30/11/2017

Costa, o homem elástico

O Homem-Elásticos após o 4.º resgate
«Suspeito que o grande público, composto por gente que doseia sabiamente o seu interesse pela política, não viva estas coisas com tanta trepidação. Em todo o caso, os limites da habilidade do Homem-Elástico começam a ser difíceis de disfarçar. Nota-se o esforço. O suor corre pelo rosto. Ele próprio admite estar “momentaneamente cansado”. Perdeu-se aquela graça dos movimentos que antes o celebrizava. De vez em quando precisa de se retirar para, longe dos olhares, voltar à sua condição normal. E alguns pensam até que há algo de estranho em termos de estar constantemente assim, à espera do momento em que o hábil máximo sucumba à perigosidade do seu exercício. Pensam que isso põe desnecessariamente em risco o funcionamento da sociedade. E sonham com o momento em que o alter-ego primo-ministerial do cidadão António Costa desapareça de cena. Não por inveja, cobiça ou outras pouco recomendáveis paixões, antes pelo contrário. Por um genuíno sentimento de humanidade. O público não aprecia o espectáculo de um equilibrista que se estatela no chão, quanto mais de um Homem-Elástico que, sem o saber, ultrapassou os seus limites. Anseia por um António Costa deixado finalmente a si mesmo, à vontade com a sua barriga, liberto da penosa tortura imposta pelo insensato demónio do seu alter-ego.

Por estes dias, esta visão das coisas, tudo o indica, tem-se tornado mais comum. Houve os fogos, houve Tancos, houve a legionella, houve a trapalhada com o Panteão, houve a justiça salomónica do caso do Infarmed (Lisboa, Porto – e finalmente Lisboa/Porto), houve a história com os professores, houve as perguntas pagas de Aveiro, com os ministros a dormirem e gracinhas ao ministro das Finanças (“Senhor ministro das Finanças, olhe que investir hoje na saúde é poupar amanhã no sistema de saúde”) e houve a querela da contribuição sobre as energias renováveis. (...). Mas a história aos quadradinhos já não entusiasma ninguém. Tudo conhece um limite de elasticidade e as estradas têm sempre fim. Em política, quando o limite de elasticidade foi ultrapassado e não se deu por isso, começa o delírio. O delírio, salta à vista, já começou.»

Excerto de «O Homem-Elástico», Paulo Tunhas no Observador

No final do seu artigo Paulo Tunhas evoca Belmiro de Azevedo, não certamente porque encontrasse algo de comum com o Homem-Elástico que desgoverna o país. Para mim, e provavelmente para Tunhas, Belmiro de Azevedo foi em toda a sua vida o exemplo do anti-Homem-Elástico.

Bons exemplos (120) - Um empresário fora do baralho

«Tanto eu como a Sonae comportamo-nos sempre não tanto como contrapoder, mas como não próximos do poder. É bom para a democracia e para o funcionamento do governo que os empresários sejam independentes e discordem.»

Belmiro de Azevedo, em entrevista ao Público em 2005

«A maior parte dos competentes não tem currículo partidário»

O que a imprensa livre deve a Belmiro de Azevedo e que João Miguel Tavares quer assumir como sua dívida pessoal.

29/11/2017

DIÁRIO DE BORDO: R.I.P.

Belmiro de Azevedo, um empresário português independente
 do complexo político-empresarial socialista

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (57) Unintended consequences (XVII)

Outras marteladas.

Continuando os exemplos recentes de consequências indesejadas do alívio quantitativo e das taxas de juro nulas ou negativas, acrescentemos a evolução do mercado imobiliário, em particular para habitação:
  • Nos Estados Unidos, as vendas de casas novss aumentaram inesperadamente em Outubro e em especial as vendas de moradias corrigidas da sazonalidade cresceram 18,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, atingindo o máximo numa década, isto é voltaram ao seu nível pré-crise financeira que, como se sabe, começou pelo colapso das hipotecas subprime;
  • No Canadá, o banco central emitiu um aviso sobre a falta de rigor na concessão de crédito para compra de habitação que considera uma ameaça à estabilidade; 
  • Em Portugal, o crédito novo para comprar de habitação está a atingir máximos históricos e valor por m2 da avaliação bancária das casas continuou a crescer e em Outubro atingiu o máximo do ano.
Os sinais oriundos dos mercados de capitais também não são tranquilizadores. Nos Estados Unidos, o Fed, prestes a mudar de presidente, muito provavelmente aumentará de novo as taxas em Dezembro. A diferença de taxas para as maturidades de dez anos e dois anos atingiu o mínimo desde Novembro de 2007 (outra vez o ano fatídico) uma situação que geralmente precede uma recessão, embora tal seja muito pouco provável nesta conjuntura.

28/11/2017

Um governo à deriva (37) - Costa não é um mentiroso excepcionalmente bom (II)

«(...) o primeiro-ministro disse que a mudança já estava prevista, até para trazer a Agência Europeia do Medicamento. Mas isso não estava na candidatura portuguesa, que refere que a sede do Infarmed permanece em Lisboa. O primeiro-ministro não disse a verdade.
(...) o primeiro-ministro disse que aí (na saúde) não existiam cativações. Mas essa afirmação foi desmentida pela Conta Geral do Estado, que evidenciou cativações na saúde à volta dos 80 milhões de euros. O primeiro-ministro não disse a verdade.
(...) o primeiro-ministro acusou o governo anterior de ter deixado, com as suas políticas, que o Metro e a Carris tivessem perdido 100 milhões de passageiros entre 2011 e 2015. Mas esses números não têm qualquer sustentação, uma vez que o número de passageiros perdido foi menos de metade desse. O primeiro-ministro não disse a verdade.
(...) o primeiro-ministro disse que a revisão trimestral (do IPP) era só uma medida transitória até à introdução do combustível profissional. Mas essa tese nunca tinha sido anunciada. O primeiro-ministro não disse a verdade.
(...) o primeiro-ministro disse que o anterior primeiro-ministro todos os dias criticava os bombeiros. Mas essa acusação não encontra qualquer sustentação ou demonstração, uma vez que nenhuma declaração de Passos Coelho se encontra crítica aos bombeiros. O primeiro-ministro não disse a verdade.
(...)  o primeiro-ministro, (...) disse que (...) o secretário de Estado do Desenvolvimento Regional chegou a ser substituído. Mas o secretário de Estado (...) foi sempre o mesmo. O primeiro-ministro não disse a verdade.
(...) o primeiro-ministro negou tal acordo (com António Domingues), (...) Mas essa refutação veio a provar-se infundada, já que várias foram as manifestações do Governo nesse sentido. O primeiro-ministro não disse a verdade.
(...) o primeiro-ministro (...) acusando o governo anterior de a ter privatizado (a PT) de forma irresponsável (...)  Mas a PT não foi privatizada pelo anterior governo, que se limitou a cumprir a medida que estava no memorando de entendimento, assinado por José Sócrates, (...) O primeiro-ministro não disse a verdade.

É impossível não ver aqui um padrão.»

«Há aqui um padrão», Adolfo Mesquita Nunes no Negócios

It is always good policy to tell the truth, unless of course you are an exceptionally good liar.
Jerome K. Jerome, escritor e humorista inglês, autor de «Three Men in a Boat»

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (56) Unintended consequences (XVI)

Outras marteladas.

Em retrospectiva: têm-se multiplicado as advertências sobre os efeitos das políticas não convencionais dos bancos centrais poderem desencadear a próxima crise financeira, algo para o qual temos vindo à chamar a atenção há uns cinco anos, pelo menos desde este post de 2012 (duas semanas antes do «whatever it takes» de Draghi): «ainda não saímos de uma e já estamos a trabalhar para criar a próxima. Vai acabar mal.»

Devido às dificuldades dos seres humanos lidarem com a realidade, sobretudo com as más notícias, e com os futuros possíveis, sobretudo com os futuros indesejáveis, a tendência para o desta vez vai ser diferente é universal e praticamente inevitável. Por isso, é de supor que só depois das castanhas nos queimarem as mãos perceberemos que isso resulta de terem estado demasiado tempo ao lume.

E, no entanto, há evidências que uma das consequências indesejadas do alívio quantitativo e das taxas de juro nulas ou negativas é maior apetência dos investidores por aplicações de maior yield e necessariamente maior risco, aplicações insustentáveis a longo prazo que não seriam feitas se as taxas de juros fossem próximas do normal histórico.

Um exemplo próximo de nós: alguém acredita que, sem as poções mágicas dos bancos centrais, a Altice conseguiria financiamento para se endividar em 50 mil milhões de euros (o equivalente a 20% da dívida pantagruélica do Estado português), que lhe permitiu comprar em três anos empresas por 43 mil milhões de euros para multiplicar o volume de negócios de mil milhões para 20 mil milhões? (fonte)

É claro que não espanta que logo se começou a perceber que as taxas irão subir, surgiram as dúvidas se o passivo da Altice seria sustentável e, de seguida, a capitalização bolsista da holding Next caiu de 13 mil milhões para 8 mil milhões. O que acontecerá à Altice? Na melhor hipótese terá de se desfazer de várias das suas participações. Na pior iniciará uma espiral descendente que terminará com a sua liquidação aos pedaços.

27/11/2017

A mentira como política oficial (39) - Desservindo inequivocamente uma causa equívoca (II)

Que Puigdemont, o ex-líder do governo regional catalão, era mentiroso ficámos a saber quando lemos o manifesto (This is not just about Catalonia. This is about democracy itself) publicado no Guardian e totalmente desmentido pelo jornal El Español («Las diez mentiras de Puigdemont en 'The Guardian'»).

Entretanto, foram conhecidos os resultados das sondagens que mostram estar o Junts per Catalunya de Puigdemont em quarto lugar com apenas 13,6% de intenções de votos, claramente atrás do Ciudadanos com 25,3%, que foi o que mais cresceu. Em conclusão, os eleitores parecem não ter sido seduzidos pelo verbo do demagogo.

Se já sabíamos que era demagogo e mentiroso (numa dose substancialmente mais elevada do que a média dos políticos), ficámos agora também a saber que Puigdemont, um vibrante europeísta, é um palhaço que, após tentar vender em Bruxelas sem sucesso uma adesão separada da Catalunha, vem agora classificar a União Europeia como um «clube de países decadentes, obsolescentes, no qual poucos ordenam, ainda por cima com ligações a interesses económicos cada vez mais discutíveis». (fonte)

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (111)

Outras avarias da geringonça.

Agora que os comunistas, castigados com a perda de um terço das câmaras, começaram visivelmente a descolar do governo e a apresentar facturas mais pesadas a acrescer às facturas que a realidade também começa a cobrar, a anunciada avaria vai ficando menos anunciada e mais avaria. Que seja irreparável ainda é cedo para concluir, mas o certo é que o zingarelho a que chamamos geringonça já não é o mesmo zingarelho de há dois anos.

A semana foi marcada pela indescritível negociação das famigeradas progressões dos professores que irão inevitavelmente propagar-se a todas as corporações que capturam o Estado Sucial. O que ficou acordado entre o governo e a Fenprof receio que ninguém saiba (veja-se aqui o ponto de situação em 19 de Novembro, já completamente desactualizado).

26/11/2017

ESTADO DE SÍTIO: A Altice já percebeu como funciona...

«Foi secretário e deputado do PS e esteve sempre com José Sócrates. Aparece 173 vezes na acusação da Operação Marquês, mas não é arguido. Agora, tornou-se assessor do novo presidente executivo da PT.»  (Observador)

 A Altice já percebeu como funciona... o complexo político-empresarial socialista.

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: Hedy Lamarr, femme fatale e precursora da comunicação sem fios

Já aqui homenageei Hedy Lamarr, nascida Hedwig Eva Maria Kiesler em Viena, na sua encarnação de inventor, participando com o compositor George Antheil em 1941 no desenvolvimento da tecnologia de espectro de difusão em frequência variável, patenteada em 1942, utilizada então para impedir a interferência nazi nas comunicações militares dos aliados e hoje base tecnológica essencial no campo militar e nos telemóveis.

A pretexto do novo documentário «Bombshell: the Hedy Lamarr Story» evoco agora a diva, com seis casamentos no activo, que nos deu um dos primeiros nus e o primeiro orgasmo feminino do cinema em «Êxtase», um filme que teve honras de ser condenado pelo papa Pio XI.

Um governo à deriva (36) - Costa não é um mentiroso excepcionalmente bom

«António Costa não podia justificar a ida do Infarmed para o Porto por a “proximidade entre a agência europeia e as agências nacionais” ser “um dos critérios importantes” no concurso europeu para escolha da localização da EMA. Isto, pelo simples facto de a candidatura portuguesa nunca ter apresentado esse argumento como fator concorrencial perante as outras cidades em apreciação. Mais: na proposta que é pública, o Infarmed aparece com sede em Lisboa, para onde seria preciso os funcionários da EMA viajarem em caso de necessidade. Se havia quem tivesse a mudança do Infarmed para o Porto na cabeça — como alegam fontes do Governo — isso não permite ao primeiro-ministro dizer que a decisão foi tomada há muito tempo Primeiro, porque o Plano Estratégico da agência foi homologado há dois meses sem essa referência “estratégica”; segundo, porque a proposta entregue às instituições europeias não o previa; e terceiro porque até julho a candidata à EMA seria Lisboa, pelo que não faria sentido, nesse cenário, mandar o Infarmed para 300 quilómetros de distância.» 
Fact check do Observador

It is always good policy to tell the truth, unless of course you are an exceptionally good liar.
Jerome K. Jerome, escritor e humorista inglês, autor de «Three Men in a Boat»

Fake news: An abusive producer assaulted by Hollywood stars

Harvey Weinstein with Heidi Klum and Uma Thurman at a 2014
Golden Globes afterparty (Telegraph)
The truth is rarely pure and never simple.
Oscar Wilde

24/11/2017

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (55) O clube dos incréus reforçou-se (XVIII)

Outras marteladas e O clube dos incréus reforçou-se.

Recapitulando:

O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.

Por razões fáceis de entender, estas políticas continuam a merecer a reverência, sobretudo em países como o nosso em que o Estado vive directa e sobretudo indirectamente, pela indução de confiança nos mercados, a expensas do BCE. Proliferam assim as luminárias que vêem a União Europeia e as miríficas políticas de mutualização da dívida como o alfa e ómega da salvação sem esforço das finanças arruinadas da pátria.

As raras vozes dissonantes (temos citado algumas delas) não têm chegado para perturbar e muito menos abafar os salmos cantados pelo coro imenso dos prosélitos louvando a bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais.

Recentemente juntou-se aos incréus uma das vozes mais potentes do mundo das finanças, o JPMorgan que, pela pena de Marko Kolanovic, um dos seus chief strategists, aqui citado no Business Insider, até já baptizou a próxima crise financeira gerada pelos bancos centrais no ventre do combate à crise de 2008.

A «Great Liquidity Crisis» segundo Kolanovic, pode começar a acontecer já em 2018, dependendo da dinâmica da economia americana, dos desenvolvimentos específicos dos mercados de capitais, nomeadamente dos cinco que cita, e do ritmo a que a Fed emagrecer o seu descomunal balanço de 4 biliões de doláres, o equivalente a mais de 14 vezes a dívida portuguesa.

Fonte: ECB

É como se o oceano de dinheiro injectado pela Fed na economia americana desde 2008 e a uma escala menor (ver quadro anterior) pelo BCE nas economias da Zona Euro, desde Junho de 2012, começasse a ser aspirado. Se a isso adicionarmos o aumento das taxas de juro e os seus efeitos em investimentos com TIR que pode nem chegar para pagar os juros às novas taxas, as consequências provavelmente não serão agradáveis.

No (Im)pertinências todos os dias são sexta-feiras e todas as sextas-feiras são negras


Hoje, como todos os outros dias, encontra aqui pensamentos pertinentes e impertinentes sem preço (e com valor, esperamos).

23/11/2017

Mitos (267) - Diferenças salariais entre homens e mulheres (5)

Outros mitos: (1), (2), (3) e (4)

Como por acaso, multiplicam-se os estudos de causas pretendendo demonstrar a profunda discriminação salarial entre homens e mulheres. Na verdade, como já tive oportunidade de referir nos posts anteriores, a única coisa que esses estudos demonstram é que as mulheres ganham menos do que os homens, o é que totalmente diferente de concluir que existe discriminação salarial e muito menos profunda.

Entre a multidão de estudos cito dois recentes. O primeiro, da Eurostat (que não li) é assim apresentado pela Lusa citada pelo Negócios: «A disparidade salarial é definida como a diferença entre os vencimentos anuais entre homens e mulheres, mas quando se tem em conta as três desvantagens que estas têm que enfrentar - menor salário por hora, menos horas de trabalho em empregos pagos e taxas de emprego mais baixas - a disparidade de género chegava, em 2014, aos 26,1% em Portugal (UE 39,6%).»

Repare-se como se dá como demonstrado o que falta demonstrar. Menor salário por hora? Em relação a quê? Ao mesmo nível na mesma função? Menos horas de trabalho? Mas não é verdade que para se ganhar o mesmo com menos horas seria necessário ganhar mais por hora e aí, sim, teríamos discriminação salarial? Taxas de emprego mais baixas? O que tem isto a ver com desigualdade salarial?

O segundo estudo, de Carlos Guimarães Pinto, é baseado nos dados do outro estudo citado por Luís Aguiar-Conraria, no Observador, a que fiz referência no post anterior. As conclusões, apresentadas no jornal Eco, vão aproximadamente no mesmo sentido, confirmando significativas disparidades salariais entre sexos.

Contudo, quando se comparam os salários de homem e mulheres licenciados essas diferenças atenuam-se bastante, embora variem consideravelmente segundo a região, como se pode ver no diagrama seguinte.


Sublinhe-se que estamos a falar das mesmas habilitações e em consequência estamos a estreitar o leque de funções e de níveis profissionais, mas não estamos a falar das mesmas funções e níveis que seriam a base para uma comparação relevante para se avaliar a suposta discriminação salarial. Quanto à discrepância entre regiões, o meu palpite é que as maiores diferenças, sobretudo na AM de Lisboa, resultam da predominância relativa de postos de trabalho com maior qualificação e, consequentemente, salários mais altos e, inevitavelmente, maior desigualdade salarial, até mesmo dentro do mesmo sexo.

Em conclusão, nenhum destes estudos permite concluir que existam grandes diferenças salariais por sexo para a mesma função e nível. Pelo contrário, sugerem que essas diferenças sejam pouco significativas como em outros países europeus nos estudos que referi aqui citados. Ou, dito de outro modo, não há suporte estatístico para pôr em causa a adopção nas economias modernas do princípio para trabalho igual, salário igual.

22/11/2017

Se fosse necessário demonstrar que a criatura é um provinciano ressabiado e enfatuado, estaria demonstrado


Comentário da criatura ao facto de a maioria esmagadora do pessoal do Infarmed estar contra a mudança para o Porto ejaculada por um governo que perdeu o norte e talvez também tenha perdido o Norte e pensa recuperá-lo polindo-lhe a vaidade.

ACREDITE SE QUISER: Se a "linha da frente no grupo dos campeões" é isto, o que será a linha da rectaguarda?

«Ministra coloca Portugal “no grupo dos campeões” da inovação na administração pública» titula triunfal o semanário de reverência e cita a ministra da Modernização Administrativa que se auto-felicita: «Estamos na linha da frente no grupo dos campeões. Fazemos parte, desde segunda-feira, do 'States of Change', que é uma equipa de diferentes países de todo o mundo, da Austrália, Estados Unidos, Canadá e Portugal, com mais três países europeus, que ajuda outros países neste desígnio de inovar nos sectores públicos».

Recordemos que o «State of Change» socialista português é o mesmo Estado onde aparecem ao Exército cinco toneladas de peças de um carro de combate que ninguém tinha dado como desaparecidas e desaparecem armas e munições que talvez não tenham desaparecido e são restituídas em excesso, onde arde uma área de floresta superior a 500 mil hectares, a maior este ano em todo o mundo, onde o Estado ocupado pela geringonça é incapaz de uma resposta eficaz e deixa morrer 110 pessoas, aldraba as listas de espera do SNS, degrada a manutenção dos equipamentos e deixa morrer 5 pessoas de legionella. O campeão da inovação na administração pública é o terceiro maior caloteiro da UE28, com prazos médios de pagamento de 95 dias, tem um governo que viola os compromissos com a CE de apenas admitir um funcionário por cada dois que saem e aumenta os efectivos em mais de 5 mil em nove meses e nomeia 1.439 boys como assessores ou adjuntos, aldraba os orçamentos com cativações e reduz o investimento público que prometera aumentar.

21/11/2017

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Web Summit - as 200 mil dormidas já ninguém nos tira (3)

Uma sequelas de (1) e (2).

aqui abordei irónica e superficialmente a questão dos "intangíveis" da Web Summit na visão mirífica de Nicolau Santos. Para quem quiser olhar para esta questão com mais seriedade, recomendo este artigo de Nuno Garoupa. À laia de teaser aqui vai um excerto:

«Quando pressionados pelas tais externalidades positivas, os promotores privados e públicos da Web Summit rapidamente rejeitam o economicismo dos números e optam pela conversa dos imensos ganhos intangíveis. Curiosamente, os tangíveis não se medem quantitativamente, mas os intangíveis são uma realidade qualitativa inapelável que supostamente deveria calar o "bota-abaixismo". O problema dos intangíveis é que Portugal já não consegue viver com tanta fartura - os intangíveis da Expo98, do Euro 2004, das capitais da cultura, da economia do mar, das autoestradas, dos choques tecnológicos, da paixão pela educação são de tal forma avassaladores, que o Orçamento do Estado, coitado, tem dificuldade em lidar com eles.»

O amor da esquerda bem-pensante pelos utentes da vaca marsupial pública

Num artigo com o expressivo título «O amor da direita radical pelos trabalhadores do sector privado», Pacheco Pereira dá mais um pulo para o colo da geringonça, retribuindo as honras que lhe foram conferidas como compagnon de route do PS e porta-voz do costismo a quem disponibilizou tempo de antena, assistindo-o a fazer a cama a Seguro e a ascender à liderança do PS. E não, não estou a insinuar que Pacheco se vendeu pelo prato de lentilhas de uma tença na Fundação Serralves porque ele não aceitou ser pago em dinheiro. Pacheco Pereira não se vende por dinheiro. Pacheco Pereira move-se pelos seus ressabiamentos e deixa-se seduzir pela imensa vaidade do seu dilatado ego e, ao sabor dos ventos e dos protagonistas políticos, mostra uma notável volatilidade doutrinal que o tem levado do maoísmo, ao cavaquismo, ao soarismo, ao costismo e recentemente a apoiar Rui Rio na reconstrução do verdadeiro PS-D , com uma deriva liberal ocasional na passagem do século.

É mais um que substituiu a classe operária e o campesinato pelo funcionalismo público. Porém, não sendo de todo burro, ao contrário dos patetas convertidos, Pacheco deixa sempre as portas abertas para outras derivas, reservando-se o direito a «escrever um artigo usando uma argumentação ao contrário desta e com outros alvos».

20/11/2017

Presunção de inocência ou presunção de culpa? (30) - O julgamento de Sócrates por uma autoridade na matéria

«Estou convencido que José Sócrates não fez 90% das coisas que dizem que ele fez. É uma convicção pessoal. Agora, há forças, interesses, áreas de poder, pessoas, grupos que estão contra ele. E, difundida esta imagem, sendo esta imagem assumida publicamente, nunca mais se consegue libertar. José Sócrates está metido numa alhada de que não se consegue livrar. E das duas uma: ou é culpado, ou não é culpado. É muito difícil sobreviver nesta situação.»

Murteira Nabo, em entrevista ao Público

Murteira Nabo é uma das figuras de cera do regime: foi vereador da CM Lisboa pelo PS, secretário de Estado de Soares, secretário-adjunto e encarregado do governo em Macau, ministro de Guterres durante uns dias, até aproveitar um deslize na sisa e pular para presidente da PT onde ficou durante 8 anos, administrador do BES, administrador Seng Heng Bank de Macau, bastonário da Ordem dos Economistas, entre outras coisas

Com a autoridade que lhe proporciona esse longo currículo e certamente depois de ter estudado minuciosamente as 4.000-páginas-4.000 do processo de José Sócrates, Murteira Nabo dá o seu veredicto que diz tanto sobre Sócrates, como sobre o próprio Nabo e o regime em que ambos prosperaram.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (110)

Outras avarias da geringonça.

Quando o governo se vangloria dos «maiores crescimentos deste século», para quem quisesse ver, já era claro: primeiro, a comparação é feita com um período em que o PIB desceu em 5 dos 17 anos e nos restantes as taxas de crescimento foram sempre inferiores a 2% com uma única excepção (2007); segundo, esses crescimentos são medíocres quando comparados com os actuais da EU28 e em particular com países níveis de desenvolvimento comparáveis, por exemplo com os países do leste que estão a crescer ao redor dos 4% ou mesmo acima dos 5% ; terceiro, os crescimentos actuais resultam de uma dinâmica externa (exportações e turismo) alheia às medidas do governo; quarto, se alguma coisa resultou as políticas de reversão das reformas do governo PSD-CDS foi o aumento dos salários dos funcionários públicos e o incentivo ao aumento da importações.

19/11/2017

CASE STUDY: Os "ricos" ou o futuro, a escolha socialista

O governo romeno do partido social-democrata (na verdade um partido socialista com a sigla PSD, integrando o Partido Socialista Europeu), para conseguir reduzir os impostos, aumentar os salários funcionários públicos e manter o investimento público sem violar o limite de 3% do défice, optou por reduzir de 5,1% para 3,75% a sua contribuição para os fundos de pensões privados do 2.º pilar, um pilar complementar da segurança social pública. Esta redução da contribuição do Estado estima-se que reduzirá em 20% as pensões futuras de 7 milhões de trabalhadores romenos.

Os fundos privados do 2.º pilar dispõem de activos de 10 mil milhões de euros e entre 2008 e 2016 tiveram rentabilidades anualizadas líquidas de 5,3%. Antes de reduzir a contribuição do Estado o governo tentou tornar opcional a contribuição individual para estes fundos o que levaria muitos dos contribuintes e o Estado a deixarem de descontar. (fonte FT)

Moral da história: para manterem as clientelas felizes, se podem aumentar a carga fiscal da classe média, a que chamam os "ricos", os partidos socialistas fazem-no sem hesitações, umas vezes recorrendo aos impostos directos (como tentou o PS francês de Hollande) outras aos indirectos (como o PS português); se não podem aumentar a carga fiscal, chutam para o futuro as facturas de felicidade presente das clientelas.

18/11/2017

Estado assistencialista falhado (17) - Uma espécie de vaca marsupial pública

João Abel Manta
Para se ter uma ideia do falhanço do Estado montado pelos colectivistas de todas as tendências, incluindo desde os comunistas durante o PREC e agora na geringonça em parceria com bloquistas, socialistas do PS e até aos do PS-D,  é suficiente ouvir este discurso de Centeno no parlamento sobre as «carreiras» e as «progressões» - onde o mérito não tem lugar - dos professores e dos restantes utentes da vaca marsupial pública para se perceber como a geringonça governa para a sua clientela eleitoral e que nessa clientela os funcionários públicos constituem a corporação principal que capturou o Estado extorsionário dos sujeitos passivos, no sentido fiscal e no sentido comum. É um Estado que representa a evolução natural do Estado Novo corporativista criado pelo salazarismo.

17/11/2017

Nem só o Estado é amigo do empreendedor (10) - A maldição do jornalismo promocional, outra vez?

Como se poderá confirmar em outros posts desta série, o jornalismo promocional - uma variedade do jornalismo de causas - está frequentemente associado a uma maldição que leva as empresas promovidas a passar pelas maiores trapalhadas e no limite algumas delas a desaparecerem.

Espero que não seja o caso da Farfetch, uma plataforma de venda de artigos de luxo, o único unicórnio português - unicórnio segundo o jargão startápico é uma empresa tecnológica que foi avaliada em mais de mil milhões de dólares.

Mas receio que seja, porque desde 2007 até hoje, a Farfetch só perdeu dinheiro num total de quase 100 milhões de euros, dos quais 38 milhões só no ano passado, prejuízos que lhe comeram os capitais próprios negativos em quase 80 milhões de euros. É claro que existem a Amazon (desde a fundação), o Facebook (nos primeiros anos), a Tesla e várias outras empresas que perderam ou ainda perdem imenso dinheiro, crescem desalmadamente e estão cotadas em bolsa por dezenas ou centenas de vezes o seu valor contabilístico. Só que são todas elas empresas que criaram produtos ou serviços disruptivos o que não parece ser o caso da Farfetch. Pode ser que seja um unicórnio, mas até ver não apostaria neste cavalo.

Porém, a maior dúvida sobre o futuro radioso da Farfetch é a intensa paixão que está a provocar nos meios do jornalismo promocional, com destaque para o semanário de reverência que já tem um longo currículo de promoções falhadas.

DIÁRIO DE BORDO: E o Assange? E o Bill?

A lista de acusados de assédio sexual cresce todos dias. O último de que tenho conhecimento é o senador Al Franken que segundo o NYT foi acusado de beijar e apalpar uma apresentadora há 11 anos.

Desta vez é um senador democrata, haja Deus! O que me leva a completar a pergunta e o Assange? ainda falta muito? com e o Bill? Tudo porque Henrique Raposo, um rapaz sensível que também repudia a doutrina Somoza, se perguntava «já podemos destituir Bill Clinton?», recordando o vasto currículo do ex-presidente americano que culminou com o caso Monica Lewinsky, encerrado com a complacência das feministas democratas com um «I did not have sexual relations with that woman», dito com a argúcia de um advogado no distinguo entre coitus e fellatio e a linguagem corporal de um mentiroso consumado.

16/11/2017

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O fingimento como forma de governar

«O segredo da actual solução de governo sempre consistiu num jogo de sombras políticas: o governo finge que dá mais do que efectivamente dá, e os partidos que o apoiam fingem que recebem mais do que efectivamente recebem. Este jogo infantil faz feliz a União Europeia, na medida em que o país lá vai cumprindo as metas sem chatear muito – e com o patrocínio, imagine-se, da extrema-esquerda –; faz feliz PS, Bloco e PCP, pois permite-lhes encherem a boca com o sucesso das reversões e com o esgarçado “virar da página de austeridade”; e faz felizes milhões de portugueses, estranhamente disponíveis para serem enganados. Contudo, há alturas em que o choque entre o simulacro de realidade e a própria realidade é inevitável, produzindo momentos absolutamente caricatos.

(...)

Neste jogo de sombras todos se mexem, todos dizem coisas, todos parecem desempenhar os seus papéis, mas ao fim do dia só sobra uma tremenda opacidade, porque ninguém fala claro. Não se percebe o que é que Mário Nogueira festejou, não se percebe o que é que o governo prometeu, e não se percebe o que é que os professores ganharam. O governo inventou ontem o descongelamento de carreiras sem impacto no Orçamento de Estado. O que é isso? Nenhuma ideia. Mas, por favor, palmas para os grandes artistas.»

Excerto de «Descongela e põe no frigorífico», João Miguel Tavares no Público

Mitos (266) - Diferenças salariais entre homens e mulheres (4)

Outros mitos: (1), (2) e (3)

Os pergaminhos académicos não impedem que se caia nas mesmas falácias de sempre, neste tema contaminado pela ideologia. É o caso do artigo «Coladas ao chão com um tecto de vidro» de Luís Aguiar-Conraria, no Observador, onde em substância se conclui, com base numa amostra de 640 mil trabalhadores, que «a desigualdade salarial média em Portugal anda na casa dos 20%. Por um lado, menos mulheres acedem a profissões bem pagas; por outro, mesmo dentro da mesma profissão, as mulheres têm salários menores.»

Ora, uma vez mais, a desigualdade de que trata Conraria não pode ser a desigualdade para trabalho igual, ou seja para a mesma função ou posto de trabalho. Se fosse, estaríamos perante situações ilegais em milhares de empresas. É uma desigualdade perante a "profissão" e o problema está no que é uma "profissão".

Usando uma pitada de reductio ad absurdum, se entendermos, por exemplo, que "funcionário público" é uma "profissão" teremos de concluir que as mulheres são melhor pagas nesta "profissão", como aqui já referi. A explicação é simples: as mulheres estão em larga maioria nos professores que têm salários mais altos do que a maioria dos funcionários públicos, o que explica ser o salário médio das mulheres funcionárias públicas mais elevado do que o dos homens.

Vejamos as conclusões mostradas no diagrama seguinte de um outro estudo, já citado aqui, baseado no que respeita à Grã-Bretanha numa amostra de 8,7 milhões de trabalhadores - uma dimensão 14 vezes superior à de Conraria.

Economist
Também nos 3 países citados existe uma desigualdade acentuada entre os salários de homens e mulheres quando se observa a totalidade da amostra, desigualdade que se reduz a quase nada quando se comparam os salários para o mesmo posto de trabalho, empresa e função.

Suspeito que se Conraria definisse com rigor os conceitos e se, um SE com maiúsculas, tivesse acesso a dados com o detalhe necessário e os trabalhasse com metodologias adequadas, chegaria a conclusões comparáveis. Ou seja a conclusão de que nas economias modernas se pratica o princípio de a trabalho igual, salário igual.

Repetindo-me, o que é desigual é o acesso a certas profissões ou funções, consequência de mais de uma centena de milhar de anos de divisão do trabalho por sexos. Divisão de trabalho que a evolução tecnológica está a tornar cada vez mais obsoleta e que acabará por desaparecer, mesmo sem a engenharia social baseada em ejaculações legislativas. Aliás, suspeito que essa engenharia social em duas ou três gerações terá de trocar a discriminação positiva das mulheres pela discriminação positiva dos homens que precisarão dela para compensar a confusão nas suas mentes resultante do conflito entre as suas hormonas e os comportamentos feminizantes induzidos e de uma escola cada vez mais formatada para ensinar o sexo feminino.

Sugestão de leitura para quem queira aprofundar o tema deste tipo de falácias: «Male-Female Facts and Fallacies», um capítulo de Economic Facts and Fallacies, de Thomas Sowell.

15/11/2017

Dúvidas (210) - Como conseguem eles crescer assim sem Costa?

Depois do crescimento de 3% no 2.º trimestre, que tem tanto a ver com as medidas do governo da geringonça como os incêndios de Pedrógão, o 3.º trimestre registou um crescimento de "apenas" 2,5%, o que tem tanto a ver com o governo como o incêndio do Pinhal de Leiria. Ou, para ser exacto, talvez tenha a ver um pouco mais. Afinal a desaceralação no 3.º trimestre deve-se a um crescimento das importações superior aos das exportações e ao aumento do consumo em detrimento do investimento e isto, sim, tem a ver com as políticas e os incentivos da geringonça.

Ainda assim 2,5% é um excelente crescimento. Ou não? Depende. Nem por isso, se o compararmos com os 3,7% da Hungria, os 4,2% da Polónia, os 4,3% da República Checa e os 5,7% da Roménia, nem por acaso todos eles países comunistas até à década de 90.


Fonte: The Economist Espresso

De onde, apetece-me concluir, 43 anos em que a esquerda, numa das suas diversas encarnações, governou dois terços do tempo, é uma herança mais pesada do que um período equivalente de regime soviético na Europa de Leste.

14/11/2017

Exemplos do costume (53) - Dá sempre jeito ter uma negaça de reserva

Tancos, colapso da Protecção Civil administrada pelos boys amigos de Costa na resposta aos incêndios (110 mortos), SIRESP contratado por Costa, SNS a colapsar, trafulhice nas filas de espera das cirurgias, legionella (5 mortos), cativações e engenharia orçamental, geringonça a desequilibrar-se só com duas pernas, greves, comunistas a acabarem a «paz social», comédia do Panteão Nacional...

Que tal se desenterrar o caso Tecnoforma? Dezenas de referências nos mídia nos últimos 7 dias.

ne·ga·ça 
(espanhol añagaza)
substantivo feminino
1. [Ornitologia Ave artificial que atrai as que andam voando. = CHAMARIZRECLAMO
2. [Figurado]  O que serve para atrair ou chamar a atenção. = ATRACTIVOCHAMARIZENGODO
3. Artifício para atrair com engano. = LOGRO
4. Negação ou recusa.

"negaça", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha]

CASE STUDY: Sant'Isaltino, o autarca milagreiro

Depois de uma ausência de 6 anos, durante os quais foi julgado, condenado e esteve preso quase 2 anos por corrupção passiva, fraude fiscal, branqueamento de capitais e abuso de poder, Isaltino Morais voltou à presidência da câmara de Oeiras. Ganhou as eleições de 1 de Outubro com maioria absoluta, derrotando a lista do anterior presidente Paulo Vistas, o seu vice durante dois mandatos, a quem acusou de ter manipulado um juiz para invalidar a sua candidatura.

Gradualmente e sobretudo nos últimos meses foi visível a degradação dos serviços camarários que pioraram até ao dia das eleições. Como indícios mais visíveis, raramente se via nas ruas de Oeiras o pessoal de limpeza e o lixo acumulava-se frequentemente nos pontos de recolha.

Pois bem, como que por milagre, nos dias imediatos à eleição e ainda antes da tomada de posse em 21 de Outubro, começaram a aparecer resmas do desaparecido pessoal da limpeza, com uniformes renovados, e o lixo recomeçou a ser recolhido regularmente sem falhas.

Além do milagre de Sant'Isaltino, é claro que existem outras explicações mais racionais para este fenómeno prodigioso, mas não vou entrar do domínio das teorias da conspiração.

DIÁRIO DE BORDO: E o Assange? Ainda falta muito?

Harvey Weinstein, Terry Richardson, Kevin Spacey, Dustin Hoffman, James Franco, Ben Affleck, Louis C.K e muitos outros (ver aqui uma lista de 40 nomes) foram acusados de assédio sexual anos depois, nalguns casos décadas depois dos actos.

Todos os dias são acrescentados novos nomes. Procuro o de Julian Assange, desde há seis anos com um pedido de extradição da Suécia - uma democracia falhada - por estupro e abuso sexual, e desde 2012 "refugiado" na embaixada em Londres do Equador - aquele país modelo de democracia. Em vão, até agora.

Actualização:
«Mensagens privadas trocadas através do Twitter revelam que o Wikileaks pediu ao filho do actual Presidente dos EUA para sugerir Julian Assange para o cargo de embaixador australiano em Washington» (Público). Vamos ver se com isto adicionam o Julian à lista dos mal-comportados.

13/11/2017

Pro memoria (366) - José Sócrates tinha razão

Continuação desta indignidade.


«O Costa não tem 'tomates' (...) ele é um merdas», José Sócrates, que foi chefe de Costa durante vários anos, gravado durante as escutas da Operação Marquês.

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (109)

Outras avarias da geringonça.

Os episódios da Web Summit mostram um Costa no seu melhor: a apropriar-se de tudo o que lhe parece sucesso, ainda que pouco ou nada tenha a ver com ele, e a passar culpas para o governo de Passos Coelho de tudo o que corre mal e lhe seja imputável. Usando as suas palavras sobre o jantar no Panteão Nacional, que poderia ter evitado e não evitou, a sua atitude é absolutamente indigna.

Outro exemplo glorificado pelo governo que pouco tem a ver com ele é a eleição para o conselho executivo da UNESCO. O comunicado do MNE salienta o facto de Portugal ter estado nesse conselho pela última vez entre 2005 e 2009 durante o governo Sócrates e voltar agora devido ao reconhecimento internacional - estamos a falar de um conselho com 58 dos 193 países membros da ONU o que só por via da aritmética levará cada membro da ONU a passar por lá regularmente.

12/11/2017

Pro memoria (365) - Absolutamente indigno e ofensivo é Costa ter «revertido» todas as medidas do governo anterior...

«António Costa diz que jantar da Web Summit no Panteão Nacional é “absolutamente indigno” e “ofensivo”

(...) e Ministério da Cultura diz que "estranhou" o evento. Ambos culpam lei do governo anterior, mas tiveram dois anos para alterá-la.» (Observador)

... e não ter revertido o que agora considerou «absolutamente indigno» e «ofensivo», ao mesmo tempo que se empenachou com o glamour do evento.

«Paddy, dá cá um abraço, espero que gostes de jantar
ao lado do Garrett, do Delgado e da Amália»
Esta gente não tem emenda, o que me lembra Eça de Queiroz:
«Esta gente não tem que cair, porque não é um edifício; tem que sair com benzina porque é uma nódoa»

Actualização:

«Já houve dez jantares no Corpo Central do Panteão Nacional. O evento final da Web Summit foi o terceiro evento organizado este ano no Panteão.»

«Turismo de Lisboa organizou jantar no Panteão quando Costa era presidente da câmara»

11/11/2017

CONDIÇÃO FEMININA / CONDIÇÃO MASCULINA: Os estereótipos são todos iguais, mas há uns melhores do que outros (2)

Continuação daqui.


O engenheiro de software James Damore trabalhava para a Google antes de resolver escrever um memo de 10 páginas onde tentou mostrar a diversidade biológica entre homens e mulheres, como ele próprio resume no vídeo acima.

A Google despediu Damore e Sundar Pichai, o CEO da Google, explicou que foi por «promover estereótipos prejudiciais de género no nosso local de trabalho». O que escreveu Pichai não é menos preconceituoso ao considerar que os estereótipos da Google são indiscutíveis, ao contrário dos pontos de vista de Damore que são estereótipos.

ARTIGO DEFUNTO: Escreveu a primeira coisa de jeito em anos e... arrependeu-se

O ano passado e há dias escrevi que acho excelente termos umas dezenas de milhar de forasteiros, com um razoável poder de compra, durante quatro dias em Lisboa a lotarem os hotéis, os restaurantes e os bares e a gastarem umas dezenas de milhões de euros. Já quanto aos pensamentos milagrosos que atribuem ao evento virtualidades para transformar o Portugal dos Pequeninos numa pátria de startups e num Silicon Valley manifestei as maiores reservas.

Socorri-me de um dos jornalistas-comentadores mais propenso aos pensamentos milagrosos que constatou com grande desgosto não ter encontrado nenhuma startup com sucesso que tivesse nascido do parto do ano passado e que a Web Summit não atraiu novas ideias nem investidores para startups portuguesas. Deve ter sido o pensamento mais sensato e realista que a criatura produziu durante a sua já longa carreira.

Pois, foi sol de pouca dura. Reparei agora que, poucos dias depois, Nicolau Santos se desdisse, talvez chamado à pedra pelos polícias do pensamento oficial - especulo eu -, atribuindo o que escreveu antes a ter sido vítima da sua impaciência - eu diria que sucumbiu ao realismo, o que para a criatura deve ser uma espécie de bacilo de Koch.

Para se desdizer cita vários sucessos de startups portuguesas desde a Farfetch e a Feedzai até à Critical Software, a Ciscog e a Outsystems cujo sucesso nada tem a ver com a Web Summit, aliás as 3 últimas são até anteriores à primeira Dublin Web Summit em 2009. Maravilha-se pelo facto de na Irlanda irem lá 25 startups portuguesas e em Lisboa estarem 250 - se contasse as startups irlandesas era capaz de chegar a números comparáveis. Resta o quê? Resta essencialmente o impacto no turismo, na hotelaria e na restauração que o bom do Nicolau estima em 200 milhões, o que para 60 mil pessoas a ficarem 4 dias dá uma média superior a 800 euros por pessoa/dia o que mostra que o nosso pastorinho da economia dos amanhãs que cantam voltou a usar na sua estimativa o multiplicador keynesiano, como já tinha feito com as autoestradas.

Para um retrato realista do impacto da Web Summit nas meninges dos investidores, recomendo a leitura do artigo do DN - estranhamento tresmalhado do pensamento oficial - com um título que é um bom resumo «Investidores há, não chegam é a abrir a mala do dinheiro».

10/11/2017

Pro memoria (364) - Costa dos Afectos

Palavras para quê? É um artista português.

«O primeiro-ministro tem emoções, afinal. Mas tem apenas uma, a euforia em face de uma websummit. O que o homem suava de contente. Only human, after all.» escreve a Pluma Caprichosa, que, apesar de se ter disposto a limpar a folha do ex-primeiro-ministro (*), que está na primeira foto numa cena ternurenta com o actual, só agora se apercebeu do Costa dos Afectos cuidadosamente escondido dos olhares profanos.

(*) Já reconheceu que foi uma asneira e que o fez a pedido de Mário Soares.

DIÁRIO DE BORDO: Enough is enough!

Há quinze anos duas comediantes que formavam um duo tiveram a oportunidade de participar num festival de comédia. Depois do espectáculo os bares já estavam fechados e foram convidadas por uma celebridade do mundo da comédia para beberem um copo no seu quarto do hotel. Aceitaram. Quando chegaram ao quarto Louis C.K., um conhecido comediante americano, perguntou-lhe se podia tirar o pénis das calças. Elas, duas mulheres adultas e com experiência de vida, riram, acharam piada e ficaram. Louis C.K de seguida despiu-se a masturbou-se em frente delas.

Quinze anos depois, aproveitando o tsunami mediático do caso Weinstein, Louis C.K., que é reconhecido como um promotor da carreira de mulheres, é acusado publicamente por aquelas duas artistas e várias outras de masturbar-se na sua presença, com o seu consentimento, note-se. (fonte NYT)

Debato-me com o dilema de não saber se é mais patético o ridículo a que se expôs Louis C.K. ao ficar a sacudir o pénis à frente de duas marmanjas se a falta de decência dessas marmanjas ao viram quinze anos depois relatar o espectáculo a que consciente e voluntariamente assistiram.

Já foi atravessada a fronteira da insanidade.

09/11/2017

ACREDITE SE QUISER: Há males que vêm por bem. O ministro que dá contentamento à NATO

Já sabíamos que o ministro da Defesa não sabe se alguém entrou em Tancos e no limite, pode não ter havido furto.

Ficámos agora a saber que «as avaliações pedidas pelo ministro da Defesa à segurança das instalações militares recomendam o aperfeiçoamento da formação e treino do pessoal dedicado à guarda do material militar, partilha de informação e normas comuns aos ramos. Essas avaliações foram pedidas na sequência do (alegado) assalto aos Paióis Nacionais de Tancos, em junho, que resultaram no desaparecimento de granadas, explosivos e outro armamento. Esta semana, o ministro admitiu que possa nunca ter havido um furto.»

«Estou a ver o contentamento de Jens Stoltenberg»
E como se isso não fosse o suficiente, o ministro da Defesa revelou após a reunião da NATO em Bruxelas que «é sempre agradável verificar, ainda há pouco, no fim da reunião, o secretário-geral veio falar comigo e especificamente dizer do contentamento dele por algo que não é muito comum, que é justamente, perante um roubo ou um furto grave de material militar, ter sido possível recuperá-lo».

Este é o ministro da Defesa perfeito para um exército que tem um CEMA que classifica com uma «ligeira discrepância perfeitamente compreensível» ter si encontrado mais material do que o roubado em Tancos.

08/11/2017

Ilusionismo orçamental

Excerto de «Os 5 puxões de orelhas de Teodora a Centeno» no Expresso
Se eles o dizem...

07/11/2017

A mentira como política oficial (38) - Desservindo inequivocamente uma causa equívoca

O jornal inglês de esquerda The Guardian publicou uma espécie de manifesto (This is not just about Catalonia. This is about democracy itself) de Carles Puigdemont, o presidente do governo regional catalão, uma peça manipulatória e recheada de mentiras e meias-verdades.

Um marciano que tivesse acaba de aterrar ao ler o artigo imaginaria que Puigdemont, agora fugido para Bruxelas, seria o líder de um movimento de libertação e a Catalunha uma longínqua colónia povoada por indígenas oprimidos e explorados pelo despotismo de uma potência colonial.

Vale a pena ler a desmontagem de «Las diez mentiras de Puigdemont en 'The Guardian'» do jornal El Español.

7 de Novembro, a efeméride do golpe de estado de Vladimir Ilyich, o bacilo bolchevique do Kaiser que abriu a porta ao fürher Adolf

O assalto ao Palácio de Inverno

«Lenin initially thought it was “a hoax.” He was lucky that Germany inserted him like a bacillus (via the so-called sealed train) to take Russia out of the war. Back in Petrograd, Lenin, aided by fellow-radicals Trotsky and Stalin, had to overpower erring Bolshevik comrades, who proposed cooperation with the provisional government, and force them to agree to his plan for a coup. The government should have found and killed him but it failed to do so. He succeeded.

(...)

Without Lenin there would have been no Hitler. Hitler owed much of his rise to the support of conservative elites who feared a Bolshevik revolution on German soil and who believed that he alone could defeat Marxism. And the rest of his radical program was likewise justified by the threat of Leninist revolution. His anti-Semitism, his anti-Slavic plan for Lebensraum and above all the invasion of the Soviet Union in 1941 were supported by the elites and the people because of the fear of what the Nazis called “Judeo-Bolshevism.”

Without the Russian Revolution of 1917, Hitler would likely have ended up painting postcards in one of the same flophouses where he started. No Lenin, no Hitler — and the 20th century becomes unimaginable. Indeed, the very geography of our imagination becomes unimaginable

«What If the Russian Revolution Had Never Happened?», Simon Sebag Montefiore, um conhecedor da revolução bolchevique, no NYT

06/11/2017

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (108)

Outras avarias da geringonça.

A peça de teatro burlesco do alegado roubo de armas e munições em Tancos, que segundo o palhaço de serviço no MD até pode não ter acontecido, em exibição nos mídia há cinco meses, teve um novo acto: foi encontrado mais material do que o perdido, facto que para o CEMA é uma «ligeira discrepância perfeitamente compreensível». Perfeitamente compreensível é um exército assim, tipo república das bananas, ser de ligeira utilidade para a defesa da soberania nacional.

O burlesco não se esgota em Tancos e também passou no Congresso dos Bombeiros onde o primeiro-ministro ouviu o cacique presidente da Liga dos Bombeiros ameaçá-lo com um «nunca nos queira ver nas ruas por outras razões, mas não temos medo de o fazer» ao que, metendo o rabinho entre as pernas, Costa respondeu com votos de «que reforçaremos a nossa amizade».

05/11/2017

ACREDITE SE QUISER: Orçamento à medida

Trilema de Žižek

«Já escrevi várias vezes como Sousa Franco me confidenciou que ia ter com Guterres para escolher qual o melhor cenário macroeconómico. O primeiro-ministro escolhia a taxa de crescimento, inflação e desemprego e o ministro das Finanças fazia um orçamento à medida.»

João Vieira Pereira no Caderno de Economia do Expresso

Se Guterres e Sousa Franco eram considerados dois socialistas honestos (atenção ao trilema de Žižek), como será com Costa e o Ronaldo das Finanças?

Mitos (265) - Diferenças salariais entre homens e mulheres (3)

O tema da desigualdade sexual de salários é mais um tema de recurso para grudar as peças soltas da geringonça, uma vez que tem tudo para ser consensual entre as esquerdas - na verdade também entre as direitas. Quem é que não concorda com o princípio a trabalho igual, salários igual?

Uma vez mais, agora que a geringonça está em risco de se desconjuntar, depois da derrota histórica dos comunistas nas autárquicas que os levou a questionar-se sobre a utilidade de trazerem Costa ao colo, o tema voltou à baila e desta vez sob a forma de uma proposta de lei aprovada pelo governo na quinta-feira passada para apresentar no parlamento, com vista a promover a igualdade salarial de homens e mulheres.

E, no entanto, talvez por tanto consenso, o tema é o lugar geométrico das falácias. Sem me querer repetir, a desigualdade salarial entre sexos para o mesmo trabalho é praticamente inexistente em quase todo o mundo. Está demonstradíssimo que as mulheres recebem o mesmo que os homens quando fazem a mesma coisa durante o mesmo tempo. Aliás, se tivessem salário diferente para o mesmo trabalho será até ilegal na maior parte dos países. O que acontece é que frequentemente não fazem as mesmas coisas e em média trabalham menos horas porque recorrem mais frequentemente ao regime em tempo parcial. Porquê isso? Em muitos casos, resulta simplesmente da divisão tradicional de trabalho nas famílias, em que as mulheres ocupam uma parte significativa do seu tempo em trabalhos domésticos.

Faço um parêntesis para responder por antecipação às feministas que criticam essa divisão tradicional por considerarem inferior o papel das mulheres, recordando que na maioria dos casos o grau de complexidade e de responsabilidade do trabalho que as mulheres fazem em casa é maior do que o trabalho que muitos dos homens fazem nos seus empregos. Que o feminismo militante não consiga ver isso é, a meu ver, uma grande vitória do colonialismo machista que lhes enfiou no bestunto ideias sobre a suposta superioridade das ocupações masculinas desmentidas pela simples observação da realidade.

Já agora, para confundir as mentes esquerdizantes, permito-me chamar a atenção para o facto, cuidadosamente ignorado pelos militantes da igualdade salarial, de «as mulheres empregadas na administração pública portuguesa recebem, em média, salários superiores aos dos homens». E porquê? perguntarão. Ora porque as mulheres «têm melhores qualificações, que exigem, naturalmente, remunerações superiores». (fonte via)

04/11/2017

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Web Summit - as 200 mil dormidas já ninguém nos tira (2)

Na primeira edição do evento escrevi aqui: a mim parece-me excelente termos 50 mil forasteiros, com um razoável poder de compra, durante quatro dias em Lisboa a lotarem os hotéis, os restaurantes e os bares e a gastarem umas dezenas de milhões de euros (a estória das centenas de milhões é mais do foro da ficção) que tanta falta nos fazem para pagar as dívidas. O que tenho dificuldade em acompanhar são os delírios antecedentes e subsequentes.

Quanto às consequências do evento na transformação deste jardim à beira-mar numa espécie de pátria de startups e de Silicon Valley manifestei as maiores reservas. Um vale do silicone talvez.

Pois bem, agora é oficial. Nicolau Santos, o nosso pastorinho favorito dos amanhãs que cantam, já emitiu o seu veredicto. Ora lede:

«Depois da Web Summit de 2016 não houve un1a startup portuguesa que surgisse e se tornasse uma estrela no mundo das tecnologias de informação. E o ano de 2017, "será dos mais fracos dos últimos anos, porque não têm existido transações relevantes em Portugal este ano, com exceção da Série A da Codacy [€5 milhões] e da Série B da Feedzai [cerca de 50 milhões de dólares]", diz Stephan Morais, ex-administrador da Caixa Capital (capital de risco da CGD), num trabalho do meu colega João Ramos que publicamos amanhã no caderno de economia do Expresso. E conclui: "Duas transações não fazem um ecossistema."

Por outras palavras, a Web Summit não só não dinamizou a aposta nas empresas tecnológicas portuguesas, como não conseguiu atrair nem novas ideias nem investidores estrangeiros para startups portuguesas. Aliás, a falta de investin1ento português privado é o grande calcanhar de Aquiles do modelo de financiamento deste tipo de en1presas, muitas das quais correm o risco de morrer precisamente porque não conseguem obter os fundos suficientes para dar um salto em frente, internacionalizando-se e atacando os mercados externos.»

Ora, se ele, que foi capaz de acreditar no vigarista Artur Baptista da Silva, não acredita na miraculosa visão que no nosso jornalismo promocional nos quer implantar no nosso cérebro reptiliano, então podemos tomar como certo que a Web Summit, sendo boa para a hotelaria, a restauração e o alojamento, é igual ao litro para o resto.

Que alívio!

Uma comunicação de um grupo de biólogos na revista Proceedings of the National Academy of Sciences avançou uma explicação evolucionista para o envelhecimento celular, concluindo que envelhecer é uma fatalidade incontornável. Eis a explicação dada por quem sabe:
«Given that natural selection’s pressure is reduced after humans have procreated, it seems less likely to operate on the genetic underpinnings of all that joint-creaking and skin-wrinkling. But the researchers showed mathematically that, even if natural selection against such traits were perfect, cellular competition would still cause problems associated with ageing. If a cell acted only to maximise its utility to the whole organism, it would eventually lose out to more individually competitive cells. If instead it maximised its own vigour, out-competing surrounding cells useful to the wider organism, that is pretty much the definition of cancer.»
Más notícias para os muitos Peter Pan que procuram o elixir da eterna juventude e ainda arriscam a ganhar um carcinoma. Crescei e ganhai juízo.

Boas notícias para a humanidade em geral que não tem de aturar por 969 anos Trotsky, Lenine, Mussolini, Hitler, Estaline, Mao, Chavéz, Castro e outros da mesma extracção.

03/11/2017

ARTIGO DEFUNTO: Delito de opinião é escrever falsidades para justificar causas

«Puigdemont continua em Bruxelas e o que fará de seguida continua a ser uma incógnita. Espanha está com um problema terrível e uma questão começa a colocar-se. Os governantes presos são meros delinquentes, ou a sua prisão decorre de um delito de opinião? E isso é aceitável na União Europeia?» escreveu o jornalista de causas independentistas Valdemar Cruz na newsletter do semanário de reverência.

Delito de opinião? Que se saiba ninguém foi acusado por ser favorável à independência. Os membros do governo regional catalão são acusados por organizarem um referendo inconstitucional e por declarem a independência de uma região da Espanha, um Estado unitário segundo a constituição referendada por todos os espanhóis, incluindo os catalães.

Que os jornalistas tenham opiniões é inevitável e que tenham causas é perfeitamente aceitável. Que os jornalistas usem a sua profissão que lhes dá acesso à manipulação das meninges para as manipularem as meninges dos seus leitores é completamente inaceitável, sobretudo quando aviam as suas causas embrulhadas em «notícias». 

02/11/2017

ACREDITE SE QUISER: Portugal à frente dos Estados Unidos nas queixas

«No que se refere ao 'bullying', entre 31% e 40% dos adolescentes portugueses com idades entre os 11 os 15 anos disseram terem sido intimidados na escola uma vez em menos de dois meses. (...)

O país teve mais queixas do que os Estados Unidos, onde aconteceram três quartos dos tiroteios em escolas registados no mundo nos últimos 25 anos.» (Fonte)

De passagem, recorde-se que Portugal tem cerca de 1,4 milhões de alunos nos ensinos básico e secundário e o Estados Unidos têm 50,7 milhões, isto é 36 vezes mais. De onde temos de concluir que ou bem os estudantes portugueses são muito violentos ou as estudantes portugueses são muito queixinhas.

01/11/2017

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: Para tirar os trapinhos qualquer causa é boa (23)

Outros trapinhos tirados.

Desta vez calhou a Polanski (fonte)
Desde há mais de quarenta anos, o realizado polaco naturalizado americano Roman Polanski cometeu vários crimes de pedofilia, alguns deles confessados. Fui acusado e condenado nos Estados Unidos aonde não voltou, mas isso não o impediu de ser muito celebrado na Europa, sobretudo em França.

Desta vez, na inauguração de uma retrospectiva dos seus filmes na Cinemateca Francesa em Paris, activistas do Femen resolveram manifestar-se contra a presença de Polanski e a hipocrisia da organização. Percebe-se. Só não se percebe porque cargas d'água as meninas da Femen não conseguiram controlar a sua pulsão exibicionista. Se fossem gajos a protestar e exibissem a hortaliça imagine-se a indignação...