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O Homem-Elásticos após o 4.º resgate |
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Suspeito que o grande público, composto por gente que doseia sabiamente o seu interesse pela política, não viva estas coisas com tanta trepidação. Em todo o caso, os limites da habilidade do Homem-Elástico começam a ser difíceis de disfarçar. Nota-se o esforço. O suor corre pelo rosto. Ele próprio admite estar “momentaneamente cansado”. Perdeu-se aquela graça dos movimentos que antes o celebrizava. De vez em quando precisa de se retirar para, longe dos olhares, voltar à sua condição normal. E alguns pensam até que há algo de estranho em termos de estar constantemente assim, à espera do momento em que o hábil máximo sucumba à perigosidade do seu exercício. Pensam que isso põe desnecessariamente em risco o funcionamento da sociedade. E sonham com o momento em que o alter-ego primo-ministerial do cidadão António Costa desapareça de cena. Não por inveja, cobiça ou outras pouco recomendáveis paixões, antes pelo contrário. Por um genuíno sentimento de humanidade. O público não aprecia o espectáculo de um equilibrista que se estatela no chão, quanto mais de um Homem-Elástico que, sem o saber, ultrapassou os seus limites. Anseia por um António Costa deixado finalmente a si mesmo, à vontade com a sua barriga, liberto da penosa tortura imposta pelo insensato demónio do seu alter-ego.
Por estes dias, esta visão das coisas, tudo o indica, tem-se tornado mais comum. Houve os fogos, houve Tancos, houve a legionella, houve a trapalhada com o Panteão, houve a justiça salomónica do caso do Infarmed (Lisboa, Porto – e finalmente Lisboa/Porto), houve a história com os professores, houve as perguntas pagas de Aveiro, com os ministros a dormirem e gracinhas ao ministro das Finanças (“Senhor ministro das Finanças, olhe que investir hoje na saúde é poupar amanhã no sistema de saúde”) e houve a querela da contribuição sobre as energias renováveis. (...). Mas a história aos quadradinhos já não entusiasma ninguém. Tudo conhece um limite de elasticidade e as estradas têm sempre fim. Em política, quando o limite de elasticidade foi ultrapassado e não se deu por isso, começa o delírio. O delírio, salta à vista, já começou.»
Excerto de «O Homem-Elástico», Paulo Tunhas no
Observador
No final do seu artigo Paulo Tunhas evoca Belmiro de Azevedo, não certamente porque encontrasse algo de comum com o Homem-Elástico que desgoverna o país. Para mim, e provavelmente para Tunhas, Belmiro de Azevedo foi em toda a sua vida o exemplo do anti-Homem-Elástico.
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