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15/04/2023

Eis o resultado das políticas socialistas de viver pendurado nos dinheiros da Óropa

Este blogue está quase a completar 20 anos e nesse longo período escreveram-se aqui dezenas de posts sobre a produtividade em Portugal que é baixa e, pior que isso, cresce mais devagar do que a maioria dos países mais pobres da UE, e sobre as consequências desastrosas disso. 

Desde a adesão à UE em 1986 os pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam e as luminárias do regime vêm celebrando os dinheiros dos contribuintes europeus derramados sobre uma economia anémica parasitada por um capitalismo periférico e dependente, e continuam a lamentar os baixos salários como se fosse possível produzir pouco e ter salários altos.

O resultado é visível e tão visível que até um departamento do Estado sucial não pôde ignorar e em mais um estudo palavroso (*) inseriu as tabelas seguintes que mostram o caminho que tem vindo a percorrer o Portugal dos Pequeninos governado por diversas modalidades de socialismo.   
Como se pode ver, em 20 anos, dos quais o PS desgovernou durante 12 anos, a produtividade em relação à média UE ficou praticamente estagnada, de 63,6% passou 63,7%. Como exemplo, três dos sobreviventes do colapso do império soviético no mesmo período registaram aumentos de 39,3% para 91,8%, de 26,7% para 78,0% e de 28,5% para 76,0%. 

Pior é difícil.

(*) A produtividade das empresas em Portugal - Determinantes intrínsecas e de contexto, Centro de Competências de Planeamento, de Políticas e de Prospetiva da Administração Pública, Abril 2023, disponível em link.

20/01/2021

Nem só o Estado é amigo do empreendedor (15) - A maldição do jornalismo promocional, o epílogo e a moral da estória (parte II)

Outras maldições do jornalismo promocional.

Em retrospectiva:

A Maló Clinic é um dos casos de sucesso mediático de empreendedores com amigos nos jornais, nomeadamente e não por acaso, no semanário de reverência que algum tempo antes da queda se referia, em tom encomiástico, a «Maló, o dentista global»:
«Não quis ser dentista, mas hoje orgulha-se do império criado. Aos 48 anos, Paulo Maló é dono do maior grupo dentário mundial, com clínicas nos quatros continentes»
Sete anos e quase 100 milhões de dívidas depois (mais de 3 vezes a facturação que não ultrapassa 30 milhões), o Grupo Maló Clinic foi adquirido pelo fundo Atena Equity Partners e está em Processo Especial de Revitalização a ver se lhe perdoam uma parte das dívidas.

Epílogo: «Contribuintes perdem trinta milhões com perdões à Malo Clinic»

Actualização: 

A Maló Esthetics foi mais um dos empreendimentos acarinhados pelo jornalismo promocional, neste caso abandonado à sua má sorte por Paulo Maló, o dentista global como o baptizou o Expresso no tempo em que tudo parecia correr bem. Depois de vários anos a perder dinheiro entrou agora em falência.

Moral da estória: 

O complexo político-empresarial socialista facilita com atalhos e subsidia com o dinheiro dos contribuintes, o jornalismo promocional promove e no final os sujeitos passivos voltam a financiar a «revitalização».

28/08/2020

Intervalo para lembrar que depois da pandemia teremos a anemia, de novo. O Covid-19 segue dentro de momentos (2)

Continuação do intervalo anterior.

A descapitalização crescente da economia portuguesa, a impreparação de uma parte significativa dos empresários e gestores e a falta de qualificações adequadas da mão-de-obra portuguesa explicam o enorme handicap da economia portuguesa em matéria de produtividade e, em consequência, também de competitividade.

Uma das consequências dessa descapitalização é a alienação pelos empresários portugueses das suas empresas. No sector financeiro, onde os bancos e as seguradoras foram quase todos vendidos, o processo foi mais longe, mas também a uma parte da pouca indústria que por cá havia foi alienada. O sector da construção civil e obras públicas foi dos mais atingidos a começar pela Somague e a acabar em muitas outras empresas. 

Sobrou na construção civil e obras públicas a Mota-Engil, a única portuguesa entre as 250 maiores construtoras internacionais, entre as quais no top 10 se encontram sete chinesas.

Sobrou mas pode estar a caminho de deixar de sobrar. A China Communications Construction Company (CCCC), a quarta maior construtora do mundo, vai ter uma participação de 30% e a holding da família Mota ficará, por agora, com 40%. Para a China e a sua estratégia de hegemonia, Portugal é o ventre mole da Europa.

03/07/2020

CASE STUDY: Parece um círculo vicioso, mas não é

Fonte: Newsletter Abr.-Jun. 2020, Ordem dos Economistas

Não investimos em I&D porque somos pobres ou somos pobres porque não investimos em I&D? Para o caso interessa pouco a relação causal, porque salvo uma nova aparição da Nossa Senhora de Fátima, desta vez aos pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam, para aumentar o PIB per capita é preciso aumentar a produtividade e para aumentar a produtividade são precisas várias coisas e entre elas um maior investimento em I&D.

Enquanto pensávamos no assunto, nós, os melhores dos melhores, segundo o presidente dos beijinhos, fomos sendo ultrapassados pelos sobreviventes do colapso do socialismo soviético: República Checa, Eslovénia, Eslováquia, Lituânia, Estónia, Hungria. Polónia e Hungria e os outros estão a caminho.

18/03/2020

Intervalo para lembrar que depois da pandemia teremos a anemia, de novo. O Covid-19 segue dentro de momentos

Por razões que me escapam, a descapitalização crescente de Portugal, um tema recorrente no (Im)pertinências em dezenas de posts, tem sido praticamente ignorada pela "economia mediática", ou seja aquilo de que falam os «200 palhaços que vão à televisão falar de economia», entre os quais umas boas dezenas de graduados na Mouse School of Economics. E, no entanto, essa descapitalização, acompanhada da impreparação de uma parte significativa dos empresários e gestores e da falta de qualificações adequadas da mão-de-obra portuguesa explicam o enorme handicap da economia portuguesa em matéria de produtividade e, em consequência, também de competitividade.

Uma das consequências da descapitalização da economia tem sido a progressiva alienação pelos empresários portugueses das suas empresas. Leia-se a este respeito a série A defesa dos centros de decisão nacional onde se evocam estórias ridículas de empresários que num dia choravam em S. Bento a perda de controlo das empresas, assinavam um manifesto sobre os centros de decisão no dia seguinte e corriam a vender as suas empresas aos espanhóis, à Dr.ª Isabel dos Santos e a quem quisesse comprar, nem que fosse com o dinheiro emprestado pelos bancos portugueses. E assim se foram os bancos e as seguradoras quase todas e uma boa parte da pouca indústria que por cá havia.   

De repente, por razões que também me escapam, a coisa aterrou agora nas páginas do Expresso que acordou para o assunto.  Os gráficos seguintes falam por si.

Expresso
Se a estes gráficos juntarmos o quadro abaixo com a variação do stock de capital dos países da UE27, percebe-se porque crescemos menos do que quase todos os países sobreviventes do colapso do Império Soviético.

Expresso
E, pior do que isso, que é passado, criámos as condições para continuar a crescer menos no futuro. Sendo certo que toda a UE poderá entrar em recessão com o impacto do Covid-19, a economia portuguesa será provavelmente uma das mais duramente atingidas.

01/12/2019

Gratificação por serviços prestados. Parte II - Os deuses do socialismo castigam Nicolau cortando-lhe o "envelope financeiro"

Recapitulando:

«Governo escolhe Nicolau Santos para presidente do conselho de administração da Lusa»


Para quem nos acompanha não será novidade que Nicolau, um decano do jornalismo de causas de saída do semanário de reverência, é o nosso pastorinho favorito da economia dos amanhãs que cantam, a quem dedicámos resmas de posts e por isso saudamos a sua subida ao olimpo da produção de boas notícias. É uma promoção inteiramente merecida.

Essa promoção que então saudámos foi há dois anos. Na sua carreira ao serviço da causa socialista, recheada de sucessos (o caso Baptista da Silva é apenas um deles), durante o governo "neoliberal", Nicolau criticou inúmeras vezes as medidas de austeridade impostas pelo programa de resgate, tornado necessário pela governação do Sr. Eng. Sócrates e negociado pelo seu governo socialista.

Nicolau punha então em causa a necessidade dessas medidas, contrariando o TINA (There Is No Alternative) do governo de então e defendendo uma receita que ele considerava keynesiana. O pobre John Maynard teria morrido outra vez - de susto, desta feita - se soubesse dos tratos de polé que o Nicolau dava às políticas que ele, Keynes, então defendeu num contexto incomparável.

Meia dúzia de anos depois destas suas críticas ao "governo neoliberal", a agência Lusa - o equivalente socialista à agência TASS que tão bem serviu o PCUS e hoje serve o putinismo - queixa-se de não ter «capacidade de cobertura de viagens do Presidente da República e do primeiro-ministro, devido à instabilidade orçamental» e o nosso pastorinho da economia dos amanhãs que cantam explica que o problema é o «envelope financeiro por parte dos acionistas. A isto soma-se o facto de este ano o orçamento da Lusa ter tido um corte de cerca de 460 mil euros».

É agora a vez de Nicolau gritar ao Dr. Costa e àquele senhor das Produções Fictícias TIA (There Is Alternative), libertem a guita!

01/11/2019

DIÁRIO DE BORDO: Pensamento do dia - o propósito de estudar economia é evitar ser enganado pelos economistas

«The purpose of studying economics is not to acquire a set of ready-made answers to economic questions, but to learn how to avoid being deceived by economists.»

Joan Robinson

Joan Robinson (1903-1983), foi uma reputada economista keynesiana, especialista em concorrência - inventou o conceito de monopsónio, o "monopólio" do comprador. De inspiração marxista e acentuadas simpatias maoistas, escreveu «The Cultural Revolution in China» onde justificou com grande complacência as atrocidades do Partido Comunista Chinês. Apesar disso, numa inesperada epifania produziu o pensamento citado que considero um conselho muito útil para proteger os neurónios dos cidadãos dos eflúvios doutrinários da Mouse School of Economics.

Declaração de interesse: acidentalmente e contrariado, concluí há décadas uma licenciatura em Economia; contudo, como Bill Clinton em relação aos charros, que disse ter fumado e não inalado, estranhei e não entranhei. Dito de outro modo, só comecei a entender o básico de uma economia quando desaprendi quase todo o pouco que havia aprendido de Economia.

08/10/2019

Nem só o Estado é amigo do empreendedor (14) - A maldição do jornalismo promocional, o epílogo e a moral da estória

Outras maldições do jornalismo promocional.

Em retrospectiva:

A Maló Clinic é um dos casos de sucesso mediático de empreendedores com amigos nos jornais, nomeadamente e não por acaso, no semanário de reverência que algum tempo antes da queda se referia, em tom encomiástico, a «Maló, o dentista global»:
«Não quis ser dentista, mas hoje orgulha-se do império criado. Aos 48 anos, Paulo Maló é dono do maior grupo dentário mundial, com clínicas nos quatros continentes»
Sete anos e quase 100 milhões de dívidas depois (mais de 3 vezes a facturação que não ultrapassa 30 milhões), o Grupo Maló Clinic foi adquirido pelo fundo Atena Equity Partners e está em Processo Especial de Revitalização a ver se lhe perdoam uma parte das dívidas.

Epílogo: «Contribuintes perdem trinta milhões com perdões à Malo Clinic»

Moral da estória: 

O complexo político-empresarial socialista facilita com atalhos e subsidia com o dinheiro dos contribuintes, o jornalismo promocional promove e no final os sujeitos passivos voltam a financiar a «revitalização».

27/09/2019

Nem só o Estado é amigo do empreendedor (13) - A maldição do jornalismo promocional não falha

Outras maldições do jornalismo promocional.

Repetindo-me:

Como se poderá confirmar em outros posts desta série, o jornalismo promocional - uma variedade do jornalismo de causas - está frequentemente associado a uma maldição que leva as empresas promovidas a passar pelas maiores trapalhadas e no limite algumas delas a desaparecerem.

Espero que não seja o caso da Farfetch, uma plataforma de venda de artigos de luxo, o único unicórnio português - unicórnio segundo o jargão startápico é uma empresa tecnológica que foi avaliada em mais de mil milhões de dólares.

Mas receio que seja, porque desde 2007 até hoje, a Farfetch só perdeu dinheiro num total de quase 100 milhões de euros, dos quais 38 milhões só no ano passado, prejuízos que lhe comeram os capitais próprios negativos em quase 80 milhões de euros. É claro que existem a Amazon (desde a fundação), o Facebook (nos primeiros anos), a Tesla e várias outras empresas que perderam ou ainda perdem imenso dinheiro, crescem desalmadamente e estão cotadas em bolsa por dezenas ou centenas de vezes o seu valor contabilístico. Só que são todas elas empresas que criaram produtos ou serviços disruptivos o que não parece ser o caso da Farfetch. Pode ser que seja um unicórnio, mas até ver não apostaria neste cavalo.

Porém, a maior dúvida sobre o futuro radioso da Farfetch é a intensa paixão que está a provocar nos meios do jornalismo promocional, com destaque para o semanário de reverência que já tem um longo currículo de promoções falhadas.

Novos desenvolvimentos:

O texto acima foi escrito há quase dois anos e parece agora premonitório das últimas notícias que nos chegam:  

22/09/2019

Nem só o Estado é amigo do empreendedor (12) - A maldição do jornalismo promocional, sempre

Outras maldições do jornalismo promocional.

A Maló Clinic é um dos casos de sucesso mediático de empreendedores com amigos nos jornais, nomeadamente e não por acaso, no semanário de reverência que algum tempo antes da queda se referia, em tom encomiástico, a «Maló, o dentista global»:
«Não quis ser dentista, mas hoje orgulha-se do império criado. Aos 48 anos, Paulo Maló é dono do maior grupo dentário mundial, com clínicas nos quatros continentes»
Sete anos e quase 100 milhões de dívidas depois (mais de 3 vezes a facturação que não ultrapassa 30 milhões), o Grupo Maló Clinic foi adquirido pelo fundo Atena Equity Partners e está em Processo Especial de Revitalização a ver se lhe perdoam uma parte das dívidas.

07/08/2018

CASE STUDY: A doutrina da Mouse School of Economics aplicada aos Estados Unidos

Com alguma surpresa, mesmo tratando-se do semanário de reverência, fiquei a saber por um artigo com um título que poderia ser uma tese («A prova do pudim ou porque o “milagre económico” de Trump afinal pode não ser tão bom») que «a economia norte-americana registou um crescimento recorde no segundo trimestre deste ano e Donald Trump veio reclamar os louros. Especialistas ouvidos pelo Expresso garantem que o milagre económico assenta no aumento do consumo». De onde, conclui-se, o aumento do consumo pode não ter bons resultados.

Porquê a surpresa? Porque sendo dominante no Expresso e na esquerda a doutrina da Mouse School of Economics, a tese da peça contraria um dos postulados mais importantes dessa doutrina, a saber: incentivar o consumo (mesmo o de bens importados) faz crescer a economia. Ora, se existe uma economia em que este postulado faz algum sentido é precisamente a americana com um imenso mercado interno e um  comércio externo com um peso relativo reduzido. Ao contrário, numa pequena economia aberta de um país como Portugal em que as necessidades básicas da população estão preenchidas, o aumento do consumo dirige-se em grande parte às importações, como agora se está uma vez mais a constatar, e, portanto, incentivar o consumo é um bom incentivo para a economia dos nossos parceiros.

Se o revisionismo de Costa já tinha comprometido a aplicação a Portugal do pensamento económico da Mouse School of Economics, agora esse pensamento económico deixa também de se aplicar aos Estados Unidos. É mais uma heresia.

17/01/2018

Nem só o Estado é amigo do empreendedor (11) - A maldição do jornalismo promocional, outra vez?

Como se poderá confirmar em outros posts desta série, o jornalismo promocional - uma variedade do jornalismo de causas - está frequentemente associado a uma maldição que leva as empresas promovidas a passar pelas maiores trapalhadas e no limite algumas delas a desaparecerem.

Desta vez foram a Nutrigreen (sumos e barras de fruta) e a Sousacamp (cogumelos) ambas praticamente falidas depois de PER (processos especiais de revitalização) falhados. O que têm ambas em comum, além dos PER? Várias coisas: (1) ambas foram financiadas pelo BES, cuja falta foi muito sentida; (2) têm como investidor comum a Espírito Santos Ventures; (3) foram "acarinhadas" pelos poderes do regime e muito visitadas pelas figuras de cera (a Sousacamp ainda em Julho do ano passado estava a receber com «pompa e circunstância» - palavras do semanário de reverência - o PR em exercício que lá foi verter os seus afectos) e, last but not least (4) ambas foram levadas ao colo pelo jornalismo promocional, com destaque para o venerável Nicolau Santos agora assolapado na presidência da Agência Lusa, a Tass do Dr. Costa.

29/12/2017

Gratificação por serviços prestados

«Governo escolhe Nicolau Santos para presidente do conselho de administração da Lusa»

Para quem nos acompanha não será novidade que Nicolau, um decano do jornalismo de causas de saída do semanário de reverência, é o nosso pastorinho favorito da economia dos amanhãs que cantam, a quem dedicámos resmas de posts e por isso saudamos a sua subida ao olimpo da produção de boas notícias. É uma promoção inteiramente merecida.

19/12/2017

COMO VÃO DESCALÇAR A BOTA? (14) O governo é bom a fazer o papel dos outros mas é mau a fazer o seu próprio (14)

Outras botas para descalçar.

Escreveu Nicolau Santos, o nosso pastorinho favorito da economia dos amanhãs que cantam, no Expresso Curto:

«Foi provavelmente a última boa notícia económica de 2017, mas veio confirmar um ano verdadeiramente excepcional: conclusão do processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos; crescimento económico muito acima do previsto, o maior do século (2,6% contra 1,8%), subida do emprego em 3,1%, desemprego a cair para 8,5%, aumento do investimento de 8,7% e das exportações de 7,7%, saída do Procedimento por Défice Excessivo, melhoria do rating da dívida pela Standard & Poor’s em Novembro, défice orçamental de 1,4% (o mais baixo de sempre em democracia), excedente de 1,5% na balança corrente e de capital e de 1,8% na balança de bens e serviços, emissão de dívida pública a 10 anos pela primeira vez abaixo dos 2% em 43 anos – e a eleição do ministro das Finanças, Mário Centeno, para presidente do Eurogrupo em Dezembro.
(...)
Este Governo pode estar a perder na política, onde se sucedem os casos graves ou embaraçosos; mas está claramente a ganhar na economia, contra todas as expectativas e contra inclusive aquilo que a generalidade dos analistas acreditava que iria acontecer quando o Governo tomou posse, com o apoio do BE e PCP

Repare-se na confusão característica da mente obnubilada do nosso pastorinho ao entender que se devem creditar ao governo as realizações da iniciativa privada nacional nas exportações e a procura privada internacional no turismo, devendo-se esta em boa parte às iniciativas igualmente privadas do Daesh que afastou a nossa concorrência, ao mesmo tempo que concede estar o governo a falhar no domínio político, ou seja no núcleo da governação onde o governo não poderia falhar. Ou, dito de maneira simples, para o pastorinho o governo é bom a fazer o papel dos outros mas é mau a fazer o seu próprio.

Dando de borla a confusão do pastorinho e admitindo estar o governo claramente a ganhar na economia, registo para memória futura, quando chegar a vez de a economia estar claramente a perder, como resultado provável das políticas que o governo está a adoptar, para ver como vai descalçar mais esta bota em que enfiou a cabeça.

17/11/2017

Nem só o Estado é amigo do empreendedor (10) - A maldição do jornalismo promocional, outra vez?

Como se poderá confirmar em outros posts desta série, o jornalismo promocional - uma variedade do jornalismo de causas - está frequentemente associado a uma maldição que leva as empresas promovidas a passar pelas maiores trapalhadas e no limite algumas delas a desaparecerem.

Espero que não seja o caso da Farfetch, uma plataforma de venda de artigos de luxo, o único unicórnio português - unicórnio segundo o jargão startápico é uma empresa tecnológica que foi avaliada em mais de mil milhões de dólares.

Mas receio que seja, porque desde 2007 até hoje, a Farfetch só perdeu dinheiro num total de quase 100 milhões de euros, dos quais 38 milhões só no ano passado, prejuízos que lhe comeram os capitais próprios negativos em quase 80 milhões de euros. É claro que existem a Amazon (desde a fundação), o Facebook (nos primeiros anos), a Tesla e várias outras empresas que perderam ou ainda perdem imenso dinheiro, crescem desalmadamente e estão cotadas em bolsa por dezenas ou centenas de vezes o seu valor contabilístico. Só que são todas elas empresas que criaram produtos ou serviços disruptivos o que não parece ser o caso da Farfetch. Pode ser que seja um unicórnio, mas até ver não apostaria neste cavalo.

Porém, a maior dúvida sobre o futuro radioso da Farfetch é a intensa paixão que está a provocar nos meios do jornalismo promocional, com destaque para o semanário de reverência que já tem um longo currículo de promoções falhadas.

07/10/2017

Dúvidas (207) - E se desta vez ele estiver certo?

Já inúmeras vezes aqui no (Im)pertinências o escrevemos: Nicolau Santos, o ideólogo do keynesianismo no semanário de reverência, o jornalista de causas socialistas várias, é o nosso pastorinho favorito da economia dos amanhãs que cantam. Também inúmeras vezes mostrámos que a fé que coloca nas suas causas é incomensuravelmente maior do que a sua capacidade de discernimento o que o conduz a inúmeros dislates, desde as vulgares promoções de empresas do regime que acabam falindo, até ao seu clímax (até agora) que foi o monumental barrete que lhe enfiou o vigarista Artur Baptista da Silva. Para mais exemplos podeis usar a etiqueta pastorinhos da economia que contém um bom número de posts que lhe são dedicados.

Se pensais que escrevo este post para malhar mais uma vez na criatura, estais enganados. Escrevo desta vez para louvar o seu discernimento por ter escrito um post no seu blogue «Keynesiano, graças a Deus» cuja leitura se recomenda, apesar de o seu título dizer quase tudo: «No seu próprio interesse, o PS não devia ter ganho as autárquicas».

E fê-lo logo no dia seguinte às eleições, ainda antes do camarada Jerónimo começar a fulminar o PS pelo descalabro dos comunistas, considerando pírrica a vitória dos socialistas - «verdadeiro hara-kiri do PS (...) não se percebe de todo porque apareceu o secretário-geral do PS todo ufano, ao final da noite de ontem, a afirmar que o PS tinha tido a maior vitória de sempre em eleições autárquicas. Se pensasse um pouco melhor, o dr. Costa devia era estar preocupadíssimo».

E se desta vez ele estiver certo? E se ele estiver outra vez errado, como indicia a sua fraca taxa de sucesso? Sim, porque pode muito bem acontecer não estar o dr. Costa preocupado e até pode estar aliviado pela perspectiva de trocar o camarada Jerónimo pelo dr. Rio.

08/09/2017

CASE STUDY: O pensamento económico da Mouse School of Economics à luz do revisionismo de Costa (2)

Continuação de (1)

Recapitulando: o pensamento económico de Costa seria, se Costa tivesse um pensamento económico para além da sua inspiração na Banda do Casaco («Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos»), fundado na doutrina dominante da Mouse School of Economics.

Concluímos também que a governação de Costa abandonou os corolários principais da doutrina, a saber: o défice das contas públicas e o défice das contas externas que eram irrelevantes passaram a ter a maior importância e a «aposta no investimento público» faleceu vítima das cativações e de outros expedientes.

Contudo, a inovação de Costa não se limitou ao abandono desses corolários. Costa, assessorado pelo Ronaldo das Finanças, criou um novo teorema no que respeita à influência da economia internacional na economia doméstica. A doutrina tradicional da Mouse School of Economics, desenvolvida por alturas da falência do Estado Sucial às mãos do Grande Líder José Sócrates, a que seguiu o resgate pela troika, consistia em explicar que a economia doméstica atravessava um período de grande prosperidade até ser atingida pela crise internacional resultante da economia de casino e do neoliberalismo e da conspiração das agências de rating.

O novo teorema, pelo contrário, postula que a economia internacional não tem qualquer influência na economia doméstica e, por isso, como corolário o «maior crescimento do século» não deve nada ao crescimento da Espanha, França, Alemanha e Reino Unido e ao crescimento das importações por esses países de bens e serviços portugueses (56% do total destinaram-se àqueles 4 países em 2016), nem ao turismo, e é fruto da adopção pelo governo do Documento dos Doze Sábios.

30/07/2017

CASE STUDY: Sócrates & Pinho, uma dupla de sucesso nos negócios – La Seda (REPUBLICAÇÃO)

Este post também poderia ser a propósito das conclusões da comissão de inquérito (CPI) à Caixa entre 2000 e 2016 que afastaram quaisquer «pressões para a aprovação de crédito de favor», contra toda a evidência. Mas é a propósito da La Seda em Sines (Artlant), cuja insolvência foi declarada na passada quarta-feira, onde a Caixa poderá perder 500 milhões, 75% dos 690 milhões de euros das dívidas desta empresa. Trata-se de uma das empresas do complexo político-empresarial socialista muito acarinhada pelo governo de Sócrates e pelos seus serventuários, acerca da qual publiquei há oito anos um post que agora é oportuno republicar.

[Advertência: os links das notícias da época já não estão válidos, por várias razões, umas boas outras más; nalguns casos é possível aceder a essas notícias fazendo uma pesquisa com algumas as palavras-chave do texto]

20-09-2007
«O ministro da Economia, Manuel Pinho, afirmou hoje que gostaria de atrair para Portugal mais investimentos do tipo dos efectuados pelas empresas Abertis, Repsol e La Seda, que totalizam 1,5 mil milhões de euros.»


21-09-2007
«La Seda diz que produção da fábrica de Sines arranca em 2009 e estuda nova unidade em Portugal»


12-03-2008
«O investimento do grupo La Seda de Barcelona, que tem como principais accionistas as portuguesas Imatosgil, com 10,8 por cento, e a Caixa Geral de Depósitos (CGD), com 5 por cento, na unidade de PTA, que ficará localizada na Zona Industrial e Logística de Sines, é de 400 milhões de euros até 2010.
Este é um projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN) e, de acordo com declarações hoje à Lusa do presidente do grupo La Seda de Barcelona, Rafael Español Navarro, "os trabalhos no local estão bastante avançados".
O lançamento da primeira pedra da nova fábrica de PTA conta com as presenças do primeiro-ministro, José Sócrates, do ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, e do presidente do grupo La Seda de Barcelona.»


04-02-2009
«Mais de quarenta accionistas da empresa La Seda de Barcelona apresentam quinta-feira à Comissão Nacional de Mercado de Valores (CNMV) espanhola um pedido de OPA obrigatória para que o grupo português Selenis/CGD/Imatosgil compre 100 por cento do capital da empresa.»

13-03-2009
«Um ano depois do lançamento da primeira pedra, o projecto de engenharia de base da fábrica da Artenius já está concluído em 95% e os equipamentos gerais já foram todos comprados, passando ao lado dos efeitos da crise económica.
A La Seda de Barcelona, onde os portugueses Imatosgil são accionistas (11%), está a investir 400 milhões de euros, em Sines, na construção da única fábrica n Europa dedicada, em exclusívo, à produção de PTA (que serve de matéria-prima ao PET, utilizado na produção de embalagens plásticas).»


20-05-2009
«O EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) baixou 99,2 por cento para 300 mil euros e as vendas caíram quase para metade, de 437 milhões de euros, no primeiro trimestre de 2008, para 258 milhões.
A LSB tem planos para construir uma fábrica em Sines, que tem sido apresentada como bom exemplo de investimento pelo Governo de José Sócrates


09-06-2009
«O grupo La Seda - que em Portugal está já atrasado cinco meses no desenvolvimento do projecto de 400 milhões de euros da fábrica de PET em Sines, para o qual garantiu financiamento até 320 milhões de euros – tem um passivo de 1,3 mil milhões de euros. A falta de liquidez do grupo foi já motivo suficiente para que a unidade catalã, em El Prat, parasse a laboração.
O “fantasma” de suspensão de pagamento de salários e de cobrança de credores, noticia o jornal económico, só foi afastado porque na semana passada se avançou a hipótese da CGD, “accionista e principal credor” da La Seda, poder “assegurar uma emissão de obrigações convertíveis em 150 milhões de euros como passo prévio ao refinanciamento da dívida”.
O jornal adianta que, em 18 meses, a companhia que detém agora as acções suspensas na praça espanhola nos 0,34 euros, já perdeu mais de 70% do seu valor, com a capitalização bolsista a descer para 213 milhões de euros.»


10-06-2009
«A Caixa Geral de Depósitos injectou 25 milhões de euros na espanhola La Seda, onde é um dos maiores accionistas, para assegurar a viabilidade financeira de curto prazo da companhia, que ontem alterou o presidente da empresa devido à pressão dos accionistas portugueses.»


27-07-2009
A La Seda chegou a um acordo de princpio com a Caixa Geral de Depósitos, accionista da empresa, para que esta adquira o capital da Artenius Sines por 40 milhões de euros, como forma de financiamento. Este valor faz parte de um financiamento total de 104 milhões de euros. Em paralelo, a fabricante de plásticos confirma que irá alienar activos não estratégicos, onde se inclui a fábrica de Portalegre, no Alentejo.
A La Seda espera obter do Caixa BI, banco de investimento da CGD, perto de 488 milhões de euros para viabilizar o projecto. A primeira pedra foi lançada há mais de um ano, mas a fábrica leva um atraso de seis meses.

25/06/2017

Dúvidas (200) - E os riscos de depender da banca portuguesa?

Na 5.ª coluna sua coluna da página 5 do Caderno de Economia do semanário de reverência, Nicolau Santos, o admirador de Baptista da Silva, nosso pastorinho favorito da economia dos amanhãs que cantam e promotor das doutrinas da Mouse School of Economics, publica um artigo com o sonoro título «Riscos de depender da banca espanhola», vituperando a presença crescente dos bancos espanhóis com o fortis ratio «durante a crise em Portugal (de 2002) os bancos espanhóis deixaram de comprar as emissões de dívida da República Portuguesa como cortaram o crédito às empresas públicas».

Considerando que resgate de 2011 pela troika se tornou indispensável essencialmente pelo crescimento da dívida pública e pela dívida das empresas públicas (nem toda ela contabilizada como dívida pública), crescimento entusiasticamente suportado pelos bancos portugueses, não seria mais apropriado a contrario sensu escrever um artigo com o título «Riscos de depender da banca portuguesa»?

14/06/2017

ARTIGO DEFUNTO: PIB e consumo per capita segundo o jornalismo de causas económicas

O Eurostat publicou há poucos dias os «GDP per capita, consumption per capita and price level indices» de onde extraí o diagrama seguinte que mostra o PIB e o consumo per capita portugueses abaixo da média EU28 sendo o primeiro mais abaixo, confirmando o que sabemos: vivemos em termos relativos (e absolutos) acima das nossas posses ou, para sermos precisos, acima do que produzimos.

Se consultarmos o quadro «Volume indices per capita, 2013-2016» no mesmo documento, verificamos ainda que entre 2013 e 2016 o PIB per capita português permaneceu invariável em 77% da média EU28, ao passo que o consumo per capita aumentou ligeiramente de 81% para 82%, confirmando que consumimos mais do que produzimos em termos relativos e desmentindo as teses miserabilistas alimentadas pelos delírios da esquerdalhada sobre os efeitos da austeridade. Dito de outro modo, em termos relativos produzimos o mesmo mas consumimos ligeiramente mais.


Chegados aqui, vejamos o que nos diz o jornalismo de causas económicas que, omitindo a relação entre consumo e PIB, como se pudesse consumir sem produzir, parece ter subjacente a doutrina da Mouse School of Economics postulando que do aumento dos salários e do consumo decorre necessariamente o aumento da produtividade e o produto. Dois exemplos:

Consumo per capita em Portugal fica abaixo da média europeia
A diferença entre os países da UE vai de 53% a 132%, sendo Portugal o sétimo país com a média mais baixa. (Económico)

Consumo “per capita” em Portugal está entre os mais baixos da Zona Euro
O consumo “per capita” em Portugal continua 18% abaixo da média da União Europeia. E é um dos mais baixos entre os membros que partilham o euro (Negócios)