Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Mostrar mensagens com a etiqueta eu sou o Clark Kent. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta eu sou o Clark Kent. Mostrar todas as mensagens

10/04/2025

Dúvidas (348) - Não será um poucochinho exagerado? (7) - O surto inovador e inventivo que nos assalta

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5) e (6)

Não falha. O European Patent Office divulga os dados das patentes do ano anterior e os jornais do Portugal dos Pequeninos celebram os feitos dos "inventores" portugueses. Alguns exemplos de títulos bombásticos:
Para um país pouco dado à inovação que parte de uma base muito baixa, o crescimento do número de patentes é inevitavelmente elevado como se pode ver no gráfico seguinte.


Porém, os 347 pedidos de patentes em 2024 colocam-no no 28.º lugar entre os 39 membros da European Patent Organisation, dos quais 12 não são membros da UE. Poderia concluir-se que isso resulta da pequenez do Portugal dos Pequeninos. Poderia, mas não pode.


Quando vemos o gráfico anterior do número de pedidos por milhão de habitantes e constatamos que nos situamos no 28.º lugar com um rácio (33,5) que é um quarto da média da EPO (137,4) somos forçados a aceitar, uma vez mais, que as celebrações da nossa "patriótica" imprensa são muito exageradas.

29/11/2024

Se ká nevásski faziasse kásski

Jornal Económico

O estudo em causa que parece ser uma espécie de exercício de pensamento miraculoso é da McKinsey, uma grande consultora americana, em tempos considerada la crème de la crème da consultoria, cuja reputação foi bastante abalada por vários escândalos. O mais conhecido desses escândalos foi aconselhar fabricantes de medicamentos, nomeadamente a Purdue Pharma, a preparar planos de marketing enganosos para as vendas de opióides. A McKinsey foi condenada e está a tentar um acordo de pagamento que pode chegar a US$ 600 milhões

Não é provável que os portugueses, sempre ansiosos de boas notícias e de «fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo», proponham uma acção colectiva contra a McKinsey por estudos enganosos - afinal estamos num país onde costumamos dizer uns para os outros «engana-me que eu gosto».

21/08/2024

A lenda da libertação de Paris há 80 anos

Na segunda-feira completaram-se 80 anos do início da libertação de Paris, dois meses depois do desembarque Aliado na Normandia, concluída com a rendição da última guarnição alemã no dia 25 de agosto de 1944.

Reza a lenda que a libertação de Paris foi conseguida pelo exército francês comandado pelo General de Gaulle. A realidade é um pouco diferente, como nos recorda o jornalista e historiador Patrick Bishop no seu recentemente publicado «Paris ‘44: The Shame and the Glory».

Na verdade, o que estava planeado pelo comandante supremo das Forças Aliadas general Eisenhower era contornar Paris. Porém, o general de Gaulle, preocupado com o seu papel futuro na política francesa, a pretexto de que assim evitaria um levantamento sangrento pela Resistência comunista, convenceu Eisenhower a autorizar a Deuxième Division Blindée a entrar na cidade com o apoio da infantaria americana e com várias divisões aliadas à mão de semear, sem as quais a reduzidíssima tropa francesa não resistiria a um contra-ataque alemão.   

«Paris ! Paris outragé ! Paris brisé ! Paris martyrisé ! mais Paris libéré ! Libéré par lui-même, libéré par son peuple avec le concours des armées de la France, avec l'appui et le concours de la France tout entière, de la France qui se bat, de la seule France, de la vraie France, de la France éternelle.»
E assim nasceu a lenda de «Paris libéré ! Libéré par lui-même, libéré par son peuple», que o pletórico ego do General no seu discurso do dia 25 de Agosto no Hôtel de Ville deve ter imaginado que lui-même se referia a lui-même.

18/07/2024

Dúvidas (373) - Não será um poucochinho exagerado? (9) - O surto inovador e inventivo que nos assalta

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7) e (8)

Esta série de posts é dedicada a demolir o mito das patentes que pretende exaltar a suposta inventividade inata no Portugal dos Pequeninos e é apenas mais um expediente de compensação do complexo de inferioridade que infecta o país e as suas elites.

Os oito posts anteriores mostraram que o surto inovador e inventivo imaginado pelas luminárias do regime e propagandeado pela imprensa do regime é na verdade uma ficção. Este post mostra uma outra face da inovação que não é ficção - é a realidade do dinheiro derramado para incentivar a inovação.

Fonte

Recordando: os 329 pedidos de patentes portuguesas em 2023 correspondem a 0,38% e 0,17% do número total de pedidos dos 39 países do European Patent Office (EPO) e do número total de países, respectivamente, e que o rácio de 33,9 patentes por milhão de habitantes nos coloca no 38.º lugar do ranking (terceiro a contar do fim) dos países que apresentaram pedidos de patentes ao EPO.

Pois bem, estes resultados merdosos não resultam de falta de dinheiro público (ou seja, dinheiro privado extorquido pelo Estado) à I&D, uma vez que, segundo os dados do relatório Corporate Tax Statistics 2024 da OCDE, Portugal é o quarto da OCDE país que mais afecta dinheiro público - 0,33% do PIB, dos quais cerca de um quarto em financiamento directo e três quartos em benefícios fiscais. Poderia ser de outra maneira? Dificilmente, se imaginarmos os departamentos do Estado sucial português completamente desligados do mundo real e desprovidos de quadros tecnicamente preparados a seleccionarem os projectos de I&D que justificam ser apoiados.

27/04/2024

Dúvidas (371) - Não será um poucochinho exagerado? (8) - O surto inovador e inventivo que nos assalta

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)

Esta série de posts é dedicada a demolir o mito das patentes que pretende exaltar a suposta inventividade inata no Portugal dos Pequeninos e é apenas mais um expediente de compensação do complexo de inferioridade que infecta o país e as suas elites.

No último post publicado a seguir à divulgação pelo European Patent Office (EPO) do Patent Index 2023 referi que os pedidos de patentes portuguesas em 2023 correspondem a percentagens ínfimas do número total de pedidos dos 39 países do IPO (0,38%) e do número total de países (0,17%) e o rácio de 33,9 patentes por milhão de habitantes colocam-nos no terceiro lugar a contar do fim do ranking dos países que apresentaram pedidos de patentes ao EPO.


O diagrama acima do mais liberdade com os dados do Global Innovation Index 2023 confirma as conclusões que retirei a partir do Patent Index 2023. Deveríamos dedicar pelo menos uma parcela das masturbações delirantes como «Portugal triplicou o número de pedidos de patentes europeias numa década» ou  «Portugal volta a bater recorde de pedidos de patentes» a uma análise crítica e racional das causas e das possíveis soluções.

05/04/2024

Dúvidas (370) - Não será um poucochinho exagerado? (7) - O surto inovador e inventivo que nos assalta

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5) e (6

Como se pode confirmar nos posts anteriores, o tema das patentes é um mais dos usados pelas figuras de cera e a comentadoria do regime, e evidentemente pelo jornalismo de causas, para exaltar a suposta inventividade inata no Portugal dos Pequeninos e o correspondente sucesso, talvez só superado pelo futebol, tentando compensar o profundo complexo de inferioridade que infecta o país e as suas elites.

Vejam-se, por exemplo, os seguintes dois dos muito títulos exaltantes que se seguiram à divulgação pelo European Patent Office (EPO) do Patent Index 2023: «Portugal triplicou o número de pedidos de patentes europeias numa década» (Público) e «Portugal volta a bater recorde de pedidos de patentes» (Observador). Se os títulos são exaltantes os textos não o são menos.

A realidade que os dados estatísticos objectivamente revelam nada tem de exaltante, se queremos adjectivar, deprimente seria mais adequado. Desde logo, porque os 329 pedidos de patentes portuguesas em 2023 correspondem a 0,38% e 0,17% do número total de pedidos dos 39 países do EPO e do número total de países, respectivamente. De seguida, porque o rácio de 33,9 patentes por milhão de habitantes nos colocam no 38.º lugar do ranking (terceiro a contar do fim) dos países que apresentaram pedidos de patentes ao EPO.

Esquecendo que quem parte de um nível muito baixo, como Portugal, sempre pode progredir muito mais rapidamente do que quem já tem um nível elevado, ainda assim, o número de patentes portuguesas pedidas representava 0,07%  do total em 2014, cresceu para 0,15% em 2019 e desde então variou entre 0,14% e 0,17%. Se considerarmos apenas os pedidos de patentes que são aceites, o rácio de aceitação entre 2014 e 2023 nunca atingiu metade, e se o número de patentes aceites aumentou mais de 100% de 2022 para 2023, isso deveu-se ao número anormalmente baixo de 2022 que foi pouco mais de metade do de 2021.

Moral da estória: é difícil ter uma opinião pública esclarecida quando se tem uma opinião publicada (sim, o que se publica não são notícias) deste calibre.

14/01/2024

SERVIÇO PÚBLICO: O cadastro económico de Pedro Nuno Santos

«Pedro Nuno Santos é o novo secretário-geral do PS. No seu discurso no congresso do partido, ele prometeu romper com o espírito antirreformista dos Governos de António Costa (de que fez parte) para conseguir uma “transformação estrutural da economia.” A trave-mestra do seu pensamento económico é a “obrigação de fazer escolhas quanto aos sectores e tecnologias a apoiar”. Ao contrário de outros temas, em que Santos é mais vago acerca do que promete (como é normal nos líderes partidários em eleições), esta é uma convicção profunda pessoal que vai caracterizar um futuro Governo que ele lidere.

A discussão sobre a capacidade de o Estado escolher bem os sectores e as tecnologias a apoiar, ou o seu sucesso a promover transformações estruturais, é um tema clássico. Podíamos discuti-lo em teoria, ou usando as experiências acumuladas pelo mundo fora, cobrindo todas as páginas deste jornal. Há bons argumentos a favor de um Governo que faça estas escolhas e que use a política económica desta forma. É natural que uma política industrial agressiva seja parte de um Governo socialista. Mas, no caso de Santos, a experiência dos últimos oito anos causa apreensão.

No que diz respeito a promover o “perfil de especialização” com “potencial de arrastamento da economia” (palavras de Santos) é difícil pensar num melhor exemplo do que a Efacec. Quando foi nacionalizada, em 2020, era uma empresa de ponta, tecnológica, exportadora. Três anos depois, teve prejuízos recorde na sua história, perdeu muitos clientes, e o número de trabalhadores caiu de cerca de 2500 para cerca de 2000. Depois de injetar cerca de €200 milhões na empresa, o Governo anunciou em junho a venda a um fundo de investimento, mas só depois de injetar mais €160 milhões. O acordo de venda (como sempre) só daqui a uns anos permite fazer as contas certas e, com muita sorte, o Estado pode recuperar algum dinheiro. Mas isso não pode servir para esconder a conclusão inevitável: o resultado foi péssimo.

08/06/2023

Dúvidas (360) - Não seria preferível o Dr. Pedro Nuno ficar calado e deixar-nos na dúvida sobre a sua lucidez e honestidade?

Da verborreica presença do Dr. Pedro Nuno Santos na comissão de Economia do parlamento destaco duas passagens

«A TAP não conseguirá sobreviver se não se integrar num grupo de aviação e só há duas maneiras: ou era a TAP comprar, por exemplo, a Lufthansa, a Air France KLM, […] ou, obviamente, abrir o capital da TAP».

Reconhecendo essa alternativa de sobrevivência, acreditará ele que a TAP pública (isto é o Estado sucial português, agora governado pelo seu partido) poderia comprar, por exemplo, a Lufthansa, a Air France KLM? E acreditará que algum grupo de aviação participaria no capital de uma TAP controlada por um governo socialista com um currículo assim?

«Tenho muito orgulho do trabalho que nós fizemos para salvar a TAP e garantir que a TAP continuava a voar, mas sobretudo porque conseguimos provar que a TAP, uma empresa pública, pode dar lucro. Que era possível ser viável e dar lucro. E também não foi um acaso. Também conseguimos que a CP desse lucro. E não há mais nenhum governo, e nenhum ministro, nos últimos 50 anos, que se possa gabar de cessar funções com a TAP e a CP a dar lucro». 

Terá o Dr. Pedro Nuno um módico de lucidez e ou honestidade intelectual para se autofelicitar porque essas EP que menciona terem tido uns milhões de euros de lucros depois dos contribuintes lá terem enterrado nos últimos anos 3.200.000.000 e 3.600.000.000 euros, respectivamente?

Por coincidência, depois de ter lido estas bazófias de Dr. Pedro Nuno, li o que escreveu João Távora que se aplica por inteiro a esta criatura:

Trilema de Žižek
«Os encontros e relações pessoais mais desagradáveis com que deparei ao longo da minha vida social e profissional deram-se sempre com aqueles indivíduos com uma autoconfiança desmesurada face às suas reais capacidades intelectuais. Numa relação de continuidade, obrigam-nos a um grande esforço de tolerância e autodomínio. Mais trágico é quando essa segurança não se faz acompanhar pelo necessário calibre ético e moral. Estamos a falar do vulgar aldrabão que, se for dotado de uma esperteza acima da média, pode provocar muitos estragos aos seus semelhantes, e mais ainda se tiver enveredado na política. São pessoas que falam alto com frequência, com as certezas na mesma proporção em que lhes faltam escrúpulos.»

22/04/2023

Dúvidas (356) - Não será um poucochinho exagerado? (6) - O surto inovador e inventivo que nos assalta

Continuação de (1), (2), (3), (4) e (5)

Como de costume, com a divulgação dos dados do European Patent Office inicia-se um período de celebração, com um anúncio do governo no melhor estilo «portugueses no topo do mundo», celebração de imediato replicada pela imprensa amiga com a habitual louvaminha que não resiste à análise mais superficial. 
portugal.gov

Desde logo, porque com 290 pedidos de patentes em 2021, por cada três pedidos de patente aumentados o número de patentes portuguesas cresce 1%. Depois porque as 312 patentes portuguesas, das quais 15% de quatro empresas, representaram 0,16% total de cerca de 193 mil pedidos, 0,37% das cerca de 84 mil pedidos de patentes europeias, 5% das holandesas, 16% das suecas e 8 ou 9% das dinamarquesas, belgas e austríacas. É claro que há muitos outros países com menos pedidos, mas nada justifica o empolgamento.

Até a COTEC - Associação Empresarial para a Inovação - se deixou embalar, comentando em entrevista ao Negócios «a inovação está a passar de uma excentricidade a um hábito saudável das lideranças mais bem-sucedidas»

mais liberdade

É um juízo difícil de sustentar quando olhamos para o Índice Global de Inovação.

06/05/2022

Lost in translation (360) - Estar vivo é o contrário de estar morto

"Recolocar Portugal no Top 15 dos países europeus mais ricos em 2030” – e uma etapa intermédia: “atingir um crescimento económico de 5,2% ao ano (2023-30), pelo impulso da produtividade, competitividade e emprego”. 

Intrigado com este enigmático statemente do Dr. Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), submeti-o ao web bot de AI com machine learning baseada numa Neural Network com acesso a servidores de Big Data

Fonte

Alguns segundos depois o web bot piscou bullshit vinte e três vezes no écran e devolveu a seguinte tradução em português corrente:

Recolocar Portugal onde estava há 28 (vinte e oito) anos atrás ou seja no Top 13 dos países europeus mais pobres.

06/04/2022

Dúvidas (334) - Não será um poucochinho exagerado? (5) - O surto inovador e inventivo que nos assalta

Continuação de (1), (2), (3) e (4)

Como habitualmente, quando são divulgados os dados do European Patent Office, a imprensa de ontem celebrou com entusiasmo os feitos da nação em matéria de patentes registadas, com títulos como os seguintes:
Ao leitor desprevenido pode ocorrer-lhe que, repentinamente, os portugueses, as portuguesas, as empresas e os empresários e, porque não?, o Estado sucial, foram assaltados por um surto de invenção e inovação. Ora, não é bem assim. O fulgor mediático apaga-se quando o confrontamos com os dados do EPO, desde logo porque o Portugal dos Pequenos representa 2,3% da população da UE e em 2021 apenas registou 286 patentes das cerca de 67,7 mil patentes da UE, ou seja 0,4%. 
 

Como se pode ver na parte superior do quadro, no ranking mundial Portugal está entalado entre Barbados (290 mil habitantes) e a Federação Russa (144 milhões, incluindo siloviki, apparatchik, oligarcas e cleptocratas). Quando comparamos na parte inferior do quadro as nossas 28 patentes por milhão de habitantes com países da UE do mesmo campeonato demográfico, fica-se um bocado deprimido: Países Baixos (615), Suécia (481),  Dinamarca (456), Bélgica (215), Áustria (259). Finlândia (380). 

Resta-nos a consolação que temos um rácio de patentes por milhão umas 15 vezes superior ao da Federação Russa que com, as suas 272, registou menos patentes do que o número de ucranianos que assassinou numa única cidade (Bucha). 

26/02/2021

O Dr. Costa realiza o mantra do Dr. Marcelo: melhores entre os melhores

Trilema de Žižek

ESCOLAS Ninguém fecha tanto quanto Portugal

O governo do Dr. Costa e a grande família socialista conseguem sucessos em todas as frentes: n.º 1 no fecho das escolas, n.º 2 com menos confinamento, n.º 1 mundial nas morte por Covid (22-01) e ainda consegue ser o n.º 4 na EU na queda do PIB. Melhor não é possível.

28/11/2019

ACREDITE SE QUISER: Pois se nem um aparelho de raio X a cair de podre substituem, vão mandar para o espaço um quarto do orçamento anual do SNS?

«Portugal quer investir €2500 milhões na indústria espacial até 2030»

«Criar mil empregos qualificados nos próximos dez anos, em especial nas áreas da observação da Terra, telecomunicações e desenvolvimento de pequenos satélites, e aumentar a faturação anual do sector dos atuais 40 a 50 milhões de euros anuais para 500 milhões em 2030, metade financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e a outra metade pela Agência Espacial Europeia (ESA), são as metas do “Portugal Space 2030”.

(...) E Portugal quer investir 2500 milhões de euros no sector ao longo da próxima década, com 50% deste montante assegurado pelas empresas privadas.»

Escreve o semanário de reverência, reverencialmente pela pena de um jornalista muito reverente.

No final, quando forem feitas as contas, se a ESA torrasse os 50% (um grande "se"), se os «privados» aplicassem 50% de 50% (um gigantesco "se"), o Estado Sucial gerido pelo Dr. Costa só falharia em mandar para o espaço os 25% sobrantes. Entretanto, o Dr. Costa e os seus ministros podem fazer anúncios todos os meses, enquanto por aí andarem.

15/09/2019

Dúvidas (282) - Não será um poucochinho exagerado? (4) Não, não é, e aqui vai a demonstração

Este post deve ser lido como uma autocrítica aos posts anteriores (1), (2) e (3) em que denegri o talento da investigação portuguesa, só porque a produção de patentes é poucochinha, como disse o nosso primeiro-ministro Costa a respeito da vitória do seu antecessor Seguro nas eleições europeias, antes da sua derrota nas eleições legislativas no ano seguinte.

Fui chamado à razão por este comentário de um leitor que iluminou a minha ignorância e citou o trabalho da investigação portuguesa que mereceu o Prémio Ig Nobel de Química em 2018, a saber:

CHEMISTRY PRIZE [PORTUGAL] — Paula Romão, Adília Alarcão and the late César Viana, for measuring the degree to which human saliva is a good cleaning agent for dirty surfaces.
REFERENCE: “Human Saliva as a Cleaning Agent for Dirty Surfaces,” by Paula M. S. Romão, Adília M. Alarcão and César A.N. Viana, Studies in Conservation, vol. 35, 1990, pp. 153-155.
WHO ATTENDED THE CEREMONY: The winners delivered their acceptance speech via recorded video.

Para limpar a minha folha, fiz uma pesquisa no site da Improbable Research, uma espécie de academia sueca alternativa, e encontrei mais os seguintes dois trabalhos de investigação que exemplificam como os cientistas portugueses são os melhores dos melhores e Portugal nesta área não fica atrás de ninguém:

Chemical Effect of Beer Marinades on Charcoal-Grilled Pork
Thursday, March 27th, 2014
Some chemists, or perhaps many chemists, or perhaps no chemists, may feel obligated to revise their views on certain effects of certain marinades on certain substances, if they read this study: “Effect of Beer Marinades on Formation of Polycyclic Aromatic Hydrocarbons in Charcoal-Grilled Pork,” (...) authors, at the Universidade do Porto, Portugal and the University of Vigo, Spain,

“An animal may have holes”
“An animal may have holes.” So says the report: “Animal enumerations on regular tilings in Spherical, Euclidean, and Hyperbolic 2-dimensional spaces,” Tomás Oliveira e Silva, July 25, 2013. The author, at the Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática, Universidade de Aveiro, Portugal.

Qed

08/09/2019

Dúvidas (280) - Não será um poucochinho exagerado? (3) - Está tudo explicado. A investigação em Portugal está a cargo de zombies

Começou com a dúvida se «temos os melhores engenheiros nas escolas portuguesas, que estão entre os melhores do mundo, o que faz com que Portugal não fique atrás de nenhum outro país a nível mundial em matéria de tecnologia e inovação», como garantiu uma luminária presumivelmente inspirada por Belém, onde também se garantem coisas que a medíocre realidade não sustenta.

Continuou com outra dúvida, resultante da primeira, se temos os melhores e não ficamos atrás de nenhum outro país (hipérbole que, se tomada à letra, significaria que temos toda a gente atrás de nós), como explicar que os nossos 362,2 mil cientistas e engenheiros, ou 2,1% do total da UE, só produziram o ano passado 0,13% do número de patentes registadas na UE?

Chegado aqui, carregado de dúvidas, senti-me um pouco como um infiel rodeado de crentes fanáticos jurando que se nos explodirmos no meio de outros infiéis seremos recebidos no Jannah por 72 (setenta e duas) virgens, quantidade exagerada até para um apreciador de virgens.

Investigadores aguardando aprovação de financiamento
da Fundação para a Ciência e Tecnologia
Até que me cruzei com um escrito de António Feijó e Miguel Tamen, professores da Universidade de Lisboa, que, talvez por não serem engenheiros, fazem um diagnóstico do estado da investigação em Portugal, baseados num relatório recente da OCDE, que explica o magro resultado de tanto e tão notável talento. Aqui vai um excerto à guisa de teaser:

«Os domínios que a investigação privilegia resultam, em vez disso, do conjunto avulso de projectos que investigadores e unidades de investigação submetem com sucesso aos concursos que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) abre. Sendo a FCT a única, ou a decisiva, instância de financiamento nacional da investigação, o resultado dos seus esforços escapa-lhe sempre. O controle do Estado sobre a investigação não é acompanhado por uma noção daquilo que se investiga, e muito menos por uma ideia daquilo que se devia investigar.

A situação só não é caótica por dizer respeito a um universo de investigadores e unidades relativamente pequeno, que tendem, sempre que se candidatam a financiamentos, a replicar a investigação que têm feito, ou sempre fizeram. Para além disso, o alarde público com que os candidatos decepcionados com os resultados dos concursos de financiamento em cada ano os acolhem, e que logo encontra eco mediático, invariavelmente leva a que financiamento suplementar, mesmo que escasso, lhes seja concedido; e assim, na periferia do sistema, continuam a proliferar zombies

01/09/2019

Dúvidas (278) - Não será um poucochinho exagerado? (2)

Continuação desta dúvida.

A dúvida anterior foi sobre se «temos os melhores engenheiros nas escolas portuguesas, que estão entre os melhores do mundo, o que faz com que Portugal não fique atrás de nenhum outro país a nível mundial em matéria de tecnologia e inovação», como afirmou uma luminária.

Dessa dúvida, se os engenheiros portugueses estão entre os melhores do mundo, resultaram outras:
  1. como explicar que só foram registadas por portugueses o ano passado 220 patentes que representam 0,13% do número de patentes registadas na UE?
  2. porquê o número de patentes por milhão de residentes em Portugal (22) é uma fracção ínfima (0,06) do mesmo indicador na União Europeia (341)?
A notícia de há dias que «Portugal ganhou mais de 30 mil cientistas e engenheiros num ano... (e) ... conseguiu duplicar a média de crescimento dos 28 Estados membro, com uma taxa de 9,2%» levou às mesmas dúvidas e a acrescentar outras.

30 (trinta) mil cientistas e engenheiros? O que são cientistas? Quantos são os cientistas? O que fazem esses cientistas que Portugal ganhou? Serão os «quadros técnicos superiores do Estado» cientistas? Como explicar que os nossos 362,2 mil cientistas e engenheiros, ou 2,1% do total da UE, só produziram o ano passado 0,13% do número de patentes registadas na UE?

Estas dúvidas levam-me a uma outra dúvida filosófica: porquê as nossas elites não perdem uma oportunidade de dar graxa e lustro despropositado aos portugueses? Sem prejuízo de tratar mais tarde este tema, adianto estar desconfiado que o fazem como sucedâneo de lamberem o seu próprio ego.

17/03/2019

Dúvidas (258) - Não será um poucochinho exagerado?

«Temos os melhores engenheiros nas escolas portuguesas, que estão entre os melhores do mundo, o que faz com que Portugal não fique atrás de nenhum outro país a nível mundial em matéria de tecnologia e inovação»,

Rui Cordeiro, sócio fundador da Critical Software ao Jornal Económico

Tecnologia? Inovação? Pois não é verdade que em 2018 o número de patentes registados por portugueses aumentou 46,7%? É, sim senhor.

Público
Porém, antes de começar o foguetório convirá saber: (1) quantas patentes os portugueses registaram em 2018, (2) que essas 220 patentes representam 0,13% do número de patentes registadas na UE; (3) que o número de patentes por milhão de residentes em Portugal (22) é uma fracção ínfima (0,06) do mesmo indicador na União Europeia (341); (4) que seriam necessários 20 anos com os números de patentes a crescerem ao ritmo do período 2014-2018 para o número de patentes por milhão de residentes alcançar o da UE, convindo não esquecer que inevitavelmente o crescimento português percentual nesse período (16,5% anual) é praticamente impossível de manter.