Outras marteladas.
Em retrospectiva: têm-se multiplicado as advertências sobre os efeitos das políticas não convencionais dos bancos centrais poderem desencadear a próxima crise financeira, algo para o qual temos vindo à chamar a atenção há uns cinco anos, pelo menos desde este post de 2012 (duas semanas antes do «whatever it takes» de Draghi): «ainda não saímos de uma e já estamos a trabalhar para criar a próxima. Vai acabar mal.»
Devido às dificuldades dos seres humanos lidarem com a realidade, sobretudo com as más notícias, e com os futuros possíveis, sobretudo com os futuros indesejáveis, a tendência para o desta vez vai ser diferente é universal e praticamente inevitável. Por isso, é de supor que só depois das castanhas nos queimarem as mãos perceberemos que isso resulta de terem estado demasiado tempo ao lume.
E, no entanto, há evidências que uma das consequências indesejadas do alívio quantitativo e das taxas de juro nulas ou negativas é maior apetência dos investidores por aplicações de maior yield e necessariamente maior risco, aplicações insustentáveis a longo prazo que não seriam feitas se as taxas de juros fossem próximas do normal histórico.
Um exemplo próximo de nós: alguém acredita que, sem as poções mágicas dos bancos centrais, a Altice conseguiria financiamento para se endividar em 50 mil milhões de euros (o equivalente a 20% da dívida pantagruélica do Estado português), que lhe permitiu comprar em três anos empresas por 43 mil milhões de euros para multiplicar o volume de negócios de mil milhões para 20 mil milhões? (fonte)
É claro que não espanta que logo se começou a perceber que as taxas irão subir, surgiram as dúvidas se o passivo da Altice seria sustentável e, de seguida, a capitalização bolsista da holding Next caiu de 13 mil milhões para 8 mil milhões. O que acontecerá à Altice? Na melhor hipótese terá de se desfazer de várias das suas participações. Na pior iniciará uma espiral descendente que terminará com a sua liquidação aos pedaços.
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