A avaliar pelo interesse recente dos jornais de referência (como o
Correio da Manhã) e da Bloguilha pelo tema (vários
blogonautas tocaram na coisa, ainda que sem aprofundarem), e pela quantidade que o Impertinências recebe de
spam a propor a ampliação do equipamento, o tamanho interessa e muito.
Até há poucas décadas, o tamanho só parecia interessar ao género masculino, que sempre teve um fixação no coiso. O género feminino, por falta de interesse ou por vergonha, não costumava manifestar-se a este respeito. Seja porque perdeu a vergonha, seja porque foi contaminado pelas obsessões masculinas (como frequentemente acontece, a tribo dominada costuma adoptar os valores da tribo dominante), seja lá pelo que for, o mulherio começou a ter voz activa na métrica do equipamento. Pelo menos é o que diz o
spam que recebo, insinuando que a minha
girl friend, ou
sweety, ou simplesmente
wife está ansiosa pela ampliação do atributo. Temos, contudo, que reconhecer que as opiniões se dividem - por exemplo a da esposa do senhor Fernando Silva (1) «
não gostou muito. Quando (o) viu, disse que era um exagero».
Mas se alguém pensa que este tema faz parte das
matérias triviais que nem mesmo chegam a interessar os
humanistas, desengane-se. Isto não é matéria do Trivium, nem mesmo matéria do Quadrivium (apesar da métrica), isto é matéria da filosofia da história.
Só um exemplo bastará para se perceber a relevância do tamanho do equipamento. Em 1999, segundo umas
versões, ou 1987, segundo
outras, o pénis de Napoleão, que foi cortado no dia seguinte à sua morte pelo seu médico pessoal, foi vendido num leilão da Christie ao urologista John Lattimer que pagou por ele USD 4.000 (ou USD 3.000, de acordo com outros). Preço que, à primeira vista, até poderia ser considerado barato, face à importância histórica do proprietário do artefacto, mas que em boa verdade saiu ao doutor Lattimer por uma exorbitância de quase mil dólares por centímetro (em repouso). (2)
Apesar, da insignificância do instrumento, ou talvez por isso mesmo, podemos levantar várias questões relevantes para a França e para a Europa social.
Tivesse Bonaparte sido um bem dotado, ou pelo menos tivesse o criador sido um pouco mais generoso (3) na atribuição do pedúnculo, teria Napoleão o tempo, a oportunidade e a energia para devotar-se à glória da República e à sua própria, invadindo a Europa, espalhando código civil,
liberté, etc., e deixando as sementes donde germinariam séculos mais tarde, o doutor Soares, o doutor Freitas e até, porque não?, o doutor Anacleto Louçã? Ou, pelo contrário, solicitado pelas suas inúmeras amantes (4), teria Napoleão gasto nas manobras de cama as energias que, à falta de boas razões, acabou por usar nas manobras nos campos de batalha?
Tivesse Bonaparte um membro viril à altura de Maria Josefina (que, recorde-se, procurou em inúmeros amantes talvez um
ersatz para o minguado equipamento do seu famoso marido), teriam hoje os franceses as suas
bagnoles calcinadas pelos magrebinos?
Tivesse Bonaparte um coiso que não o envergonhasse nas casernas, teria hoje M. le président Chirac os delírios que têm, imaginando, na solidão do seu gabinete do Eliseu, que está à frente duma superpotência? (5)
São algumas das muitas e relevantes questões que se podem levantar a propósito de algo que, pelos vistos, pouco se levantava. (6)
Notas de rodapé
(1) O senhor Fernando Silva não se chama Fernando Silva e por isso não sei se devemos dar-lhe crédito. É, de certa maneira, um problema semelhante ao dos blogonautas anónimos, que tem justamente preocupado e ocupado várias luminárias da Bloguilha. Como de resto já tinha preocupado Camilo Castelo Branco que à coisa se referiu como «angústia represada que só pode extravasar os sobejos do seu fel em uma carta anónima».
(2) Segundo o doutor Lattimer a relíquia teria 4,1 cm e «poderia», segundo as suas palavras, «poderia» sublinhe-se, atingir o máximo de 6,6 cm em estado de excitação.
(3) Bastaria o criador ter bafejado Napoleão com um pouco da opulência que concedeu a Rasputine.
(4) Desirée Clary, Pauline Fourès, Leonor Dernelle de la Plaigne, Marie Louise, só para citar algumas e mostrar um pouco de erudição.
(5) Sem querer fazer humor com coisas tristes, M. le président mais facilmente poderia imaginar, dadas as circunstâncias que preside a uma superimpotência.
(6) Não há evidência histórica sobre se, neste caso, «pouco» significaria «infrequente» ou meramente «inextenso».