Outros mitos: (
1), (
2), (
3) e (
4)
Como por acaso, multiplicam-se os estudos de causas pretendendo demonstrar a profunda discriminação salarial entre homens e mulheres. Na verdade, como já tive oportunidade de referir nos posts anteriores, a única coisa que esses estudos demonstram é que as mulheres ganham menos do que os homens, o é que totalmente diferente de concluir que existe discriminação salarial e muito menos profunda.
Entre a multidão de estudos cito dois recentes. O primeiro, da Eurostat (que não li) é assim apresentado pela Lusa citada pelo
Negócios: «
A disparidade salarial é definida como a diferença entre os vencimentos anuais entre homens e mulheres, mas quando se tem em conta as três desvantagens que estas têm que enfrentar - menor salário por hora, menos horas de trabalho em empregos pagos e taxas de emprego mais baixas - a disparidade de género chegava, em 2014, aos 26,1% em Portugal (UE 39,6%).»
Repare-se como se dá como demonstrado o que falta demonstrar.
Menor salário por hora? Em relação a quê? Ao mesmo nível na mesma função?
Menos horas de trabalho? Mas não é verdade que para se ganhar o mesmo com menos horas seria necessário ganhar mais por hora e aí, sim, teríamos discriminação salarial?
Taxas de emprego mais baixas? O que tem isto a ver com desigualdade salarial?
O segundo estudo, de Carlos Guimarães Pinto, é baseado nos dados do outro estudo citado por Luís Aguiar-Conraria, no
Observador, a que fiz referência no
post anterior. As conclusões, apresentadas no
jornal Eco, vão aproximadamente no mesmo sentido, confirmando significativas disparidades salariais entre sexos.
Contudo, quando se comparam os salários de homem e mulheres licenciados essas diferenças atenuam-se bastante, embora variem consideravelmente segundo a região, como se pode ver no diagrama seguinte.
Sublinhe-se que estamos a falar das mesmas habilitações e em consequência estamos a estreitar o leque de funções e de níveis profissionais, mas não estamos a falar das mesmas funções e níveis que seriam a base para uma comparação relevante para se avaliar a suposta discriminação salarial. Quanto à discrepância entre regiões, o meu palpite é que as maiores diferenças, sobretudo na AM de Lisboa, resultam da predominância relativa de postos de trabalho com maior qualificação e, consequentemente, salários mais altos e, inevitavelmente, maior desigualdade salarial, até mesmo dentro do mesmo sexo.
Em conclusão, nenhum destes estudos permite concluir que existam grandes diferenças salariais por sexo para a mesma função e nível. Pelo contrário, sugerem que essas diferenças sejam pouco significativas como em outros países europeus nos estudos
que referi aqui citados. Ou, dito de outro modo, não há suporte estatístico para pôr em causa a adopção nas economias modernas do princípio para trabalho igual, salário igual.