Recapitulando:
O intervencionismo do BCE, que copiou com atraso a Fed e o BoE, adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012, é parecido como terapêutica com a sangria dos pacientes praticada pela medicina medieval para tratar qualquer doença, incluindo a anemia.
Por razões fáceis de entender, estas políticas continuam a merecer a reverência, sobretudo em países como o nosso em que o Estado vive directa e sobretudo indirectamente, pela indução de confiança nos mercados, a expensas do BCE. Proliferam assim as luminárias que vêem a União Europeia e as miríficas políticas de mutualização da dívida como o alfa e ómega da salvação sem esforço das finanças arruinadas da pátria.
As raras vozes dissonantes (temos citado algumas delas) não têm chegado para perturbar e muito menos abafar os salmos cantados pelo coro imenso dos prosélitos louvando a bondade das políticas de injecção de dinheiro e de juros artificialmente baixos dos bancos centrais.
Recentemente juntou-se aos incréus uma das vozes mais potentes do mundo das finanças, o JPMorgan que, pela pena de Marko Kolanovic, um dos seus chief strategists, aqui citado no Business Insider, até já baptizou a próxima crise financeira gerada pelos bancos centrais no ventre do combate à crise de 2008.
A «Great Liquidity Crisis» segundo Kolanovic, pode começar a acontecer já em 2018, dependendo da dinâmica da economia americana, dos desenvolvimentos específicos dos mercados de capitais, nomeadamente dos cinco que cita, e do ritmo a que a Fed emagrecer o seu descomunal balanço de 4 biliões de doláres, o equivalente a mais de 14 vezes a dívida portuguesa.
Fonte: ECB |
É como se o oceano de dinheiro injectado pela Fed na economia americana desde 2008 e a uma escala menor (ver quadro anterior) pelo BCE nas economias da Zona Euro, desde Junho de 2012, começasse a ser aspirado. Se a isso adicionarmos o aumento das taxas de juro e os seus efeitos em investimentos com TIR que pode nem chegar para pagar os juros às novas taxas, as consequências provavelmente não serão agradáveis.
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