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30/08/2025

Não há a certeza que o publicitário e o público-alvo tenham sentido de humor...

Caderno de Economia do Expresso

... o que, se assim for, nos leva à conclusão que um anúncio pode dar-nos um retrato mais rigoroso do empresariado do Portugal dos Pequeninos do que uma centena de estudos.

27/08/2025

O balão de hidrogénio do Dr. Galamba ou mais um elefante branco que se perdeu pelo caminho (6)

Há cinco anos escrevi aqui sobre o anúncio do Dr. Galamba, na altura secretário de Estado «para a Transição», de uma «mega fábrica de hidrogénio em Sines» em parceria com a Holanda. Nos anos seguintes a mega fábrica de hidrogénio foi-se gradualmente evaporando, como fui relatando em (2), (3), (4) e (5). Cinco anos depois, a coisa esfumou-se definitivamente e só vale a pena voltar a falar dela porque é um paradigma de projectos lunáticos promovidos por apparatchiks que nunca lançaram uma empresa,  nem criaram um posto de trabalho e não têm qualificações para avaliar o risco e a viabilidade de negócios que lançam com os dinheiros dos contribuintes a quem nunca prestarão contas.   

Luís Mira Amaral, uma das poucas pessoas com tino que escreve com propriedade sobre temas de energia, escreveu mais uma peça da qual extraí o texto abaixo a propósito do lunatismo estatal.    

«Por toda a Europa, incluindo Portugal, governantes ignorantes suportaram-se em powerpoints (que tudo permitem) para de uma forma iluminada desenharem estratégias irrealistas de transição energética. Isto é particularmente evidente com o hidrogénio verde, em que, como refere o presidente da EDP, temos agora um vale de desilusões com projetos a não saírem do papel, outros a serem cancelados, e empresas a falirem. Conclui-se que os avultados subsídios não são suficientes para o tornar competitivo no mercado, pois que os preços extremamente elevados levam a uma falta de procura pelo produto em sectores difíceis de eletrificar, tais como a siderurgia e o cimento. Apenas cerca de 20% do hidrogénio verde previsto na União Europeia deverá vir a ser produzido... O projeto do avião a hidrogénio da Airbus, subsidiado pelo Governo francês com €1,5 mil milhões, foi encerrado, a Hyvia, filial da Renault para os veículos utilitários a hidrogénio está em dificuldades e o Tribunal de Contas Europeu criticava o impasse na aventura do hidrogénio verde.

Por cá, fizemos com outros colegas um manifesto a criticar o megalómano projeto de produção em Sines de hidrogénio verde para ser exportado para os Países Baixos, pois a tecnologia estava imatura para grandes produções centralizadas e consequentes grandes transportes de energia, aconselhando começar-se por projetos de demonstração mais pequenos. Como resposta, um eletrizante (usando a expressão do Expresso) secretário de Estado brindou-nos com uma série de diatribes num webinar organizado pela Ordem dos Engenheiros sobre o hidrogénio e o então primeiro-ministro Costa chamou-nos velhos do Restelo. Respondi em direto na SIC a esse modernaço de Benfica (bairro em que vivia) que eu era um velho de Cascais e não do Restelo. Depois o agora europeizado Costa foi inaugurar a Fusion Fuel Portugal, que iria produzir eletrolisadores, subsidiou-a em €5 milhões do PRR e disse que a reindustrialização de Portugal começava aí! Azar dos Távoras, a empresa já faliu!»

23/08/2025

Os caminhos de ferro indianos como inspiração para resolver alguns problemas da CP

Em meados do século XIX, a Inglaterra introduziu na Índia, à época sua colónia, exames mais difíceis para a selecção de funcionários públicos, incluindo os locais, que até então eram frequentemente escolhidos por "cunha". Esperava, assim, seleccionar os melhores candidatos e afastar os incompetentes bem relacionados. De passagem, é razoável suspeitar que parte dos problemas das ex-colónias portuguesas podem ter resultado de a administração colonial portuguesa não ter seguido o exemplo da pérfida Albion.

Ainda hoje, os exames para a selecção de funcionários dos caminhos de ferro indianos respeitam essa tradição e o exame do concurso para ajudantes de condutores de comboio tem perguntas de resposta múltipla como a seguinte:

Fonte: 1843 magazine

Pensando nos problemas da nossa CP, entre os quais se encontra inevitavelmente a falta de competência (e de diligência) do seu pessoal, imaginei sugerir ao ministro Dr. Matias incluir entre as reformas que o governo do Dr. Montenegro vai executar a introdução de exames deste tipo para a selecção de pessoal do nosso elefante branco ferroviário. É claro, que não querendo ser lunático, não estou evidentemente a pensar na selecção dos ajudantes de condutor, nem mesmo dos quadros da CP, estou apenas a pensar nas nomeações para a administração.

30/07/2025

SERVIÇO PÚBLICO: A irracionalidade do Sistema Eléctrico Nacional

Alguns dias depois do último apagão no dia 28 de Abril, o Dr. Pedro Amaral Jorge, presidente da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis, veio dizer urbi et orbi que «atribuir a culpa do apagão às renováveis é absurdo», o que, podendo ser exagerado ou não ser toda a verdade, não é absurdo dada a natureza intermitente das energias renováveis (ver a título de exemplo imagem aqui ao lado e atente-se que no caso português não há baterias) e a consequente complexidade de gerir os sistemas eléctricos que delas dependem fortemente. Estamos perante aquele tipo de problemas que se enquadram no adágio "too much of a good thing can be a bad thing", sendo certo que a medida do excesso e o limite a partir do qual temos um problema é eminentemente mutável e dependente do contexto físico e dos sistemas de gestão da energia existente.

A agravar estes problemas temos no caso português os incentivos errados para investir nas energias renováveis que atingiram o auge com os governos socialistas e foi a este respeito que recordei ter lido recentemente um artigo do Eng. Clemente Pedro Nunes, que vou citar integralmente para não se perder na espuma dos dias, como dizia o Boris, em intenção de quem preferir conhecer a natureza das coisas em vez de debitar slogans. Aqui vai ele.  

«A competitividade da economia portuguesa exige um Sistema Elétrico otimizado.
             
A eletricidade, entendida como ‘fluxo eletrónico’, não se armazena diretamente, o que torna o Sistema Elétrico muito exigente em termos do fornecimento estável aos consumidores.

A introdução, a partir de 2005, de milhares de MW de potências intermitentes, eólicas e solares, protegidas por FIT – Feed In Tariffs, provocou um ‘desastre económico’ no Sistema Elétrico Português.
As FIT são ‘mecanismos político-contratuais’ que conferem, aos investidores que deles beneficiam, uma ‘reserva de mercado’ com as seguintes vantagens:
1. A respetiva eletricidade tem acesso sempre garantido à Rede Pública, mesmo que o mercado dela não necessite;
2. O produtor tem sempre um preço de venda garantido, normalmente muito acima do preço do mercado livre nesse momento;
3. Todos os encargos com os backups para evitar os ‘apagões’ provocados pelas intermitências, são suportados pelos consumidores.

21/06/2025

Subvenções, benefícios, subsídios, apoios, as palavras mais usadas do glossário do Estado sucial

Segundo dados da Inspecção-Geral de Finanças citados pelo Jornal Sol, o governo distribuiu o ano passado 8,2 mil milhões de euros, ou 6,6% da despesa pública, por inúmeras entidades com destaque para as seguintes:


Além dos beneficiários do costume, os organismos públicos e a empresas públicas, com a CP em destaque, surge-nos como maior beneficiário a EDP uma empresa privada cujos principais accionistas são entidades estrangeiras.

Estrutura accionista da EDP

Já agora, recorde-se que o governo de Passos Coelho vendeu a EDP e outras empresas em cumprimento do memorando de entendimento (*) assinado em 2011 pelo governo socialista de José Sócrates, como condição para o Estado português ser resgatado da bancarrota em que este último governo o tinha deixado.
__________
(*) Memorando de entendimento:
3.31. (...) «O Governo compromete-se a ir ainda mais longe, prosseguindo uma alienação acelerada da totalidade das acções na EDP e na REN, e tem a expectativa que as condições do mercado venham a permitir a venda destas duas empresas, bem como da TAP, até ao final de 2011. »

12/02/2025

O Portugal dos Pequeninos e o seu Estado sucial afundam-se na corrupção

A Transparency International publica anualmente o seu Índice de Percepção de Corrupção baseado «nas opiniões informadas de stakeholders relevantes sobre corrupção no setor público, geralmente correlacionadas com indicadores objetivos, por exemplo as experiências individuais dos cidadãos com o suborno, tal como é capturado pelo Global Corruption Barometer, também desenvolvido pela Transparency International.»

Índice de Percepção da Corrupção 2024 acaba de ser publicado e revela mais um desastre - a queda de 15 posições desde 2015 e de 9 posições em apenas um ano - possivelmente muito influenciada por vários casos mediáticos ocorridos o ano passado.  

mais liberdade

E o que dizer de um Portugal que se apresenta mais corrupto do que quatro dos sobreviventes do colapso do Império Soviético, uma sua ex-colónia (Cabo Verde), vários países árabes (Emiratos, Arábia Saudita), o Botswana, etc.?

Como já por várias vezes sublinhámos, a corrupção é grave por razões morais e éticas e ainda porque distorce na melhor hipótese, ou substitui na pior, a racionalidade das decisões públicas, que em vez de se fundarem nos benefícios expectáveis se baseiam no interesse de pessoas ou grupos que ilegitimamente pretendem influenciar essas escolhas em seu benefício.

28/11/2024

Estado empreendedor (112) - A política industrial falha porque o Estado é um mau empreendedor

O texto seguinte é um resumo de «Os falhanços da política industrial» de Ricardo Reis no Expresso, um artigo de opinião com uma independência e lucidez infelizmente raras no nosso Portugal dos Pequeninos, sobre as políticas industriais adoptadas com o propósito do Estado intervir para fazer crescer a economia, criar os chamados "campeões nacionais" e, em particular, intervir na investigação e desenvolvimento (I&D), sendo este último propósito o foco do artigo.

Ricardo Reis começa por chamar a atenção que a UE e os EUA gastam os mesmos 0,7% do PIB na I&D e a diferença está no sector privado que nos EUA investe quase o dobro da UE e no sector público em que na UE o apoio à ciência tem mais a ver com a equidade entre os Estados membros do que nos méritos dos programas financiados. Um exemplo desta última diferença é o Human Brian Project (HBP) no qual a UE «investiu cerca de mil milhões de euros entre 2013 e 2013, que fez avanços fundamentais na neurociência e na computação com o objetivo de criar um simulacro artificial do cérebro humano. Esse objetivo nunca foi alcançado. Já a empresa privada DeepMind, adquirida pela Google em 2014, começou por querer desenhar jogos, mas rapidamente dedicou-se a desenvolver ferramentas de inteligência artificial, alcançou enorme sucesso na biologia molecular, e mais recentemente está a apostar nos braços robóticos.

No que diz respeito às políticas industriais, há casos de sucesso e casos de falhanço quando estudamos a sua história pelo mundo fora. Regra geral, são mais os falhanços, justificando um saudável ceticismo quando se vê um partido fazer disto a sua bandeira como o PS fez parcialmente nas últimas eleições legislativas. Um problema de raiz é que os políticos não são particularmente bons a escolher os sectores certos onde investir. Antes pelo contrário, é inevitável que os bolsos fundos do Estado atraiam o esforço de persuasão de muitos aldrabões e oportunistas preparados para se aproveitarem do político bem-intencionado.

06/07/2024

A metalúrgica do regime afunda-se com ele (11) - A Martifer, um case study do empreendedorismo do Estado sucial

Actualização de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9) e (10)

Recordando: a Martifer, dos irmãos Martins, foi em tempos um dos exemplos de sucesso de José Sócrates e uma das meninas dos olhos do jornalismo promocional (uma variante do jornalismo de causas). Quando começou a afundar-se foi acolhida em 2007 pela Mota-Engil, a construtora mais emblemática do regime, de que foi presidente executivo Jorge Coelho. A Martifer teve mais 137 milhões de euros de prejuízos em 2014 e esteve desde Abril de 2015 a tentar vender 55% da Martifer Solar que contribuiu com metade dos prejuízos do grupo. Em Agosto de 2016, uma participação de 55% da Martifer Solar foi finalmente vendida à francesa Voltaliad. Nessa altura a Martifer Solar foi avaliada em de nove milhões de euros, uma fracção do que lá foi torrado.

Sem surpresa para ninguém, o principal financiador da Martifer foi o BES, à época o banco privado do regime, créditos que foram herdados pelo Novo Banco que entretanto já havia perdoado 26 milhões à Estia, uma imobiliária dos Martins. Entalado com os restantes muitos mais milhões, o Novo Banco pressionou a Mota-Engil (outro dos grandes devedores do Novo Banco) a tomar conta da gestão afastando os irmãos Martins.

Outro dos financiadores, igualmente sem surpresa para ninguém, foi a CGD, o banco público do regime, que entre outros financiou em 2007 o investimento pela Martifer do centro comercial Porto Gran-Plaza. Era para criar 700 postos de trabalhos e acabou a criar zero, transformado em mais um elefante branco. Foi agora vendido pela CGD que lá enterrou 65 milhões a uma private equity francesa por 20 milhões.

19/04/2023

Não vos preocupeis, porque a TAP está há muito "estrangulada"

«Pilotos temem que dona da Iberia queira “estrangular” a TAP» titulou o Eco num artigo onde cita o presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) que «considera “muito preocupante” a entrada do grupo IAG, dono da British Airways e da Iberia, na corrida à reprivatização da TAP. Tiago Faria Lopes sustenta que o aeroporto de Madrid, que serve de hub à companhia espanhola, quererá estrangular a infraestrutura da capital portuguesa.»

Temos uma companhia de bandeira (*), que em quase oito décadas sempre foi uma empresa pública com gestão pública, excepto num brevíssimo período de oito meses de Junho de 2015 a Fevereiro de 2016, empresa que raramente teve resultados positivos e desde que foi renacionalizada pelo Dr. Costa irá receber um total de 3,2 mil milhões de euros de dinheiros públicos, perdão de dinheiros privados extorquidos pelo Estado sucial. Apesar desta situação desastrosa, é uma das companhias de aviação que melhor paga ao seu pessoal e lhes proporciona melhores benefícios, como viagens e estadias oferecidas a funcionários e família. 

Uma criatura normal, digamos assim, concluiria que no seu estado actual a TAP já está «estrangulada» pelo que o receio do Sr. Presidente do SPAC é supérfluo.

(*) Ver o post TAP, a companhia da bandeira do Dr. Pedro Nuno Santos de há dois anos como o ponto de situação à época.

18/03/2023

No Portugal dos Pequeninos o empreendedorismo e a iniciativa estão um poucochinho murchos

O Financial Times publicou no princípio deste mês o ranking das 1.000 empresas europeias com crescimento mais rápido baseado na facturação de 3 anos 2019-2021. Trata-se de empresas independentes que foram convidadas a inscreverem-se com base nos critérios definidos, dessas foram escolhidas 1.000, das quais 356 já figuravam no ranking do ano anterior e 125 estavam presentes nos três anos. 

O peso do Portugal dos Pequeninos na população e no PIB da Europa faria esperar que se encontrassem umas 15 a 30 empresas portuguesas nas 1.000 do ranking. Encontramos apenas as seguintes 5 pequenas empresas e uma média empresa, todas com facturações bastante modestas: 
  • 295 Plásticos Dão, Manufacturing, 2,911,905
  • 305 Sweetcare.Com, Pharmaceuticals & Cosmetics, 11,900,000
  • 499 Singularity Digital Enterprise, IT & Software, 2,690,967
  • 669 Revesperfil, Manufacturing, 6,755,712
  • 670 Sa Formação, Education & Social Services, 5,170,521
  • 732  Mixprice, Wholesale, 6,012,997
A distribuição por países, encabeçada pela Itália (algo surpreendente numa economia pouco dinâmica) é a seguinte:

Destaco a Espanha (37) e alguns países pequenos países como a Suécia (17), Hungria (15), Países Baixos (14), Lituânia (12), Noruega (10) e República Checa (10). 

17/07/2022

ACREDITE SE QUISER: Mudam-se os tempos, não se muda a CP

«Há uns anos, um meu conhecido saiu-se com uma frase. Sabes, ele tinha uma loja de decoração, faliu e ficou sem nada. O que vale é que lhe arranjaram um lugar na administração da CP.

Sabe o que é isto? ASCEF. FENTCOP. SERS. SIFA. SINAFE. SINDEFER. SINFA. SINFB. SIOFA. SMAQ. SNAQ ESTMEFE. SNTSF. FECTRANS. SFRSI. ASSIFECO.

Numa viagem no Alfa Pendular de Lisboa para o Porto, atrasado meia hora, ar condicionado rebentado, comida e bebidas esgotadas e comboio apinhado de gente e bagagens, resolvi ir ao portal da CP para perceber o que se faz no Conselho de Administração. Parece que tudo o que o CA faz é negociar com sindicatos e emitir comunicados sobre as negociações com sindicatos, quando há anúncios de greve. E há anúncios de greve quase todas as semanas.»

Foi assim, numa pausa no seu cosmopolitismo obsessivo-compulsivo, que a Drª Clara Ferreira Alves, aka Pluma Caprichosa, desceu à terra e se deu conta do estado de um dos engenhos mais eficazes a torrar o dinheiro dos contribuintes a pretexto de lhes proporcionar transporte público ferroviário.

É a continuidade por outros meios da CP fássista, a propósito da qual se contava umas décadas atrás a anedota de um funcionário que indignado por não contratarem o filho se queixava «não há nenhum filho da puta que não entre na CP, só o meu filho é que não

22/06/2022

SERVIÇO PÚBLICO: Queda de seis posições no World Competitiveness Ranking. Será por isso que o Dr. Costa pronuncia "competividade"?

Quase todos os jornais fizeram referência ao Global Competitiveness Report do World Economic Forum. publicado a semana passado salientando que Portugal tinha caído seis posições de 36.º para 42.º no ranking de competitividade.  

Esqueceram-se de dizer que depois de ter caído desde 2009-10 até 2013-14, sucessivamente 43.º, 46.º, 45.º, 49.º e 51.º), Portugal ganhou 15 lugares e subiu a 36.º em 2014-15, no ano em que o governo de Passos Coelho conseguiu uma "saída limpa" do resgate. Agora com o governo do Dr. Costa a "competividade" (*) despencou novamente. 

Portugal - Country Overview 

Vale a pena ver quais os factores mais fracos (realçados a amarelo) em que Portugal está pior posicionado no ranking. Não é surpreendente, pois não?

(*) Para quem não saiba, o Dr. Costa em vez de competividade diz "competividade". Nunca reparou? Confirme aqui.

12/05/2022

Pro memoria (421) - Berardo quer contribuir para a educação dos banqueiros e dos políticos do regime que o alimentou

Flash back (há 13 anos):

A estória é conhecida. Joe Berardo compra acções do Millenium bcp com empréstimos, primeiro da Caixa (onde à época era presidente Santos Ferreira, o presidente do Millenium bcp que sucedeu a Filipe Pinhal, homem de confiança de Jardim Gonçalves), do BES (por esta e por outras razões Filipe Pinhal escreveu o que escreveu sobre Ricardo Salgado, o banqueiro do regime socialista) e do Santander. Depois do afastamento da administração Filipe Pinhal, o próprio Millenium bcp financiou Berardo na compra de mais acções do próprio banco. Santos Ferreira reeditava assim um processo semelhante ao de Jardim Gonçalves.

A coisa correu mal porque as acções do Millenium bcp, que Berardo deve ter comprado a um preço médio de cerca de 2 euros, foram caindo até quase 50 cêntimos. Correu mal para Berardo e para os bancos que o financiaram, a quem Berardo tinha oferecido como garantia as próprias acções do BCP. O Santander, que não faz parte complexo político-empresarial socialista português (nem do espanhol), perante a insuficiência da garantia exigiu um reforço e dispunha-se a executar a dívida se tal não acontecesse. Pelo caminho Berardo ofereceu como garantia, que o Santander recusou mas os bancos do regime aceitaram, a colecção de arte que o governo de Sócrates alojou no CCB a expensas dos sujeitos passivos.

O desfecho do episódio, revelado pelo Expresso e não desmentido por Berardo, foi o Millenium bcp, cujo Conselho de Remunerações é presidido por Berardo, prestar uma garantia à primeira interpelação (on first demand) ao Santander, pessoalmente aprovada por Santos Ferreira, que já tinha aprovado empréstimos, primeiro na Caixa e depois no Millenium bcp.

Ver também os posts da etiqueta Porque ri Berardo?

Fast forward (13 anos depois):

«Joe Berardo diz que todo o processo das dívidas à banca lhe provocou elevados danos morais, inclusivamente uma profunda depressão, e reclama uma indemnização de pelo menos 100 milhões de euros, com a qual pretende, em parte, financiar bolsas de estudo a gestores bancários e cursos de ciência política aos deputados.

Na ação que colocou contra Caixa Geral de Depósitos (CGD), BCP, Novobanco e BES, o comendador diz-se vítima de quem o quer rotular de “Responsável Disto Tudo”, de quem o acusa de ser o causador de “todos os males da banca” que teve de ser socorrida pelos contribuintes, numa estratégia concertada para mascarar as falhas das próprias instituições financeiras, do Banco de Portugal e do Governo.»

27/02/2022

Que exigências foram satisfeitas e quanto vai custar a venda da EFACEC?, pergunta-se o semanário de reverência

Anunciando o desfecho das negociações para venda de EFACEC (Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central), que se arrastavam há ano e meio, o Expresso de ontem interrogava-se sobre as exigências que o comprador viu satisfeitas para ficar com um mono sem mercado, falido e insolvente. Na coluna ao lado o Expresso parece sugerir uma resposta.

 
Expresso de 26-02-2022 Caderno de Economia 

22/02/2022

Take Another Plan. A TAP vista por quem sabe

Sérgio Palma Brito, ex-Diretor Geral da Confederação de Turismo, escreve regularmente no seu blogue sobre temas da aviação e a TAP, sobre a qual publicou o ano passado o livro TAP Que Futuro? Como chegámos aqui!. A semana passada deu ao jornal Nascer do Sol uma entrevista muito esclarecedora onde questiona a mitologia construída sobre a TAP e considera que a decisão da CE «é filha de um Governo estatizante, de um ministro com ideologia de extrema-esquerda e de uma comissária e Direção-Geral incapazes de se impor à pressão política».

Sobre o imaginário papel insubstituível da TAP no turismo, conclui:

«O que interessa ao país é o 'turismo recetor' de não residentes em Portugal que gera a receita de viagens e turismo na balança de pagamentos. E não o 'turismo emissor' de residentes em Portugal a deslocar-se ao estrangeiro que gera despesa na referida balança. Cito a decisão: «A TAP decisiva e significativamente apoia o crescimento de uma das mais relevantes atividades económicas para o país, o turismo». Isto é delírio. A TAP foi é e será insignificante em Faro e não contribuiu para o extraordinário crescimento do aeroporto do Porto. Na Madeira perde importância e nos Açores foram a Ryanair e a easyJet que tiraram o turismo da pacatez. Em Lisboa a TAP representará cerca de 25 % do turismo recetor no aeroporto. É grave que a 'investigação aprofundada' da Direção-Geral da Concorrência tenha ignorado esta realidade, claramente quantificada por INE e Eurostat. O 'compromisso medíocre com a realidade' é demasiado brando para este nível de cegueira. A decisão é filha de um Governo estatizante, de um ministro com ideologia de extrema-esquerda e de uma comissária e Direção-Geral incapazes de se impor à pressão política. Não honram o legado de Carl van Miert, vice-presidente da Comissão (1993/99) e responsável pela política da concorrência. Segundo o The Guardian, 'One of the most powerful men in Europe', é capaz de se impor aos EUA. A regulação europeia do transporte aéreo (1992/93) está concebida para empresas ligeiras, ágeis e rápidas a adaptar-se às exigências do mercado, como só são as empresas privadas. Uma empresa nacionalizada e com políticas (não orientações estratégicas) incompatíveis com o mercado único europeu está fragilizada à partida. Quem viver, verá.»

12/02/2022

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (200) - O combate à corrupção tem sido minado pelo PS

«Em resumo, é todo o edifício do combate à corrupção que tem sido minado pelo PS ao longo dos anos e que agora fica mais claramente comprometido com a maioria absoluta, nomeadamente quando abunda o dinheiro a chegar da União Europeia e quando todas as promessas de transparência são cuidadosamente esquecidas. Também a justificação dada para a morosidade da Justiça, que resultaria dos megaprocessos, não colhe, dado que os mesmos atrasos acontecem em processos de menor dimensão, como seja o processo das golas que ardem, ou dos inúmeros pequenos casos de políticos e das suas famílias acusados de realizarem rendosos negócios com o Estado. Para António Costa, pensando provavelmente no caso do SIRESP, basta afirmar que à justiça o que é da justiça e à política o que é da política, para que o problema político da corrupção fique resolvido. Certo, de que os gabinetes de advogados assumirão o resto da tarefa de usar todos os truques do arsenal jurídico para evitar, ou adiar, as mais que prováveis condenações. (...)

Muitos eleitores votaram no PS na expectativa de que o partido, liberto das imposições do PCP e do Bloco de Esquerda, retomará o caminho da governação sensata dos tempos de Mário Soares. Enganam-se, porque se é verdade que os partidos podem mudar, os seus dirigentes fazem-no raramente e no PS os herdeiros de António Guterres e de José Sócrates não mudam nunca. Arrisco-me por isso a afirmar que vamos ter na próxima legislatura mais Estado e menos liberdade, mais impostos e mais taxas e menos concorrência, mais escolhas de quadros por amiguismo e menos por critérios de mérito, mais corrupção e menos transparência.

No PS impera o tradicional culto da amizade, que as sucessivas visitas à prisão de Évora contribuíram para celebrizar. Por isso os empresários que se cuidem, o Estado socialista não só não entende que não precisem do Estado, como não lhes tolera os lucros. Os ideais do Bloco de Esquerda e do PCP continuarão bem vivos na governação Socialista, na TAP, na fuga à concorrência, nos casos da ferrovia e dos transportes públicos. Ou nas combinações secretas sobre o hidrogénio, a acrescentar a duas décadas de colossais favores feitos pelo Estado aos afilhados do PS na energia. Para trás, ficou a industrialização do país, o crescimento das exportações e o investimento, nomeadamente o investimento na indústria.»

Excerto de Qual o futuro da nova maioria absoluta?, um artigo de Henrique Neto, um homem com um passado insuspeito que conhece bem o PS, de que foi militante até à sua saída em 2009 em ruptura com o animal feroz

07/12/2021

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: O ministro da Economia não poupa nas palavras

Secção Insultos à inteligência

Durante o  Congresso da Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo na passada sexta-feira, o ministro da Economia Dr. Siza Vieira partilhou com os participantes o seguinte pensamento:

«Eu acho mesmo que a TAP é, provavelmente, uma das empresas mais críticas para o nosso futuro coletivo. Assumo isso claramente. Mas também não vale a pena ter um novo aeroporto significativo sem a TAP (...) o movimento aeroportuário cresceu em Lisboa porque a TAP cresceu. O crescimento da TAP motivou outros operadores a virem para Portugal». 

Sabendo-se que dos 60 milhões de passageiros (Pordata) que passaram pelos aeroportos portugueses em 2019 menos de 30% (17 milhões), com percentagens muito menores no Porto e Faro, viajaram pela TAP, ao postular que o crescimento do movimento aeroportuário cresceu pelo crescimento da TAP, o Dr. Siza Vieira ganha o direito a 5 (cinco) chateaubriands, um prémio inspirado no visconde e escritor François-René de Chateaubriand que abençoou, ou poderia ter abençoado se lhe tivesse ocorrido, a divina providência por fazer passar os rios pelo meio das cidades.

20/10/2021

TAP, a companhia da bandeira do Dr. Pedro Nuno Santos

Outros There is no such thing as flag carrier, ver também a etiqueta TAP

«Porque é que em nenhum outro país europeu se questiona a intervenção e o auxílio público às suas companhias de bandeira? Em nenhum outro país europeu assistimos ao debate sobre o apoio e auxílio à sua companhia aérea de bandeira que assistimos em Portugal.»

Dr. Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas e líder do pedronunismo

Vamos supor que o Dr. Pedro Nuno chama companhias de bandeira a operadores em que o Estado tem uma participação de controlo. Há 6 anos, na União Europeia a maioria das companhias já só tinha uma participação nula ou minoritária dos respectivos governos. 

Actualmente há em todo o mundo 110 companhias de aviação com participação do Estado e 46 companhias antes participadas pelo Estado foram privatizadas ou deixaram de operar (fonte). 

A maioria da companhias com participação do Estado são de países africanos e apenas 9 na União Europeia, uma delas (SAS) com participação minoritária dos governos da Dinamarca e Suécia (14,24% e 14,82%) e, com uma única excepção (Alitalia, tecnicamente falida e comprada por tuta e meia pela ITA Airways), todas elas pequenos ou muito operadores, a saber: 

  • Alitalia
  • Air Malta
  • Air Baltic
  • Croatia Airlines 
  • Finnair
  • LOT Polish Airlines
  • Scandinavian Airlines 
  • TAP
  • TAROM
Assim, já se percebe que companhia de bandeira para o Dr. Pedro Nuno é um operador falido e/ou microscópico. Ele tem razão, a TAP é uma companhia de bandeira.

17/10/2021

O balão de hidrogénio do Dr. Galamba ou mais um elefante branco a caminho (5) - Antes de se começar a torrar o dinheiro conviria perceber o que se pode fazer com o H2

«Amid the excitement, it is worth being clear about what hydrogen can and cannot do. Japanese and South Korean firms are keen to sell cars using hydrogen fuel cells, but battery cars are roughly twice as energy efficient. Some European countries hope to pipe hydrogen into homes, but heat pumps are more effective and some pipes cannot handle the gas safely. Some big energy firms and petrostates want to use natural gas to make hydrogen without capturing the associated carbon effectively, but that does not eliminate emissions.

Instead, hydrogen can help in niche markets, involving complex chemical processes and high temperatures that are hard to achieve with electricity. Steel firms, spewing roughly 8% of global emissions, rely on coking coal and blast furnaces that wind power cannot replace but which hydrogen can, using a process known as direct reduction. Hybrit, a Swedish consortium, sold the world’s first green steel made this way in August.

Another niche is commercial transport, particularly for journeys beyond the scope of batteries. Hydrogen lorries can beat battery-powered rivals with faster refuelling, more room for cargo and a longer range. Cummins, an American company, is betting on them. Fuels derived from hydrogen may also be useful in aviation and shipping. Alstom, a French firm, is running hydrogen-powered locomotives on European tracks.

Last, hydrogen can be used as a material to store and transport energy in bulk. Renewable grids struggle when the wind dies or it is dark. Batteries can help, but if renewable power is converted to hydrogen, it can be stored cheaply for long periods and converted to electricity on demand. A power plant in Utah plans to store the gas in caverns to supply California. Sunny and windy places that lack transmission links can export clean energy as hydrogen. Australia, Chile and Morocco hope to “ship sunshine” to the world.»

Excerto de Hydrogen’s moment is here at last

21/09/2021

O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (197) - A omertà no PS

«Se a relação pessoal e mental do PS com o mundo das empresas é escassa e por vezes conflituosa, o mesmo se passa com a sua relação com as questões da fé e da igreja. As chamadas causas fracturantes afastaram o PS da sua moderação em relação ao catolicismo. Hoje em dia, é difícil perceber a diferença entre BE e PS nesta matéria. O politicamente correto é cada vez mais intrusivo, hegemónico e, já agora, pouco preocupado com a liberdade.

Ora, nas reacções à morte de Jorge Sampaio, ficaram evidentes as diferenças: o PS antigo tinha traços de liberdade e pluralismo que o PS actual desconhece. Por exemplo, o PS de Soares e Sampaio era poroso em relação ao mundo das empresas e à sociedade civil, porque tinha uma forte relação com a advocacia. A elite socialista trabalhava no mundo do Direito, quer nas universidades, quer nos escritórios de advogados. Não dependiam de cargos de nomeação política. Eram senhores, não boys. Por outro lado, o PS era poroso em relação ao mundo católico devido à intimidade com os católicos progressistas. Onde está essa proximidade e tolerância hoje em dia?

Lamento, mas o PS de hoje é cada vez mais uma seita fechada agarrada ao poder sem porosidade com o exterior até nas suas relações pessoais. Comporta-se mesmo como uma seita. Quando um dos seus membros comete uma óbvia infração pública, como José Magalhães, os outros calam-se. Há uma omertà no PS.»

O PS de Sampaio e Soares ainda existe?, Henrique Raposo