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27/08/2025

O balão de hidrogénio do Dr. Galamba ou mais um elefante branco que se perdeu pelo caminho (6)

Há cinco anos escrevi aqui sobre o anúncio do Dr. Galamba, na altura secretário de Estado «para a Transição», de uma «mega fábrica de hidrogénio em Sines» em parceria com a Holanda. Nos anos seguintes a mega fábrica de hidrogénio foi-se gradualmente evaporando, como fui relatando em (2), (3), (4) e (5). Cinco anos depois, a coisa esfumou-se definitivamente e só vale a pena voltar a falar dela porque é um paradigma de projectos lunáticos promovidos por apparatchiks que nunca lançaram uma empresa,  nem criaram um posto de trabalho e não têm qualificações para avaliar o risco e a viabilidade de negócios que lançam com os dinheiros dos contribuintes a quem nunca prestarão contas.   

Luís Mira Amaral, uma das poucas pessoas com tino que escreve com propriedade sobre temas de energia, escreveu mais uma peça da qual extraí o texto abaixo a propósito do lunatismo estatal.    

«Por toda a Europa, incluindo Portugal, governantes ignorantes suportaram-se em powerpoints (que tudo permitem) para de uma forma iluminada desenharem estratégias irrealistas de transição energética. Isto é particularmente evidente com o hidrogénio verde, em que, como refere o presidente da EDP, temos agora um vale de desilusões com projetos a não saírem do papel, outros a serem cancelados, e empresas a falirem. Conclui-se que os avultados subsídios não são suficientes para o tornar competitivo no mercado, pois que os preços extremamente elevados levam a uma falta de procura pelo produto em sectores difíceis de eletrificar, tais como a siderurgia e o cimento. Apenas cerca de 20% do hidrogénio verde previsto na União Europeia deverá vir a ser produzido... O projeto do avião a hidrogénio da Airbus, subsidiado pelo Governo francês com €1,5 mil milhões, foi encerrado, a Hyvia, filial da Renault para os veículos utilitários a hidrogénio está em dificuldades e o Tribunal de Contas Europeu criticava o impasse na aventura do hidrogénio verde.

Por cá, fizemos com outros colegas um manifesto a criticar o megalómano projeto de produção em Sines de hidrogénio verde para ser exportado para os Países Baixos, pois a tecnologia estava imatura para grandes produções centralizadas e consequentes grandes transportes de energia, aconselhando começar-se por projetos de demonstração mais pequenos. Como resposta, um eletrizante (usando a expressão do Expresso) secretário de Estado brindou-nos com uma série de diatribes num webinar organizado pela Ordem dos Engenheiros sobre o hidrogénio e o então primeiro-ministro Costa chamou-nos velhos do Restelo. Respondi em direto na SIC a esse modernaço de Benfica (bairro em que vivia) que eu era um velho de Cascais e não do Restelo. Depois o agora europeizado Costa foi inaugurar a Fusion Fuel Portugal, que iria produzir eletrolisadores, subsidiou-a em €5 milhões do PRR e disse que a reindustrialização de Portugal começava aí! Azar dos Távoras, a empresa já faliu!»

1 comentário:

Luís Lavoura disse...

uma «mega fábrica de hidrogénio em Sines» em parceria com a Holanda

Portanto, tratou-se de uma argolada tanto do governo português, presidido por António Costa, como do governo holandês, presidido por Mark Rutte.

Políticos de setores diferentes (Rutte é, nominalmente, um liberal de direita), mas ambos com um brilhante presente, um na UE e o outro na NATO.

Conclusão: não nos safamos de argoladas nem com socialistas nem com liberais de direita.