, disponibilizando-lhes em cinco minutos casa decente, emprego digno, subsídio de assimilação e banda filarmónica. Os telejornais fervilham de repórteres a apontar o dedo indignado.
Quase ninguém explica que as dificuldades de resposta da Europa são inevitáveis perante a brutal, e desde há décadas incomparável, migração de centenas de milhares de pessoas (350 mil em 2015). Quase ninguém recorda que as dúvidas europeias são as próprias de gente civilizada, que tende a ponderar as consequências dos seus actos. Quase ninguém nota que a Alemanha, logo a Alemanha, tem liderado com a generosidade possível o processo de acolhimento. Quase ninguém refere a veneração que inúmeros sírios passaram a dedicar à senhora Merkel, logo à senhora Merkel. Sobretudo quase ninguém informa que os refugiados, na imensa maioria muçulmanos, escapam precisamente da selvajaria hoje recorrente nos países de origem e na religião que professam. Apesar do folclore jornalístico em contrário, que atribui ao bombeiro o fogo posto pelo pirómano, a verdade é que o drama dos refugiados começa no Islão, não na Europa.
A benefício da subtileza, também poderíamos falar dos refugiados que são de facto "infiltrados" do ISIS e agremiações similares. E dos refugiados que matam refugiados sob acusações de cristianismo. E dos perigos de abordar estas matérias com mais lirismo adolescente do que sensatez. Porém, dado que andamos ocupadíssimos a odiarmo-nos, não há tempo para detalhes. O importante é estabelecer que a culpa é nossa. Culpa de quê? Vê-se depois, ou nem isso. Certo é que a Europa é de fugir, embora os outros misteriosamente fujam para a Europa.»
«A Europa é de fugir», ALBERTO GONÇALVES no DN
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
31/08/2015
CASE STUDY: Os amanhãs que cantarão, segundo o PS, ou o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência (6)
Outros amanhãs.
Retomando os comentários ao relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal».
Um dos inúmeros exemplos da abordagem dos 12 sábios à dívida pública vista como algo independente do resto é quando escrevem sobre «o sentido desfavorável da evolução do peso da dívida pública no PIB» como se esta não resultasse inexoravelmente da acumulação dos défices orçamentais, défices que para eles eufemisticamente se devem «a fatores substantivos endógenos».
Criticam, com razão mas sem autoridade moral, a insuficiente redução dos défices sem se darem conta que a soma dos défices deste governo no triénio 2012-2014 foi 14,4% (5,5%+4,9%+4,0%), ou seja metade de 28,4% (9,8%+11,2%+7,4%) do governo anterior no triénio 2009-2011. Distraidamente, lá reconhecem que parte do aumento do défice se deveu «ao alargamento do perímetro das administrações públicas (pela incorporação de empresas públicas)».
Contradizem-se constantemente ao vilipendiarem a austeridade ao mesmo tempo que criticam que a despesa não se reduziu o suficiente sem reconhecerem que, em todo o caso, foi revertida a tendência crescente, como se vê no diagrama.
No que respeita ao ensino apontam o aumento do abandono e retenção no ensino básico sem perceberem que a única coisa que pode ter mudado em apenas 2 ou 3 anos foi o grau de facilitismo.
[O último parágrafo da página 17 em que se compara o ensino secundário em Portugal com a OCDE é completamente incompreensível.]
Uma vez mais, encontramos a exaltação da obra socrática, lamentando:
(Continua)
Retomando os comentários ao relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal».
2.1 Desempenho macroeconómico
(continuação)Um dos inúmeros exemplos da abordagem dos 12 sábios à dívida pública vista como algo independente do resto é quando escrevem sobre «o sentido desfavorável da evolução do peso da dívida pública no PIB» como se esta não resultasse inexoravelmente da acumulação dos défices orçamentais, défices que para eles eufemisticamente se devem «a fatores substantivos endógenos».
Criticam, com razão mas sem autoridade moral, a insuficiente redução dos défices sem se darem conta que a soma dos défices deste governo no triénio 2012-2014 foi 14,4% (5,5%+4,9%+4,0%), ou seja metade de 28,4% (9,8%+11,2%+7,4%) do governo anterior no triénio 2009-2011. Distraidamente, lá reconhecem que parte do aumento do défice se deveu «ao alargamento do perímetro das administrações públicas (pela incorporação de empresas públicas)».
Contradizem-se constantemente ao vilipendiarem a austeridade ao mesmo tempo que criticam que a despesa não se reduziu o suficiente sem reconhecerem que, em todo o caso, foi revertida a tendência crescente, como se vê no diagrama.
Fonte: Pordata |
2.3 Os factores de crescimento
No que respeita ao ensino apontam o aumento do abandono e retenção no ensino básico sem perceberem que a única coisa que pode ter mudado em apenas 2 ou 3 anos foi o grau de facilitismo.
[O último parágrafo da página 17 em que se compara o ensino secundário em Portugal com a OCDE é completamente incompreensível.]
Uma vez mais, encontramos a exaltação da obra socrática, lamentando:
- O fim da distribuição de diplomas nas «Novas Oportunidades» a que chamam a «aposta no investimento no reforço do capital humano»;
- A redução do «investimento em I&D», que como se sabe em muitos casos era pura fantasia (ver, entre outros, o post «A fábula do surto inventivo que nos assola (2)»
(Continua)
Nem só o Estado é amigo do empreendedor (7) - A maldição do jornalismo promocional – sempre
A Science4you é mais uma startup (com 7 anos de idade seria uma empresa madura mas no Portugal dos Pequeninos leva-se mais tempo a crescer) promovida por Nicolau Santos na sua página do caderno de Economia do Expresso. Considerando o registo das empresas de sucesso do complexo político-empresarial socialista promovidas pelo pastorinho da economia dos amanhãs que cantam, a Science4you é uma séria candidata ao insucesso nos próximos anos.
30/08/2015
ACREDITE SE QUISER: «Imaginem o PCP a falar de uma crise provocada pela queda da Bolsa de um país dirigido por um Partido Comunista»
«"A diferença entre ficção e realidade é que a ficção tem de fazer sentido". Penso ser essa a razão pela qual os partidos se esforçam por nos vender ficções a que tentam dar sentido. Porque o certo é que a realidade não faz sentido nenhum. Imaginem o PCP a falar de uma crise provocada pela queda da Bolsa de um país dirigido por um Partido Comunista!»
Henrique Monteiro, citando Tom Clancy, no Expresso
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Exemplos do costume (33) – L’exception française
Se a Espanha governada pelos conservadores do PP poderá ser um bom exemplo, a França governada pelos socialistas poderá ser um exemplo do costume.
Como foi o caso da missão a Berlim de que foi incumbido Emmanuel Macron, o ministro menos colectivista do governo Hollande, para convencer em directo a audiência constituída por embaixadores alemães e em diferido os inquilinos do Bundeskanzleramt e do Reichstag de que a França está a fazer as reformas necessárias, mas para manter a Zona Euro são necessárias mais duas coisas: «maior convergência entre os membros e também transferências». Tradução: mais um salto em frente e a Alemanha paga a despesa.
Acontece que o ministro Macron tem toda a razão com uma década e meia de atraso e hoje não existem mais as condições económicas, sociais e políticas para saltos para a frente e o eleitorado alemão já não está pelos ajustes de pagar mais despesas.
Como foi o caso da missão a Berlim de que foi incumbido Emmanuel Macron, o ministro menos colectivista do governo Hollande, para convencer em directo a audiência constituída por embaixadores alemães e em diferido os inquilinos do Bundeskanzleramt e do Reichstag de que a França está a fazer as reformas necessárias, mas para manter a Zona Euro são necessárias mais duas coisas: «maior convergência entre os membros e também transferências». Tradução: mais um salto em frente e a Alemanha paga a despesa.
Acontece que o ministro Macron tem toda a razão com uma década e meia de atraso e hoje não existem mais as condições económicas, sociais e políticas para saltos para a frente e o eleitorado alemão já não está pelos ajustes de pagar mais despesas.
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29/08/2015
Bons exemplos (103) – De Espanha pode vir bom vento e até bom casamento
«Mariano Rajoy, Spain’s prime minister, ought to be feeling upbeat about the chance of regaining power at the country’s general election later this year. When his centre-right Popular party won office in 2011, Spain was widely seen as the eurozone member whose troubles were most likely to shatter the single currency. Today, it is one of the fastest growing economies in the bloc, with growth projected to be more than 3 per cent this year. As the Greek drama has twisted and turned this year, the Rajoy government has looked on with a degree of serenity that would once have seemed unimaginable.
(…)
But these risks on the horizon, while serious, should not detract from a positive assessment of what Spain has achieved in the past four years. The Rajoy government’s courageous economic reforms, helped by ECB action, have allowed Spain to defy the once widespread prediction that it would remain Europe’s economic laggard. Its turnround is a lesson — and not just for Greece — that remaining in the eurozone does not condemn a nation to economic failure.»
«Spain’s reforms are a lesson for the eurozone», Financial Times
Uma lição para a Eurozona e para os lunatismos socialistas.
(…)
But these risks on the horizon, while serious, should not detract from a positive assessment of what Spain has achieved in the past four years. The Rajoy government’s courageous economic reforms, helped by ECB action, have allowed Spain to defy the once widespread prediction that it would remain Europe’s economic laggard. Its turnround is a lesson — and not just for Greece — that remaining in the eurozone does not condemn a nation to economic failure.»
«Spain’s reforms are a lesson for the eurozone», Financial Times
Uma lição para a Eurozona e para os lunatismos socialistas.
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Mitos (210) – Os chineses só investem em países endividados
Na verdade o mito completo é: os chineses só investem em países endividados, aproveitando os saldos e com o propósito de controlarem essas economias vulneráveis. É um mito cultivado pela esquerdalhada doméstica em geral (que, como se sabe, cultiva 99% dos mitos inventariados), pelo PS (enquanto está na oposição) e até por alguns empresários que não gostam dos chineses (por exemplo Soares dos Santos).
Como todos os mitos, este está tão longe da verdade que é incapaz de lhe infligir danos corporais. Veja-se o diagrama seguinte publicado pelo Handelsblatt que dá tanta importância aos investimentos em Portugal que nem lhes faz referência.
Segundo os dados recolhidos pela Ernst & Young e citados pelo Handelsblatt, as companhias chinesas investiram em 79 projectos na Alemanha no ano passado (68 em 2013 e 46 em 2012); 38 por cento dos investimentos chineses na Europa são na Alemanha; em segundo lugar encontra-se a Grã-Bretanha com 40 projectos. Segundo a Ernst & Young «as empresas chinesas querem juntar-se no topo do mercado mundial com produtos de alta qualidade, e para isso eles precisam do know-how da Europa, e especialmente da Alemanha».
Como todos os mitos, este está tão longe da verdade que é incapaz de lhe infligir danos corporais. Veja-se o diagrama seguinte publicado pelo Handelsblatt que dá tanta importância aos investimentos em Portugal que nem lhes faz referência.
Segundo os dados recolhidos pela Ernst & Young e citados pelo Handelsblatt, as companhias chinesas investiram em 79 projectos na Alemanha no ano passado (68 em 2013 e 46 em 2012); 38 por cento dos investimentos chineses na Europa são na Alemanha; em segundo lugar encontra-se a Grã-Bretanha com 40 projectos. Segundo a Ernst & Young «as empresas chinesas querem juntar-se no topo do mercado mundial com produtos de alta qualidade, e para isso eles precisam do know-how da Europa, e especialmente da Alemanha».
28/08/2015
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Não é um pouco esquizofrénico? (4)
Uma das minorias de que faço parte é a dos portugueses que acham ridícula e ligeiramente doentia a busca incessante de tugas bem-sucedidos fora de portas. Frequentemente, os patrícios encontrados ou não são patrícios, por terem nascido noutras paragens, ou só são reconhecidos no bairro onde vivem o que para nós faz deles personagens galácticas.
Um outro exemplar dessa minoria deve ser Ricardo Araújo Pereira. Registo-o com um certo embaraço, tratando-se de um esquerdalho que escreve humor na Visão com pouca visão bilateral. Isso não me impede (após um esforço para mostrar equidade) de citar e recomendar (também porque a recomendação não é boa para o currículo de RAP) a leitura da sua peça «Disseram bem de Portugal em Badajoz».
Nessa peça RAP dá-nos conta de que «a expressão "português no topo do mundo" (apresenta) vários milhares de resultados no Google» (5.900 segundo a minha pesquisa), enquanto “englishman on top of the world” só apresenta 1 (encontrei 6, mas 5 resultam da peça de RAP e dos comentários). Em contrapartida, "american on top of the world" apresenta 41.200 resultados o que é muito face à modéstia inglesa e pouco face à obsessão portuguesa, já que os americanos são 32,5 vezes mais numerosos do que os tugas.
Um outro exemplar dessa minoria deve ser Ricardo Araújo Pereira. Registo-o com um certo embaraço, tratando-se de um esquerdalho que escreve humor na Visão com pouca visão bilateral. Isso não me impede (após um esforço para mostrar equidade) de citar e recomendar (também porque a recomendação não é boa para o currículo de RAP) a leitura da sua peça «Disseram bem de Portugal em Badajoz».
Nessa peça RAP dá-nos conta de que «a expressão "português no topo do mundo" (apresenta) vários milhares de resultados no Google» (5.900 segundo a minha pesquisa), enquanto “englishman on top of the world” só apresenta 1 (encontrei 6, mas 5 resultam da peça de RAP e dos comentários). Em contrapartida, "american on top of the world" apresenta 41.200 resultados o que é muito face à modéstia inglesa e pouco face à obsessão portuguesa, já que os americanos são 32,5 vezes mais numerosos do que os tugas.
TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais, por isso, já não precisam de ser escritas (20)
Outras coisas: «Para mim Costa não é um mistério», «Coisas que outros escreveram sobre Costa, as quais...»
«António Costa, nesta campanha, representa o “logo veremos”. Logo veremos se ele vai afrontar a mitológica Merkel, ou, pelo contrário, fazer tudo o que ela lhe mandar (o que quer dizer “uma postura activa na Europa, sem submissão nem aventureirismos”?). Logo veremos se vai acabar com a austeridade ou, pelo contrário, como o Syriza, aplicar uma dose ainda maior. Logo veremos como vai governar: sozinho, com a direita, ou com os comunistas. Logo veremos se mandará votar num candidato presidencial “radical” (Nóvoa), ou num candidato “moderado” (Maria de Belém). Em “eleições decisivas”, António Costa fez do PS uma escolha que deixa tudo por decidir.
Não vou acusar Costa de quaisquer limitações pessoais. Não é isso que está em causa. O que está em causa são as limitações políticas do líder de um partido que chamou a troika e assinou o memorando, para depois o renegar; que colocou Portugal na moeda única europeia, para depois, enquanto governou, nunca cumprir os pactos de estabilidade do Euro.»
Excerto de «Carta de um indeciso aos seus semelhantes», Rui Ramos no Observador
«V. Ex.ª dirigiu a carta ao “eleitor indeciso” e esta convenceu-me. Não sou mais um eleitor indeciso: ter lido até ao fim permitiu-me decidir, com toda a assertividade, que V. Ex.ª não tem estofo intelectual para ser detentor de qualquer poder de decisão.»
«Re: Re: Re: Re: Cartas o *******», fecho de um post de Vítor Cunha no Blasfémias
«António Costa, nesta campanha, representa o “logo veremos”. Logo veremos se ele vai afrontar a mitológica Merkel, ou, pelo contrário, fazer tudo o que ela lhe mandar (o que quer dizer “uma postura activa na Europa, sem submissão nem aventureirismos”?). Logo veremos se vai acabar com a austeridade ou, pelo contrário, como o Syriza, aplicar uma dose ainda maior. Logo veremos como vai governar: sozinho, com a direita, ou com os comunistas. Logo veremos se mandará votar num candidato presidencial “radical” (Nóvoa), ou num candidato “moderado” (Maria de Belém). Em “eleições decisivas”, António Costa fez do PS uma escolha que deixa tudo por decidir.
Não vou acusar Costa de quaisquer limitações pessoais. Não é isso que está em causa. O que está em causa são as limitações políticas do líder de um partido que chamou a troika e assinou o memorando, para depois o renegar; que colocou Portugal na moeda única europeia, para depois, enquanto governou, nunca cumprir os pactos de estabilidade do Euro.»
Excerto de «Carta de um indeciso aos seus semelhantes», Rui Ramos no Observador
«V. Ex.ª dirigiu a carta ao “eleitor indeciso” e esta convenceu-me. Não sou mais um eleitor indeciso: ter lido até ao fim permitiu-me decidir, com toda a assertividade, que V. Ex.ª não tem estofo intelectual para ser detentor de qualquer poder de decisão.»
«Re: Re: Re: Re: Cartas o *******», fecho de um post de Vítor Cunha no Blasfémias
27/08/2015
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (44) – Minas de carvão para todos e carruagens só para mulheres
Jeremy Corbyn, o homem que se propõe enterrar o New Labour, segundo o Público, e o Old Labour segundo outros, incluindo eu, nacionalizar os transportes, reabrir as minas de carvão fechadas há 30 anos, tem segundo as projecções o voto da maioria dos eleitores registados do Labour, incluindo conservadores que se registaram para votar nele, gastando 3 libras na esperança que ganhe, dizem.
Jeremy Corbyn propõe-se também, quando um dia foraiatola prime minister, criar carruagens de metro e de comboio só para mulheres para evitar o assédio.
É claro que criar carruagens só para mulheres é a mesma coisa que criar carruagens só para homens, uma ideia que se fosse proposta por um conservador faria desencadear uma onda de indignação nos mídia e nas redes sociais.
Jeremy Corbyn propõe-se também, quando um dia for
Carruagem chinesa em Teerão e em breve em Londres |
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DIÁRIO DE BORDO: Schäuble visto por ele próprio
Algumas boutades de Wolfgang Schäuble, o ministro alemão das Finanças e bête noir da esquerdalhada, a seu próprio respeito num documentário televisivo (citada pelo Politico) onde mostra uma notável auto-ironia:
«Você sabe que eu não sou de baixa manutenção» para Angela Merkel quando esta lhe propôs o ministério das Finanças em 2009, que é como quem avisa ó Angela vais ter de me aturar.
Ich wünschte, ich hatte einen Schal wie das Ihre |
«Não sou tão atraente para a mídia. Sou um velho, muito cansado e às vezes mal-humorado e não posso competir com tal popstar», referindo-se à primeira conferência de imprensa com Varoufakis.
«Tenho mais marcas e cicatrizes do que quaisquer outros especialmente por conflitos de interesses públicos».
«Dizem que sou um pouco teimoso… Mas sou leal em relação às minhas responsabilidades democráticas. Não uso o poder da minha posição contra a pessoa que me convidou para a ocupar», referindo-se às relações com Anela Merkel.
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SERVIÇO PÚBLICO: Da próxima vez também não vai ser diferente (5)
[Uma espécie de continuação de «Too big to fail» - another financial volcanic eruption in the making (1) e (2) e de «Da próxima vez também...» (1), (2), (3) e (4)]
Já aqui referi que nas bolsas americanas aditivadas pelo quantitative easing e as taxas de juro da Fed, os valores do P/E Ratio (price-to-earning ratio, isto é a relação entre a cotação das acções e os dividendos pagos) atingiram níveis insustentáveis e, de facto, não sustentados pelo fraco crescimento dos lucros em 2014.
O diagrama anterior com a evolução dos PER baseados na média móvel de 10 anos de dividendos das cotadas do S&P 500 mostra que os valores actuais são dos mais altos nos últimos 60 anos com excepção do período da bolha tecnológica nos anos 1995-2000. Um PER de 25 significa que a rentabilidade da aplicação em acções é aproximadamente de 4%, o que parece muito face às taxas da Fed, mas é insuficiente para um activo de risco como as acções.
Já aqui referi que nas bolsas americanas aditivadas pelo quantitative easing e as taxas de juro da Fed, os valores do P/E Ratio (price-to-earning ratio, isto é a relação entre a cotação das acções e os dividendos pagos) atingiram níveis insustentáveis e, de facto, não sustentados pelo fraco crescimento dos lucros em 2014.
Fonte: NYT |
O diagrama anterior com a evolução dos PER baseados na média móvel de 10 anos de dividendos das cotadas do S&P 500 mostra que os valores actuais são dos mais altos nos últimos 60 anos com excepção do período da bolha tecnológica nos anos 1995-2000. Um PER de 25 significa que a rentabilidade da aplicação em acções é aproximadamente de 4%, o que parece muito face às taxas da Fed, mas é insuficiente para um activo de risco como as acções.
26/08/2015
Dúvidas (118) – Qual é a urgência?
Qual é a urgência de subconcessionar em 12 dias por ajuste directo os transportes colectivos do Porto que estão concessionados a empresas públicas há 70 (STCP) e 15 anos (Metro do Porto)?
Chávez & Chávez, Sucessores (34) – Filas, prateleiras vazias e bancos sem dinheiro, o paradigma do socialismo bolivariano (e, mais tarde ou mais cedo, de todos os socialismos)
Recordando os queridos líderes, o preso e o falecido, respectivamente (Uma concessão pontual à demagogia) |
«O principal banco da Venezuela reduziu de cinco mil para três mil bolívares (de 22,73 para 13,63 euros) a quantia que pode ser levantada diariamente na sua rede de caixas multibanco.» O câmbio oficial do dólar vai 6,3 a 200 bolívares, no mercado paralelo (isto é no mercado) é de 701 bolívares. (Observador)
Uma constante da visão socialista: a inversão das relações causais.
CASE STUDY: Colocando em perspectiva a queda abissal das bolsas chinesas
Com o seu pendor para o simplismo e o catastrofismo, os mesmos jornalistas e opinion dealers que veneram o intervencionismo dos bancos centrais a ditarem o preço do dinheiro e a entorná-lo na economia, fabricando lenta e seguramente a próxima crise, fizeram soar os alarmes com a queda das bolsas chinesas anunciando o crash galáctico.
O catastrofismo seguiu-se à aceitação com grande naturalidade da subida vertiginosa dos índices chineses nos 6 meses anteriores a Junho, subida que nunca poderia ser explicada pelos fundamentais da economia e que resultou igualmente do intervencionismo do banco central chinês. Como explicar de outro modo que as empresas chinesas cotadas passaram a valer o dobro do que valiam 6 meses antes? Como tudo o que sobe, mais tarde ou mais cedo, desce… poderá descer ainda mais porque o índice Shanghai Shenzhen CSI 300 continua acima do nível do início da injecção de anfetaminas do banco central chinês em Novembro do ano passado.
O outro aspecto da questão é a capacidade de propagação do crash bolsista chinês quando se sabe que a capitalização das bolsas chinesas vale menos de 30% das japonesas e menos de 5% das americanas. A razão principal do pânico se ter propagado às outras bolsas tem mais a ver com o sentimento da volatibilidade das bolhas criadas pelo intervencionismo dos bancos centrais americano, britânico e europeu do que pela importância relativa dos mercados de capitais chineses.
Fonte: Bloomberg |
Capitalização bolsista [Fonte: Bank of America Merrill Lynch (via Market Watch)] |
25/08/2015
CASE STUDY: Dissecando a mente de um grande aldrabão (4)
Outras dissecações: (1), (2) e (3)
Há uns 6 anos o Pertinente interrogou-se se José Sócrates seria um mitómano delirante ou simplesmente um vendedor de banha-de-cobra. À época eu não via o querido líder como um mentiroso compulsivo mas apenas um vendedor de banha-de-cobra, isto é mentiroso utilitário, e nessa convicção publiquei nos últimos 10 anos um bom número de posts onde as palavras Sócrates e mentira aparecem juntas. Gradualmente fui percebendo a compulsividade da mentira que ficou mais transparente depois da prisão.
A nossa intelligentsia, sempre fascinada com líderes fortes, ainda hoje tem dificuldades a descolar-se do animal feroz - há casos do domínio patológico como Miguel Sousa Tavares e Clara Ferreira Alves. Mesmo uma rebelde (muitas vezes sem causa) como Filomena Mónica tardou. Tardou mas arrecadou com um artigo no Expresso com o título «Será Sócrates mitómano?» onde a novidade foi a sua conclusão de que a criatura «não só não havia apresentado a tese como, muito menos, a defendera perante um júri académico». Surpresa? Nem por isso. É apenas mais do mesmo que vimos no passado da criatura.
Há uns 6 anos o Pertinente interrogou-se se José Sócrates seria um mitómano delirante ou simplesmente um vendedor de banha-de-cobra. À época eu não via o querido líder como um mentiroso compulsivo mas apenas um vendedor de banha-de-cobra, isto é mentiroso utilitário, e nessa convicção publiquei nos últimos 10 anos um bom número de posts onde as palavras Sócrates e mentira aparecem juntas. Gradualmente fui percebendo a compulsividade da mentira que ficou mais transparente depois da prisão.
A nossa intelligentsia, sempre fascinada com líderes fortes, ainda hoje tem dificuldades a descolar-se do animal feroz - há casos do domínio patológico como Miguel Sousa Tavares e Clara Ferreira Alves. Mesmo uma rebelde (muitas vezes sem causa) como Filomena Mónica tardou. Tardou mas arrecadou com um artigo no Expresso com o título «Será Sócrates mitómano?» onde a novidade foi a sua conclusão de que a criatura «não só não havia apresentado a tese como, muito menos, a defendera perante um júri académico». Surpresa? Nem por isso. É apenas mais do mesmo que vimos no passado da criatura.
SERVIÇO PÚBLICO: Da próxima vez também não vai ser diferente (4)
[Uma espécie de continuação de «Too big to fail» - another financial volcanic eruption in the making (1) e (2) e de «Da próxima vez também...» (1), (2) e (3)]
A intervenção militante dos governos através dos seus bancos centrais, primeiro dos anglo-saxónicos Fed e BoE, seguidos pelo ECB, resgatando indiscriminadamente bancos, anestesiando a percepção do risco com garantias elevadas de depósitos e injectando artificialmente liquidez com a impressora do quantitative easing, tem-se feito através terapêuticas para debelar uma crise que, como tenho vindo a insistir, criam as condições para gerar a próxima.
É claro que também estão agora em curso factores alheios a essa intervenção, como o arrefecimento da economia chinesa com efeitos sobre a procura mundial de matérias-primas que está a afectar as economias dos BRICS e dos países da OPEP.
Recentemente, temos assistido aos primeiros sinais de que a bolha criada por essas terapêuticas pode não estar longe de rebentar. Aliás, com o comportamento das bolsas chinesas, que em poucas semanas sofreram quedas abissais, o que foi pretexto para o governo chinês adoptar medidas do tipo «centralismo democrático» nos mercados de capitais - com pouco sucesso, aliás - , o bubble prick pode estar até mais próximo do que se pensava.
Esta segunda-feira esses sinais avolumaram-se com a propagação do pânico às bolsas seguindo os fusos horários: primeiro as asiáticas, depois as europeias e finalmente as americanas. Por várias razões, não é muito provável que se siga um crash, mas a volatilidade continuará e é um sinal muito forte de que se pode esperar o pior com taxas de juro próximas de zero e injecções maciças de liquidez.
A intervenção militante dos governos através dos seus bancos centrais, primeiro dos anglo-saxónicos Fed e BoE, seguidos pelo ECB, resgatando indiscriminadamente bancos, anestesiando a percepção do risco com garantias elevadas de depósitos e injectando artificialmente liquidez com a impressora do quantitative easing, tem-se feito através terapêuticas para debelar uma crise que, como tenho vindo a insistir, criam as condições para gerar a próxima.
É claro que também estão agora em curso factores alheios a essa intervenção, como o arrefecimento da economia chinesa com efeitos sobre a procura mundial de matérias-primas que está a afectar as economias dos BRICS e dos países da OPEP.
Recentemente, temos assistido aos primeiros sinais de que a bolha criada por essas terapêuticas pode não estar longe de rebentar. Aliás, com o comportamento das bolsas chinesas, que em poucas semanas sofreram quedas abissais, o que foi pretexto para o governo chinês adoptar medidas do tipo «centralismo democrático» nos mercados de capitais - com pouco sucesso, aliás - , o bubble prick pode estar até mais próximo do que se pensava.
Esta segunda-feira esses sinais avolumaram-se com a propagação do pânico às bolsas seguindo os fusos horários: primeiro as asiáticas, depois as europeias e finalmente as americanas. Por várias razões, não é muito provável que se siga um crash, mas a volatilidade continuará e é um sinal muito forte de que se pode esperar o pior com taxas de juro próximas de zero e injecções maciças de liquidez.
24/08/2015
CASE STUDY: Os amanhãs que cantarão, segundo o PS, ou o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência (5)
Outros amanhãs.
Retomo os comentários ao relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal», interrompidos para tratar dos 207 mil empregos simulados.
Este capítulo começa pela aceitação do que se negara no capítulo anterior e reconhece-se que antes da adopção do euro o investimento já se havia reduzido pela redução da taxa de poupança. Reconhece-se ainda que a taxa de poupança é baixa, apesar de se insistir em aumentar o consumo reduzindo-a ainda mais.
Continua-se o delírio de classificar as infra-estruturas como «instrumentos competitivos da economia portuguesa (que) decorrem de investimentos materializados antes do atual governo», como se dos muitos milhares de milhões torrados em auto-estradas e outros elefantes brancos se tivessem multiplicado no PIB e não na dívida pública e privada, como de facto aconteceu. Exemplificando a manta mal-amanhada com retalhos socráticos cosidos no meio do pano dos «novos economistas», na mesma página do referido delírio já se reconhece a «excessiva concentração de investimento em sectores de bens não-transacionáveis».
Mais contradições: a taxa de poupança que duas páginas antes «atingiu valores preocupantes no auge da actual crise» atinge duas páginas depois «valores superiores em 2 p.p. aos verificados antes da crise». Reconhece-se que a «correcção acelerada dos desequilíbrios externos», porém, segundo os sábios, tal «não resultou de aceleração das exportações». No parágrafo seguinte voltam as contradições , para puxar o lustro à governação socrática: «as exportações de bens e serviços registam desde 2005 uma evolução muito positiva». Voltemos ao mundo real e vejamos os diagramas seguintes.
Tentando tapar o sol com a peneira socialista, lá voltam a admitir na página seguinte que afinal «o comportamento das exportações» até terá sido positivo mas «mais justificado pela entrada em funcionamento de alguns grandes projetos em implementação desde antes da crise». Quais projectos, minha nossa senhora, impulsionaram as exportações? Terão sido o TGV e o aeroporto Jamais Alcochete?
Assinala-se a queda de mais de 20% do emprego na indústria transformadora, mas esquece-se que o PIB gerado na indústria está de novo muito próximo dos valores anteriores ao resgate, significando uma melhoria da produtividade.
Para concluir, por hoje, destaco o padrão analítico dos 12 sábios do PS: os resultados da execução do programa de ajustamento que o PS tornou indispensável, negociou e assinou têm sido uma desgraça, excepto nos aspectos que resultaram da governação miraculosa do preso 44.
(Continua)
Retomo os comentários ao relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal», interrompidos para tratar dos 207 mil empregos simulados.
2. Diagnóstico económico e social
Este capítulo começa pela aceitação do que se negara no capítulo anterior e reconhece-se que antes da adopção do euro o investimento já se havia reduzido pela redução da taxa de poupança. Reconhece-se ainda que a taxa de poupança é baixa, apesar de se insistir em aumentar o consumo reduzindo-a ainda mais.
Continua-se o delírio de classificar as infra-estruturas como «instrumentos competitivos da economia portuguesa (que) decorrem de investimentos materializados antes do atual governo», como se dos muitos milhares de milhões torrados em auto-estradas e outros elefantes brancos se tivessem multiplicado no PIB e não na dívida pública e privada, como de facto aconteceu. Exemplificando a manta mal-amanhada com retalhos socráticos cosidos no meio do pano dos «novos economistas», na mesma página do referido delírio já se reconhece a «excessiva concentração de investimento em sectores de bens não-transacionáveis».
2.1 Desempenho macroeconómico
Mais contradições: a taxa de poupança que duas páginas antes «atingiu valores preocupantes no auge da actual crise» atinge duas páginas depois «valores superiores em 2 p.p. aos verificados antes da crise». Reconhece-se que a «correcção acelerada dos desequilíbrios externos», porém, segundo os sábios, tal «não resultou de aceleração das exportações». No parágrafo seguinte voltam as contradições , para puxar o lustro à governação socrática: «as exportações de bens e serviços registam desde 2005 uma evolução muito positiva». Voltemos ao mundo real e vejamos os diagramas seguintes.
Fonte: Trading Economics |
Fonte: Trading Economics |
Tentando tapar o sol com a peneira socialista, lá voltam a admitir na página seguinte que afinal «o comportamento das exportações» até terá sido positivo mas «mais justificado pela entrada em funcionamento de alguns grandes projetos em implementação desde antes da crise». Quais projectos, minha nossa senhora, impulsionaram as exportações? Terão sido o TGV e o aeroporto Jamais Alcochete?
Assinala-se a queda de mais de 20% do emprego na indústria transformadora, mas esquece-se que o PIB gerado na indústria está de novo muito próximo dos valores anteriores ao resgate, significando uma melhoria da produtividade.
Fonte: Trading Economics |
(Continua)
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXXVII) - So far, so good?
Outros purgatórios a caminho dos infernos.
A troika chegou a acordo com o governo grego sobre as condições do novo resgate, o parlamento grego aprovou as medidas, os bancos gregos reabriram com o dinheiro fresco do BCE, mais 86 mil milhões (36% do PIB) vão ser entornados na economia grega. A Grécia está, pois, no bom caminho. Certo? O mais provável é estar errado.
Uma semana depois, o parágrafo anterior parece ultrapassado pela ratificação do resgate pelo Bundestag e pelos outros parlamentos. Contudo, convirá não esquecer que dos 585 membros do Bundestag 454 votaram a favor, 18 abstiveram-se e 113 votaram contra, incluindo 63 deputados da coligação CDU-CSU, mais 3 do que no segundo resgate e mais 60 do que no primeiro.
Ainda assim, à primeira vista poderá parecer que se está no bom caminho, até porque o governo alemão insiste que o FMI irá participar, apesar do FMI dizer que só o fará com um haircut e governo alemão manter que o Tratado de Lisboa não autoriza o haircut (é claro que não). Talvez a coisa se resolva com uma garantia financeira da Zona Euro ao FMI.
Na frente política interna, o saco de gatos do Syriza está a romper-se e Tsipras demite-se para forçar novas eleições que tudo indica o Syriza, depurado do lunatismo mais exacerbado, irá ganhar, ainda que para formar governo terá de ser coligar de novo com a extrema-direita do Anel ou com a Nova Democracia.
Se, um grande se, tudo isso correr bem, resta o principal obstáculo ao sucesso do resgate do Estado grego: o governo grego a fazer o contrário do que tinha prometido e a duvidosa resiliência do povo grego para suportar mais 3 anos de resgate e um número indeterminado de anos de disciplina financeira. Resta também o obstáculo que é tolerância evanescente da maioria dos governos da Zona Euro pressionados pelo descontentamento crescente dos seus eleitorados.
Entretanto, as falanges domésticas de apoio ao Syriza propagam a ideia que tem sido a Alemanha quem mais lucrou com a crise grega ao financiar-se a juros baixos, em resultado da dívida alemã funcionar como um refúgio para as incertezas da Zona Euro. Felizmente, no mar dos delírios do jornalismo de causas resistem algumas ilhas profissionais, como Eva Gaspar do Negócios que desmistifica aqui essa falácia e demonstra que se alguém ganhou com a crise grega foram… os gregos, a quem foram perdoados 100 mil milhões de euros e que beneficiaram de uma redução de juros equivalente a 4,7% do PIB em 2013 e 4,4% em 2014.
A troika chegou a acordo com o governo grego sobre as condições do novo resgate, o parlamento grego aprovou as medidas, os bancos gregos reabriram com o dinheiro fresco do BCE, mais 86 mil milhões (36% do PIB) vão ser entornados na economia grega. A Grécia está, pois, no bom caminho. Certo? O mais provável é estar errado.
Uma semana depois, o parágrafo anterior parece ultrapassado pela ratificação do resgate pelo Bundestag e pelos outros parlamentos. Contudo, convirá não esquecer que dos 585 membros do Bundestag 454 votaram a favor, 18 abstiveram-se e 113 votaram contra, incluindo 63 deputados da coligação CDU-CSU, mais 3 do que no segundo resgate e mais 60 do que no primeiro.
Ainda assim, à primeira vista poderá parecer que se está no bom caminho, até porque o governo alemão insiste que o FMI irá participar, apesar do FMI dizer que só o fará com um haircut e governo alemão manter que o Tratado de Lisboa não autoriza o haircut (é claro que não). Talvez a coisa se resolva com uma garantia financeira da Zona Euro ao FMI.
Na frente política interna, o saco de gatos do Syriza está a romper-se e Tsipras demite-se para forçar novas eleições que tudo indica o Syriza, depurado do lunatismo mais exacerbado, irá ganhar, ainda que para formar governo terá de ser coligar de novo com a extrema-direita do Anel ou com a Nova Democracia.
Se, um grande se, tudo isso correr bem, resta o principal obstáculo ao sucesso do resgate do Estado grego: o governo grego a fazer o contrário do que tinha prometido e a duvidosa resiliência do povo grego para suportar mais 3 anos de resgate e um número indeterminado de anos de disciplina financeira. Resta também o obstáculo que é tolerância evanescente da maioria dos governos da Zona Euro pressionados pelo descontentamento crescente dos seus eleitorados.
Entretanto, as falanges domésticas de apoio ao Syriza propagam a ideia que tem sido a Alemanha quem mais lucrou com a crise grega ao financiar-se a juros baixos, em resultado da dívida alemã funcionar como um refúgio para as incertezas da Zona Euro. Felizmente, no mar dos delírios do jornalismo de causas resistem algumas ilhas profissionais, como Eva Gaspar do Negócios que desmistifica aqui essa falácia e demonstra que se alguém ganhou com a crise grega foram… os gregos, a quem foram perdoados 100 mil milhões de euros e que beneficiaram de uma redução de juros equivalente a 4,7% do PIB em 2013 e 4,4% em 2014.
23/08/2015
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Um jornalista bom no género mau pode vir a fazer o upgrade para o género bom (V)
Secção Res ipsa loquitur
Já fiz apreciações negativas do trabalho do jornalista Ricardo Costa [(1), (2) e (3)], que foram evoluindo para apreciações positivas (aqui, aqui, aqui e aqui) a que acrescento agora mais uma pelas suas análises recentes e em particular pela peça especialmente lúcida e informada sobre as eleições britânicas «Como esfolar um gato... ou acabar sem pele» na Revista do Expresso deste fim-de-semana. Espero que António Costa não leia esta peça ou, se ler, não lhe dê importância - sempre poderia ajudá-lo a «vender» melhor a suas más políticas.
Não aprovo o trabalho de Ricardo Costa pelo facto de algumas das suas opiniões e conclusões serem compatíveis com as que por aqui defendemos - outras não o são - mas porque, até as que considero erradas, são apresentadas e defendidas da forma certa.
Sei por experiência própria e sobretudo alheia que não é fácil manter as distâncias num país muito dado ao nepotismo, e por isso a independência em relação ao partido de que o seu irmão é líder e ao líder têm um valor muito especial.
Não admira por isso que lhe atribua mais quatro afonsos.
Já fiz apreciações negativas do trabalho do jornalista Ricardo Costa [(1), (2) e (3)], que foram evoluindo para apreciações positivas (aqui, aqui, aqui e aqui) a que acrescento agora mais uma pelas suas análises recentes e em particular pela peça especialmente lúcida e informada sobre as eleições britânicas «Como esfolar um gato... ou acabar sem pele» na Revista do Expresso deste fim-de-semana. Espero que António Costa não leia esta peça ou, se ler, não lhe dê importância - sempre poderia ajudá-lo a «vender» melhor a suas más políticas.
Não aprovo o trabalho de Ricardo Costa pelo facto de algumas das suas opiniões e conclusões serem compatíveis com as que por aqui defendemos - outras não o são - mas porque, até as que considero erradas, são apresentadas e defendidas da forma certa.
Sei por experiência própria e sobretudo alheia que não é fácil manter as distâncias num país muito dado ao nepotismo, e por isso a independência em relação ao partido de que o seu irmão é líder e ao líder têm um valor muito especial.
Não admira por isso que lhe atribua mais quatro afonsos.
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antes isso que outra coisa,
bons exemplos
DIÁRIO DE BORDO: O direito a contaminar
Para alguém que olhe sem preconceitos negativos ou positivos para os comportamentos dos humanos, é razoavelmente evidente que a fixação dos lóbis gays no casamento unissexo, finalmente legalizado em Portugal há 5 anos, tem pouco a ver com a instituição do casamento em si mesma e muito mais com a necessidade de «normalizar» o seu status social.
De facto, como aqui escrevi, para a «comunidade» gay, com décadas de casamentos em atraso, mil e seiscentos casórios em 5 anos deveria ser uma decepção, sobretudo nestes tempos em que os casais normais no sentido gaussiano já quase deixaram de se casar, convencidos por décadas de propaganda politicamente correcta que o casamento era uma instituição burguesa decadente e não significava nada, a mesma propaganda politicamente correcta que convenceu os gays que o casamento significava tudo.
Algo semelhante se passa com a adopção numa época em que os casais «normais», além de cada vez menos se casarem, têm cada vez menos filhos cada vez mais tarde, por uma série de razões conhecidas. A menos que se descobrisse uma pulsão maternal e paternal «anormal» nos gays, a fixação dos seus lóbis na legalização da adopção tem com toda a probabilidade a mesma explicação - a necessidade de «normalizar» o seu status social.
A terceira vertente da «normalização» é a dádiva de sangue. Não parece que os gays individualmente considerados tenham uma pulsão para a dádiva de sangue mais forte do que a dos heterossexuais que, como é sabido, são relutantes em se deixarem sangrar. Outra vez ainda, são os seus lóbis que fazem a despesa da «luta», frequentemente usando a chantagem sobre os gays ainda dentro do armário em posições influentes para usarem essa influência.
Contudo, neste domínio a coisa fia mais fino porque o uso de sangue contaminado com HIV tem óbvios riscos para os receptores. A exemplo do que se passa nos EU, onde a FDA continua a não autorizar a dádiva por homossexuais, também em Portugal não é autorizada. Pois bem, tudo indica que o lóbi gay está em vias de conseguir infligir uma derrota à saúde pública: «o relatório "Comportamentos de risco com impacto na segurança do sangue e na gestão de dadores", a que a Lusa teve acesso, estabelece "a cessação da suspensão definitiva dos candidatos a dadores homens que têm sexo com homens (HSH) [homossexuais e bissexuais] ", uma decisão tomada por unanimidade entre os oito elementos do grupo de trabalho». Do relatório para a lei vai um passo que o lóbi gay jornalístico já deu, uma vez que anuncia que a «dádiva de sangue por parte de homossexuais vai passar a ser permitida».
Perguntar-se-á, mas os heterossexuais não têm HIV e não doam sangue? Claro que podem ter e têm HIV e podem doar e doam sangue. A enorme diferença é que, para utilizar o caso dos EU, os homens gays e bissexuais representam aproximadamente 2% da população e 57% das pessoas com HIV diagnosticado, ou seja a probabilidade a priori de um gay estar infectado é 65 vezes maior do que um não gay. Assim, sendo o risco tão desproporcionado a dádiva de sangue por um gay deveria no mínimo estar condicionada à apresentação de um teste negativo válido.
Por miopia e falta de coragem de ir contra a corrente do pensamento politicamente correcto, as luminárias domésticas confundem o direito à união legalizada (inadequadamente denominada casamento) com os «direitos» à adopção e à dádiva de sangue, que, se fossem direitos, seriam das crianças alvo da adopção e dos receptores de sangue.
De facto, como aqui escrevi, para a «comunidade» gay, com décadas de casamentos em atraso, mil e seiscentos casórios em 5 anos deveria ser uma decepção, sobretudo nestes tempos em que os casais normais no sentido gaussiano já quase deixaram de se casar, convencidos por décadas de propaganda politicamente correcta que o casamento era uma instituição burguesa decadente e não significava nada, a mesma propaganda politicamente correcta que convenceu os gays que o casamento significava tudo.
Algo semelhante se passa com a adopção numa época em que os casais «normais», além de cada vez menos se casarem, têm cada vez menos filhos cada vez mais tarde, por uma série de razões conhecidas. A menos que se descobrisse uma pulsão maternal e paternal «anormal» nos gays, a fixação dos seus lóbis na legalização da adopção tem com toda a probabilidade a mesma explicação - a necessidade de «normalizar» o seu status social.
A terceira vertente da «normalização» é a dádiva de sangue. Não parece que os gays individualmente considerados tenham uma pulsão para a dádiva de sangue mais forte do que a dos heterossexuais que, como é sabido, são relutantes em se deixarem sangrar. Outra vez ainda, são os seus lóbis que fazem a despesa da «luta», frequentemente usando a chantagem sobre os gays ainda dentro do armário em posições influentes para usarem essa influência.
Contudo, neste domínio a coisa fia mais fino porque o uso de sangue contaminado com HIV tem óbvios riscos para os receptores. A exemplo do que se passa nos EU, onde a FDA continua a não autorizar a dádiva por homossexuais, também em Portugal não é autorizada. Pois bem, tudo indica que o lóbi gay está em vias de conseguir infligir uma derrota à saúde pública: «o relatório "Comportamentos de risco com impacto na segurança do sangue e na gestão de dadores", a que a Lusa teve acesso, estabelece "a cessação da suspensão definitiva dos candidatos a dadores homens que têm sexo com homens (HSH) [homossexuais e bissexuais] ", uma decisão tomada por unanimidade entre os oito elementos do grupo de trabalho». Do relatório para a lei vai um passo que o lóbi gay jornalístico já deu, uma vez que anuncia que a «dádiva de sangue por parte de homossexuais vai passar a ser permitida».
Perguntar-se-á, mas os heterossexuais não têm HIV e não doam sangue? Claro que podem ter e têm HIV e podem doar e doam sangue. A enorme diferença é que, para utilizar o caso dos EU, os homens gays e bissexuais representam aproximadamente 2% da população e 57% das pessoas com HIV diagnosticado, ou seja a probabilidade a priori de um gay estar infectado é 65 vezes maior do que um não gay. Assim, sendo o risco tão desproporcionado a dádiva de sangue por um gay deveria no mínimo estar condicionada à apresentação de um teste negativo válido.
Por miopia e falta de coragem de ir contra a corrente do pensamento politicamente correcto, as luminárias domésticas confundem o direito à união legalizada (inadequadamente denominada casamento) com os «direitos» à adopção e à dádiva de sangue, que, se fossem direitos, seriam das crianças alvo da adopção e dos receptores de sangue.
22/08/2015
SERVIÇO PÚBLICO Os doutoramentos não têm sexo. Têm género: o género bom e o género mau
Fiquei a saber pelo artigo «A ideologia de género, que género de ideologia é?» do padre Portocarrero de Almada que foi aprovada pelo ISCTE com distinção uma tese de doutoramento cuja tema central é «o género de cada um depende da identidade de género e não de características do corpo, como a genitália».
Se não fosse a alienação terminal ou, na melhor hipótese, o pavor de serem criticadas por práticas discriminatórias, seria impensável as sumidades académicas dedicadas às ogias que hoje infectam os currículos das universidades aceitarem uma tese sobre tal tema baseada em 22 entrevistas a transexuais, «79 artigos publicados nas edições electrónicas dos quatro principais diários», «uma extensa reportagem de uma revista semanal» não identificada, «o debate parlamentar» que antecedeu a aprovação da correspondente lei; «a transcrição de um programa de televisão emitido pela RTP» não citado; «a mensagem do presidente da República», e «quatro comunicados emitidos pela maior organização de direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgénero (LGBT)».
Estamos, pois, no domínio da ideologia em estado quimicamente puro, ou seja em pleno campo do politicamente correcto. Como escreve Portocarrero de Almada, «a ideologia de género não engana: o seu carácter predominantemente ideológico. Se se tiver em conta que já Engels afirmava que a primeira luta de classes é a que ocorre no âmbito do matrimónio e que a dialéctica do feminino e do masculino deve ser abolida, não é temerário afirmar que a ideologia de género é neo-marxista.»
Se não fosse a alienação terminal ou, na melhor hipótese, o pavor de serem criticadas por práticas discriminatórias, seria impensável as sumidades académicas dedicadas às ogias que hoje infectam os currículos das universidades aceitarem uma tese sobre tal tema baseada em 22 entrevistas a transexuais, «79 artigos publicados nas edições electrónicas dos quatro principais diários», «uma extensa reportagem de uma revista semanal» não identificada, «o debate parlamentar» que antecedeu a aprovação da correspondente lei; «a transcrição de um programa de televisão emitido pela RTP» não citado; «a mensagem do presidente da República», e «quatro comunicados emitidos pela maior organização de direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgénero (LGBT)».
Estamos, pois, no domínio da ideologia em estado quimicamente puro, ou seja em pleno campo do politicamente correcto. Como escreve Portocarrero de Almada, «a ideologia de género não engana: o seu carácter predominantemente ideológico. Se se tiver em conta que já Engels afirmava que a primeira luta de classes é a que ocorre no âmbito do matrimónio e que a dialéctica do feminino e do masculino deve ser abolida, não é temerário afirmar que a ideologia de género é neo-marxista.»
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Dúvidas (117) – Porque será que não fiquei surpreendido?
Entrevista do SOL a António Costa |
Desfaz-se assim parte dos equívocos e da opacidade doutrinária e fica claríssimo que Freitas do Amaral, Basílio Horta, Adriano Moreira, entre outros do CDS, por um lado, Manuela Ferreira Leite, António Capucho, e, à sua maneira narcisista, Marcelo Rebelo de Sousa, entre muitos outros, são compagnons de route do socialismo.
21/08/2015
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (115) - A pulsão para o aparelhismo
«O enfraquecimento dos partidos políticos tradicionais favoreceu uma autonomização dos magistrados relativamente à política no tratamento da criminalidade económico-financeira, em particular da corrupção. Essa ruptura foi possível graças a contextos históricos em que a legitimidade dos políticos se encontrava fragilizada e contestada, permitindo, como foi o caso em Itália e é hoje no Brasil, a legitimação de uma posição de contrapoder do campo judicial apoiada numa longa tradição onde a razão jurídica é por essência mais nobre do que a razão política sempre ameaçada de fazer prevalecer interesses particulares sobre o interesse geral. Perante a legitimidade electiva dos políticos os magistrados jogam uma autoridade moral e uma competência fundadas numa outra legitimidade: a legitimidade técnica.»
Quem escreveu a peça «A função política da justiça» a que pertence o excerto citado foi Estrela Serrano, doutorada em Sociologia da Comunicação, da Cultura e da Educação pelo ISCTE, mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, que desempenhou vários cargos de nomeação política incluindo assessora para a comunicação de Mário Soares e vogal do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social nomeada pelo governo do preso 44.
Ficamos a saber o que podemos esperar de um governo socialista e da tralha com que encherá o aparelho de estado para «regular» os excessos de «autonomização dos magistrados relativamente à política no tratamento da criminalidade económico-financeira, em particular da corrupção.»
Quem escreveu a peça «A função política da justiça» a que pertence o excerto citado foi Estrela Serrano, doutorada em Sociologia da Comunicação, da Cultura e da Educação pelo ISCTE, mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, que desempenhou vários cargos de nomeação política incluindo assessora para a comunicação de Mário Soares e vogal do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social nomeada pelo governo do preso 44.
Ficamos a saber o que podemos esperar de um governo socialista e da tralha com que encherá o aparelho de estado para «regular» os excessos de «autonomização dos magistrados relativamente à política no tratamento da criminalidade económico-financeira, em particular da corrupção.»
SERVIÇO PÚBLICO: Os adversários estão na outra bancada. Na mesma bancada estão os inimigos
«O que é que Maria de Belém tem? (teorias da conspiração)»
«Por que razão correm as mais diversas teorias da conspiração acerca de uma militante católica do PS, de aspeto frágil e voz quase inaudível que de repente pôs o PS em polvorosa? A mim ocorre-me uma frase de Marx a completar um aforismo de Hegel: a história repete-se, a primeira como tragédia e a segunda como comédia. Estamos pois numa espécie de comédia da guerra Soares/Zenha, a velha guerra do PBX, com protagonistas de terceira categoria.
Hoje mesmo o 'Público' informa-me que a candidata Maria de Belém tem atrás de si (e cito) "nomes importantes da banca, da indústria e até das sociedades secretas". Há uma diretora da Associação Nacional de Farmácias ex-diretora da farmacêutica Merck, um gestor do BES Numismática (que nem eu sabia existir), ex-presidente da ESEGUR, um presidente do Conselho Fiscal do BPI, o presidente da Amorim Turismo, uma administradora do Grupo Altis e um gestor do Instituto Português de Estudos Maçónicos, que é ligado à Maçonaria do GOL.
Ontem, Alfredo Barroso informava-me que ela pode ser o "cavalo de Troia da Igreja", ligada ao frade Melícias e ao padre Lino Maia, além de ter sido nomeada ministra pelo "beato Guterres" (expressão de Barroso).
Um email anónimo refere que ela está, no fundo, a cumprir uma estratégia de Passos Coelho. Devo dizer que se tudo isto fosse verdade, a senhora mereceria ser eleita, sem dúvida. Seria a presidente de todos os portugueses...
O PBX ("partido berdadeiramente xuxialista ") era como os soaristas se referiam jocosamente àqueles que achavam que o PS não era suficientemente à esquerda. Entre eles estavam muitos eanistas e uma parte substancial do PS que se reunia num sótão de Guterres. Nessa altura Alfredo Barroso era a favor de Soares, que era a direita, assim como Vítor Ramalho, que hoje está ao serviço de Sampaio da Nóvoa. Sampaio, que entrara para o PS, juntamente com os seus amigos dissidentes do MES, na mesma altura em que o PS se aliara ao CDS, mantinha uma certa distância. Mas isto é história. Uma história que desembocou num partido apadrinhado por Eanes, o PRD, e por muitos ex-socialistas, como Medeiros Ferreira, e conseguiu uma candidatura do histórico Zenha, apoiado pelo PCP, contra a candidatura moderada de Mário Soares, apoiada pela direção do PS. O PRD deu cabo do PS pelos anos da maioria absoluta de Cavaco, ao passo que Zenha ia derrotando Soares. Este, ao passar à segunda volta, depois dos escassos 25°/o obtidos na primeira, derrotou depois o então 'fascista' Freitas do Amaral, por um estádio da Luz, nas mais renhidas eleições de sempre.
Passaram 30 anos.
Hoje temos Sampaio da Nóvoa no lugar de Zenha, a tentar unificar a esquerda. Tem o lugar, mas não a estatura nem a história, nem a coragem. E Maria de Belém no lugar de Soares (que entretanto é a favor de Nóvoa porque mudou - e muito - de posição). Também tem o lugar, mas não o estatuto, a história e a coragem. É a farsa, ou comédia da repetição.
Porém, desta vez, a direção do PS não está alinhada com uma das candidaturas - cada qual apoia o seu. É mais farsa ainda. Costa gere como pode, empurrando com a barriga para depois das Legislativas. Se conseguir uma vitória, terá a legitimidade para apoiar quem achar melhor. Se não a conseguir, o que ele disser já não conta para nada, porque será imediatamente substituído.
A minha tese, embora a não possa provar, é menos conspirativa e mais simples: Sampaio da Nóvoa, ex-assessor de Sampaio, depois de ter feito honoris causa pela Universidade de Lisboa todos os ex-presidentes da República vivos, foi 'vendido' por Sampaio como grande solução a Costa, razão pela qual o atual presidente do PS, Carlos César, o apoia fortemente, assim como os amigos próximos de Soares e ainda a ala mais esquerda do PS.
Maria de Belém era, há muito, a cartada que António José Seguro queria jogar. Por isso, ao contrário do que afirmou Miguel Sousa Tavares ela não aparece apenas por vontade própria, nem a sua inclusão nas sondagens é inocente. A luta (em volta do PBX) continua. E, até agora, quem mais razões tem para se rir da farsa é Seguro.»
Henrique Monteiro, no Expresso
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CASE STUDY: Os amanhãs que cantarão, segundo o PS, ou o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência (4)
Outros amanhãs.
Interrompo aqui os comentários ao relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal», que retomarei mais tarde (se os deuses me concederem a indispensável pachorra), para tratar do último e retumbante anúncio que o Público sintetizou brilhantemente no seu título:
Notemos que, uma vez mais, estamos perante o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência. Experiência que resulta do Programa de XVII Governo de José Sócrates que se propunha «como objectivo recuperar, nos próximos quatro anos, os cerca de 150.000 postos de trabalho perdidos na última legislatura».
Como é sabido, o referido objectivo, equivalente a reduzir o desemprego de 150 mil, foi com o tempo mudado para criar empregos em número que foi evoluindo ao longo da legislatura em que o desemprego aumentou quase tanto como o número de postos de trabalho prometidos recuperar e o número de postos de trabalho criados não chegou a 5 mil. Esta saga está amplamente documentada neste post e nos cinco nele linkados.
Evidentemente que então, como agora, o PS conta com o nevoeiro criado pela má-fé e incompetência do jornalismo de causas e dos opinion dealers, para os quais criar 207 mil empregos (o que pode ser feito destruindo 414 mil e portanto aumentando em 207 mil o desemprego) é o mesmo que reduzir o desemprego no mesmo número. É claro que nem vale a pena lembrar que o governo só cria empregos na administração pública, aumentando a despesa pública, e as empresas criarão ou não emprego dependendo de imensas coisas e também do que o governo faz.
Que medidas pretende o PS que o seu putativo governo tome para que as empresas criem 207 mil postos de trabalho nos próximos 4 anos? Com base no resumo do Público encontrei as seguintes:
1. «Eliminação da sobretaxa sobre o IRS em 2016 e 2017»
2. «Redução temporária da taxa contributiva dos trabalhadores»
3. «Complemento salarial anual para os trabalhadores pobres»
4. «Renovação das políticas de mínimos sociais»
5. «Condição de recursos nas prestações sociais não contributivas»
6. «Resolução do problema do financiamento das empresas»
7. «Limitação de contratos a termo»
8. «Procedimento conciliatório para cessação de contratos»
9. «Agravamento da contribuição para a Segurança Social por parte de empresas que abusem da precariedade»
10. «Revisão do sistema de descontos dos recibos verdes»
11. «Esforço de reintegração no mercado de trabalhadores de meia-idade»
12. «Estímulo da actividade nos sectores da reabilitação do património e da restauração»
Se das medidas 1 a 5 poderá resultar o aumento indirecto dos salários e, portanto, do rendimento disponível e, portanto, do consumo e, portanto, das importações e, portanto, do défice da balança comercial, só por bruxaria terão algum impacto na criação de emprego.
Das medidas 7, 9 e 10 resultará aumento do desemprego. Das restantes medidas, a 8 tem um impacto positivo irrelevante na redução dos custos de contexto, pelo que a esperança socialista fica residente nas duas últimas, isto é:
11. «Esforço de reintegração no mercado de trabalhadores de meia-idade»
12. «Estímulo da actividade nos sectores da reabilitação do património e da restauração»
Chegado aqui pergunto-me: estarão os sábios do PS convencidos que destas duas medidas resultará a criação de 207 mil empregos?
Se estiverem convencidos fico ainda mais preocupado do que se for só a costumeira mistificação.
(Continua)
Interrompo aqui os comentários ao relatório dos 12 sábios «Uma década para Portugal», que retomarei mais tarde (se os deuses me concederem a indispensável pachorra), para tratar do último e retumbante anúncio que o Público sintetizou brilhantemente no seu título:
«PS simula criação de 207 mil postos de trabalho até 2019»Título muito mais apropriado do que, por exemplo, o do Negócios, que titulou «PS promete a criação de 207 mil empregos até 2019», visto que o sábio Mário Centeno teve o cuidado de explicar que não iria criar, mas antes a coisa resultou de uma simulação.
Notemos que, uma vez mais, estamos perante o triunfo da fé e da esperança sobre a experiência. Experiência que resulta do Programa de XVII Governo de José Sócrates que se propunha «como objectivo recuperar, nos próximos quatro anos, os cerca de 150.000 postos de trabalho perdidos na última legislatura».
Como é sabido, o referido objectivo, equivalente a reduzir o desemprego de 150 mil, foi com o tempo mudado para criar empregos em número que foi evoluindo ao longo da legislatura em que o desemprego aumentou quase tanto como o número de postos de trabalho prometidos recuperar e o número de postos de trabalho criados não chegou a 5 mil. Esta saga está amplamente documentada neste post e nos cinco nele linkados.
Evidentemente que então, como agora, o PS conta com o nevoeiro criado pela má-fé e incompetência do jornalismo de causas e dos opinion dealers, para os quais criar 207 mil empregos (o que pode ser feito destruindo 414 mil e portanto aumentando em 207 mil o desemprego) é o mesmo que reduzir o desemprego no mesmo número. É claro que nem vale a pena lembrar que o governo só cria empregos na administração pública, aumentando a despesa pública, e as empresas criarão ou não emprego dependendo de imensas coisas e também do que o governo faz.
Que medidas pretende o PS que o seu putativo governo tome para que as empresas criem 207 mil postos de trabalho nos próximos 4 anos? Com base no resumo do Público encontrei as seguintes:
1. «Eliminação da sobretaxa sobre o IRS em 2016 e 2017»
2. «Redução temporária da taxa contributiva dos trabalhadores»
3. «Complemento salarial anual para os trabalhadores pobres»
4. «Renovação das políticas de mínimos sociais»
5. «Condição de recursos nas prestações sociais não contributivas»
6. «Resolução do problema do financiamento das empresas»
7. «Limitação de contratos a termo»
8. «Procedimento conciliatório para cessação de contratos»
9. «Agravamento da contribuição para a Segurança Social por parte de empresas que abusem da precariedade»
10. «Revisão do sistema de descontos dos recibos verdes»
11. «Esforço de reintegração no mercado de trabalhadores de meia-idade»
12. «Estímulo da actividade nos sectores da reabilitação do património e da restauração»
Se das medidas 1 a 5 poderá resultar o aumento indirecto dos salários e, portanto, do rendimento disponível e, portanto, do consumo e, portanto, das importações e, portanto, do défice da balança comercial, só por bruxaria terão algum impacto na criação de emprego.
Das medidas 7, 9 e 10 resultará aumento do desemprego. Das restantes medidas, a 8 tem um impacto positivo irrelevante na redução dos custos de contexto, pelo que a esperança socialista fica residente nas duas últimas, isto é:
11. «Esforço de reintegração no mercado de trabalhadores de meia-idade»
12. «Estímulo da actividade nos sectores da reabilitação do património e da restauração»
Chegado aqui pergunto-me: estarão os sábios do PS convencidos que destas duas medidas resultará a criação de 207 mil empregos?
Se estiverem convencidos fico ainda mais preocupado do que se for só a costumeira mistificação.
(Continua)
20/08/2015
Títulos inspirados (46) - «Quer engravidar? Será que está a fazer tudo bem?»
Li três vezes este título do Observador, apesar de parecer estar dirigido ao sexo feminino – «sexo» que a idiotia do PC (politicamente correcto) passou a chamar «género». Fui ver se o artigo tinha desenhos a exemplificar como «fazer tudo bem», tipo ilustrações do Kamasutra. Desilusão. Só tem conselhos, na sua maioria tão aplicáveis ao sexo para engravidar como às doenças da coluna.
É mais uma maldição: para pagar as facturas, até os jornais inteligentes têm de ter conteúdos estúpidos, o que, apesar de tudo, é preferível aos jornais estúpidos terem conteúdos inteligentes que nos obriguem à trabalheira de catar as agulhas da clarividência no palheiro da boçalidade.
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Ridendo castigat mores
A maldição da tabuada (26) – A multiplicação dos emigrantes
Ao ler este artigo de Inês Domingos do Observador, lembrei-me das acusações ao governo por «fabricar estatísticas» há 2 semanas pela deputada socialista Ana Catarina Mendes a propósito das estatísticas de desemprego. Segundo a deputada terão emigrado 500 mil trabalhadores nos últimos 4 anos.
Inês Domingos refere 49 mil emigrantes em 2014, número que não me parece que o INE já tenha tornado público, mas está em linha com os dos 3 anos anteriores: 43.998, 51.958, 53.786 (2011 a 2013) das estatísticas do INE e do Eurostat. No total dos 4 últimos anos são, portanto, 199 mil emigrantes, isto é menos de 40% dos números citados pela deputada socialista – como era de esperar à medida que caminhamos do PS para a extrema-esquerda os números vão ficando ainda mais delirantes.
Como compreender esta incapacidade de lidar com os números? A explicação simples é que se trata de gente atingida pela maldição da tabuada. A explicação mais completa, aplicável à gente que até sabe fazer contas mas não lhe convém fazê-las, é o trilema de Žižek.
Inês Domingos refere 49 mil emigrantes em 2014, número que não me parece que o INE já tenha tornado público, mas está em linha com os dos 3 anos anteriores: 43.998, 51.958, 53.786 (2011 a 2013) das estatísticas do INE e do Eurostat. No total dos 4 últimos anos são, portanto, 199 mil emigrantes, isto é menos de 40% dos números citados pela deputada socialista – como era de esperar à medida que caminhamos do PS para a extrema-esquerda os números vão ficando ainda mais delirantes.
Como compreender esta incapacidade de lidar com os números? A explicação simples é que se trata de gente atingida pela maldição da tabuada. A explicação mais completa, aplicável à gente que até sabe fazer contas mas não lhe convém fazê-las, é o trilema de Žižek.
Pro memoria (253) – Ponde as barbas de molho
Realizaram-se ontem «dois leilões, um da linha de BT com maturidade em novembro de 2015 (BT 20NOV2015), colocando EUR 400 milhões (fase competitiva). e outro da linha de BT com maturidade em julho de 2016 (BT 22JUL2016), colocando EUR 750 milhões (fase competitiva). EUR 500 milhões (fase competitiva) e outro da linha de BT com maturidade em outubro de 2013 (BT18OUT2013), colocando EUR 1000 milhões (fase competitiva).» (Fonte)
Os yields ponderados foram -0,013% (sim, uma taxa negativa) e 0,021%, para os prazos de 3 e 11 meses, respectivamente. Nos leilões de 2010, em plena vigência do socratismo e antes da intervenção da troika, para os mesmos prazos, os yields ponderados foram 1,818% e 3,260%. Se recuarmos até princípios de 2008, meses antes da falência do Lemon Bros em Setembro desse ano, que anunciou o princípio da crise, encontramos leilões de BT a 12 meses com yields ponderados da ordem de 3,9%.
Imaginemos o putativo Futuro Primeiro-Ministro de Portugal, um admirador das obras do preso 44 e do Syriza, com acesso com taxas negativas ou próximas de zero para desenvolver o seu programa keynesiano.
Os yields ponderados foram -0,013% (sim, uma taxa negativa) e 0,021%, para os prazos de 3 e 11 meses, respectivamente. Nos leilões de 2010, em plena vigência do socratismo e antes da intervenção da troika, para os mesmos prazos, os yields ponderados foram 1,818% e 3,260%. Se recuarmos até princípios de 2008, meses antes da falência do Lemon Bros em Setembro desse ano, que anunciou o princípio da crise, encontramos leilões de BT a 12 meses com yields ponderados da ordem de 3,9%.
Imaginemos o putativo Futuro Primeiro-Ministro de Portugal, um admirador das obras do preso 44 e do Syriza, com acesso com taxas negativas ou próximas de zero para desenvolver o seu programa keynesiano.
19/08/2015
ACREDITE SE QUISER: «Pena não ser leão e não se chamar Cecil para que as redes sociais o recordassem»
«Khaled Asad, 82 anos, foi agora publicamente decapitado após ter sido interrogado durante um mês pelo Estado islâmico. O seu corpo ficou pendurado numa coluna no centro da cidade. O seu crime: querer salvar Palmira.» (Blasfémias)
O assassinato de Asad pelo Estado Islâmico deixou a Internacional da Indignação indiferente. O abate do leão Cecil pelo dentista americano incendiou a Internacional da Indignação.
O assassinato de Asad pelo Estado Islâmico deixou a Internacional da Indignação indiferente. O abate do leão Cecil pelo dentista americano incendiou a Internacional da Indignação.
ARTIGO DEFUNTO: Ora que espanto
Continuando no tema salário mínimo.
Com grande espanto, o DN descobriu agora que «desde 2011, a percentagem de trabalhadores a ganhar o SMN subiu 73,6%». Pois não é inevitável que os aumentos em termos reais do SMN determinem que aumente o número de trabalhadores abrangidos, sobretudo quando o salário médio se mantém ou mesmo diminui como em 2013?
Espantou-se o DN mas ainda não descobriu que depois o aumento do SMN em Setembro do ano passado o desemprego interrompeu a descida precisamente nessa altura e só recomeçou a descer vários meses depois e só no 2.º trimestre deste ano melhorou significativamente.
Se descobrisse também se espantaria, pelo menos enquanto não percebesse a relação entre salário mínimo e desemprego. Pode começar pelo post «Salário mínimo e desemprego - unintended consequences», continuar na etiqueta salário mínimo e acabar, por agora, com o artigo da Economist «A reckless wager - A global movement toward much higher minimum wages is dangerous».
Com grande espanto, o DN descobriu agora que «desde 2011, a percentagem de trabalhadores a ganhar o SMN subiu 73,6%». Pois não é inevitável que os aumentos em termos reais do SMN determinem que aumente o número de trabalhadores abrangidos, sobretudo quando o salário médio se mantém ou mesmo diminui como em 2013?
Espantou-se o DN mas ainda não descobriu que depois o aumento do SMN em Setembro do ano passado o desemprego interrompeu a descida precisamente nessa altura e só recomeçou a descer vários meses depois e só no 2.º trimestre deste ano melhorou significativamente.
Se descobrisse também se espantaria, pelo menos enquanto não percebesse a relação entre salário mínimo e desemprego. Pode começar pelo post «Salário mínimo e desemprego - unintended consequences», continuar na etiqueta salário mínimo e acabar, por agora, com o artigo da Economist «A reckless wager - A global movement toward much higher minimum wages is dangerous».
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18/08/2015
ARTIGO DEFUNTO: Se queremos alinhar o salário mínimo com a Óropa devemos diminui-lo (2)
«O partido espanhol PSOE vai apresentar terça-feira, 18 de Agosto, uma série de propostas para a reforma da União Europeia, que incluem a criação de um orçamento europeu, e a uniformização de impostos, salário mínimo e idade da reforma. O objectivo é aprofundar a coesão da Zona Euro e caminhar em direcção a uma "Europa federal".» (Negócios)
Destaco de entre as propostas do PSOE, que reconheço têm a coerência do caminho para a “Europa Federal” (ainda que esse grande salto em frente, ou para o abismo, já não seja viável por falta de suporte dos eleitorados), a uniformização do salário mínimo, sobre a qual publiquei em tempos um post o qual no essencial continua aplicável mutatis mutandis, apesar de a pretexto de uma situação interna. Aqui vai ele.
O governo com a sua pequena jogada promocional colocou na ordem do dia a questão do salário mínimo e não foi preciso mais para se levantar um enorme clamor comparando o actual com o de 1974, tentando demonstrar que as «conquistas de Abril» estariam a ser atacadas pelo governo «neoliberal» ou comparando-o com os salários mínimos na Óropa.
Quanto à primeira comparação, o Pertinente já aqui mostrou fazer mais sentido comparar os salários actuais com os dos períodos anteriores de intervenção do FMI, e constatar que o salário mínimo actual é mais alto, em termos reais.
Quanto à segunda comparação, se o jornalismo de causas não fosse, mais uma vez, tão incompetente, não faria tais comparações. Ao fazê-las, sem se dar conta, está a fundamentar uma redução do salário mínimo. Exemplo: quando o Expresso publica este diagrama (+) mostrando que o salário mínimo português era de 86,1% da média europeia e desceu para 83,2% em 2009, arrisca a que alguém publique um diagrama comparando a produtividade portuguesa com a média europeia, como o abaixo.
Ao fazer esta outra comparação, constataria que a produtividade portuguesa já era baixa e ainda diminuiu nos últimos anos, representando em 2012 apenas 52,6% da produtividade média europeia. Dito de outro modo, se queremos alinhar pela Europa devemos reduzir o salário mínimo para 296 euros = (52,6% x 485) : 83,2%. (*).
(+) Link do Expresso actualmente não disponível
(*) Valores de 2012
Destaco de entre as propostas do PSOE, que reconheço têm a coerência do caminho para a “Europa Federal” (ainda que esse grande salto em frente, ou para o abismo, já não seja viável por falta de suporte dos eleitorados), a uniformização do salário mínimo, sobre a qual publiquei em tempos um post o qual no essencial continua aplicável mutatis mutandis, apesar de a pretexto de uma situação interna. Aqui vai ele.
O governo com a sua pequena jogada promocional colocou na ordem do dia a questão do salário mínimo e não foi preciso mais para se levantar um enorme clamor comparando o actual com o de 1974, tentando demonstrar que as «conquistas de Abril» estariam a ser atacadas pelo governo «neoliberal» ou comparando-o com os salários mínimos na Óropa.
Quanto à primeira comparação, o Pertinente já aqui mostrou fazer mais sentido comparar os salários actuais com os dos períodos anteriores de intervenção do FMI, e constatar que o salário mínimo actual é mais alto, em termos reais.
Quanto à segunda comparação, se o jornalismo de causas não fosse, mais uma vez, tão incompetente, não faria tais comparações. Ao fazê-las, sem se dar conta, está a fundamentar uma redução do salário mínimo. Exemplo: quando o Expresso publica este diagrama (+) mostrando que o salário mínimo português era de 86,1% da média europeia e desceu para 83,2% em 2009, arrisca a que alguém publique um diagrama comparando a produtividade portuguesa com a média europeia, como o abaixo.
Fonte: Labour productivity per hour worked (Eurostat) |
(+) Link do Expresso actualmente não disponível
(*) Valores de 2012
Dúvidas (116) - Será assim tão difícil de perceber que não adianta discutir vacuidades como os outdoors
«A economia portuguesa está a crescer de forma moderada e as exportações continuam a ser o motor da economia. É esse o caminho, apesar de o crescimento económico precisar de aumentar bastante mais para se poder desalavancar o endividamento do país.
A opção pelo aumento do consumo, ainda que seja uma ideia generosa, tem como senão o inevitável aumento das importações e o desequilíbrio da balança comercial que o país tem conseguido contrariar nos últimos tempos, vendendo mais ao estrangeiro do que aquilo que está a comprar.
Portugal é uma das economias mais endividadas do mundo. Segundo a McKinsey, ocupa a quarta posição, com um rácio de 358% do PIB. Estas contas são consistentes com os 228% de dívida do sector privado reconhecidos pelo Conselho das Finanças Públicas, a que se somam os 130% do rácio da dívida pública. À nossa frente, com dívida mais elevada, diz a McKinsey, só o Japão com 400% do PIB, a Irlanda com 390% e Singapura com 382%. Já no que se refere à dívida externa bruta - Estado e privados -, o Conselho das Finanças Públicas refere, na análise prospectiva para 2015-2019, um total de 233% do PIB no final de 2014.
Estes dados mostram como é extemporâneo dizer que a crise já foi ultrapassada, que já não vão ser necessários mais rigor e sacrifícios e que o que é necessário é aumentar o consumo.»
Francisco Ferreira da Silva, «Constituição deve impor limites para defender o país», no Económico
Estou certo que este endividamento é um problema - é uma mochila demasiado pesada para as nossas forças no declive que temos de subir. Não estou certo que a medida proposta tenha um contributo significativo para uma solução. A Constituição também tem uma colecção de garantias e direitos positivos que não passam de palavras.
A opção pelo aumento do consumo, ainda que seja uma ideia generosa, tem como senão o inevitável aumento das importações e o desequilíbrio da balança comercial que o país tem conseguido contrariar nos últimos tempos, vendendo mais ao estrangeiro do que aquilo que está a comprar.
Portugal é uma das economias mais endividadas do mundo. Segundo a McKinsey, ocupa a quarta posição, com um rácio de 358% do PIB. Estas contas são consistentes com os 228% de dívida do sector privado reconhecidos pelo Conselho das Finanças Públicas, a que se somam os 130% do rácio da dívida pública. À nossa frente, com dívida mais elevada, diz a McKinsey, só o Japão com 400% do PIB, a Irlanda com 390% e Singapura com 382%. Já no que se refere à dívida externa bruta - Estado e privados -, o Conselho das Finanças Públicas refere, na análise prospectiva para 2015-2019, um total de 233% do PIB no final de 2014.
Estes dados mostram como é extemporâneo dizer que a crise já foi ultrapassada, que já não vão ser necessários mais rigor e sacrifícios e que o que é necessário é aumentar o consumo.»
Francisco Ferreira da Silva, «Constituição deve impor limites para defender o país», no Económico
Estou certo que este endividamento é um problema - é uma mochila demasiado pesada para as nossas forças no declive que temos de subir. Não estou certo que a medida proposta tenha um contributo significativo para uma solução. A Constituição também tem uma colecção de garantias e direitos positivos que não passam de palavras.
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Não é um pouco esquizofrénico? (3)
Já em várias ocasiões salientei a esquizofrenia que nos leva (ou pelo menos leva os mídia portugueses) à obsessiva procura de patrícios em lugares de destaque para mitigar os nossos complexos de inferioridade. Frequentemente os patrícios encontrados ou não são patrícios, por terem nascido noutras paragens, ou são reconhecidos no bairro onde vivem o que para nós faz deles personagens galácticas.
E no entanto, há uma actividade em que os portugueses, não um ou dois, mas centenas, estão no topo e são considerados competitivos a nível mundial, apesar disso não ser reconhecido pelo pretensiosismo e pela bem-pensância. Refiro-me ao futebol onde num meio altamente competitivo temos centenas de patrícios que são referência na sua profissão e não apenas os jogadores.
Quanto se babariam os profissionais tugas da literatura, da engenharia civil, da física das partículas, da pintura, do bailado, ou da gestão, se uma revista online internacional como a Politico publicasse a seu respeito na edição europeia uma peça com o título «Portugal’s army of ‘special ones’ - It has more Champions League coaches than any other country» e este texto?
E no entanto, há uma actividade em que os portugueses, não um ou dois, mas centenas, estão no topo e são considerados competitivos a nível mundial, apesar disso não ser reconhecido pelo pretensiosismo e pela bem-pensância. Refiro-me ao futebol onde num meio altamente competitivo temos centenas de patrícios que são referência na sua profissão e não apenas os jogadores.
Quanto se babariam os profissionais tugas da literatura, da engenharia civil, da física das partículas, da pintura, do bailado, ou da gestão, se uma revista online internacional como a Politico publicasse a seu respeito na edição europeia uma peça com o título «Portugal’s army of ‘special ones’ - It has more Champions League coaches than any other country» e este texto?
17/08/2015
Chávez & Chávez, Sucessores (33) – A caminho do socialismo na modalidade bolivariana
Execuções em pleno dia em Caracas dos inimigos do socialismo (via Insurgente). Uma inspiração para os partidos irmãos?
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Curtas e grossas (23) - Promessas não são para cumprir
«Er hatte das Gegenteil versprochen, das kann er nicht halten. Er muss das Gegenteil machen.» (Entrevista da Deutsche Welle a Schäuble)
Ele (Tsipras) deve fazer o contrário do que prometeu.
Ele (Tsipras) deve fazer o contrário do que prometeu.
CAMINHO PARA A INSOLVÊNCIA: De como o melhor que pode acontecer ao paraíso prometido aos gregos pelo Syriza é ser um purgatório (XXXVI) – Desta vez também não será diferente
Outros purgatórios a caminho dos infernos.
A troika chegou a acordo com o governo grego sobre as condições do novo resgate, o parlamento grego aprovou as medidas, os bancos gregos reabriram com o dinheiro fresco do BCE, mais 86 mil milhões (36% do PIB) vão ser entornados na economia grega. A Grécia está, pois, no bom caminho. Certo? O mais provável é estar errado.
Em primeiro lugar por razões históricas. Há décadas que a Grécia não tem contas equilibradas, a evasão fiscal é endémica e a falsificação das contas é a ciência nacional. O que mudou para esses hábitos mudarem?
Em segundo lugar por razões políticas internas. O governo é uma coligação de dois partidos extremistas de esquerda e de direita que não acreditam nas medidas que terão de implementar e só assinaram porque não tinham dinheiro. O suporte parlamentar diminui cada dia. Um terço dos deputados do Syriza votaram contra na madrugada de 6.ª feira e as medidas só foram aprovadas com o voto da oposição. E vem mais rebelião a caminho.
Em terceiro lugar por razões políticas externas. Os dados da questão são:
É claro que se sabe que o infractor desperta simpatias e pode contar com quase toda a esquerda promotora da irresponsabilidade e do despesismo, que se excita com a desgraça auto-infligida e, embora nem toda tenha a ousadia de o proclamar, no fundo defende «os ricos que paguem a crise».
E não só a esquerda europeia, também luminárias americanas como Paul Krugman, Joseph Stiglitz e Jeffrey Sachs - «an odd alliance of Anglo-American economists and European leftists sympathetic to Greece’s Syriza party», nas palavras da Economist. E ainda alguns governos, como o americano que, como aqui escrevi, tem pressionado a UE para atirar mais dinheiro para cima da Grécia comprando o governo Syriza-Anel para que não se venda à Rússia, a exemplo do que os EU fazem ao Paquistão com o sucesso conhecido: venda da tecnologia da bomba nuclear à Coreia do Norte, apoio do exército paquistanês aos taliban no Afeganistão e hostilidade contínua ao maior aliado dos EU na região – a Índia, o único país na região que se pode considerar ter um regime democrático.
A troika chegou a acordo com o governo grego sobre as condições do novo resgate, o parlamento grego aprovou as medidas, os bancos gregos reabriram com o dinheiro fresco do BCE, mais 86 mil milhões (36% do PIB) vão ser entornados na economia grega. A Grécia está, pois, no bom caminho. Certo? O mais provável é estar errado.
Em primeiro lugar por razões históricas. Há décadas que a Grécia não tem contas equilibradas, a evasão fiscal é endémica e a falsificação das contas é a ciência nacional. O que mudou para esses hábitos mudarem?
Em segundo lugar por razões políticas internas. O governo é uma coligação de dois partidos extremistas de esquerda e de direita que não acreditam nas medidas que terão de implementar e só assinaram porque não tinham dinheiro. O suporte parlamentar diminui cada dia. Um terço dos deputados do Syriza votaram contra na madrugada de 6.ª feira e as medidas só foram aprovadas com o voto da oposição. E vem mais rebelião a caminho.
Em terceiro lugar por razões políticas externas. Os dados da questão são:
- É indispensável a participação do FMI (a única instituição com know-how e estômago para acompanhar o resgate);
- Christine Lagarde está ansiosa por renovar o mandato e sob pressão dos membros não europeus do FMI para aplicar a receita habitual que implica um haircut aceite pelos credores - com excepção do próprio FMI;
- De onde haverá enorme pressão sobre os membros da Europa Central e do Norte que querem respeitar o artigo 125.º do Tratado de Lisboa;
- Alguns dos governos desses países sabem de ciência certa que não terão apoio dos seus eleitores e a criação de precedentes conduzirá uma situação insustentável que só poderia ser resolvida com mais união política - outro grande salto em frente, desta vez para o abismo porque já não existe suporte eleitoral.
É claro que se sabe que o infractor desperta simpatias e pode contar com quase toda a esquerda promotora da irresponsabilidade e do despesismo, que se excita com a desgraça auto-infligida e, embora nem toda tenha a ousadia de o proclamar, no fundo defende «os ricos que paguem a crise».
E não só a esquerda europeia, também luminárias americanas como Paul Krugman, Joseph Stiglitz e Jeffrey Sachs - «an odd alliance of Anglo-American economists and European leftists sympathetic to Greece’s Syriza party», nas palavras da Economist. E ainda alguns governos, como o americano que, como aqui escrevi, tem pressionado a UE para atirar mais dinheiro para cima da Grécia comprando o governo Syriza-Anel para que não se venda à Rússia, a exemplo do que os EU fazem ao Paquistão com o sucesso conhecido: venda da tecnologia da bomba nuclear à Coreia do Norte, apoio do exército paquistanês aos taliban no Afeganistão e hostilidade contínua ao maior aliado dos EU na região – a Índia, o único país na região que se pode considerar ter um regime democrático.
16/08/2015
DIÁLOGOS DE PLUTÃO: Figurantes
- É uma vergonha o Pafe…
- O Pafe? Isso tem algo a ver com o Pif?
- Não. É a coligação PSD-CDS que nos vem sufocando com a austeridade…
- Mas não foi o PS que negociou e assinou o memorando?
- É uma vergonha o Pafe ter utilizado figurantes estrangeiros nos seus outdoors.
- E que figurantes deveria ter usado em vez disso?
- Ora, que pergunta. Funcionários de uma junta de freguesia.
[Diálogos de Plutão é uma homenagem a um planeta impertinente que foi despromovido]
- O Pafe? Isso tem algo a ver com o Pif?
- Não. É a coligação PSD-CDS que nos vem sufocando com a austeridade…
- Mas não foi o PS que negociou e assinou o memorando?
- É uma vergonha o Pafe ter utilizado figurantes estrangeiros nos seus outdoors.
- E que figurantes deveria ter usado em vez disso?
- Ora, que pergunta. Funcionários de uma junta de freguesia.
[Diálogos de Plutão é uma homenagem a um planeta impertinente que foi despromovido]
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CASE STUDY: O que a Óropa deve fazer para resolver os nossos problemas
A pretexto de esclarecer que nunca lhe teria passado pelas meninges defender a saída do Euro, Nicolau Santos, o nosso pastorinho da economia dos amanhãs que cantam favorito, faz questão de deixar bem claro o seu pensamento e escreve na 5.ª
«… com as atuais regras de funcionamento da Eurolândia países como Portugal vão inevitavelmente declinar económica e socialmente e tentarão compensar esse declínio reduzindo as funções do Estado social, cortando no investimento público e embaratecendo mais e mais os custos do trabalho através da precarização dos laços laborais.»
Até aqui quase concordo com ele, se der de barato que do lado português não há nada a fazer (mas há) ou que, havendo, está fora do nosso alcance (e estará enquanto for dominante o pensamento dos pastorinhos). Mas Nicolau Santos não se conforme e interroga-se
«Pode haver remédio para isto? Pode», escreve ele.
E qual será o remédio? Pergunto eu. Libertar a economia da tutela asfixiante do Estado pondo-o a tratar dos custos de contexto, fomentar a iniciativa privada, incentivar a poupança para financiar o investimento produtivo, aumentar a produtividade e assim melhorar a competitividade, manter as contas públicas e as contas externas equilibradas, etc. e esperar uma ou duas décadas?
Certo? Errado. Para Nicolau quem deve resolver os nossos problemas é a Óropa.
«Mas do lado da Europa não se vê que haja disponibilidade para aceitar as transferências intracomunitárias para fazer face a choques assimétricos, nem uma união bancária que impeça as PME nacionais de pagar o triplo de juros de uma empresa alemã.»
Tradução: mandem para cá dinheiro e cobrem-nos os juros como se o nosso risco fosse igual ao dos alemães. Ah, já quase me esquecia. Também temos de tomar decisões.
«O que está nas nossas mãos é tomar decisões, ao nível da competitividade fiscal e noutras áreas, para atrair capital estrangeiro. Mas até agora nenhum Governo ousou promover esse choque fiscal.»
Competitividade fiscal? Essencialmente reduzir o IRC e fazer o que tem feito a Irlanda que Nicolau e os outros têm criticado? Seja. E como se mantêm as contas públicas equilibradas? Aumentando a carga fiscal sobre as famílias? Reduzindo a despesa pública? E as funções do Estado social que tanto preocupam Nicolau? Ou pensará Nicolau que devemos repetir a receita de Sócrates, que ele tanto apreciou, e esses problemas deixariam de existir porque ele também aprendeu que as dívidas não são para se pagar?
15/08/2015
ACREDITE SE QUISER: E se de repente os países fossem medidos pela capitalização bolsista?
Fonte: Bank of America Merrill Lynch (via Market Watch) |
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globalização,
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Pro memoria (252) – Há 70 anos o imperador Hirohito proclamou a rendição do Japão
Tradução em inglês |
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a memória dos povos é curta,
o saber ocupa lugar
14/08/2015
BREIQUINGUE NIUZ: Pela enésima vez um tribunal rejeita um recurso de José Sócrates
Desta vez foi o Tribunal Constitucional que julgou «improcedente» o recurso em que se invocava a inconstitucionalidade do fundamento e da forma de comunicação da prisão preventiva.
Se para mim os acórdãos do TC, este e os outros, fundados em princípios gerais que podem ser interpretados com leituras políticas como aprouver aos juízes, não são decretos divinos, para as resmas de luminárias, que, recorde-se, se babaram com os acórdãos que consideraram inconstitucionais as medidas de austeridade com base em argumentos especiosos, este acórdão sobre a prisão do querido líder deveria ser matéria de fé. Ou não?
Se para mim os acórdãos do TC, este e os outros, fundados em princípios gerais que podem ser interpretados com leituras políticas como aprouver aos juízes, não são decretos divinos, para as resmas de luminárias, que, recorde-se, se babaram com os acórdãos que consideraram inconstitucionais as medidas de austeridade com base em argumentos especiosos, este acórdão sobre a prisão do querido líder deveria ser matéria de fé. Ou não?
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E agora José?,
justiça de causas,
verdade inconveniente
Pro memoria (251) – O choque com a realidade do carro eléctrico de Sócrates (III)
[Continuação de (I) e (II)]
A última vez que aqui fizemos um balanço, no final de 2013, a situação era a seguinte:
Entretanto, o governo ressuscitou o projecto Sócrates, vai instalar mais 49 pontos de carregamento e publicou a portaria 241/2015 prevendo que «o licenciamento da atividade de operação de pontos de carregamento será simplificado, de forma a estimular a emergência, num ambiente concorrencial, de novos operadores com cobertura nacional ou local».
Com essa concorrência, o número de pontos de carregamento por veículo e o custo por carregamento irão certamente aumentar. De onde se conclui que podemos continuar as políticas de Sócrates mesmo com o sujeito ausente.
A última vez que aqui fizemos um balanço, no final de 2013, a situação era a seguinte:
- Planos socráticos até 2020: 180 mil carros eléctricos e 25 mil locais de carregamento
- No final de 2013 havia 1.300 pontos de carregamento normal, 50 pontos rápidos, postos que terão custado 15 milhões, e 426 carros eléctricos vendidos desde 2010 sendo 140 em 2013 até Outubro (Expresso)
- Desde 2010 até 2013 foram feitos 27 mil carregamentos - o que dá 555 euros de investimento por carregamento nos 1.300 pontos, equivalentes a 7 carregamentos por ponto e ano ou um carregamento em cada 52 dias.
Entretanto, o governo ressuscitou o projecto Sócrates, vai instalar mais 49 pontos de carregamento e publicou a portaria 241/2015 prevendo que «o licenciamento da atividade de operação de pontos de carregamento será simplificado, de forma a estimular a emergência, num ambiente concorrencial, de novos operadores com cobertura nacional ou local».
Com essa concorrência, o número de pontos de carregamento por veículo e o custo por carregamento irão certamente aumentar. De onde se conclui que podemos continuar as políticas de Sócrates mesmo com o sujeito ausente.
NÓS VISTOS POR ELES: Tempestade demográfica perfeita, dizem eles
Com o título «Portugal faces ‘perfect demographic storm’» o FT publicou um artigo que não diz nada que não se soubesse e cuja relevância consiste apenas em confirmar a gravidade do problema visto de fora - uma consequência não desejada do Estado Social e talvez a sua maior realização.
«Portugal is the EU country hit hardest by a Europe-wide demographic problem as falling fertility rates and ageing populations threaten economic growth and the provision of pension, public health and elderly care services.
If nothing changes, the worst-case projection by the National Statistics Institute (INE) sees the population of Portugal dropping from 10.5m to 6.3m by 2060, while the number of over-65s for every 100 under-15s — the so-called ageing index — would soar from 131 to 464, the highest in Europe.
Even in INE’s more optimistic central forecast, Portugal is expected to lose 2m inhabitants over the next 45 years with the ageing index rising to 307. In little more than a generation, estimates the EU’s Eurostat agency, Portugal will be the EU country with the smallest proportion of children, with the percentage of under-15s falling from 14.6 per cent of the population in 2014 to 11.5 per cent in 2050.»
«Portugal is the EU country hit hardest by a Europe-wide demographic problem as falling fertility rates and ageing populations threaten economic growth and the provision of pension, public health and elderly care services.
If nothing changes, the worst-case projection by the National Statistics Institute (INE) sees the population of Portugal dropping from 10.5m to 6.3m by 2060, while the number of over-65s for every 100 under-15s — the so-called ageing index — would soar from 131 to 464, the highest in Europe.
Even in INE’s more optimistic central forecast, Portugal is expected to lose 2m inhabitants over the next 45 years with the ageing index rising to 307. In little more than a generation, estimates the EU’s Eurostat agency, Portugal will be the EU country with the smallest proportion of children, with the percentage of under-15s falling from 14.6 per cent of the population in 2014 to 11.5 per cent in 2050.»
13/08/2015
Um dia como os outros na vida do estado sucial (24) – A falta que o nanny state nos faz
«Estado falha na proteção de bebés de toxicodependentes que não vão às consultas» um título do DN que diz mais sobre o desvelado amor ao nanny state do que qualquer declaração de princípios. A falha não é da mãe que fugiu do hospital – ela é inimputável; a falha não é do pai que nem sabe de nada - ele é inimputável; a falha não é da família da mãe – eles são inimputáveis; ainda menos da família do pai - eles também são inimputáveis.
A falha é da jornalista que não escreve notícias, defende causas, promove a irresponsabilidade dos responsáveis e aponta o dedo ao nanny state que é também é inimputável.
Quem à primeira vista parecia ter perdido a fé nas virtualidades do nanny state é o PS que mandou um dos 12 sábios de «Uma década para Portugal» dizer que a recuperação da produção industrial não se deve ao nanny state mas apenas aos empresários. Á segunda vista percebe-se que a fé é inabalável, porque logo acusa o governo «que nada fez para apoiar os empresários» - por isso tiveram os empresários que dar corda aos sapatos o que aos socialistas não parecerá uma boa ideia porque evidenciaria a irrelevância das suas políticas, salvo para gerar crises.
A falha é da jornalista que não escreve notícias, defende causas, promove a irresponsabilidade dos responsáveis e aponta o dedo ao nanny state que é também é inimputável.
Quem à primeira vista parecia ter perdido a fé nas virtualidades do nanny state é o PS que mandou um dos 12 sábios de «Uma década para Portugal» dizer que a recuperação da produção industrial não se deve ao nanny state mas apenas aos empresários. Á segunda vista percebe-se que a fé é inabalável, porque logo acusa o governo «que nada fez para apoiar os empresários» - por isso tiveram os empresários que dar corda aos sapatos o que aos socialistas não parecerá uma boa ideia porque evidenciaria a irrelevância das suas políticas, salvo para gerar crises.
CAMINHO PARA A SERVIDÃO: As teorias da conspiração do czar Putin
«America is preparing a provocation against Russia. Possibly a war, almost certainly a local conflict, because its indebted economy can only be remedied by pillaging others. These are not the gibberings of a conspiracy theorist, but Sergei Naryshkin, chairman of Russia’s parliament and a close ally of Vladimir Putin’s, writing in the official state newspaper. Russia’s neighbours worry: the Kremlin often carries out the plans it ascribes to others. The likely cause of this bout of warmongering lies in the Russian economy. In the worst figures for six years, GDP shrank year-on-year by 4.6% in the second quarter. A tumbling rouble, low oil prices, a sharp drop in consumer spending, and sanctions which have cut Russia off from international capital markets all contribute to a deepening crisis. Unable to fix the economy, the Kremlin may indeed divert public attention inside the country by escalating tension abroad.»
Nenhum ditador resiste à tentação de encontrar um inimigo externo ou, mais raramente, interno para desviar a atenção dos desastres da sua governação e canalizar para esses inimigos os ódios e os ressentimentos que lhe seriam dirigidos. O czar Vladimir Putin é um perito nessa matéria.
Fonte: newsletter Espresso da Economist |
12/08/2015
Pro memoria (250) – Com amigos como Israel talvez os Estados Unidos possam dispensar os inimigos
A propósito da provável libertação condicional de Jonathan Pollard, um analista de informação naval dos EU preso em 1987 por espionagem a favor de Israel, a Economist escreveu num artigo de há 2 semanas:
A resposta chegou sob a forma de uma carta de Karl Polifka, Deputy director of intelligence US Central Command, entre 1989-91, que a Economist publicou na última edição:
«Mr Pollard was uniquely damaging: some of what he gave to Israel ended up in Soviet hands. They say that Mr Pollard was motivated not by patriotism but by ego and greed—Israel paid him handsomely, and he spent the money on cocaine, alcohol and expensive meals. He tried to sell documents not only to Israel, but also to several other countries».Fiquei a remoer o que teria levado os israelitas a passar informação para os comunistas 40 anos depois de ter terminado o apoio pós-guerra da URSS a Israel (antes da aliança da URSS com Israel ser substituída pela aliança com a maioria dos Estados árabes). Em troca de quê?
A resposta chegou sob a forma de uma carta de Karl Polifka, Deputy director of intelligence US Central Command, entre 1989-91, que a Economist publicou na última edição:
«Well, yes, a very large amount of it was used by Israel to facilitate the large emigration of Soviet Jews to Israel. This severely damaged America's cryptology system to the extent that by1990 the damage-control bill had hit $2.5 billion. Although this may have been judged by the Israelis to be in their national interests, it was not in the interests of the United States. Ally? One does wonder.»Em troca de judeus. Lord Palmerston não ficaria surpreendido. Duas vezes primeiro-ministro britânico no terceiro quartel do século XIX e também ministro dos Negócios Estrangeiros, disse nesta qualidade «Nations have no permanent friends or allies, they only have permanent interests.»
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