Os episódios da Web Summit mostram um Costa no seu melhor: a apropriar-se de tudo o que lhe parece sucesso, ainda que pouco ou nada tenha a ver com ele, e a passar culpas para o governo de Passos Coelho de tudo o que corre mal e lhe seja imputável. Usando as suas palavras sobre o jantar no Panteão Nacional, que poderia ter evitado e não evitou, a sua atitude é absolutamente indigna.
Outro exemplo glorificado pelo governo que pouco tem a ver com ele é a eleição para o conselho executivo da UNESCO. O comunicado do MNE salienta o facto de Portugal ter estado nesse conselho pela última vez entre 2005 e 2009 durante o governo Sócrates e voltar agora devido ao reconhecimento internacional - estamos a falar de um conselho com 58 dos 193 países membros da ONU o que só por via da aritmética levará cada membro da ONU a passar por lá regularmente.
A adicionar às grandes realizações deste governo, como « maior revolução da floresta desde D. Dinis», temos agora como «a descida do IRS como grande reforma estrutural» o que me leva a hesitar em classificar estas palhaçadas como reveladoras da maior falta de escrúpulos ou de grande falta de discernimento. Há exemplos a favor da primeira classificação, como o «capítulo secreto» do relatório sobre o incêndio de Pedrógão que o governo não publicou, e a favor da segunda, como o «contentamento» que o ministro da Defesa nos relevou a propósito do caso de Tancos.
Ainda outra realização que este governo se auto-atribui é a descida dos yields da dívida, que estão actualmente... acima dos mínimos atingidos durante o governo PSD-CDS numa conjuntura muito menos favorável da que desfruta o governo da geringonça, graças às exportações e ao turismo, para os quais o governo de Costa contribui menos do que para os incêndios de Pedrógão. E falando do turismo e dos contributos socialistas, veja-se o ataque ao alojamento local e a tentativa de espremer a galinha dos ovos de ouro duplicando a taxa turística de Lisboa, sob pressão dos bloquistas.
OT 10 anos (Fonte: Bloomberg) |
Mais cedo do que tarde, interromper-se-á a bonança internacional de que Costa e a geringonça têm beneficiado e o país estará completamente despreparado para enfrentar uma conjuntura desfavorável com os mesmos problemas que já tinha, como um tecido económico frágil e descapitalizado e uma produtividade abaixo da média da UE, e outros problemas agravados, como o peso do monstro estatal e uma dívida pública que ainda não parou de crescer - na próxima semana vão ser emitidos mais 1,5 mil milhões de BT a 6 e 12 meses, prazos curtos que aumentam a exposição da dívida ao risco. Qualquer faísca pode espoletar este incêndio - veja-se, por exemplo, o preço do petróleo que tem estado a menos de metade dos anos 2013-2014 e imagine-se que, em cima de uma desaceleração das exportações que já está a acontecer, o que aconteceria aos 2 mil milhões de combustíveis importados no 3.º trimestre deste ano, que aumentaram 18% face ao ano passado, se os preços voltarem aos níveis anteriores - o défice da balança comercial multiplicar-se-ia várias vezes.
A essa lista fantasiosa de realizações devemos acrescentar as contra-reformas que, se fossem realizadas pelo governo anterior, levariam comunistas, bloquistas e os seus peões nas redacções dos jornais a gritar acudam que eles estão a destruir o Estado Social. Veja-se, por exemplo, como a capacidade de resposta do SNS está a ser comprometida com as cativações e com a suborçamentação denunciada pelo Conselho Nacional de Saúde, um órgão consultivo do MS. E veja-se o atraso no pagamento aos fornecedores que têm pendentes créditos de mais de
E o que faz o governo perante esta degradação do SNS? O costume: acções de propaganda. Dias depois do episódio da legionella, autoriza «a realização da despesa inerente à celebração do contrato de gestão para a conceção, o projeto, a construção, o financiamento, a conservação e a manutenção do Hospital de Lisboa Oriental, em regime de parceria público-privada». Hospital que estará pronto (se estiver) em... 2022 (foi dito há 5 meses que estaria pronto até 2024...) e que estava anunciado pelo menos desde... 2007. O pouco talento deste governo esgota-se nisto e não resta nenhum para administrar o monstro em que está a transformar o Estado Sucial. Um entre muitos outros exemplos da degradação do aparelho estatal: o Metro de Lisboa tem um quinto da frota parada por falta de reparação.
Se o SNS visivelmente se degrada, o ensino público degrada-se menos visivelmente, mas não menos intensamente, com um ministro que encarnou em dirigente sindical dizendo «vou lutar radicalmente pelos direitos dos professores» em relação a uma norma do OE 2018 aprovada pelo governo a que pertence.
Voltamos à saga do OE 2018, começando pela insensatez do Ronaldo das Finanças ao responder às reservas da CE sobre a insuficiência do ajustamento estrutural com o argumento de que a «catástrofe dos fogos florestais» até pode reverter a favor do ajustamento. Continuando com o ilusionismo orçamental em que o Ronaldo das Finanças se especializou. Como mostrou o Conselho de Finanças Públicas a consolidação orçamental estrutural desde 2016 até 2018 é conseguida exclusivamente pela redução dos juros e a CE sublinha que a redução do défice de 2017 é «sobretudo cíclica». Ou seja, os défices elevados voltarão logo que acabem as vacas gordas e em qualquer caso a CE não acredita no défice de 1% no OE 2018 e aponta para 1,4%.
E quando se olha mais de perto saltam da cartola orçamental tentativas de retirar 1.000 milhões de euros previstos para as regiões mais pobres e desertificadas para construir estações de metro em Lisboa e Porto e remodelar a linha de Cascais. O que se percebe. Afinal o que é importante é manter felizes as clientelas eleitorais que obviamente não moram nas regiões mais pobres e desertificadas. Veja-se no quadro seguinte como essas clientelas são bafejadas pelo OE 2018 e sublinhe-se que a verba orçamentada para horas extraordinárias aumenta 40% - lembram-se das garantias de que da redução das 40 para as 35 horas não resultaria aumento da despesa?
Alexandre Patrício Gouveia, no Observador |
Para concluir, recordemos uma realização socialista. A fábrica da Artlant em Sines que agora foi vendida por menos de 6% do empréstimo de 520 milhões da Caixa em 2006 para um projecto PIN do governo de José Sócrates, governo do qual fez parte Costa como MAI, é apenas um exemplo, entre muitos outros, da ruína que os governos socialistas têm trazido ao país.
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