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28/08/2016

CASE STUDY: Se os industriais da cerâmica estrutural não se cuidarem podem vir a «fazer tijolo»

Uma das poucas indústrias que ainda restam em Portugal com produtos não transaccionáveis protegidos da concorrência externa é a indústria cerâmica estrutural cujos produtos (telha, tijolo e abobadilha), de alta densidade de peso e baixa densidade de valor, tornam economicamente inviável o comércio internacional. A indústria empregava em 2007 cerca de 2.600 trabalhadores e tinha um volume de negócios de 205 milhões de euros, com uma produtividade (medida em toneladas por trabalhador) 40% inferior à da Espanha. (Fonte: «Caracterização do subsector da Indústria cerâmica estrutural em Portugal», estudo promovido pelo COMPETE, QREN e outras instituições, Coimbra, Setembro de 2009)

Como noutros casos (recordemos o Acordo Multifibras que praticamente acabou com a produção têxtil e de vestuário em Portugal), o fim da protecção contra a concorrência internacional poderá não estar longe.

As telhas e os tijolos convencionais são muito densos, são fracos no isolamento de calor e a sua produção é carbono-intensiva. Que tal se estivessem para breve tijolos leves, bons isolantes de calor e fabricados com materiais reciclados e, portanto, de baixo teor de carbono e, cereja no topo do bolo, capazes de armazenar mais dióxido de carbono do que o necessário para a sua produção?

Ficção científica? Nem por isso a Wienerberger, o fabricante austríaco maior produtor mundial de tijolos, está a tratar disso. É bem possível que a indústria cerâmica estrutural portuguesa venha nos próximos anos a ter um destino semelhante ao da têxtil, com uma diferença apesar de tudo: ainda que a densidade de valor aumente pode continuar a não ser económico o comércio internacional, e nesse caso os fabricantes tecnologicamente mais avançados, como a Wienerberger, poderão optar pelo fabrico local. De um modo ou outro a indústria cerâmica estrutural portuguesa enfrentará o mesmo dilema dos dinossauros: ou muda ou é exterminada ou seja condena-se a fazer tijolo.

Para os mais novos: «Fazer tijolo» é uma expressão significando «morrer» surgida no período de reconstrução de Lisboa, após o sismo de 1755, em que foi usada argila proveniente de um «almacávar», um antigo cemitério mouro, para os lados da rua das Olarias para fabricar tijolos que por vezes tinham ossos no seu interior.

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