«The campaign treasurer for City Comptroller John C. Liu was arrested on Tuesday as a part of a widening investigation into Mr. Liu’s fund-raising practices.
The treasurer, Jia Hou, faces charges of fraud and obstruction of justice for what federal prosecutors say was her role in funneling illegal campaign money to Mr. Liu by using straw, or phony, donors.»
Fonte: NYT
Podem ser bons exemplos, mas devem ser seguidos com muita moderação entre nós ou ficaremos com as cadeias cheias de tesoureiros.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
29/02/2012
DIÁRIO DE BORDO: Thomas Jefferson impresso em 3D
À falta de uma estátua de Thomas Jefferson. fundador da Nação Americana, redactor da Declaração de Independência e 3.º presidente dos EU, para a exposição «Slavery at Jefferson’s Monticello: Paradox of Liberty» no National Museum of African American History uma equipa da Smithsonian Institution resolver imprimir uma réplica de uma outra estátua usando as técnicas 3D. Ficou uma obra asseada.
Jefferson in the making Jefferson at Smithsonian Institution |
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28/02/2012
SERVIÇO PÚBLICO: Honoris cum causa (2)
[Continuação de (1)]
Como uma estrela pop, o ex-economista, actualmente blogger activist, Paul Krugman disse banalidades com pouca relação com os problemas concretos que nos afligem e foi escutado com devoção provinciana pelas luminárias domésticas que aplaudiram embevecidas as declarações panfletárias e contraditórias do seu guru. O pináculo de manteiguismo talvez tenha sido atingido por Braga de Macedo com um «we need you in the front line, not just in the New York Times!».
«Não apertem mais o cinto. Isso é válido para todo o Sul da Europa», mas «o caminho de Portugal é longo e doloroso». «Portugal tem de descer os salários em relação ao core da zona euro». Quanto? Parece que 20 ou 30%. Mas isso equivaleria a aumentar os salários portugueses face aos salários alemães que em paridade do poder de compra são 50% mais elevados. Não houve uma luminária doméstica que o confrontasse com estes disparates. Em vez disso babaram-se de êxtase.
«Sem moeda própria não há muito espaço de manobra neste país». Nesse caso, porque não sair já em vez de continuar no caminho longo e doloroso?
De tudo o que disse, retenho a única afirmação a que não tenho reservas: «ficámos (os economistas) mais estúpidos». Sem dúvida e ainda continuamos porque se continua a garantir que «ninguém poderia ter previsto uma crise financeira em 2008». I beg your pardon. Como assim? Pois se houve vários alguéns que a previram.
[Outros posts do (Im)pertinências sobre o guru]
Como uma estrela pop, o ex-economista, actualmente blogger activist, Paul Krugman disse banalidades com pouca relação com os problemas concretos que nos afligem e foi escutado com devoção provinciana pelas luminárias domésticas que aplaudiram embevecidas as declarações panfletárias e contraditórias do seu guru. O pináculo de manteiguismo talvez tenha sido atingido por Braga de Macedo com um «we need you in the front line, not just in the New York Times!».
«Não apertem mais o cinto. Isso é válido para todo o Sul da Europa», mas «o caminho de Portugal é longo e doloroso». «Portugal tem de descer os salários em relação ao core da zona euro». Quanto? Parece que 20 ou 30%. Mas isso equivaleria a aumentar os salários portugueses face aos salários alemães que em paridade do poder de compra são 50% mais elevados. Não houve uma luminária doméstica que o confrontasse com estes disparates. Em vez disso babaram-se de êxtase.
«Sem moeda própria não há muito espaço de manobra neste país». Nesse caso, porque não sair já em vez de continuar no caminho longo e doloroso?
De tudo o que disse, retenho a única afirmação a que não tenho reservas: «ficámos (os economistas) mais estúpidos». Sem dúvida e ainda continuamos porque se continua a garantir que «ninguém poderia ter previsto uma crise financeira em 2008». I beg your pardon. Como assim? Pois se houve vários alguéns que a previram.
[Outros posts do (Im)pertinências sobre o guru]
Agora é oficial: Portugal precisará de mais 300 mil milhões de euros
Não querendo ficar como autoridade económica e financeira atrás do Senhor Silva, era assim por ele conhecido, o doutor Alberto João Jardim deu a conhecer o seu veredicto: José Sócrates fez uma asneira ao pedir apenas 78 mil milhões ou seja, segundo o lente, um quinto do que o país precisa. Ele saberá, melhor do que ninguém.
¿Por qué no te callas? (5) – o tamanho interessa? Sim, mas quanto mais pequeno melhor
[Uma série potencialmente infinita de aflições e estados de alma partilhados com os mídia sem propósito aparente]
Depois de ter confessado irremediável distracção quando diz ter ficado «um pouco surpreendido» com os números do desemprego, a abrir a sua peroração numa jornada do Roteiro para a Juventude, a fechar Cavaco Silva surpreende o mundo da gestão com um inovador paradigma: o de que a reduzida dimensão das empresas portuguesas poderia ser uma vantagem competitiva na internacionalização.
Está encontrado o segredo para o triunfo nos mercados externos: uma empresa com 100 trabalhadores não consegue exportar? Parte-se em duas de 50 trabalhadores e já está. Não sei porquê, quando primeiro-ministro em 1994, Cavaco Silva gastou dinheiro para Michael Porter vir lançar bitaites sobre a competitividade da economia portuguesa.
Depois de ter confessado irremediável distracção quando diz ter ficado «um pouco surpreendido» com os números do desemprego, a abrir a sua peroração numa jornada do Roteiro para a Juventude, a fechar Cavaco Silva surpreende o mundo da gestão com um inovador paradigma: o de que a reduzida dimensão das empresas portuguesas poderia ser uma vantagem competitiva na internacionalização.
Está encontrado o segredo para o triunfo nos mercados externos: uma empresa com 100 trabalhadores não consegue exportar? Parte-se em duas de 50 trabalhadores e já está. Não sei porquê, quando primeiro-ministro em 1994, Cavaco Silva gastou dinheiro para Michael Porter vir lançar bitaites sobre a competitividade da economia portuguesa.
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27/02/2012
LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: Atestado de menoridade
Se fosse mulher (não está por agora nos meus planos), ficaria irritadíssima com a decisão anunciada pelo governo de as empresas públicas serem obrigadas a ter mulheres nos conselhos de administração. Consideraria tal como um atestado de menoridade, sobretudo num tempo em que as mulheres representam metade das admissões nas universidades e, dependendo dos cursos, representam uma clara maioria dos licenciados.
Não sendo mulher, fiquei apenas irritado pela estupidez de anunciar tal decisão dessa forma, porque se quem nomeia a administração é o governo, directa ou indirectamente, porque não nomeou já resmas de mulheres para todos os conselhos de administração?
Se queriam fazer alguma coisa neste domínio deveriam antecipar a completa igualdade no mundo da gestão seguindo o conselho de Simone Veil: nomear mulheres incompetentes para suceder a homens competentes. Imagino que seria um conselho difícil de seguir no universo empresarial do estado, não por falta de mulheres incompetentes mas por falta de homens competentes para serem substituídos.
Não sendo mulher, fiquei apenas irritado pela estupidez de anunciar tal decisão dessa forma, porque se quem nomeia a administração é o governo, directa ou indirectamente, porque não nomeou já resmas de mulheres para todos os conselhos de administração?
Se queriam fazer alguma coisa neste domínio deveriam antecipar a completa igualdade no mundo da gestão seguindo o conselho de Simone Veil: nomear mulheres incompetentes para suceder a homens competentes. Imagino que seria um conselho difícil de seguir no universo empresarial do estado, não por falta de mulheres incompetentes mas por falta de homens competentes para serem substituídos.
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CASE STUDY: Se não morreu da falta de regulação pode morrer do excesso
Um dos mitos recorrentes sobre a crise americana de 2008 foi e é a falta de regulação. Foi um diagnóstico muito conveniente para engordar em 16% os efectivos das autoridades de regulação, aumentando-os para 276 mil só nos dois primeiros anos do mandato de Barack Obama. E ainda para produzir 80 mil páginas de novos regulamentos só em 2010.
O número da semana passada da Economist fez em dois artigos (Over-regulated America e Too big not to fail) o balanço dos delírios regulatórios. Vale a pena citar alguns exemplos da psicose que está a transformar os EU numa espécie de UE, ao ponto de em Bethesda no Maryland a ASAE local proibir por falta de licenças carrinhos em que crianças vendiam limonada. Outro exemplo ridículo é o código para infantários do Colorado especificando o número de lápis por cada caixa.
A lei Dodd-Frank de 2010, inspirada pela falência do Lehman Bros, com 848 páginas é 23 vezes mais extensa do que a lei Glass-Steagall que reformou o sistema financeiros após o crash de 1929. Cada uma das disposições da lei Dodd-Frank exige clarificações e detalhes adicionais alguns deles com centenas de páginas. A chamada «Volcker rule», por exemplo, inclui 383 questões e 1.420 subquestões para cuja resposta uma conhecida firma de advogados para «facilitar» a vida as seus clientes construiu um procedimento com 355 passos.
Dois anos depois da publicação, das 400 regras da Dodd-Frank só 93 estão completadas. Por isso, como refere a Economist com ironia «as empresas financeiras na América devem preparar-se para estar em conformidade com uma lei que é parcialmente ininteligível e parcialmente incognoscível». Apesar das secções 404 e 406 da lei Dodd-Frank ocuparem apenas 2 páginas, dois reguladores do sistema financeiro transformaram essas 2 páginas num formulário para preenchimento pelos hedge funds com 192 páginas e um custo estimado de 100 a 150 mil dólares para preparar os dados e responder a cada formulário.
O diagrama da Economist mostrando a teia de aranha tecida pela lei Dodd-Frank para a regulação do sistema financeiro exemplifica graficamente os delírios a que se chegou.
Um outro exemplo é o resultado da reforma da saúde de Obama. Estima-se que cada hora de tratamento exigirá pelo menos 30 minutos de trabalho administrativo. O número de categorias em que os hospitais terão que classificar as doenças e lesões que tratem para puderem ser reembolsados aumentará de 18 mil para 140 mil. Para dar um exemplo do domínio da psicose regulatória, as lesões causadas por papagaios terão 9 classificações possíveis.
Em conclusão: os EU vão precisar em breve de ressuscitar Ronald Reagan para limpar as teias de aranha.
O número da semana passada da Economist fez em dois artigos (Over-regulated America e Too big not to fail) o balanço dos delírios regulatórios. Vale a pena citar alguns exemplos da psicose que está a transformar os EU numa espécie de UE, ao ponto de em Bethesda no Maryland a ASAE local proibir por falta de licenças carrinhos em que crianças vendiam limonada. Outro exemplo ridículo é o código para infantários do Colorado especificando o número de lápis por cada caixa.
A lei Dodd-Frank de 2010, inspirada pela falência do Lehman Bros, com 848 páginas é 23 vezes mais extensa do que a lei Glass-Steagall que reformou o sistema financeiros após o crash de 1929. Cada uma das disposições da lei Dodd-Frank exige clarificações e detalhes adicionais alguns deles com centenas de páginas. A chamada «Volcker rule», por exemplo, inclui 383 questões e 1.420 subquestões para cuja resposta uma conhecida firma de advogados para «facilitar» a vida as seus clientes construiu um procedimento com 355 passos.
Dois anos depois da publicação, das 400 regras da Dodd-Frank só 93 estão completadas. Por isso, como refere a Economist com ironia «as empresas financeiras na América devem preparar-se para estar em conformidade com uma lei que é parcialmente ininteligível e parcialmente incognoscível». Apesar das secções 404 e 406 da lei Dodd-Frank ocuparem apenas 2 páginas, dois reguladores do sistema financeiro transformaram essas 2 páginas num formulário para preenchimento pelos hedge funds com 192 páginas e um custo estimado de 100 a 150 mil dólares para preparar os dados e responder a cada formulário.
O diagrama da Economist mostrando a teia de aranha tecida pela lei Dodd-Frank para a regulação do sistema financeiro exemplifica graficamente os delírios a que se chegou.
Um outro exemplo é o resultado da reforma da saúde de Obama. Estima-se que cada hora de tratamento exigirá pelo menos 30 minutos de trabalho administrativo. O número de categorias em que os hospitais terão que classificar as doenças e lesões que tratem para puderem ser reembolsados aumentará de 18 mil para 140 mil. Para dar um exemplo do domínio da psicose regulatória, as lesões causadas por papagaios terão 9 classificações possíveis.
Em conclusão: os EU vão precisar em breve de ressuscitar Ronald Reagan para limpar as teias de aranha.
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26/02/2012
ARTIGO DEFUNTO: O frete expresso
Diferentemente do meu parceiro Pertinente, percebo perfeitamente que Cavaco Silva em vez de explicar porque fintou os indignados da António Arroio tivesse puxado pelos galões eleitorais e os pulisse. Ele não precisava de ir por aí porque tudo já estava tudo tratado pelos assessores para no dia seguinte o jornalista de serviço no Expresso escrever 4/5 de uma página, com uma chamada na 1.ª página com o título «Polícia travou visita de Cavaco por temer agressão» com letras vermelhas de 15 mm, a explicar a coisa.
Enfim, é um serviço que o Expresso lhe devia desde que escarafunchou o caso das acções da SLN. Para fazer o arredondamento, o Expresso ainda publicou outra chamada na 1.ª página com uma informação relevantíssima: a de que «empresas de Passos e Relvas (isto é empresas de Ilídio Pinho) fecharam no Carnaval» e um texto de quase uma página completa com fotos dos ministros e legendas a informar se as empresas por onde andaram também ou não estavam fechadas. Como dizia o outro, what goes around comes around. Estão quites.
Enfim, é um serviço que o Expresso lhe devia desde que escarafunchou o caso das acções da SLN. Para fazer o arredondamento, o Expresso ainda publicou outra chamada na 1.ª página com uma informação relevantíssima: a de que «empresas de Passos e Relvas (isto é empresas de Ilídio Pinho) fecharam no Carnaval» e um texto de quase uma página completa com fotos dos ministros e legendas a informar se as empresas por onde andaram também ou não estavam fechadas. Como dizia o outro, what goes around comes around. Estão quites.
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Pro memoria (51) – O MoU não foi feito para fazer crescer a economia nem para criar emprego
«Recordo sobretudo as afirmações dos deputados do PCP e do Bloco de Esquerda, que me soaram muito próximas. Num registo contido e que me pareceu sincero, as pessoas disseram, no essencial, o seguinte: "Não conseguimos perceber como os representantes da troika conseguem dizer que está tudo a correr bem, quando o que nós vemos é que está tudo cada vez pior, com a recessão a agravar-se e o desemprego a aumentar" (cito de cor, procurando respeitar o que me pareceu o essencial das afirmações).
Estamos, como afirmei, perante um problema político de primeira grandeza. O programa acordado com a troika, e cujo cumprimento esta vigia, não foi feito para fazer crescer a economia nem para criar emprego. Foi feito para resolver um problema de incapacidade de financiamento da economia portuguesa, cujo indicador mais objetivo é o comportamento das taxas de juro das obrigações do Tesouro no mercado secundário (aquelas que, um dia, o anterior ministro das Finanças afirmou não poderem atingir os 7% sem que isso fosse recebido como um sinal vermelho). As medidas tomadas para tentar resolver este problema criam recessão e desemprego na esperança de que, de seguida, Portugal possa voltar a recorrer ao mercado financeiro, criar emprego e fazer crescer a economia.»
Daniel Bessa no Expresso de 25-02
Estamos, como afirmei, perante um problema político de primeira grandeza. O programa acordado com a troika, e cujo cumprimento esta vigia, não foi feito para fazer crescer a economia nem para criar emprego. Foi feito para resolver um problema de incapacidade de financiamento da economia portuguesa, cujo indicador mais objetivo é o comportamento das taxas de juro das obrigações do Tesouro no mercado secundário (aquelas que, um dia, o anterior ministro das Finanças afirmou não poderem atingir os 7% sem que isso fosse recebido como um sinal vermelho). As medidas tomadas para tentar resolver este problema criam recessão e desemprego na esperança de que, de seguida, Portugal possa voltar a recorrer ao mercado financeiro, criar emprego e fazer crescer a economia.»
Daniel Bessa no Expresso de 25-02
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a memória dos povos é curta,
eu diria mesmo mais
DIÁRIO DE BORDO: Grande Auditório Gulbenkian, o Pequeno Met dos tesos (5)
Sutherland resssuscitada como Angela Meade, numa Elvira transcendente |
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25/02/2012
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Quotidiano de desleixo, incompetência e negligência (1)
Esta nova subsérie de posts visa ilustrar atitudes e comportamentos do dia-a-dia que fazem de nós um país desperdiçado em que pouca gente sinceramente acredita. É uma espécie de contra a corrente do graxismo cultivado por políticos, intelectuais desempregados, artistas sem públicos, empresários do regime e em geral luminárias que ora tentam manter a populaça chafurdando na mediocridade ora, reconhecendo-a, a justificam com a lengalenga da vitimização dos desgraçadinhos, alimentando o círculo vicioso e assim garantindo que teremos desgraçadinhos até ao fim dos tempos.
A subsérie começa com o lixo. Ou, mais exactamente, com os caixotes de lixo que os gestores de recolha (deve ser assim que se chamam) da câmara de Oeiras largam destapados no meio da rua, com estudada e sistemática incúria. Estas vítimas da sociedade que recebem além do salário vários subsídios por trabalharem de noite com materiais «perigosos» ainda têm o atrevimento de ir porta-a-porta tentar extorquir dinheiro aos munícipes no Natal.
A subsérie começa com o lixo. Ou, mais exactamente, com os caixotes de lixo que os gestores de recolha (deve ser assim que se chamam) da câmara de Oeiras largam destapados no meio da rua, com estudada e sistemática incúria. Estas vítimas da sociedade que recebem além do salário vários subsídios por trabalharem de noite com materiais «perigosos» ainda têm o atrevimento de ir porta-a-porta tentar extorquir dinheiro aos munícipes no Natal.
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um país talvez normal mas rançoso
¿Por qué no te callas? (4)
[Uma série potencialmente infinita de aflições e estados de alma partilhados com os mídia sem propósito aparente]
Das duas, uma: ou Cavaco Silva não faz ideia nenhuma da profundidade da crise portuguesa de que cuja génese foi cúmplice com as suas palavras dúplices e temerosas face ao animal feroz, na melhor hipótese, ou, na pior hipótese, da qual foi corresponsável com os seus silêncios de 5 anos, ou Cavaco Silva, quando diz ter ficado «um pouco surpreendido» com os números do desemprego, está mais uma vez a insultar a inteligência dos portugueses.
Alternativa parecida se coloca como explicação para a sua resposta «espero bem que não» à pergunta se a emigração dos jovens seria uma solução para o desemprego.
Questionado sobre porque se encolheu para enfrentar a previsível vaia na escola António Arroio, tergiversou acrescentando à infâmia da desculpa esfarrapada mais um insulto à inteligência, lembrando a despropósito o seu vastíssimo currículo eleitoral.
Das duas, uma: ou Cavaco Silva não faz ideia nenhuma da profundidade da crise portuguesa de que cuja génese foi cúmplice com as suas palavras dúplices e temerosas face ao animal feroz, na melhor hipótese, ou, na pior hipótese, da qual foi corresponsável com os seus silêncios de 5 anos, ou Cavaco Silva, quando diz ter ficado «um pouco surpreendido» com os números do desemprego, está mais uma vez a insultar a inteligência dos portugueses.
Alternativa parecida se coloca como explicação para a sua resposta «espero bem que não» à pergunta se a emigração dos jovens seria uma solução para o desemprego.
Questionado sobre porque se encolheu para enfrentar a previsível vaia na escola António Arroio, tergiversou acrescentando à infâmia da desculpa esfarrapada mais um insulto à inteligência, lembrando a despropósito o seu vastíssimo currículo eleitoral.
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24/02/2012
BREIQUINGUE NIUZ: Seguro converteu-se ao liberalismo e Mendes ao manobrismo
Muito menos surpreendente do que a «conversão» tardia e inesperada de António José Seguro às políticas liberais preconizadas na carta assinada por David Cameron e mais 11 primeiros-ministros, é a conversão de Marques Mendes às visões manobristas próprias da política paroquial portuguesa, ao reduzir as posições daqueles 12 a uma «jogada pessoal» de Cameron. Por isso, segundo ele, «não vem mal ao mundo» Passos Coelho não ter assinado.
Certamente a carta de Cameron é uma «jogada pessoal» como são todas as acções e discursos dos políticos, incluindo Marques Mendes. Desse ponto de vista, até poderíamos imaginar que Churchill ao dizer durante a batalha de Inglaterra ao povo britânico «I have nothing to offer but blood, toil, tears and sweat» também estaria a fazer uma «jogada pessoal».
Porém, fazer essa interpretação redutora da carta dos 12 que alinha um conjunto de reformas que se adoptadas dariam um novo folego ao mercado comum (sim, estou a falar de mercado comum e não de federação europeia) é mais próprio de uma mentalidade conspiratória e manobrista do que de um político com visão.
Por isso Marques Mendes sentiu necessidade de justificar a não assinatura, passando ao lado da muito provável verdadeira razão para Passos Coelho ficar de fora, apesar de aparentemente se identificar com as ideias base da carta. Razão que é muito prosaica: não podemos morder a mão que nos dá a esmola. Porque se percebe que as ideias dos 12 estão em rota de colisão com os federalismos e as óropas suciais que dona Merkel e o assessor Sarko parecem subscrever - dona Merkel que nos empresta dinheiro se nos portarmos bem.
Certamente a carta de Cameron é uma «jogada pessoal» como são todas as acções e discursos dos políticos, incluindo Marques Mendes. Desse ponto de vista, até poderíamos imaginar que Churchill ao dizer durante a batalha de Inglaterra ao povo britânico «I have nothing to offer but blood, toil, tears and sweat» também estaria a fazer uma «jogada pessoal».
Porém, fazer essa interpretação redutora da carta dos 12 que alinha um conjunto de reformas que se adoptadas dariam um novo folego ao mercado comum (sim, estou a falar de mercado comum e não de federação europeia) é mais próprio de uma mentalidade conspiratória e manobrista do que de um político com visão.
Por isso Marques Mendes sentiu necessidade de justificar a não assinatura, passando ao lado da muito provável verdadeira razão para Passos Coelho ficar de fora, apesar de aparentemente se identificar com as ideias base da carta. Razão que é muito prosaica: não podemos morder a mão que nos dá a esmola. Porque se percebe que as ideias dos 12 estão em rota de colisão com os federalismos e as óropas suciais que dona Merkel e o assessor Sarko parecem subscrever - dona Merkel que nos empresta dinheiro se nos portarmos bem.
Serão os piegas portugueses mais piegas do que os piegas italianos?
Imaginemos Passos Coelho, primeiro-ministro, a condenar a «monotonia» de um emprego para a vida inteira. Imaginemos Mota Soares, ministro do Trabalho, a dizer de um patrão que oferece um contrato sem termo que está a «vender ilusões». Imaginemos Miguel Macedo, ministro da Administração Interna, a criticar os portugueses que ficaram parqueados numa época em que os empregados trabalhavam «na mesma cidade da mãezinha e do paizinho».
O que aconteceria? Um escândalo de proporções olímpicas. Ouviríamos certamente o PS, o PC, o BE e todos os grupúsculos esquerdistas a vociferar em coro a falta de respeito pelo povo, a engraxar e puxar o lustro aos muitos coitadinhos plantados por esse país.
Pois bem, as citadas «ofensas» foram proferidas, respectivamente, por Mario Monti, primeiro-ministro italiano em exercício, Elsa Fornero, ministra do Trabalho, a mesma que chorou ao anunciar as duras medidas na sua área, e Anna Maria Cancellieri, ministra do interior.
Moral da estória (se esta estória tivesse moral) vista pelo Dr. Mário Soares arranhando o seu italiano: la ezquierda portogueza è più sinistra que la gauche italiana.
[Lido aqui]
O que aconteceria? Um escândalo de proporções olímpicas. Ouviríamos certamente o PS, o PC, o BE e todos os grupúsculos esquerdistas a vociferar em coro a falta de respeito pelo povo, a engraxar e puxar o lustro aos muitos coitadinhos plantados por esse país.
Pois bem, as citadas «ofensas» foram proferidas, respectivamente, por Mario Monti, primeiro-ministro italiano em exercício, Elsa Fornero, ministra do Trabalho, a mesma que chorou ao anunciar as duras medidas na sua área, e Anna Maria Cancellieri, ministra do interior.
Moral da estória (se esta estória tivesse moral) vista pelo Dr. Mário Soares arranhando o seu italiano: la ezquierda portogueza è più sinistra que la gauche italiana.
[Lido aqui]
23/02/2012
Benvindo ao clube
José Mourinho foi gravado por uma daquelas câmaras de espiões disfarçados de jornalistas desabafando para um dos seus adjuntos, antes do jogo com o CSKA: «Y esos maricones…? no dicen com qué balón se juega?»
Qualquer criatura normal perceberia que o desabafo teria o mesmo significado do que se Mourinho tivesse dito c*br*n*s ou h*j*s de p*t* ou outra qualquer expressão que os homens normais em actividades de homens costumam usar entre si em privado. Possivelmente, os maricones usam entre si em privado expressões equivalentes sem que ninguém se preocupe com isso.
A Federação Europeia de Gays e Lésbicas no Desporto, cujos associados não devem ser normais, lançou uma campanha contra Mourinho por homofobia.
Qualquer criatura normal perceberia que o desabafo teria o mesmo significado do que se Mourinho tivesse dito c*br*n*s ou h*j*s de p*t* ou outra qualquer expressão que os homens normais em actividades de homens costumam usar entre si em privado. Possivelmente, os maricones usam entre si em privado expressões equivalentes sem que ninguém se preocupe com isso.
A Federação Europeia de Gays e Lésbicas no Desporto, cujos associados não devem ser normais, lançou uma campanha contra Mourinho por homofobia.
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pela boca morre o peixe,
Ridendo castigat mores
22/02/2012
BREIQUINGUE NIUZ: António José Seguro converteu-se ao liberalismo?
«Num momento em que o crescimento e emprego são a preocupação dos portugueses é difícil de compreender como o primeiro-ministro português não subscreveu a carta» de Cameron e de outros 11 líderes europeus, denunciou o líder do PS António José Seguro.
A carta que Seguro critica não ter sido assinada por Passos Coelho é uma carta que apela:
Em conclusão: ou Seguro não leu a carta ou Seguro converteu-se ao liberalismo ou … temos mais um caso do trilema de Žižek.
A carta que Seguro critica não ter sido assinada por Passos Coelho é uma carta que apela:
- À liberalização do sector de serviços removendo as barreiras à entrada nos mercados e à concorrência;
- À criação de um mercado único digital e à remoção das barreiras nacionais ao comércio online;
- À criação de um mercado único eficaz e eficiente da energia, removendo as barreiras para investir nas infraestruturas;
- A iniciativas comuns na área da investigação e da inovação, com a criação de um regime comunitário de capital de risco; …; adopção de reformas para criar um sistema business-friendly de propriedade intelectual;
- A acções para desenvolver mercados globais abertos, com acordos comerciais com a Índia, Canadá, ... , Mercosur e Japão; a aprofundar a integração económica com os EU; …
- Reduzir o peso da regulação comunitária;
- Promover o bom funcionamento dos mercados de trabalho; …; reduzir o número de profissões reguladas; …
- Desenvolver um sector de serviços financeiros dinâmico e competitivo…
Em conclusão: ou Seguro não leu a carta ou Seguro converteu-se ao liberalismo ou … temos mais um caso do trilema de Žižek.
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SERVIÇO PÚBLICO: O cinema independente não depende dos espectadores (2)
O filme «Tabu» de Miguel Gomes ganhou o prémio da crítica no Festival de Berlim. Se for tão interessante como do «Aquele Querido Mês de Agosto» valerá a pena ser visto. A curta-metragem «Rafa» de João Salaviza arrecadou o Urso de Ouro no mesmo festival. Bons exemplos.
Talvez não por acaso, «Tabu» não foi financiado pelo ICA, mas em 60% capitais portugueses privados e o restante por subsídios públicos da Alemanha, Brasil e França. E «Rafa» foi subsidiado pelo ICA e por subsídios públicos franceses.
É claro que estes sucessos vão servir de bandeira para a comunidade do cinema independente tentar ficar ainda mais dependente dos subsídios. A verdade é que se trata de casos pontuais e que provavelmente viveriam bem sem o ICA, porque o universo dos filmes subsidiados é confrangedor, como ainda recentemente referi aqui.
Desde 2004 até 15-02-2012 não há um único filme português entre os 40 mais vistos. No mesmo período, dos mais de 450 filmes (incluindo um pequeno número de séries) subsidiados pelo ICA, só 6 tiveram mais de 100 mil espectadores e uma receita bruta superior a 500 mil euros.
Talvez não por acaso, «Tabu» não foi financiado pelo ICA, mas em 60% capitais portugueses privados e o restante por subsídios públicos da Alemanha, Brasil e França. E «Rafa» foi subsidiado pelo ICA e por subsídios públicos franceses.
É claro que estes sucessos vão servir de bandeira para a comunidade do cinema independente tentar ficar ainda mais dependente dos subsídios. A verdade é que se trata de casos pontuais e que provavelmente viveriam bem sem o ICA, porque o universo dos filmes subsidiados é confrangedor, como ainda recentemente referi aqui.
Desde 2004 até 15-02-2012 não há um único filme português entre os 40 mais vistos. No mesmo período, dos mais de 450 filmes (incluindo um pequeno número de séries) subsidiados pelo ICA, só 6 tiveram mais de 100 mil espectadores e uma receita bruta superior a 500 mil euros.
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21/02/2012
O princípio do fim do princípio
Parodiando a paródia do Impertinente com as palavras de Churchill, deve ser disso que estamos a falar com os resultados do acordo da Grécia com o Eurogrupo: um swap da dívida antiga por nova com um haircut de 53,5% da dívida detida pelos credores privados, um 2.º pacote de 130 mil milhões, a redução retractiva dos juros e last but not least o estacionamento permanente de uma equipa da troika para monitorizar o acordo e a prioridade do pagamento do serviço da dívida pública externa a consignar na constituição.
Se tudo corresse bem, e a única certeza que temos é que nem tudo irá correr bem, se é que alguma coisa correrá bem, a Grécia teria em 2020 uma dívida pública de 120% do PIB, um valor provavelmente insustentável.
Se tudo corresse bem, e a única certeza que temos é que nem tudo irá correr bem, se é que alguma coisa correrá bem, a Grécia teria em 2020 uma dívida pública de 120% do PIB, um valor provavelmente insustentável.
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Reprovado por falta de memória (ou de vergonha)
Secção Insultos à inteligência
Comentando as estudadas inconfidências de Mário Soares, tentando mostrar-se o deus ex machina do PS, José Sócrates mandou dizer de Paris:
Como ele parece não ter feito ainda as provas do mestrado, vou-lhe dar 2 afonsos pelo atrevimento, 5 pilatos pela ignorância e irresponsabilidade e 5 ignóbeis pela mistificação e 5 bourbons por continuar igual a si próprio.
Comentando as estudadas inconfidências de Mário Soares, tentando mostrar-se o deus ex machina do PS, José Sócrates mandou dizer de Paris:
«Vemos hoje tudo o que perdemos por ter pedido ajuda externa: níveis de desemprego, de falências, ratings da República, dos bancos: quantos anos vamos demorar a regressar aos níveis de há um ano?»Uma vez mais, a criatura surpreende por aquele pot-pourri (afinal o homem anda a estudar francês) de ignorância, atrevimento, irresponsabilidade e mistificação. Terá esquecido que a um ou dois meses de vista não haveria dinheiro para amortizar a dívida vincenda nem para pagar as despesas correntes?
Como ele parece não ter feito ainda as provas do mestrado, vou-lhe dar 2 afonsos pelo atrevimento, 5 pilatos pela ignorância e irresponsabilidade e 5 ignóbeis pela mistificação e 5 bourbons por continuar igual a si próprio.
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Conversa fiada,
E agora José?
Bons exemplos (28) - respectivamente
É sem dúvida um mau exemplo, um presidente da República aceitar favores financeiros de apoiantes ou amigos. Foi o caso de Christian Wulff, presidente da Alemanha eleito em 2010, que dois anos antes aceitou um empréstimo da mulher de um empresário para financiar a compra da sua casa a uma taxa de juro anormalmente baixa.
O caso foi tornado público em Dezembro do ano passado e Christian Wulff sentiu-se moralmente obrigado a demitir-se na sexta-feira passada. Foi um bom exemplo.
É quase inevitável a comparação com o caso de Cavaco Silva, presidente da República eleito pela primeira vez em 2005. Cavaco Silva e sua filha compraram em 2001 acções da SLN (holding do BPN) por 1 € que foram vendidas a outros accionistas a preços entre 1,8 e 2,2 €. Essas acções de Cavaco Silva e sua filha foram compradas em 2003 pela SLN com uma mais valia de 140%, por autorização pessoal de Oliveira e Costa, o mesmo que em 2005 faria parte da comissão de honra da primeira candidatura de Cavaco Silva. Estiveram ligados ao BPN ou à SLN ou a ambos, vários nomes de gente que próxima de Cavaco Silva: Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Rui Machete, Miguel Cadilhe, Faria de Oliveira, Abdul Vakil, Joaquim Coimbra, Alberto Figueiredo, Fernando Fantasia. Foi sem dúvida um mau exemplo.
O caso foi tornado público durante a campanha para o segundo mandato. Cavaco Silva fez várias fintas de corpo, assobiou para o lado e não se sentiu obrigado a não se recandidatar. Foi um mau exemplo.
Os alemães e os portugueses reagiram com a maior naturalidade ao primeiro caso e ao segundo caso, respectivamente. É no respectivamente que está a diferença – uma grande diferença.
O caso foi tornado público em Dezembro do ano passado e Christian Wulff sentiu-se moralmente obrigado a demitir-se na sexta-feira passada. Foi um bom exemplo.
É quase inevitável a comparação com o caso de Cavaco Silva, presidente da República eleito pela primeira vez em 2005. Cavaco Silva e sua filha compraram em 2001 acções da SLN (holding do BPN) por 1 € que foram vendidas a outros accionistas a preços entre 1,8 e 2,2 €. Essas acções de Cavaco Silva e sua filha foram compradas em 2003 pela SLN com uma mais valia de 140%, por autorização pessoal de Oliveira e Costa, o mesmo que em 2005 faria parte da comissão de honra da primeira candidatura de Cavaco Silva. Estiveram ligados ao BPN ou à SLN ou a ambos, vários nomes de gente que próxima de Cavaco Silva: Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Rui Machete, Miguel Cadilhe, Faria de Oliveira, Abdul Vakil, Joaquim Coimbra, Alberto Figueiredo, Fernando Fantasia. Foi sem dúvida um mau exemplo.
O caso foi tornado público durante a campanha para o segundo mandato. Cavaco Silva fez várias fintas de corpo, assobiou para o lado e não se sentiu obrigado a não se recandidatar. Foi um mau exemplo.
Os alemães e os portugueses reagiram com a maior naturalidade ao primeiro caso e ao segundo caso, respectivamente. É no respectivamente que está a diferença – uma grande diferença.
20/02/2012
Lost in translation (135) – considero os portugueses burros e por isso penso que estão cheios de saudades do José, disse ele em politiquês
«Hoje é bem claro que todo o percurso político do anterior primeiro-ministro, desde que se abateu sobre Portugal e o mundo esta crise, foi uma atitude de grande firmeza e de grande determinação na defesa dos interesses do país. Penso que cada vez mais os portugueses o entendem de forma clara». (entrevista do negócios online a Vieira da Silva, ex-secretário de estado dos governos de Guterres e ex-ministro do Trabalho e da Economia de José Sócrates e deputado nos intervalos)
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Conversa fiada,
Ridendo castigat mores
SERVIÇO PÚBLICO: Honoris cum causa
Ao contrário dos que não entendem a justeza do triplo doutoramento honoris causa de Paul Krugman no próximo dia 27 que as Universidades de Lisboa, Técnica e Nova vão conceder ao Nobel da Economia, eu não entendo porque não encontramos na lista as universidades do Porto e de Coimbra e a Católica, para não ir mais longe. E não entendo por várias razões.
Em primeiro lugar, como aqui já escrevi, a propósito de umas detracções do Pertinente, é verdade que Krugman tem sido nos últimos anos sobretudo um comentador (há mais de 8 anos que praticamente não publica trabalhos). Não é verdade que tenha pouca obra. Tem bastante e uma parte pode até ser considerada científica.
É duvidoso que o mérito de Krugman seja «mais do que duvidoso». É no máximo, para o conjunto da sua obra científica, um pouco duvidoso. Não é duvidoso e é inegável o mérito de ter percebido há quase 30 anos que poderia aproveitar o modelo Dixit-Stiglitz de concorrência monopolística no seu trabalho sobre a aplicação das economias de escala à teoria do comércio internacional. Esse trabalho constitui até agora a sua contribuição mais original para a ciência económica.
Em segundo lugar, porque, podendo não parecer, Krugman apresenta soluções heterodoxas para os seus seguidores, como o que escreveu recentemente no seu blogue: «Parece que Portugal vai ser a próxima peça do dominó do euro. … os preços e custos do trabalho estão desalinhados do resto da zona euro; realinhá-los vai exigir uma dolorosa desvalorização interna». Ou o que disse mais ou menos na mesma altura em entrevista ao Monde: «para restaurar a competitividade na Europa ter-se-ia de fazer com que, daqui a cinco anos, os salários baixassem 20% em relação à Alemanha».
Em terceiro lugar, e supondo que as outras razões não seriam suficientes, cito o argumento definitivo do insurgente André Azevedo Alves: o honoris causa visa «“premiar” um dos mais destacados e influentes defensores do intervencionismo e do despesismo estatais na actualidade num país que foi conduzido à bancarrota pelo intervencionismo e pelo despesismo estatais; por outro, que o consenso muito alargado que existe em Portugal em torno de Krugman resulta ele próprio de um quadro mental no qual o keynesianismo continua a ser praticamente hegemónico».
Em primeiro lugar, como aqui já escrevi, a propósito de umas detracções do Pertinente, é verdade que Krugman tem sido nos últimos anos sobretudo um comentador (há mais de 8 anos que praticamente não publica trabalhos). Não é verdade que tenha pouca obra. Tem bastante e uma parte pode até ser considerada científica.
É duvidoso que o mérito de Krugman seja «mais do que duvidoso». É no máximo, para o conjunto da sua obra científica, um pouco duvidoso. Não é duvidoso e é inegável o mérito de ter percebido há quase 30 anos que poderia aproveitar o modelo Dixit-Stiglitz de concorrência monopolística no seu trabalho sobre a aplicação das economias de escala à teoria do comércio internacional. Esse trabalho constitui até agora a sua contribuição mais original para a ciência económica.
Em segundo lugar, porque, podendo não parecer, Krugman apresenta soluções heterodoxas para os seus seguidores, como o que escreveu recentemente no seu blogue: «Parece que Portugal vai ser a próxima peça do dominó do euro. … os preços e custos do trabalho estão desalinhados do resto da zona euro; realinhá-los vai exigir uma dolorosa desvalorização interna». Ou o que disse mais ou menos na mesma altura em entrevista ao Monde: «para restaurar a competitividade na Europa ter-se-ia de fazer com que, daqui a cinco anos, os salários baixassem 20% em relação à Alemanha».
Em terceiro lugar, e supondo que as outras razões não seriam suficientes, cito o argumento definitivo do insurgente André Azevedo Alves: o honoris causa visa «“premiar” um dos mais destacados e influentes defensores do intervencionismo e do despesismo estatais na actualidade num país que foi conduzido à bancarrota pelo intervencionismo e pelo despesismo estatais; por outro, que o consenso muito alargado que existe em Portugal em torno de Krugman resulta ele próprio de um quadro mental no qual o keynesianismo continua a ser praticamente hegemónico».
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Les bons esprits se rencontrent,
se non è vero
19/02/2012
Uma Caixa de Pandora (2)
Uma espécie de continuação daqui.
Durante o salazarismo a Caixa desempenhou o papel de uma espécie de tesouraria do Estado Corporativo. Depois do colapso do ancien régime, os adoradores do Estado que se seguiram têm justificado a Caixa Geral de Depósitos com o «interesse estratégico do Estado». Ficámos a saber o que em que consiste este interesse quando assistimos à participação da Caixa no financiamento dos empresários do regime e sobretudo com o assalto ao BCP em que a Caixa participou com dinheiro e até emprestou a equipa de gestão chefiada pelo impagável Santos Teixeira e composta pelo incontornável Vara.
Se dúvidas subsistissem quanto ao «interesse estratégico», ficaríamos esclarecidos ao saber que a Caixa torrou 4,9 mil milhões de euros, o equivalente a 3% do PIB ou 40% da ajuda da troika para recapitalização dos bancos portugueses, para injectar nas suas sucursais de Espanha (2,9 mil milhões) e França (2 mil milhões), operações inviáveis mantidas sabe-se lá para quê. No caso de Espanha, a Caixa poderia ter aproveitado a oferta 150 milhões da Cajastur para ficar com o Banco Caixa Geral evitando assim torrar 2,9 mil milhões. Foi mais uma aplicação do efeito Lockheed TriStar.
Durante o salazarismo a Caixa desempenhou o papel de uma espécie de tesouraria do Estado Corporativo. Depois do colapso do ancien régime, os adoradores do Estado que se seguiram têm justificado a Caixa Geral de Depósitos com o «interesse estratégico do Estado». Ficámos a saber o que em que consiste este interesse quando assistimos à participação da Caixa no financiamento dos empresários do regime e sobretudo com o assalto ao BCP em que a Caixa participou com dinheiro e até emprestou a equipa de gestão chefiada pelo impagável Santos Teixeira e composta pelo incontornável Vara.
Se dúvidas subsistissem quanto ao «interesse estratégico», ficaríamos esclarecidos ao saber que a Caixa torrou 4,9 mil milhões de euros, o equivalente a 3% do PIB ou 40% da ajuda da troika para recapitalização dos bancos portugueses, para injectar nas suas sucursais de Espanha (2,9 mil milhões) e França (2 mil milhões), operações inviáveis mantidas sabe-se lá para quê. No caso de Espanha, a Caixa poderia ter aproveitado a oferta 150 milhões da Cajastur para ficar com o Banco Caixa Geral evitando assim torrar 2,9 mil milhões. Foi mais uma aplicação do efeito Lockheed TriStar.
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São todos iguais, mas há uns mais iguais do que outros (2)
Uma espécie de continuação daqui.
Desde há muito tempo que aqui no (Im)pertinências se considera a Irlanda num campeonato diferente do da Grécia e de Portugal. Os casos da Grécia e de Portugal são diferentes mas iguais, como costuma dizer a tropa do politicamente correcto a propósito de tudo e de mais alguma coisa.
Os diagramas seguintes capturados do negócios online mostram exactamente isso. No título do artigo Helena Garrido diz-nos que «Portugal é a Irlanda em velocidade mais lenta». Eu não estaria tão certo. Talvez a Grécia seja Portugal numa velocidade mais rápida.
Desde há muito tempo que aqui no (Im)pertinências se considera a Irlanda num campeonato diferente do da Grécia e de Portugal. Os casos da Grécia e de Portugal são diferentes mas iguais, como costuma dizer a tropa do politicamente correcto a propósito de tudo e de mais alguma coisa.
Os diagramas seguintes capturados do negócios online mostram exactamente isso. No título do artigo Helena Garrido diz-nos que «Portugal é a Irlanda em velocidade mais lenta». Eu não estaria tão certo. Talvez a Grécia seja Portugal numa velocidade mais rápida.
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TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: Sobraram os vilões
«Não há heróis nos últimos 25 anos da história política portuguesa. Só vilões. Um está hoje na presidência da República, outro no Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, outro na presidência da Comissão Europeia. Há um que não conta e um último que está escondido em Paris».
[João Vieira Pereira, no Expresso]
Eu diria mesmo mais, falta outro que está como Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações e sobra ainda outro que não se cala, atacado de esquerdismo senil.
[João Vieira Pereira, no Expresso]
Eu diria mesmo mais, falta outro que está como Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações e sobra ainda outro que não se cala, atacado de esquerdismo senil.
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18/02/2012
SERVIÇO PÚBLICO: Desperdício Nacional de Saúde
Recorda-nos este artigo do médico Joaquim Sá Couto (que um dia, nas muitas voltas da vida, tive oportunidade de conhecer), que «Portugal é um dos países com maior consumo de medicamentos do mundo. Gastamos 10% acima da média da OCDE e 40% acima de países como a Dinamarca, que tem um sistema de saúde exemplar.» Um outro indício de desperdício são as «150.000 operações às cataratas/ano … um rácio que é o dobro doutros países desenvolvidos».
O que podemos concluir? Se a eficácia do SNS é discutível, a sua eficiência é preocupantemente baixa, ou, dito de outra maneira, os seus resultados são medíocres (vejam-se os tempos de espera intermináveis para intervenções cirúrgicas) e o custo desses resultados medíocres é demasiado alto. Seria, pois, possível fazer muito melhor com o mesmo dinheiro ou fazer o mesmo com muito menos dinheiro. É esta 2.ª opção aquela a que estamos condenados por força da situação de insolvência em que 3 décadas de estado sucial gerido incompetentemente nos colocaram.
É fácil de dizer, mas difícil de fazer e creio que nem mesmo o ministro Paulo Macedo, que como director geral do fisco mostrou uma eficácia notável a remontar a máquina de extorsão fiscal, conseguirá desmontar a máquina dos lóbis médico, da indústria farmacêutica e das farmácias e alterar a expectativa dos direitos adquiridos, incrustada nas meninges dos milhões que esperam que o estado sucial lhes trate da saúde e alimentada por 2 ou 3 gerações de políticos oportunistas e incompetentes.
O que podemos concluir? Se a eficácia do SNS é discutível, a sua eficiência é preocupantemente baixa, ou, dito de outra maneira, os seus resultados são medíocres (vejam-se os tempos de espera intermináveis para intervenções cirúrgicas) e o custo desses resultados medíocres é demasiado alto. Seria, pois, possível fazer muito melhor com o mesmo dinheiro ou fazer o mesmo com muito menos dinheiro. É esta 2.ª opção aquela a que estamos condenados por força da situação de insolvência em que 3 décadas de estado sucial gerido incompetentemente nos colocaram.
É fácil de dizer, mas difícil de fazer e creio que nem mesmo o ministro Paulo Macedo, que como director geral do fisco mostrou uma eficácia notável a remontar a máquina de extorsão fiscal, conseguirá desmontar a máquina dos lóbis médico, da indústria farmacêutica e das farmácias e alterar a expectativa dos direitos adquiridos, incrustada nas meninges dos milhões que esperam que o estado sucial lhes trate da saúde e alimentada por 2 ou 3 gerações de políticos oportunistas e incompetentes.
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17/02/2012
O neoliberalismo, as agências de rating, dona Merkel, a troika e Passos Coelho induzem mais cinco crimes
Primeiro, o consumismo induzido pela mão invisível da economia de casino compeliu Francisco Esperança a alegadamente desviar há alguns anos 130 mil euros do banco onde trabalhava. Vítima da sociedade materialista onde só o dinheiro interessa, com a sua vida transtornada por uma injusta prisão, com o banco à perna, Esperança foi levado a viver acima das suas magras posses e a endividar-se cada vez mais. Até ao ponto em que o banco ameaçou vender-lhe os bens em hasta pública.
Sob a pressão do banco, Esperança perdeu a esperança. Que fazer?, terá pensado. Do pensamento à acção foi um ápice: alegadamente desbastou à catanada a alegada mulher, a alegada filha e a alegada neta. Capturado e encarcerado desumanamente na penitenciária, Francisco, o alegado homicida, «ter-se-á (alegadamente?) enforcado durante a noite, supostamente com uma peça de roupa, mais especificamente terá usado os lençóis da cama».
São cinco crimes, um desvio e quatro mortes. É alegadamente certo que foi a mão de Esperança, mas será culpa dele ou Esperança terá sido apenas uma vítima? As opiniões dividem-se. Se for vítima, será vítima de quem?, perguntareis. Da sociedade? Essa já não pega. Dos suspeitos do costume, evidentemente. De quem mais haveria de ser?
(Para os detalhes ler a estória aqui e aqui)
Sob a pressão do banco, Esperança perdeu a esperança. Que fazer?, terá pensado. Do pensamento à acção foi um ápice: alegadamente desbastou à catanada a alegada mulher, a alegada filha e a alegada neta. Capturado e encarcerado desumanamente na penitenciária, Francisco, o alegado homicida, «ter-se-á (alegadamente?) enforcado durante a noite, supostamente com uma peça de roupa, mais especificamente terá usado os lençóis da cama».
São cinco crimes, um desvio e quatro mortes. É alegadamente certo que foi a mão de Esperança, mas será culpa dele ou Esperança terá sido apenas uma vítima? As opiniões dividem-se. Se for vítima, será vítima de quem?, perguntareis. Da sociedade? Essa já não pega. Dos suspeitos do costume, evidentemente. De quem mais haveria de ser?
(Para os detalhes ler a estória aqui e aqui)
DIÁRIO DE BORDO: Ó minha Nossa Senhora dai-me pachorra
Ó minha Nossa Senhora dai-me pachorra para os discursos que nos querem convencer que a responsabilidade dos gregos (e a nossa) por décadas a viver acima das posses, por uma dívida que não conseguem pagar e pelo calote que irão ferrar aos credores não é deles é do neoliberalismo, das agências de rating, da dona Merkel e da minha prima Vicência.
E que nos querem convencer que a coisa se resolve se os países solventes emprestarem mais dinheiro e assumirem o risco dos insolventes, porque se não assumirem são nazis. Enquanto os gregos incendeiam edifícios históricos, têm salários mínimos de 876 euros, fogem ao fisco como o diabo foge da cruz e se reformam aos 50 e picos em profissões de risco como cabeleireiras.
Nós por cá, por enquanto, só fazemos manifestações que os funcionários do Partido Comunista em comissão de serviço na CGTP estimam ter tido 300 mil índios à razão de 9 índios por metro quadrado.
Se fosse grego ficaria indignado com as pessoas que exoneram a responsabilidade dos gregos como se eles fossem uma chusma de mentecaptos incapazes de perceber as consequências do que fizeram e do que fazem. Não sou grego e já estou como o ministro holandês, Ben Knappen, que se quer certificar de que o dinheiro emprestado pelo seu país aos países insolventes «não é consumido pelas chamas». Também me quero certificar que as poupanças que fiz durante uma vida de 53 anos de trabalho duro para suprir uma parte da insustentabilidade da nossa Segurança Social não são consumidas pela irresponsabilidade da cambada que vive a crédito há décadas.
E por falar em responsabilidades, se consideramos, e justamente, responsáveis os alemães adultos que participaram na demência nazi ou a silenciaram, porque não devemos considerar a insolvência da Grécia da responsabilidade dos gregos inadimplentes?
E que nos querem convencer que a coisa se resolve se os países solventes emprestarem mais dinheiro e assumirem o risco dos insolventes, porque se não assumirem são nazis. Enquanto os gregos incendeiam edifícios históricos, têm salários mínimos de 876 euros, fogem ao fisco como o diabo foge da cruz e se reformam aos 50 e picos em profissões de risco como cabeleireiras.
Nós por cá, por enquanto, só fazemos manifestações que os funcionários do Partido Comunista em comissão de serviço na CGTP estimam ter tido 300 mil índios à razão de 9 índios por metro quadrado.
Se fosse grego ficaria indignado com as pessoas que exoneram a responsabilidade dos gregos como se eles fossem uma chusma de mentecaptos incapazes de perceber as consequências do que fizeram e do que fazem. Não sou grego e já estou como o ministro holandês, Ben Knappen, que se quer certificar de que o dinheiro emprestado pelo seu país aos países insolventes «não é consumido pelas chamas». Também me quero certificar que as poupanças que fiz durante uma vida de 53 anos de trabalho duro para suprir uma parte da insustentabilidade da nossa Segurança Social não são consumidas pela irresponsabilidade da cambada que vive a crédito há décadas.
E por falar em responsabilidades, se consideramos, e justamente, responsáveis os alemães adultos que participaram na demência nazi ou a silenciaram, porque não devemos considerar a insolvência da Grécia da responsabilidade dos gregos inadimplentes?
Lost in translation (134) – não mexam no nosso queijo, deveriam eles dizer
Perante as novas regras de mobilidade funcionários públicos, uma deputada do BE fez uma declaração política no parlamento classificando a mobilidade geográfica como «despedimento encapotado de milhares de trabalhadores» e garantindo que o governo pretende com isso aumentar o desemprego sob o lema «se não estão bem, mudem-se».
A deputada Mariana Aiveca que foi numa outra encarnação assistente administrativa da Segurança Social e agora é profissional do sindicalismo e do agitprop, deveria ter um módico de senso e perceber que os funcionários públicos em termos relativos estão até muito bem e é por isso que não querem mudar, nem de geografia, nem de coisa nenhuma. A maioria dos funcionários públicos julga-se inamovível por natureza com um direito adquirido a uma sinecura vitalícia paga com impostos extorquidos.
A deputada Mariana Aiveca que foi numa outra encarnação assistente administrativa da Segurança Social e agora é profissional do sindicalismo e do agitprop, deveria ter um módico de senso e perceber que os funcionários públicos em termos relativos estão até muito bem e é por isso que não querem mudar, nem de geografia, nem de coisa nenhuma. A maioria dos funcionários públicos julga-se inamovível por natureza com um direito adquirido a uma sinecura vitalícia paga com impostos extorquidos.
16/02/2012
ARTIGO DEFUNTO: Títulos que são um programa de vida
Num encontro com jornalistas o presidente da Associação Portuguesa de Seguradores explicou que os resultados do mercado segurador português caíram de 414 para 43 milhões no ano passado, devido a imparidades de 528 milhões de euros, das quais metade resultou da dívida grega.
A jornalista do Negócios online poderia ter escolhido um título apropriado para artigo como, por exemplo, «Lucros das seguradoras caiem devido a má gestão financeira». Em vez disso, fez a escolha do costume – um título branqueando os erros de gestão e tirando a responsabilidade de cima do investidor e atirando-a para cima do investimento: «Grécia rouba mais de 250 milhões aos lucros das seguradoras portuguesas».
É grave? Nem por isso. Grave, grave mesmo, é ninguém achar isso grave.
A jornalista do Negócios online poderia ter escolhido um título apropriado para artigo como, por exemplo, «Lucros das seguradoras caiem devido a má gestão financeira». Em vez disso, fez a escolha do costume – um título branqueando os erros de gestão e tirando a responsabilidade de cima do investidor e atirando-a para cima do investimento: «Grécia rouba mais de 250 milhões aos lucros das seguradoras portuguesas».
É grave? Nem por isso. Grave, grave mesmo, é ninguém achar isso grave.
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15/02/2012
Mitos (64) – a excelência dos nossos emigrantes
Um dos mitos mais cultivados pelas nossas elites graxistas é o da excelência da nossa emigração que, segundo os graxistas, dá cartas nos países de acolhimento. Como muito bem refere o Insurgente, «lá se vai mais um mito» com a publicação dum paper (*) da OCDE, onde se fica a saber que «migrants from Portugal – a high-income OECD country – often face significant difficulties in labour market integration. This is partly attributable to their low education and has also been associated with poorer outcomes for their children».
E não se trata de um problema do passado porque «recent migrants from Portugal are predominantly low-educated and employed in medium and low-skilled occupations. They also face rather high unemployment. In contrast, migrants from Germany and from EEA countries other than Germany, Portugal and Italy are mainly highly-educated and find themselves overrepresented in highly-skilled».
Traduzindo os factos em números, 73% dos nossos emigrantes que representam 9% da emigração total na Suíça são «low-educated». Seria bom os fazedores de opinião local, em vez de dar graxa ao povo promovendo a pieguice nacional, o ajudassem a vencer o atraso confrontando-os com a medíocre realidade e incentivando-o a caminhar no caminho pedregoso da excelência. Ou, dito de outro modo, comportando-se como elites, das quais só adoptam os tiques e os ademanes.
(*) Liebig, T. et al. (2012), “The labour market integration of immigrants and their children in Switzerland”, OECD Social, Employment and Migration Working Papers No. 128, Directorate for Employment, Labour and Social Affairs, OECD Publishing
E não se trata de um problema do passado porque «recent migrants from Portugal are predominantly low-educated and employed in medium and low-skilled occupations. They also face rather high unemployment. In contrast, migrants from Germany and from EEA countries other than Germany, Portugal and Italy are mainly highly-educated and find themselves overrepresented in highly-skilled».
Traduzindo os factos em números, 73% dos nossos emigrantes que representam 9% da emigração total na Suíça são «low-educated». Seria bom os fazedores de opinião local, em vez de dar graxa ao povo promovendo a pieguice nacional, o ajudassem a vencer o atraso confrontando-os com a medíocre realidade e incentivando-o a caminhar no caminho pedregoso da excelência. Ou, dito de outro modo, comportando-se como elites, das quais só adoptam os tiques e os ademanes.
(*) Liebig, T. et al. (2012), “The labour market integration of immigrants and their children in Switzerland”, OECD Social, Employment and Migration Working Papers No. 128, Directorate for Employment, Labour and Social Affairs, OECD Publishing
14/02/2012
Uma Caixa de Pandora
Compensando a fraqueza do sistema doméstico de justiça e a sua contaminação pelos interesses, a «justiça» dos mercados, apesar de tardar, geralmente não falta e é praticamente cega.
Toda aquela gente da conversa fiada dos centros de decisão nacionais já vendeu, está em vias de vender ou tem pena de não ter vendido ou de não conseguir vir a vender. Os arranjinhos que se fizeram com a Caixa estão a desfazer-se. Dois exemplos: o Sr. Berardo com o BCP e o Sr. Fino com a Cimpor acabaram ambos a perder centenas de milhões e a Caixa, que patrocinou os negócios, com mais de mil milhões de imparidades – por estas e por outras.
Vem agora o novo presidente José de Matos, caído de pára-quedas do remanso do BdeP, reconhecer que a Caixa tem de concentrar-se «estritamente na actividade bancária … e vai ser um banco sem actividade não bancária». Aplaudo e pergunto: se o prosseguimento pela Caixa do que é chamado «interesse estratégico do Estado» tem sido o que se sabe, confundindo esse interesse com os «interesses» e roçando por vezes o foro criminal, e se agora a Caixa vai ser como os outros bancos para que precisamos de uma Caixa?
Toda aquela gente da conversa fiada dos centros de decisão nacionais já vendeu, está em vias de vender ou tem pena de não ter vendido ou de não conseguir vir a vender. Os arranjinhos que se fizeram com a Caixa estão a desfazer-se. Dois exemplos: o Sr. Berardo com o BCP e o Sr. Fino com a Cimpor acabaram ambos a perder centenas de milhões e a Caixa, que patrocinou os negócios, com mais de mil milhões de imparidades – por estas e por outras.
Vem agora o novo presidente José de Matos, caído de pára-quedas do remanso do BdeP, reconhecer que a Caixa tem de concentrar-se «estritamente na actividade bancária … e vai ser um banco sem actividade não bancária». Aplaudo e pergunto: se o prosseguimento pela Caixa do que é chamado «interesse estratégico do Estado» tem sido o que se sabe, confundindo esse interesse com os «interesses» e roçando por vezes o foro criminal, e se agora a Caixa vai ser como os outros bancos para que precisamos de uma Caixa?
13/02/2012
DIÁRIO DE BORDO: Querida, encolhi o povo! Ainda mais que os camaradas do KKE
(Continuação deste encolhimento)
«Bom: o que é que motivará o dirigente máximo da única organização sindical do país a mentir com tanto desespero, afirmando, mesmo, que esta terá sido "a maior manifestação jamais realizada em Lisboa em 30 anos"? Será normal um gajo banhar-se com o ridículo de uma falsidade tão óbvia na esperança de transformar pela mentira um movimento moribundo numa nação em armas pela dignidade dos trabalhadores e dos explorados? Posto de outra forma: o que é que teria perdido o Arménio Carlos, a CGTP e os trabalhadores se, em vez da "maior manifestação dos últimos 30 anos", esta tivesse sido a melhor manifestação de sempre? Foram para casa fazer o quê? Coçar os tomates à frente do telejornal a ver se se viam na televisão? Se a classe trabalhadora está mesmo debaixo de um golpe perpetrado pelo grande capital para que sejam os explorados a pagar os desvarios com que o capitalismo acaricia e engorda os poderosos, porque é que os seus representantes não ganham coragem e lutam para que os trabalhadores lutem? Eu tenho uma teoria: porque Arménio Carlos e o PCP sabem, de ciência, que a relevância e notoriedade da sua ideologia depende essencialmente do parasitismo, e que apesar de terem passado uma vida à cabeça dos desejos (que eles normalmente traduzem por "interesses") dos trabalhadores, estes só esporádica e transitoriamente são compatíveis com uma sociedade sem explorados ou exploradores. Quando (e se) a violência e a intensidade rebentarem por cá, o PCP e a CGTP continuarão, como até aqui, a tentar lubrificar o seu orgulho ideológico com as consequências do desespero alheio, sem uma pinga de vergonha na cara e, o que é pior, sem um vestígio de coragem. Ser valente em ditadura é tão mais fácil, não é? É por isso que os gajos do 5 Dias estão sempre a inventar repressões várias: inventam cargas policiais violentas, inventam boicotes na imprensa às suas iniciativas, inventam censura, inventam limites à liberdade. Vão acabar por se f*?€§ todos, e ao mesmo tempo.»
Escreveu o maradona, muito a propósito e surpreendentemente sem um único erro.
Manif da CGTP pp do PCP, no Terreiro do Paço no dia 11, com alegados 300 mil (JN) |
Manif da esquerdalhada grega na praça Syntagma no dia 12, com alegados 100 mil (WP) |
«Bom: o que é que motivará o dirigente máximo da única organização sindical do país a mentir com tanto desespero, afirmando, mesmo, que esta terá sido "a maior manifestação jamais realizada em Lisboa em 30 anos"? Será normal um gajo banhar-se com o ridículo de uma falsidade tão óbvia na esperança de transformar pela mentira um movimento moribundo numa nação em armas pela dignidade dos trabalhadores e dos explorados? Posto de outra forma: o que é que teria perdido o Arménio Carlos, a CGTP e os trabalhadores se, em vez da "maior manifestação dos últimos 30 anos", esta tivesse sido a melhor manifestação de sempre? Foram para casa fazer o quê? Coçar os tomates à frente do telejornal a ver se se viam na televisão? Se a classe trabalhadora está mesmo debaixo de um golpe perpetrado pelo grande capital para que sejam os explorados a pagar os desvarios com que o capitalismo acaricia e engorda os poderosos, porque é que os seus representantes não ganham coragem e lutam para que os trabalhadores lutem? Eu tenho uma teoria: porque Arménio Carlos e o PCP sabem, de ciência, que a relevância e notoriedade da sua ideologia depende essencialmente do parasitismo, e que apesar de terem passado uma vida à cabeça dos desejos (que eles normalmente traduzem por "interesses") dos trabalhadores, estes só esporádica e transitoriamente são compatíveis com uma sociedade sem explorados ou exploradores. Quando (e se) a violência e a intensidade rebentarem por cá, o PCP e a CGTP continuarão, como até aqui, a tentar lubrificar o seu orgulho ideológico com as consequências do desespero alheio, sem uma pinga de vergonha na cara e, o que é pior, sem um vestígio de coragem. Ser valente em ditadura é tão mais fácil, não é? É por isso que os gajos do 5 Dias estão sempre a inventar repressões várias: inventam cargas policiais violentas, inventam boicotes na imprensa às suas iniciativas, inventam censura, inventam limites à liberdade. Vão acabar por se f*?€§ todos, e ao mesmo tempo.»
Escreveu o maradona, muito a propósito e surpreendentemente sem um único erro.
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Lost in translation (133) - a tradução de crescimento em europês é controversa
«THE buzzword in Brussels these days is “growth”. Perhaps the looming recession across much of Europe is concentrating minds. Or leaders may realise that the prospect of years of austerity is stirring bad blood. Unless the debt crisis was resolved and growth recovered, said Christine Lagarde, the IMF’s head, Europe and the world risked reverting to the 1930s. At their next summit on January 30th, European Union leaders will solemnly talk of boosting output, tackling youth unemployment, supporting small firms and much else. They might even commit money to job creation, for example by recycling unspent EU funds through the European Investment Bank.
Do not be fooled by such pieties. Everybody has different ideas about growth and they often reflect longstanding prejudices. For Germany, fostering growth is not about spending more money, but about fiscal discipline and structural reforms in weaker countries. For France, the priority is to curb “disloyal” competition, by harmonising taxes to stop low-tax states (eg, Ireland) taking business away from high-tax ones (eg, France), or stopping Britain from imposing tougher rules on its banks that might make them seem safer than French ones. For the British, Dutch, Swedes and other north Europeans, growth should come from the boost to competition from deepening the single market and pursuing free-trade agreements. For ex-communist countries in the east, the secret is the vital role of EU transfers.»
Hopeful or hopeless?, Economist Jan 28
Do not be fooled by such pieties. Everybody has different ideas about growth and they often reflect longstanding prejudices. For Germany, fostering growth is not about spending more money, but about fiscal discipline and structural reforms in weaker countries. For France, the priority is to curb “disloyal” competition, by harmonising taxes to stop low-tax states (eg, Ireland) taking business away from high-tax ones (eg, France), or stopping Britain from imposing tougher rules on its banks that might make them seem safer than French ones. For the British, Dutch, Swedes and other north Europeans, growth should come from the boost to competition from deepening the single market and pursuing free-trade agreements. For ex-communist countries in the east, the secret is the vital role of EU transfers.»
Hopeful or hopeless?, Economist Jan 28
12/02/2012
DIÁRIO DE BORDO: Querida, encolhi o povo!
Disse o camarada Arménio Carlos à camarada patroa quando chegou a casa depois da manifestação no Terreiro do Paço onde, segundo ele e a imprensa amiga, se deu «a maior manifestação de sempre». Umas horas depois, alguém lhe deve ter chamado a atenção para que não poderia concorrer com as manifs do PREC nos tempos do falecido camarada Cunhal e o «de sempre» foi corrigido para «dos últimos 30 anos».
Ora a maior manifestaçãode sempre dos últimos 30 anos teve, segundo a CGTP e a imprensa amiga, 300 mil pessoas que couberam numa área total de aproximadamente 33 mil m2 à razão de 9 por metro quadrado. Ou seja o camarada Arménio encolheu cada manifestante para caber num rectângulo de 20 cm por 50 cm e convenceu-o a empacotar-se com 8 vizinhos num metro quadrado.
É mais uma aplicação do trilema de Žižek. Poderia o camarada Arménio fazer o favor de aplicar o seu método à dívida pública?
Ora a maior manifestação
É mais uma aplicação do trilema de Žižek. Poderia o camarada Arménio fazer o favor de aplicar o seu método à dívida pública?
300 mil? Talvez 30 mil (visto aqui) |
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11/02/2012
A justiça pela hora da morte
Escapa-me o racional das decisões da ministra da Justiça que em Novembro doou à câmara de Lisboa o edifício do Tribunal da Boa Hora acompanhado de mais 3,5 milhões de euros e decorridos dois meses foi gastar 6,5 milhões para comprar o que tinha doado e pago. (lido no Blasfémias).
Paula Teixeira da Cruz explicou que se tratava de um «emblema do judiciário». Talvez ela quisesse insinuar sibilinamente que sendo o «judiciário» o lugar geométrico da incompetência, para não ir mais longe, ficaria bem repor tal «emblema» na sua lapela.
Paula Teixeira da Cruz explicou que se tratava de um «emblema do judiciário». Talvez ela quisesse insinuar sibilinamente que sendo o «judiciário» o lugar geométrico da incompetência, para não ir mais longe, ficaria bem repor tal «emblema» na sua lapela.
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a nódoa cai em qualquer pano
SERVIÇO PÚBLICO: O princípio do princípio
Há décadas que a nossa balança de transacções correntes é fortemente deficitária e essa é a razão do nosso endividamento para com o exterior. E a balança de transacções correntes é fortemente deficitária porque a balança comercial é ainda mais deficitária. Somos como aquelas famílias que ganham 100 e gastam 110.
Não há a menor possibilidade de reduzir o nosso gigantesco endividamento ao exterior, equivalente a 2,5 vezes o PIB, sem melhorar as contas externas. E não há nenhuma possibilidade de crescer sem investir e para investir é preciso poupar, isto é consumir menos, ou seria preciso endividarmo-nos mais - se houvesse quem nos emprestasse. Tudo o resto é conversa de ignorantes ou de demagogos.
Para reduzir os défices do comércio externo é preciso exportar mais ou/e importar menos. Se exportar mais depende essencialmente dos outros e precisa de (muito) tempo, importar menos depende essencialmente de nós e produz efeitos a curto prazo. É também por isso que não há volta a dar à austeridade, seja lá o que isso for mas, sempre significando reduzir o consumo.
Já começam a ser visíveis alguns dos efeitos da austeridade nas contas externas. Vejam-se os resultados preliminares do 4.º trimestre de 2011 publicados pelo INE e a melhoria significativa da taxa de cobertura.
É muito cedo para deitar foguetes e estes resultados podem degradar-se em poucos meses. Abusando das palavras de Churchill, depois da primeira vitória dos Aliados: não é o fim, nem o princípio do fim, nem mesmo o fim do princípio, talvez seja o princípio do princípio.
Não há a menor possibilidade de reduzir o nosso gigantesco endividamento ao exterior, equivalente a 2,5 vezes o PIB, sem melhorar as contas externas. E não há nenhuma possibilidade de crescer sem investir e para investir é preciso poupar, isto é consumir menos, ou seria preciso endividarmo-nos mais - se houvesse quem nos emprestasse. Tudo o resto é conversa de ignorantes ou de demagogos.
Para reduzir os défices do comércio externo é preciso exportar mais ou/e importar menos. Se exportar mais depende essencialmente dos outros e precisa de (muito) tempo, importar menos depende essencialmente de nós e produz efeitos a curto prazo. É também por isso que não há volta a dar à austeridade, seja lá o que isso for mas, sempre significando reduzir o consumo.
Já começam a ser visíveis alguns dos efeitos da austeridade nas contas externas. Vejam-se os resultados preliminares do 4.º trimestre de 2011 publicados pelo INE e a melhoria significativa da taxa de cobertura.
É muito cedo para deitar foguetes e estes resultados podem degradar-se em poucos meses. Abusando das palavras de Churchill, depois da primeira vitória dos Aliados: não é o fim, nem o princípio do fim, nem mesmo o fim do princípio, talvez seja o princípio do princípio.
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prognósticos só no fim do jogo
10/02/2012
ARTIGO DEFUNTO: A superioridade da inferioridade
«O provincianismo de Merkel, uma engenheira química que cresceu do outro lado do Muro, mostra-se nos discursos. A senhora Merkel tem a eloquência prudente e limitada de um alemão da Alemanha interior, um território mental sem pingo de cosmopolitismo, conservador nos costumes e nos hábitos, inspirado pela frugalidade luterana ou a centrifugação ideológica do marxismo-leninismo soviético.»«O fim do mundo num gemido», Clara Ferreira Alves na Actual do Expresso de 04-02
Repare-se no «provincianismo» de Merkel contraposto ao «cosmopolitismo» (de Ferreira Alves), na «engenheira química» sem cultura e com «eloquência prudente e limitada de um alemão do interior» implicitamente contraposta à bem-pensância e eloquência da luminária de O Eixo do Mal, na «frugalidade luterana» que poderia ser contraposta à mistura de miséria com jactância novo-riquista dominante na sociedade portuguesa, na «centrifugação ideológica do marxismo-leninismo soviético» que poderia ser contraposta ao batido de salazarismo com «marxismo-leninismo soviético», consumido avidamente pela intelectualidade cosmopolita doméstica na época de juventude de Ferreira Alves.
É todo um programa de vida.
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cóltura,
ser singular é cada vez mais plural
O barulho do bispo é menos significativo do que foi o seu silêncio
Não me recordo de ouvir o bispo das Forças Armadas, Januário Torgal Ferreira, protestar durante o longo caminho que fizemos até chegar ao ponto em que nos encontramos hoje.
Acordou agora para nos informar que, de escombro em escombro, este governo pode ter as horas contadas.
Fracas elites fazem ainda mais fracas as fracas gentes
Eram de esperar as reacções em coro do PS («flagelar» diz Zorrinho), BE, PCP e sucursal CGTP, ao discurso da responsabilidade, da exigência e da falta de auto complacência de Passos Coelho.
Na melhor e pouco provável hipótese são pura hipocrisia, o que, se assim fosse, demonstraria alguma inteligência e muito cinismo. E revelaria também um profundo desprezo pelos portugueses, implicitamente considerados em estado de imaturidade e incapazes de assumir as suas responsabilidades e enfrentar a dura realidade que contribuíram para criar.
Na pior e mais provável hipótese, são vagidos sinceros de elites políticas medíocres e graxistas que seguem e incentivam o culto da auto complacência e da falta de excelência, infelizmente dominante nos portugueses e carinhosamente promovido por essas fracas elites.
Em qualquer dos casos estamos conversados. Podemos dar razão ao presidente do parlamento europeu quando prevê o nosso declínio, destino inelutável num país em que partidos que representam metade do eleitorado insultam sem rebuço a sua inteligência ou se insultam a si próprios.
Na melhor e pouco provável hipótese são pura hipocrisia, o que, se assim fosse, demonstraria alguma inteligência e muito cinismo. E revelaria também um profundo desprezo pelos portugueses, implicitamente considerados em estado de imaturidade e incapazes de assumir as suas responsabilidades e enfrentar a dura realidade que contribuíram para criar.
Na pior e mais provável hipótese, são vagidos sinceros de elites políticas medíocres e graxistas que seguem e incentivam o culto da auto complacência e da falta de excelência, infelizmente dominante nos portugueses e carinhosamente promovido por essas fracas elites.
Em qualquer dos casos estamos conversados. Podemos dar razão ao presidente do parlamento europeu quando prevê o nosso declínio, destino inelutável num país em que partidos que representam metade do eleitorado insultam sem rebuço a sua inteligência ou se insultam a si próprios.
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insultos à inteligência,
mais do mesmo
09/02/2012
NÓS VISTOS POR ELES: A realidade não é fácil de engolir
«O recém-eleito primeiro-ministro de Portugal, Passos Coelho, deslocou-se a Luanda. [...] Passos Coelho apelou ao Governo angolano que invista mais em Portugal, porque Angola tem muito dinheiro. Esse é o futuro de Portugal: o declínio, também um perigo social para as pessoas, se não compreendermos que, economicamente, e sobretudo com o nosso modelo democrático, estável, em conjugação com a nossa estabilidade económica, só teremos hipóteses no quadro da União Europeia.»
Com aquelas palavras Martin Schulz, o presidente do Parlamento Europeu, uma das instituições do planeta mais inúteis por cabeça, mencionou um facto indesmentível (a ida de Passos Coelho a Angola para vender umas peças do serviço de prata da família), fez uma previsão bastante provável (a continuação do declínio de Portugal, admitido pelos mais lúcidos portugueses pelo menos desde Eça e Ramalho), e decretou como artigo de fé as propriedades salvíficas da União Europeia.
Como habitualmente, vamos ficar indignados e rasgar as vestes em nome de um patriotismo bolorento e auto-complacente, em vez de ocupados a trabalhar para travar o declínio e dispensar a venda das pratas. E, já agora, para demonstrarmos que há vida para alémdo orçamento da União Europeia.
Com aquelas palavras Martin Schulz, o presidente do Parlamento Europeu, uma das instituições do planeta mais inúteis por cabeça, mencionou um facto indesmentível (a ida de Passos Coelho a Angola para vender umas peças do serviço de prata da família), fez uma previsão bastante provável (a continuação do declínio de Portugal, admitido pelos mais lúcidos portugueses pelo menos desde Eça e Ramalho), e decretou como artigo de fé as propriedades salvíficas da União Europeia.
Como habitualmente, vamos ficar indignados e rasgar as vestes em nome de um patriotismo bolorento e auto-complacente, em vez de ocupados a trabalhar para travar o declínio e dispensar a venda das pratas. E, já agora, para demonstrarmos que há vida para além
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (52) – mais nepotismo puro e duro
«A Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) está a ferro e fogo. Uma série de denúncias internas de ilegalidades, indícios de corrupção e favorecimentos pessoais atingem directamente o inspector-geral de Trabalho, … Existem ainda cartas de donos de restaurantes que invocam relações pessoais do inspector-geral de Trabalho com membros do Partido Socialista para lhe pedirem a intervenção da ACT contra estabelecimentos concorrentes. Ou pagamentos, no âmbito da modernização dos serviços, de trabalhos supostamente realizados, com entrega da descrição dos mesmos com data posterior à liquidação da factura.»
(ionline)
As cabeças falantes do PS tão ocupadas a engraxar os piegas ainda não tiveram tempo de investigar estas ramificações do polvo socialista.
As cabeças falantes do PS tão ocupadas a engraxar os piegas ainda não tiveram tempo de investigar estas ramificações do polvo socialista.
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08/02/2012
Les bons esprits se rencontrent nas tolerâncias de ponto
Tirando partido da folgada situação financeira do governo regional, Alberto João Jardim decidiu conceder tolerância de ponto no Carnaval, bafejando os súbditos com a graça de desfrutar das suas palhaçadas e ainda descansar na manhã de Quarta-Feira de Cinzas.
E descansar é bem preciso, porque as emoções têm sido muitas. Não é qualquer um que tem a honra de ser mencionado por Angela Merkel como exemplo de delapidação dos fundos comunitários. Nem mesmo um grego teve essa honra, como um presidente de câmara, de Santorini ou de qualquer outra das muitas ilhas gregas, qualquer deles bem capaz de torrar belas maquias dos contribuintes e turistas alemães.
Por falar em presidente da câmara, qual alter ego sisudo, o presidente Rui Rio depois de antecipar o Carnaval em duas semanas, ao apresentar na 3.ª Feira passada à vereação do Porto a sua proposta de proibição de «urinar na via pública» e de «cuspir para o chão», não deixou de também conceder tolerância de ponto no dia de Carnaval, talvez para os funcionários camarários poderem aproveitar o dia para verificar o cumprimento da sua postura.
E descansar é bem preciso, porque as emoções têm sido muitas. Não é qualquer um que tem a honra de ser mencionado por Angela Merkel como exemplo de delapidação dos fundos comunitários. Nem mesmo um grego teve essa honra, como um presidente de câmara, de Santorini ou de qualquer outra das muitas ilhas gregas, qualquer deles bem capaz de torrar belas maquias dos contribuintes e turistas alemães.
Por falar em presidente da câmara, qual alter ego sisudo, o presidente Rui Rio depois de antecipar o Carnaval em duas semanas, ao apresentar na 3.ª Feira passada à vereação do Porto a sua proposta de proibição de «urinar na via pública» e de «cuspir para o chão», não deixou de também conceder tolerância de ponto no dia de Carnaval, talvez para os funcionários camarários poderem aproveitar o dia para verificar o cumprimento da sua postura.
SERVIÇO PÚBLICO: O futuro da austeridade
Num artigo lúcido, cuja leitura se recomenda, o professor Avelino de Jesus defende que o sector privado da economia está a responder bem às medidas de política económica que a troika está a obrigar o governo a tomar, apesar das choraminguices e do apelo à revolta das luminárias do regime. O que não responde bem às medidas é o sector público em geral e a parte do sector privado mais interdependente dos poderes públicos – o complexo político-empresarial socialista com a banca do regime à cabeça.
Essa resposta do sector privado permitirá que a balança comercial possa ser ligeiramente superavitária em 2013, estacando a sangria das últimas décadas, e o consumo privado estabilize depois do regabofe desde a adesão ao euro. O investimento diminuirá o que não terá efeitos na capacidade produtiva se forem privilegiados os investimentos produtivos.
Segundo Avelino de Jesus, a ameaça à recuperação poderá vir precisamente do dinheiro fácil com o derrame de fundos do quadro comunitário que se tiverem o destino do costume de rentabilidades fictícias e externalidades fantasma poderão deixar-nos ao mesmo ponto de onde estamos a tentar sair.
Essa resposta do sector privado permitirá que a balança comercial possa ser ligeiramente superavitária em 2013, estacando a sangria das últimas décadas, e o consumo privado estabilize depois do regabofe desde a adesão ao euro. O investimento diminuirá o que não terá efeitos na capacidade produtiva se forem privilegiados os investimentos produtivos.
Segundo Avelino de Jesus, a ameaça à recuperação poderá vir precisamente do dinheiro fácil com o derrame de fundos do quadro comunitário que se tiverem o destino do costume de rentabilidades fictícias e externalidades fantasma poderão deixar-nos ao mesmo ponto de onde estamos a tentar sair.
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07/02/2012
DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Contra a corrente
Num país onde as queixinhas, a negligência, o culto da mediocridade, a falta de sentido de responsabilidade e a complacência são endémicas e cultivadas por elites medíocres que dão graxa ao povo, exortando-o a ser ainda mais medíocre para que continuem a ser elites, fazer um discurso destes (pode ser ouvido aqui) não será popular, nem apreciado pelas luminárias do regime, e muito menos dará votos mas, por isso mesmo, é louvável pela coragem.
As minhas expectativas quanto a Passos Coelho foram sempre reduzidas e, talvez por isso, a sua governação não me tem desiludido.
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Pro memoria (50) – fundos sem fundos
Durante anos os bancos garantiram a suficiência do financiamento dos fundos de pensões dos seus empregados. Fizeram-no com o aval do ISP que é o supervisor da gestão desses fundos.
Se era assim, como se justifica incluir nas razões dos prejuízos apresentados em 2011 o financiamento adicional desses fundos para os transferir para a Segurança Social? Por exemplo o BES reforçou os fundos com 107 milhões e o BPI com 71 milhões.
Se era assim, como se justifica incluir nas razões dos prejuízos apresentados em 2011 o financiamento adicional desses fundos para os transferir para a Segurança Social? Por exemplo o BES reforçou os fundos com 107 milhões e o BPI com 71 milhões.
06/02/2012
ESTADO DE SÍTIO: Os espiões do regime (também) são jornalistas frustrados
Surripiado do Blog da Santa |
«Um ex-director de um serviço de informação disse-me um dia que o principal meio de recolha de informações dos seus serviços eram os jornais – e a principal tarefa dos agentes era fazerem recortes de jornais.»
«O espião que saiu do nada», José António Saraiva na Tabu do SOL.
Quod erat demonstrandum
«O líder parlamentar do PS, Carlos Zorrinho, garantiu hoje que o facto de a dívida pública portuguesa ter atingido 110,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) mostra que “a receita” do Governo “não está a dar resultado”.» (ionline)
O resultado da receita do governo a que pertenceu Zorrinho Fontes: Pordata e IGCP (stock em 30-06-2011) |
05/02/2012
A Óropa tenta sem sucesso adjudicar o seu resgate
Depois de deixar de poder continuar a adjudicar a sua defesa em outsourcing aos EU, a Óropa tenta pela mão de Merkel adjudicar o seu resgate à China. Igualmente sem sucesso, so far.
À maneira chinesa, o comité central do PCC encarregou Xu Hongcai do China Center for International and Economic Exchanges de explicar nas páginas do Asia Pacific Memo «porque razão a China não está a comprar os títulos para resgates na zona euro (ainda)» num artigo com o mesmo título, publicado, por improvável coincidência, precisamente durante a visita de Merkel.
E a razão são os três ingredientes que faltam, a saber (Expresso):
À maneira chinesa, o comité central do PCC encarregou Xu Hongcai do China Center for International and Economic Exchanges de explicar nas páginas do Asia Pacific Memo «porque razão a China não está a comprar os títulos para resgates na zona euro (ainda)» num artigo com o mesmo título, publicado, por improvável coincidência, precisamente durante a visita de Merkel.
E a razão são os três ingredientes que faltam, a saber (Expresso):
- primeiro, a atuação do "Banco Central Europeu como emprestador de último recurso", facto a que "a Alemanha se tem oposto, atrasando o processo";
- segundo, os líderes europeus têm de tornar o FEEF "operacional e seguro para investidores de fora", já que o que os chineses observam é que a notação do FEEF perdeu o triplo A (na recente decisão da agência Standard & Poor's), os alemães resistem a aumentar o valor envolvido, e faltam "detalhes operacionais";
- terceiro, os chineses preferem "ajudar a Europa através do Fundo Monetário Internacional (FMI)", apesar de "ainda ninguém ter dado uma resposta aos chineses", em virtude dos fatores de "rigidez dentro da governação do FMI e da preferência por certos países-chave".
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quem não tem dinheiro não pode ter vícios
04/02/2012
SERVIÇO PÚBLICO: … a discussão sobre se devemos gastar mais dinheiro é absolutamente ociosa. Não há mais dinheiro para gastar…
Ainda não fomos para 'os cornos do touro' na questão central do momento, que é o aparente incompatibilidade entre o austeridade e o crescimento económico. O Dr. Mário Soares está sempre o dizer: 'O Passos Coelho é bom rapaz mos está completamente errado,..nesta história". Também há muita intriga envolvendo Cavaco Silva, dizendo-se que existe um conflito entre o presidente da República e o primeiro-ministro a esse respeito…
Há debates que são prolongados de forma muito artificial. A ideia de que existe uma oposição irreconciliável entre 'austeridade' e políticas de 'crescimento' é uma conversa ociosa. Porque a verdade é que não é possível ter um produto potencial elevado transportando às costas uma dívida insuportável. Não há nenhum país que consiga crescer com excesso de dívida. E esse é o caso de Portugal. Mesmo os autores de inspiração mais keynesiana reconhecem que Portugal é um dos países na Europa que, com crise financeira externa ou sem ela, teriam de fazer o seu ajustamento macroeconómico. E não o podem deixar de fazer em austeridade, porque têm excesso de dívida. Quando um país já não tem a possibilidade de pedir mais emprestado, a discussão sobre se devemos gastar mais dinheiro é absolutamente ociosa. Não há mais dinheiro para gastar - e, portanto, temos de adequar as nossas necessidades de financiamento àquilo que somos capazes de produzir. E isso envolve políticas de austeridade e de habituar a sociedade a consumir menos recursos do que aqueles que tem consumido...
É o tal empobrecimento...
Não, não é o empobrecimento. Pobres já nós estamos. Há é pessoas que ainda não se deram conta disso e continuarem a viver como se não fossem pobres. Viveram não daquilo que tinham mas daquilo que lhes emprestavam. Mas como é preciso pagar o que se pede emprestado, a única maneira de não morrer à fome é ajustar a nossa ementa àquilo que é indispensável para podermos viver - e ainda para podermos criar valor para pagar aquilo que devemos. É disso que estamos a tratar. Portanto, falar de políticas de crescimento em Portugal é, em primeiro lugar, falar da sustentabilidade da própria dívida do Estado. E isso implica um programa de austeridade.
Mas depois é preciso também criar condições para crescer no futuro...
... e isso significa a tal agenda de transformação estrutural. Não é só Portugal que precisa de a fazer: toda a Europa precisa de a fazer. Porque a Europa está a tornar-se pouco competitiva à escala global. O que há é diferenças de intensidade. Os ingleses, que estão fora da moeda única, têm uma dívida imensa, um défice imenso, e beneficiaram durante anos de uma política de consumismo extremamente voltada para os produtos externos. Os ingleses, como muitos europeus, viveram na ilusão de que ainda eram ricos, porque puderam comprar produtos baratos, que vinham da China, que vinham da Índia... E, ao mesmo tempo, gastavam com crédito bancário financiado pelas poupanças daqueles que estão a produzir a preços muito mais baratos. Isto tinha de ter um ajustamento um dia - e a Europa está a fazê-lo. Toda a Europa tem um problema de competitividade, e os problemas de competitividade resolvem-se de duas maneiras: basicamente (e peço desculpa pela hipersimplificação), trabalhando mais e melhor, e, por outro lado, mudando a mentalidade, passando de um registo consumista, financiado pelo exterior, para um registo de poupança e de investimento. Este é o caminho que a Europa vai ter de fazer. E Portugal também. Portugal parte de uma posição pior para este campeonato, mas está neste campeonato, como o resto da Europa.
A receita é sempre a mesma. Como dizia Salazar: 'Produzir e poupar'...
Não é preciso ir buscar o Dr. Salazar para perceber que os países que querem crescer têm de poder financiar esse crescimento; e que só é possível financiar crescimento com poupança. Uma sociedade que está permanentemente a endividar-se não pode crescer. Esta é a realidade. Nós temos crescido à custa da poupança do exterior, mas ela tem um limite. Nós temos um modelo social europeu, que é um modelo avançado que devemos procurar preservar. Mas esse modelo não nos pode impedir de ser competitivos e de poupar. No dia em que esse resultado contraditório aparecer, o modelo social europeu esboroou-se.
A propósito da ideia de empobrecimento, para haver equilíbrio entre o que Portugal consome e o que produz vamos ter de reduzir o nível de vida para que altura: o de há dez anos? O de há 15? O de 1974? Onde é que se encontra esse ponto de equilíbrio?
A comparação não pode ser estabelecida nesses termos. No que respeita ao défice externo, ao equilíbrio externo, nós teríamos uma boa base de comparação em 1995, quando o nosso défice externo representava cerca de 15 % do PIE. Essa seria uma excelente indicação de comparação. Do ponto de vista da despesa do Estado, nós temos de recuar, pelo menos, aos anos de pré-crise, ou seja, antes de 2007. Mas, em termos de despesa pública e percentagem do PIE, Portugal há muitos anos que tem um peso excessivo. O objectivo que o Governo estabeleceu é que possamos, até 2015, ter um peso da despesa pública sensivelmente entre 42 e 43% do produto. Isso já significaria um alívio fiscal importante para a sociedade portuguesa. Agora, é importante que esse alívio fiscal cor responda à possibilidade de poupar para investir, e não apenas poupar para depois gastar em consumo. Porque se não regressaríamos à situação de desequilíbrio, não por via do endividamento público mas por via do endividamento privado. Assim, não é só o Estado que precisa de ser disciplinado: toda a sociedade precisa de adquirir essa disciplina e de aproveitar os recursos que tem para poder aumentar o seu potencial de crescimento no futuro. E, se isso acontecer, então não temos de regredir em matéria de padrão de vida. O que nós temos é de encontrar uma forma de produzir muito melhor e mais do que aquilo que temos feito, e precisamos de aumentar o peso das exportações. Nós estávamos a exportar perto de 30 % daquilo que produzíamos; seria bom que pudéssemos passar para 40%. É o que está no programa de assistência económica e financeira. Isso significa uma economia muito mais aberta, muito mais competitiva, mui-to mais voltada para o exterior. Se isso acontecer, não há nenhuma razão para que o nosso padrão de vida tenha de regredir. Agora, enquanto não estivermos em condições de sustentar esse crescimento, não podemos dizer que preferíamos viver com aquilo que nos emprestam, porque isso já não é possível.
[Excertos da entrevista do Sol de 4 de Fevereiro a Passos Coelho]
Desabafo:
Comparando as ideias desta entrevista com a mensagem de Ano Novo aos desgraçadinhos do «provedor das angústias e das aspirações dos portugueses», um alienígena (o Alf, por exemplo) poderia facilmente concluir que para governar um país mais vale um licenciado vulgaris em gestão de empresas com algum contacto com o mundo real do que um professor de economia que a maioria das vezes que entrou em empresas foi para inaugurar investimentos subsidiados.
Há debates que são prolongados de forma muito artificial. A ideia de que existe uma oposição irreconciliável entre 'austeridade' e políticas de 'crescimento' é uma conversa ociosa. Porque a verdade é que não é possível ter um produto potencial elevado transportando às costas uma dívida insuportável. Não há nenhum país que consiga crescer com excesso de dívida. E esse é o caso de Portugal. Mesmo os autores de inspiração mais keynesiana reconhecem que Portugal é um dos países na Europa que, com crise financeira externa ou sem ela, teriam de fazer o seu ajustamento macroeconómico. E não o podem deixar de fazer em austeridade, porque têm excesso de dívida. Quando um país já não tem a possibilidade de pedir mais emprestado, a discussão sobre se devemos gastar mais dinheiro é absolutamente ociosa. Não há mais dinheiro para gastar - e, portanto, temos de adequar as nossas necessidades de financiamento àquilo que somos capazes de produzir. E isso envolve políticas de austeridade e de habituar a sociedade a consumir menos recursos do que aqueles que tem consumido...
É o tal empobrecimento...
Não, não é o empobrecimento. Pobres já nós estamos. Há é pessoas que ainda não se deram conta disso e continuarem a viver como se não fossem pobres. Viveram não daquilo que tinham mas daquilo que lhes emprestavam. Mas como é preciso pagar o que se pede emprestado, a única maneira de não morrer à fome é ajustar a nossa ementa àquilo que é indispensável para podermos viver - e ainda para podermos criar valor para pagar aquilo que devemos. É disso que estamos a tratar. Portanto, falar de políticas de crescimento em Portugal é, em primeiro lugar, falar da sustentabilidade da própria dívida do Estado. E isso implica um programa de austeridade.
Mas depois é preciso também criar condições para crescer no futuro...
... e isso significa a tal agenda de transformação estrutural. Não é só Portugal que precisa de a fazer: toda a Europa precisa de a fazer. Porque a Europa está a tornar-se pouco competitiva à escala global. O que há é diferenças de intensidade. Os ingleses, que estão fora da moeda única, têm uma dívida imensa, um défice imenso, e beneficiaram durante anos de uma política de consumismo extremamente voltada para os produtos externos. Os ingleses, como muitos europeus, viveram na ilusão de que ainda eram ricos, porque puderam comprar produtos baratos, que vinham da China, que vinham da Índia... E, ao mesmo tempo, gastavam com crédito bancário financiado pelas poupanças daqueles que estão a produzir a preços muito mais baratos. Isto tinha de ter um ajustamento um dia - e a Europa está a fazê-lo. Toda a Europa tem um problema de competitividade, e os problemas de competitividade resolvem-se de duas maneiras: basicamente (e peço desculpa pela hipersimplificação), trabalhando mais e melhor, e, por outro lado, mudando a mentalidade, passando de um registo consumista, financiado pelo exterior, para um registo de poupança e de investimento. Este é o caminho que a Europa vai ter de fazer. E Portugal também. Portugal parte de uma posição pior para este campeonato, mas está neste campeonato, como o resto da Europa.
A receita é sempre a mesma. Como dizia Salazar: 'Produzir e poupar'...
Não é preciso ir buscar o Dr. Salazar para perceber que os países que querem crescer têm de poder financiar esse crescimento; e que só é possível financiar crescimento com poupança. Uma sociedade que está permanentemente a endividar-se não pode crescer. Esta é a realidade. Nós temos crescido à custa da poupança do exterior, mas ela tem um limite. Nós temos um modelo social europeu, que é um modelo avançado que devemos procurar preservar. Mas esse modelo não nos pode impedir de ser competitivos e de poupar. No dia em que esse resultado contraditório aparecer, o modelo social europeu esboroou-se.
A propósito da ideia de empobrecimento, para haver equilíbrio entre o que Portugal consome e o que produz vamos ter de reduzir o nível de vida para que altura: o de há dez anos? O de há 15? O de 1974? Onde é que se encontra esse ponto de equilíbrio?
A comparação não pode ser estabelecida nesses termos. No que respeita ao défice externo, ao equilíbrio externo, nós teríamos uma boa base de comparação em 1995, quando o nosso défice externo representava cerca de 15 % do PIE. Essa seria uma excelente indicação de comparação. Do ponto de vista da despesa do Estado, nós temos de recuar, pelo menos, aos anos de pré-crise, ou seja, antes de 2007. Mas, em termos de despesa pública e percentagem do PIE, Portugal há muitos anos que tem um peso excessivo. O objectivo que o Governo estabeleceu é que possamos, até 2015, ter um peso da despesa pública sensivelmente entre 42 e 43% do produto. Isso já significaria um alívio fiscal importante para a sociedade portuguesa. Agora, é importante que esse alívio fiscal cor responda à possibilidade de poupar para investir, e não apenas poupar para depois gastar em consumo. Porque se não regressaríamos à situação de desequilíbrio, não por via do endividamento público mas por via do endividamento privado. Assim, não é só o Estado que precisa de ser disciplinado: toda a sociedade precisa de adquirir essa disciplina e de aproveitar os recursos que tem para poder aumentar o seu potencial de crescimento no futuro. E, se isso acontecer, então não temos de regredir em matéria de padrão de vida. O que nós temos é de encontrar uma forma de produzir muito melhor e mais do que aquilo que temos feito, e precisamos de aumentar o peso das exportações. Nós estávamos a exportar perto de 30 % daquilo que produzíamos; seria bom que pudéssemos passar para 40%. É o que está no programa de assistência económica e financeira. Isso significa uma economia muito mais aberta, muito mais competitiva, mui-to mais voltada para o exterior. Se isso acontecer, não há nenhuma razão para que o nosso padrão de vida tenha de regredir. Agora, enquanto não estivermos em condições de sustentar esse crescimento, não podemos dizer que preferíamos viver com aquilo que nos emprestam, porque isso já não é possível.
[Excertos da entrevista do Sol de 4 de Fevereiro a Passos Coelho]
Desabafo:
Comparando as ideias desta entrevista com a mensagem de Ano Novo aos desgraçadinhos do «provedor das angústias e das aspirações dos portugueses», um alienígena (o Alf, por exemplo) poderia facilmente concluir que para governar um país mais vale um licenciado vulgaris em gestão de empresas com algum contacto com o mundo real do que um professor de economia que a maioria das vezes que entrou em empresas foi para inaugurar investimentos subsidiados.
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antes isso que outra coisa,
bons exemplos,
eu diria mesmo mais
ESTADO DE SÍTIO: Incubadora de apparatchiks
Falou-se, escreveu-se e protestou-se muito pela nomeação de um quinteto de apparatchiks para a administração da Águas de Portugal.
Falou-se, escreveu-se e ainda não se protestou pelas mais de 400 sinecuras disponíveis nas administrações das mais de 3 dezenas de filhas da Águas de Portugal que gerem os sistemas municipais. Segundo as contas do DN, esta máquina de torrar dinheiro custará mais de 8 milhões de euros por ano.
Para se perceber as ineficiências que explicam a monstruosidade do estado sucial lusitano, a Águas de Portugal é um bom exemplo. Aos quase 5 mil empregados e mais de 400 administradores é preciso acrescentar centenas de serviços municipalizados que distribuem a água e fazem o saneamento (recolha e tratamento de lixos e resíduos, etc.) com muitos milhares de trabalhadores. Só o SMAS (apenas distribuição de água nos concelhos de Amadora e Oeiras) com apenas 185 mil clientes tem 412 trabalhadores.
Se tomarmos como benchmarking a Thames Water, que distribui água e presta serviços de saneamento na área metropolitana da grande Londres a 14 milhões de clientes, tem apenas 4.500 empregados e imagino que terá meia dúzia de administradores.
É por isso que não é possível pagar salários pelos padrões europeus a gestores e trabalhadores que cumprem padrões africanos.
Falou-se, escreveu-se e ainda não se protestou pelas mais de 400 sinecuras disponíveis nas administrações das mais de 3 dezenas de filhas da Águas de Portugal que gerem os sistemas municipais. Segundo as contas do DN, esta máquina de torrar dinheiro custará mais de 8 milhões de euros por ano.
Para se perceber as ineficiências que explicam a monstruosidade do estado sucial lusitano, a Águas de Portugal é um bom exemplo. Aos quase 5 mil empregados e mais de 400 administradores é preciso acrescentar centenas de serviços municipalizados que distribuem a água e fazem o saneamento (recolha e tratamento de lixos e resíduos, etc.) com muitos milhares de trabalhadores. Só o SMAS (apenas distribuição de água nos concelhos de Amadora e Oeiras) com apenas 185 mil clientes tem 412 trabalhadores.
Se tomarmos como benchmarking a Thames Water, que distribui água e presta serviços de saneamento na área metropolitana da grande Londres a 14 milhões de clientes, tem apenas 4.500 empregados e imagino que terá meia dúzia de administradores.
É por isso que não é possível pagar salários pelos padrões europeus a gestores e trabalhadores que cumprem padrões africanos.
03/02/2012
Índice de civilidade segundo um ministro inglês
Chris Huhne, ministro da Energia do governo de David Cameron, foi agora acusado de condução em excesso de velocidade em 2003 o que segundo o acusador público poderá levar a uma prisão de 2 anos. Huhne pediu à sua mulher de então para se declarar condutora, ficando a infracção ligada à sua carta de condução.
Chris Huhne declarou-se inocente. É o que faria qualquer ministro de qualquer governo português. Em seguida demitiu-se para evitar distracções no desempenho do cargo.
Deveriam os ministros portugueses seguir o exemplo de Huhne demitindo-se quando acusados da prática de infracções ou crimes? De modo nenhum. Ficaríamos rapidamente sem ministros.
Post scriptum
Pensando melhor, os ministros portugueses não precisam de seguir o exemplo de Huhne porque simplesmente a justiça portuguesa não acusa ministros. E se por distracção acusar, a prescrição resolve o assunto sem dor.
Chris Huhne declarou-se inocente. É o que faria qualquer ministro de qualquer governo português. Em seguida demitiu-se para evitar distracções no desempenho do cargo.
Deveriam os ministros portugueses seguir o exemplo de Huhne demitindo-se quando acusados da prática de infracções ou crimes? De modo nenhum. Ficaríamos rapidamente sem ministros.
Post scriptum
Pensando melhor, os ministros portugueses não precisam de seguir o exemplo de Huhne porque simplesmente a justiça portuguesa não acusa ministros. E se por distracção acusar, a prescrição resolve o assunto sem dor.
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