Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

08/03/2023

CONDIÇÃO FEMININA: O mulherio português tem cada vez menos razões de queixa (2)

Continuação de (1)

The Economist

O ‎glass-ceiling index da Economist mede o papel e a influência das mulheres na força de trabalho abrangendo dez factores. O diagrama mostra os valores do índice para 29 países da OCDE. Com valores mais elevados estão os países nórdicos e com valores mais baixos o Japão e Coreia do Sul, onde as mulheres têm de escolher entre família e carreira profissional. A Suíça continua com alguma surpresa em 26.º, sobretudo devido aos factores "Higher education" e "Net child-care costs".

Portugal foi o país que mais subiu entre 2016 e 2021 de 12.º para 5.º lugar, onde se mantém em 2022, só superado pelos países nórdicos. É difícil encontrar algum outro índice onde Portugal esteja mais bem colocado, com excepção dos indicadores relativos à dívida pública e privada ou da produtividade, em ambos os casos numa escala invertida.  

Nos dez factores considerados, Portugal está acima da média, excepto em "Paid leave for mothers". A maior progressão foi em "Gender wage gap" e "Women in managerial positions". 

Vem a propósito citar os estudos, várias vezes aqui referidos, do antropologista holandês Geert Hofstede, comparativos das culturas de dezenas de países, usando um modelo que desenvolveu e que distingue 4 dimensões na cultura dominante numa sociedade. Uma dessas dimensões é a masculinidade / feminilidade, definida com base nos estereótipos comuns a quase todas as culturas (confronto/consenso, simpatia pelo sucesso/simpatia pelo desgraçadinho, grande e rápido/pequeno e lento, orientação para as coisas/orientação para as pessoas, performance/qualidade de vida, concorrência/cooperação, etc.). Num país que alimenta a mitologia de ser muito "macho", na verdade é o oitavo país mais "fêmea" do mundo, logo atrás dos países que precisamente no glass-ceiling index estão à nossa frente.

Enquanto o mulherio (entenda-se o mulherio da classe média-alta) progride, o facilitismo, a orientação dos métodos para os estereótipos femininos de aprendizagem e a infecção do sistema de ensino pelo politicamente correcto estão a avariar irremediavelmente o elevador social e, em consequência, a reduzir as oportunidades de progressão social dos pobres, principalmente dos homens pobres. Ninguém parece incomodar-se com isso.

SERVIÇO PÚBLICO: O integral-situacionismo visto por Sá Carneiro há 45 anos está de volta

Estado Novo / Novo Estado vistos por João Abel Manta

A semana passada o jornal Nascer do Sol citou um artigo com o título "Indiferença" de Francisco Sá Carneiro escrito a 3 de janeiro de 1978 para o Povo Livre mas nunca publicado. O texto tem uma actualidade à primeira vista surpreendente, mas na verdade expectável porque parafraseando o Grande Zarolho apesar de se terem mudado os tempos, permaneceram as vontades. Desse artigo extraio algumas passagens. 

«1. Nesta crise que se vai instalando tem sido gabada a serenidade e maturidade dos portugueses, a calma e o civismo com que aguardam o seu desfecho.
Ora a verdade é que a serenidade, o civismo e a calma são meras aparências que os políticos e alguma imprensa gostam de invocar como sinais e ornamentos da ‘jovem democracia portuguesa’.
O que na realidade há, perante a crise e tudo quanto a ela tem dado lugar, é uma enorme e profunda indiferença.
Indiferença que radica em crescente descrença e se liga ao conformismo tradicional dos portugueses.
Quanto mais os políticos e os responsáveis falam, menos as pessoas neles acreditam. E têm razão. Há anos que ouvimos as mesmas pessoas dizerem de modo mais ou menos solene e pomposo as mesmas coisas, sem que nada se modifique. Há quem, a intervalos. enumere as questões e faça afirmações perentórias de mudança. As coisas vão piorando, mas os discursos vão-se sucedendo, enquanto leis essenciais não são postas em vigor e outras não se aplicam; nada de fundamental se modifica.
(...)

07/03/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (56b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

(Continuação de 56a)

Medina e Morão, uma estória antiga mal contada

A contratação pelo Dr. Medina do Sr. Morão, um apparatchik autárquico socialista, para encaminhar fundos para o PS (diz-se), provavelmente por conta e ordem do seu antecessor na presidência da Câmara, está a ser objecto de uma investigação e continua a dar que falar. No entanto, é uma estória antiga que até foi citada aqui no (Im)pertinências há seis anos, a propósito de uma peça do jornalista José António Cerejo no Público, que, por alguma razão que me escapa, ficou esquecida até agora.

E não vão «investigar a fundo» as outras consultas não asseguradas?

Confirmando que as prioridades do governo são a eutanásia e o aborto, o Inspetor-Geral das Atividades em Saúde garantiu que vão «investigar a fundo» a resposta do SNS ao aborto, e nada disse sobre os atrasos de meses ou anos das consultas de especialidade e das cirurgias. A confirmar que os abortos são prioridade, o Hospital de Loures encerrou as urgências pediátricas.

Por falar em Hospital de Loures, que continua a afundar-se desde o fim da gestão privada, ficou agora a saber-se que a Unidade Técnica que recomendou ao governo a não renovação do contrato de PPP com a Luz Saúde, apesar da poupança de 167 milhões em 6 anos e dos bons indicadores de desempenho, fê-lo por, nomeadamente, acredite-se ou não, não estarem reunidos os requisitos de avaliação do desempenho.

A pretexto da "agenda do trabalho digno” o governo toma medida indignas

Num país civilizado o empregador de um empregado doméstico não declarado à Segurança Social seria responsável por suportar os descontos não realizados. No Portugal dos Pequeninos, o governo do Dr. Costa pretende acrescentar à lista crescente mais um crime com prisão até 3 anos.

Sindicalismo corporativo, ou um Estado sucial cada vez mais parecido com o Estado Novo

Lista dos sindicatos os trabalhadores da CP (segundo João Miguel Tavares no Público): 1) Associação Sindical Independente dos Ferroviários da Carreira Comercial. 2) Associação Sindical das Chefias Intermédias de Exploração Ferroviária. 3) Sindicato Nacional dos Transportes, Comunicações e Obras Públicas. 4) Sindicato dos Engenheiros. 5) Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante. 6) Sindicato Independente dos Ferroviários e Afins. 7) Sindicato Nacional dos Ferroviários do Movimento e Afins. 8) Sindicato Nacional Democrático da Ferrovia. 9) Sindicato Independente dos Trabalhadores Ferroviários, das Infra-estruturas e Afins. 10) Sindicato Independente Nacional dos Ferroviários. 11) Sindicato Independente dos Operacionais Ferroviários e Afins. 12) Sindicato dos Maquinistas. 13) Sindicato Nacional de Quadros Técnicos. 14) Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário. 15) Sindicato dos Trabalhadores do Metro e Ferroviários.

«Pagar a dívida é ideia de criança»

A «descida impressionante de quase 12 pontos percentuais» da dívida pública no ano passado, de que o Dr. Medina se vangloriou, torna-se pouco impressionantes quando se constata que em valor aumentou 1,2%, sem a inflação teria ficado em 119% em vez de 114,7% do PIB e que a dívida líquida de depósitos aumentou quase 2%.

E o pouco impressionante transforma-se em desastre quando se compara os 235,7 mil milhões que o Dr. Costa recebeu do governo de Passos Coelho com os 275,8 mil milhões que a dívida total atingiu em Janeiro.
 
Jornal de Negócios

Já é o mafarrico e já se sente o cheiro das brasas

Depois de vários anos abaixo dos 6%, as taxas de desemprego começaram a dar sinais de subida, atingindo em Janeiro 7,1%.

As taxas Euribor continuam a subir em todos os prazos, nomeadamente a 12 meses que num ano subiu 3,4 pontos percentuais.


Inevitavelmente, as yields das novas emissões de OT sobem; em Janeiro a média foi de 3,7%, o que compara com 0,5% em 2020, 0,6% em 2021 e 1,7% em 2022.

06/03/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (56a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Central de comunicação manipulação. Desta vez é oficial

«Costa tem 15 pessoas para espalhar ‘boas notícias’ nas redes», escreve o semanário de reverência na primeira página e explica prolixamente na página 10 como funciona o «gabinete». «Não é propaganda é mostrar o que o governo está a fazer bem» garante uma fonte anónima. Imagino que seja uma pessoa a explicar o que o governo faz e 14 a explicar os anúncios do que o governo vai fazer.

O estado do Estado sucial administrado pelos socialistas

Um exemplo trivial das preocupações de comunicação manipulação foi a contratação pela nova direcção do SNS de uma assessoria num processo aldrabado e trapalhão que é a marca da governação socialista (ver aqui a estória contada).

Um governo que pretende ser agência imobiliária não consegue saber quantos imóveis detém

O inventário dos imóveis do Estado era «uma necessidade premente» em 2007 (Decreto-Lei 280/2007). Em 2020, treze anos depois, o Tribunal de Contas contou cerca de 9.500 imóveis do Estado, um quinto não ocupado, o Registo Predial chegou ao dobro e a Autoridade Tributária a cerca de 63 mil (fonte).

Dos imóveis do Estado, que ninguém sabe quantos são, a ministra da Habitação diz que foram identificados mais de quatro mil imóveis devolutos que podem servir para arrendamento acessível. O Expresso dá como exemplos Convento da Estrela, Hospital Miguel Bombarda, Palácio Baldaya, Convento da Estrela, antigo Hospital Militar da Estrela, Quartel Cabeço da Bola, hospital Miguel Bombarda, etc., que remodelados poderão ser adequados para arrendar apartamentos de luxo a preço acessível aos nómadas digitais e reformados nórdicos.

O arrendamento coercivo dos imóveis privados, além de constituir uma medida abusiva e de se suspeitar que o Estado sucial não tenha capacidade para o gerir, duvida-se que possa resolver alguma coisa, como se pode inferir pelo número de imóveis com IMI agravado na cidade de Lisboa onde, reza a lenda, se faz sentir mais a falta de habitações para arrendar.

mais liberdade

 O Plano Mais Habitação não é mais habitação é menos alojamento local

A única medida do plano que provavelmente será posta em prática respeita às restrições ao alojamento local, restrições que além de serem abusivas e terem efeitos negativos no turismo, que é a actividade que está a adiar a bancarrota, tudo indica que não servem para reduzir o nível das rendas que continuou a aumentar, não obstante a queda da oferta de alojamento local.


Fazendo o papel do outro

O convite ao Sr. Lula para falar no parlamento no dia 25 de Abril que deveria ter sido feito pelo parlamento, mas parecia ter sido feito pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, já tinha sido feito pelo Senhor das Selfies que está em Belém a fazer de presidente da República e afinal o Sr. Lula não vai falar na cerimónia do 25 de Abril, mas numa especial só para ele. A propósito do Senhor das Selfies, este encarregou a sua porta-voz que está de jornalista no semanário de reverência de anunciar que ele considera Passos Coelho um sujeito «cronicamente pessimista que não traz esperança» ao povo que tanto carece dela. Oportunamente, a porta-voz anunciará quem o Senhor das Selfies considera portador de esperança.

(Continua)

05/03/2023

04/03/2023

Mentir para bem do partido e proibir os votos contra? Estamos a falar de um partido liberal?

«O presidente da mesa do Conselho Nacional da Iniciativa Liberal admitiu no primeiro encontro após as eleições, realizado no domingo, que já mentiu para o bem do partido, apurou o Nascer do SOL.

Nuno Santos Fernandes esclareceu que mentiu a um conselheiro eleito quando o convidou e garantiu que não iria convidar mais ninguém, mas minutos depois estava a fazê-lo. No encontro dos liberais disse apenas: «Menti para o bem do partido».

Na convenção dos liberais ficou ainda estabelecido que não poderia haver votos contra – daí ter havido 26 abstenções entre os 50 conselheiros eleitos. Neste encontro do Conselho Nacional do IL esteve em cima da mesa a discussão da revisão estatutária do partido, na qual se inclui como um dos objetivos a eliminação das inerências, a manutenção da eleição dos órgãos por votação universal e o reforço e desenvolvimento da transparência.»

De modo que, ou o IL processa o Nascer do Sol ou o IL muda nome para II e funde-se com o Berloque de Esquerda.

03/03/2023

A proposta chinesa à luz do bullshit test

A China tem mantido uma posição ambígua em relação à invasão da Ucrânia pelo regime putinesco, o que se percebe porque se o Novo Império do Meio aprecia tanto o Ocidente como a Rússia e lhe convém mantê-la como aliada, por outro lado, os seus "clientes" estão no Ocidente e não lhe convém hostilizá-los abertamente. De onde resultou a lógica de apresentar um plano inócuo para um "acordo de paz" na Ucrânia em doze pontos:

  1. O respeito pela soberania dos países
  2. O abandono da mentalidade da Guerra Fria
  3. O fim das hostilidades
  4. O regresso das conversações de paz
  5. A resolução da crise humanitária
  6. A proteção dos civis e dos prisioneiros de guerra
  7. A salvaguarda das centrais nucleares
  8. A redução dos riscos estratégicos
  9. O encorajamento às exportações de cereais
  10. O fim das sanções unilaterais
  11. A manutenção da estabilidade das cadeias de abastecimento
  12. A promoção da reconstrução pós-conflito
Submetamos o "plano" ao bullshit test que consiste em verificar se faz sentido propor o contrário, e, se não for o caso, concluir que a proposta é uma inútil trivialidade.
  1. O desrespeito pela soberania dos países
  2. A continuação da mentalidade da Guerra Fria
  3. A continuação das hostilidades
  4. O abandono das conversações de paz
  5. A não resolução da crise humanitária
  6. A desproteção dos civis e dos prisioneiros de guerra
  7. A não salvaguarda das centrais nucleares
  8. O aumento dos riscos estratégicos
  9. O desencorajamento às exportações de cereais
  10. A continuação das sanções unilaterais
  11. A manutenção da instabilidade das cadeias de abastecimento
  12. O abandono da reconstrução pós-conflito
Podemos assim concluir que, com excepção do fim das sanções unilaterais, o contrário das propostas chinesas é simplesmente um disparate que ninguém, nem mesmo o Czar Vlad, teria o descaramento de apresentar, pelo que as restantes onze são irremediáveis bullshit. Não por acaso, essa proposta é a única que só depende do Ocidente.

02/03/2023

Dúvidas (353) - Saberá o líder do PCP fazer contas?

Já se tinha concluído que evitar com a privatização da TAP extorquir aos contribuintes mais de três mil milhões de euros é para o Sr. Paulo Raimundo um crime económico. Agora ele acrescenta que «é um crime económico que nós vamos pagar muito caro nos próximos anos». 

Como assim? Se é certo que os accionistas privados compraram em 2015 uma participação de 61% na TAP por uma tuta-e-meia (*), o que dizer a essa participação ter sido recomprada também por tuta-e-meia pelo governo do Dr. Costa que a pretende agora privatizar de novo, depois de lá torrar mais de três mil milhões de euros dos impostos dos seus súbditos? Não seria mais adequado classificar como crime económico a nacionalização da TAP?  

(*) Sobre a operação que os accionistas privados fizeram com a Airbus pela troca de um leasing pela aquisição, remeto para este post e o artigo do Jornal Eco «Como Neeleman controlou a TAP com dinheiro da própria companhia».

01/03/2023

ARTIGO DEFUNTO: Com parte da verdade nos tentam enganar (2)

Continuação de (1)

Mais um exemplo da plantação de notícias simpáticas que usam a sugestão do poeta popular António Aleixo: P'ra a mentira ser segura / e atingir profundidade, / tem de trazer à mistura / qualquer coisa de verdade.

Na newsletter do semanário de reverência escreveu-se «a estimativa rápida apresentada no final de janeiro dava conta de um crescimento anual de 6,7%, o mais alto desde 1987».

Não é verdade que 6,7% seja o crescimento mais alto desde 1987 (7,63%) porque em 1990 foi 7,86%. Além disso, nos últimos 50 anos (incluindo os anos de Estado Novo) houve dois outros anos com maior crescimento: 1972 (10,4%) e 1990 (7,9%). E, ao contrário de 2022, cujo crescimento só atingiu esse valor por que em 2020 ocorreu uma quebra de -8,3% e por isso o crescimento real anual 2019-2022 foi inferior a 1,1%, os anos anteriores a 1972, 1987 e 1990 foram de forte crescimento. É claro que isso não poderia ser referido na notícia simpática plantada porque os anos de 1972 e 1990 pertencem aos períodos "fássista" e cavaquista.

Is Trumpism letting Trump down? Without a little help from his former friend Murdoch

Continuation from here, there, there, there and there.

WSJ

28/02/2023

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O "se" do Dr. Costa

 «Se as políticas públicas tivessem sido diferentes, se em vez de usar a margem financeira, ganha durante o ajustamento de 2011-2014 e deixada por Pedro Passos Coelho, a distribuir dinheiro pelos funcionários públicos e pelos pensionistas tivesse usado, pelo menos uma parte, para investir nos serviços públicos, o país estaria melhor. Se em vez de prometer reversões, que seriam impossíveis na sua totalidade, como agora se demonstra no caso dos professores, tentasse prosseguir com algumas reformas do Estado, como a simplificação e desburocratização, o potencial de crescimento seria hoje mais elevado. Se em vez de assustar os pensionistas com Pedro Passos Coelho, tivesse tido a coragem de fazer uma reforma nas pensões, hoje não teria de ter feito o truque dos aumentos das pensões e a inevitável reforma que aí vem significaria menos cortes para os pensionistas futuros. Se em vez de criticar a reforma do arrendamento urbano de Assunção Cristas, que permitiu ter hoje os centros das cidades recuperados, tivesse continuado a incentivar a iniciativa privada na construção e no arrendamento, em vez de continuar a agora desnecessária política de atrair quem quer fugir aos impostos no seu país, talvez hoje estivéssemos com mais casas. E podíamos continuar, com a Educação e a Saúde que são cada vez mais um factor de desigualdade.»

Helena Garrido no Observador

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (55b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

(Continuação de 55a)

Take Another Plan. Take 1 – É só fumaça

Como se mostrou nesta exumação, o cadáver desenterrado pelo PS do “negócio secreto” (que afinal era conhecido do governo socialista) feito pelo accionista da TAP para a comprar, estava em avançado estado de decomposição e serviu apenas o propósito de disfarçar o desastre da nacionalização da TAP seguida da sua reprivatização.

Take Another Plan. Take 2 – O dinheiro afundado na TAP não se evapora

Em 2021, a TAP despediu duas centenas de pilotos e uma parte deles foi contratada pela Portugália (uma subsidiária da TAP que esta comprou em 2009 à Espírito Santo Internacional por indicação do Dono Disto Tudo e ordem do Animal Feroz). Decorridos menos de dois anos, a TAP está a recrutar 40 desses pilotos que foram para a Portugália com uma indemnização de metade da que seria devida por despedimento que não ocorreu.

Da bazuca só sai fumaça (e ainda bem)

O relatório de avaliação da Comissão de Acompanhamento considera que o PRR tem metas irrealistas e há atrasos de dez meses. Dos 69 investimentos analisados só 33 estavam dentro do planeado e 15 estavam em «estado preocupante ou crítico» o que em oficialês significa praticamente irrecuperáveis.

Contenhamos a indignação porque, sabendo-se o destino e o impacto que em 36 anos os fundos europeus têm tido no desenvolvimento do Portugal dos Pequeninos, devemos concordar que haverá outras formas melhores de torrar o dinheiro dos contribuintes europeus.

Quase 50 anos de socialismo de várias modalidades tinha de dar nisto: pobreza e avaria do elevador social 

mais liberdade

Então não estamos a crescer mais do que a Óropa?


Apesar dos derramamentos de dinheiros dos fundos e do turismo pujante, a economia do Portugal dos Pequeninos continua a dar sinais de risco de gripar, como mostra a evolução do indicador de actividade económica do BdP.

«Pagar a dívida é ideia de criança»

O endividamento total da economia, isto é, das famílias e das empresas não financeiras, aumentou durante o ano passado 19,1 mil milhões para 793,8 mil milhões.

27/02/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (55a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Teoria da conspiração: e se o Dr. Costa estivesse a usar o pacote de habitação para distrair a populaça dos escândalos, amansar a esquerdalhada e acantonar o pedronunismo?

Se toda a gente constrói teorias da conspiração, eis aqui mais uma. Tenho dificuldade em ver o Dr. Costa, um político que tanto diz que a nacionalização é indispensável para a salvar a TAP, como a privatização é a única saída, com uma escassez de princípios compensada por um excesso de manobrismo, que sabe o preço político de tudo e dá valor a pouca coisa, a apoiar convictamente um pacote de habitação radicalóide e irrealista como o "Mais Habitação". Em contrapartida, como se está a ver, o pacote apagou dos mídia os escândalos dos apparatchiks socialistas, seria apoiado pela esquerdalhada se a geringonça ainda sobrevivesse, e, sendo um fruto do pensamento pedronunista, o seu fracasso ficará colado ao da nacionalização da TAP que o Dr. Costa já levou ao passivo desta corrente.

Se um plano não funciona, faz-se outro em cima. Se nenhum funcionar, fica o anúncio

Há uns meses escrevi num destes semanários que após seis anos o que restou dos programas de Renda Acessível: (1) do programa do Dr. Pedro Nuno 771-contratos-771 contratos, ou seja, 0,084% dos 921 mil arrendamentos em Portugal; (2) um aumento de 6,4% no 1.º trimestre da renda mediana; (3) um aumento de 27% da renda média nos 12 meses terminados em Junho. Agora, o pacote Mais Habitação prevê uma linha de crédito bonificada para habitação acessível durante um período mínimo de 25 anos. Se aparecer alguém que a troco de menos 1 ou 2 pontos percentuais na taxa de juro se disponha a submeter-se a um regime destes durante um quartel, devemos propô-lo para a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.

Governo adjudica aos senhorios a protecção à terceira idade

A aproximação ao nível do mercado das rendas anteriores à lei do arrendamento urbano de 1990 foi várias vezes interrompida pelo Dr. Costa. Agora o governo, pela boca da ministra da Habitação vem garantir que rendas desses cerca de 200 mil contratos são inferiores inferiores a 150 euros ficarão congeladas definitivamente. Note-se que quase10% do total dos 923 mil contratos têm rendas inferiores a 50 euros e 40% das rendas são inferiores a 400 euros (fonte).

Uma no cravo e outra no Cravinho, ministro dos negócios estranhos

Não lembraria ao diabo, um ministro dos Negócios Estrangeiros anunciar a presença de um presidente de outro país na cerimónia do 25 de Abril no parlamento, como se este dependesse do governo (na verdade, no Portugal dos Pequeninos de hoje, depende, mas deveria haver um pouco mais de pudor). A não ser que, usando uma táctica aprendida com o seu chefe Dr. Costa, se tratasse de um expediente para distrair as forças vivas da nação, como se dizia no Estado Novo, de mais uma investigação por abuso de poder e tráfico de influências relacionada com um assunto de lana-caprina da carta de condução.

O legítimo putativo sucessor do Dr. Costa, pode seguir as pisadas do challenger Dr. Pedro Nuno

A contratação pelo Dr. Medina do Sr. Morão, um apparatchik autárquico socialista, para encaminhar fundos para o PS (diz-se), provavelmente por conta e ordem do seu antecessor na presidência da Câmara, está a ser objecto de uma investigação que pode acabar em acusação. A coisa complica-se quando, ao mesmo tempo, S. Ex.ª, numa das suas jogadas florentinas, está a encostar o Dr. Medina à parede usando o caso da indemnização milionária que a TAP pagou à sua ex-administradora.

«Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central»

O que tem de ser tem muita força e se impedirmos a realidade de entrar pela porta da frente ela entrará pela porta das traseiras. E foi assim que o ministro da Economia teve de reconhecer que do dinheiro torrado pelos governos do Dr. Costa «muito dificilmente a totalidade do valor será refletido no preço de venda». É só mais um caso de nacionalização que não custou nada e o nada ficou muito caro, como a nacionalização do BPN que o saudoso Dr. Teixeira dos Santos garantiu que não custaria nada e ficou em mais de 6 mil milhões.

(Continua)

26/02/2023

CASE STUDY: Um imenso Portugal (64) - Na melhor hipótese o anúncio da moeda única foi apenas um sound bite de dois presidentes esquerdistas, na pior seria um desastre

Outros imensos Portugais
Antes de Lula da Silva, o presidente petista brasileiro, e Alberto Fernández, o presidente peronista argentino, anunciarem urbi et orbi que iriam estudar a adopção de uma moeda comum aos dois países, o primeiro deveria ter-se dado conta que a Argentina está a tentar evitar o seu décimo resgate desde a independência no princípio do século XIX, não tem reservas de divisas, tem uma inflação anual ao redor de 100%, o banco central tem a impressora a funcionar 24/24h para imprimir notas e os movimentos de capitais estão sob absoluto controlo. 

E ambos deveriam ter pedido para lhes explicarem as conclusões de Robert Mundell («A Theory of Optimum Currency Areas» de 1961) e de Milton Friedman («The Euro: Monetary Unity To Political Disunity?» de 1997) sobre zonas monetárias. Mundell demonstrou que uma zona monetária para ser óptima teria de cumprir várias condições, nomeadamente a mobilidade da mão-de-obra (inexistente no caso Brasil-Argentina), mobilidade que também exige reduzidos obstáculos culturais ou administrativas (acesso às profissões, sistemas de segurança social compatíveis, etc.). 

Friedman concluiu, a propósito da criação da Zona Euro, que uma moeda única sem as condições de uma zona monetária óptima «exacerbaria as tensões políticas, convertendo choques divergentes que poderiam ter sido prontamente acomodados por mudanças cambiais em questões políticas divisivas». 

Mais recentemente e a propósito precisamente do delírio petista-peronista, Paul Krugman sublinhou no seu Twitter uma outra condição para uma moeda comum ser viável: «pode fazer sentido entre economias que são os principais parceiros comerciais umas das outras e são semelhantes o suficiente para que não enfrentem grandes "choques assimétricos"». Ora, os principais parceiros comerciais do Brasil são a China (31%), a UE (13%) e os EUA (11%). A Argentina anda pelos 4%.

Em conclusão, o Brasil e a Argentina ao tentarem partilhar um "peso-real" acabariam a partilhar um desastre.

25/02/2023

ACREDITE SE QUISER: Ficava-se na dúvida se seria lip service, descaramento ou simples estupidez. Já não se fica

Recapitulando:

Em 2 de Março do ano passado o major-general Carlos Branco explicava à CNN como a "Operação Especial" das forças russas que tinham acabado de invadir a Ucrânia seria um passeio. «O objetivo é cercar Kiev e obter a capitulação sem combates», postulou.

Quase um ano depois, a invasão russa falhou em toda a linha e transformou-se numa manobra dos EUA na cabeça do major-general que celebra o facto de não ter havido uma «vitória ucraniana no campo de batalha».

Ontem, no aniversário da invasão que era para durar alguns dias, o Sr. major-general escreveu um longo manifesto com o título «E se a Ucrânia não ganhar a guerra?», surpreendente para quem há um ano considerava que a invasão seria uma grande vitória do glorioso exército russo e culminaria com a capitulação sem combates

Se o título é surpreendente, o texto é o que seria de esperar de uma criatura que escreveu o que escreveu. Questiona o «dogmatismo» da vitória da Ucrânia anunciada pelos «comentadores», o que para um comentador que há um ano celebrava a vitória iminente da Rússia é de uma grande falta de decoro. Declara a sua fé que «a iniciativa estratégica e tática» regresse à Rússia. Acusa a maléfica Washington que visava apear o Czar e substituí-lo por um «à Ieltsin», mas que já não visa porque as sanções não afectaram a Rússia e, pelo contrário, reforçaram Putin e «as ocidentais mostraram-se incapazes de responderem às necessidades militares de Kiev». O resto do manifesto é dedicado a mostrar as divisões «ocidentais» e as manobras dos «falcões e a dirigentes revanchistas não controláveis». Nem mesmo o embaixador russo em Lisboa faria melhor.

24/02/2023

No aniversário da "Operação Especial", o delírio putinesco de vitória em vitória até ao impasse final

Fonte

Apropriadamente, no dia de Carnaval, dois dias antes do aniversário da invasão da Ucrânia, a que chamou "Operação Especial" e era para durar alguns dias, o Czar Vladimiro ofereceu à assembleia federal russa o melhor exemplo de discurso orwelliano produzido este século.

Depois de um ano em que se estima que o exército russo tenha sofrido 200 mil baixas e o grupo de mercenários Wagner composto de presidiários 30 mil, que tenha perdido cerca de 10 mil equipamentos (tanques, veículos de todos os tipos, helicópteros e aviões), o triplo das perdas de material ucranianas, que tenha abandonado praticamente todo o território ucraniano que inicialmente ocupou e que a ofensiva em curso está a ser outro desastre, Putin massacrou durante duas horas a audiência com um arsenal de mentiras que desafiariam o Big Brother de "1984" de George Orwell. 

Revelando delírios paranoicos, Putin tentou justificar-se apresentando-se como um cruzado na luta contra os depravados ocidentais que pretendem «destruir a família, a identidade cultural e nacional, pervertem e abusam das crianças, praticam pedofilia, e tudo isso é declarado normal na vida deles. Forçam padres a abençoar casamentos homossexuais (...) e que pretendem explorar a ideia de um deus de género neutro.» Ao mesmo tempo que atribuiu a culpa aos líderes ocidentais «que iniciaram esta guerra, enquanto nós usávamos a força e a estamos a utilizar para parar a guerra». Onde é que já vimos tudo isto?

22/02/2023

ARTIGO DEFUNTO: De como o negócio secreto não era secreto, o dinheiro da TAP ainda não era da TAP e afinal o mais importante não era nada disso

O Expresso da semana passada publicou no caderno de Economia um artigo intitulado «Como Neeleman, Passos e a Airbus gizaram privatização da TAP em segredo» com uma chamada na primeira página «O negócio secreto de David Neeleman para comprar a TAP», devidamente ilustrada com uma foto do antigo accionista que ocupa de 1/3 da página no melhor estilo Correio de Manhã (na modalidade semanário de reverência), ambos os títulos formulados para induzir o leitor distraído a acreditar numa cabala dos citados para extrair dinheiro da TAP para o bolso de Neeleman.

Quem se deu ao trabalho de ler uma página inteira com 1.700 palavras, ficou sem saber em que consistiu o «negócio secreto». Só ficou a saber que afinal do «negócio secreto (...) estavam a par todos os principais intervenientes na privatização do Governo de coligação PSD/CDS e na reversão da privatização já no Governo de António Costa, em 2017.»  Ou seja, o "segredo" era do conhecimento do governo que agora o foi buscar para distrair a turba do enorme desastre que foi a nacionalização da TAP, a que se seguirá nova privatização, depois de lá serem torrados mais de 3 mil milhões de euros.

Antes de continuar, recordemos que o Memorando de Entendimento, assinado a 17 de Maio de 2011 pelo governo do Partido Socialista, previa no seu item 3.31. a privatização da TAP:
«O Governo acelerará o programa de privatizações. O plano existente para o período que
decorre até 2013 abrange transportes (Aeroportos de Portugal, TAP, e a CP Carga), (...)  O Governo compromete-se a ir ainda mais longe, (...) e tem a expectativa que as condições do mercado venham a permitir a venda destas duas empresas, bem como da TAP, até ao final de 2011.»
Também não ficou a saber-se na peça do Expresso de onde veio dinheiro para comprar a TAP, sendo certo que se insinua, mas não se explica como. Para melhor perceber o que está em causa pode começar por ler-se um artigo de Diogo Horta Osório que classifica a privatização de TAP como um «erro grosseiro» do governo PSD-CDS e como «inépcia (do governo PS) de pagar ao investidor estrangeiro uma quantia de 55 000 000 euros por uma participação numa empresa insolvente» e em seguida um outro artigo do mesmo autor onde explica
«Em síntese, não restam dúvidas de que foi utilizado o cash flow futuro da TAP para reembolsar o adiantamento pela Airbus, mas à custa dos meios financeiros da capitalização. Aparentemente, trata-se de uma operação de soma zero.

E comprar o cão pagando com o pêlo do próprio cão não é imoral ou ilegal em si mesmo. Adquirir uma casa com um empréstimo e arrendar a mesma, utilizando a renda recebida para amortizar o empréstimo não é ilegal. Uma operação de aquisição de uma sociedade, contanto sejam protegidos os accionistas e os credores, deveria ter o mesmo tratamento.

Questão diversa é se a privatização deveria ter sido efectuada àquele preço, pois a TAP poderia ter feito esse negócio stand alone, e se deveria ter sido pago ao Sr. Neeleman a soma obscena na sua saída. Esses são verdadeiramente os factos a investigar.»

21/02/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (54b)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

(Continuação de 53b)

As prioridades socialistas são o aborto (e a eutanásia)

Quando aumentam desmesuradamente os tempos de espera no SNS para todos os tipos de cirurgia, o ministro da Saúde – isto é, o ministro do SNS – admitiu que o SNS pague os abortos nos hospitais privados quando os públicos não puderem fazê-lo imediatamente.

«A educação é a nossa paixão». Temas que não fazem manchetes

O número total de alunos do ensino pré-escolar ao secundários desceu de 2.015 mil em 2009-10 para 1. 597 mil em 2020-21. No mesmo período, à custa da multiplicação de disciplinas inúteis, o número total de professores do mesmo ensino apenas desceu de 177.997 para 150.127 e o número alunos por professor, que já era um dos mais baixos da Óropa, desceu ainda mais de 11,3 para 10,6. 


“O PS grávido do Estado”. O caminho para o socialismo passa por fazer de todos os portugueses funcionários

O Dr. Costa pode não fazer crescer a economia, mas em matéria de emprego público é imbatível. Já transformou em 742 mil os 655 mil funcionários que herdou do “neoliberalismo” (que herdou 730 mil do socialismo socrático).

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

A paixão do PS pelo SNS está a levar os contribuintes que o pagam com os seus impostos a recorrerem cada vez mais aos “privados” que o ano passado viram aumentar o número de consultas em 7,8%, o número de urgências em 37,4% e o número de cirurgias em 6,9%. Afinal, talvez os maiores amigos dos “privados” sejam os seus inimigos.

“Empresas” do Estado sucial em estado de falência técnica

Em 2021 (as contas das empresas públicas andam atrasadas dois anos), as empresas não financeiras do Estado sucial registaram 3.100 milhões de prejuízos e mais de um terço não tinham capitais próprios, isto é, estavam em situação de falência técnica e nalguns casos os passivos ultrapassavam, em muito, os activos. Se fossem privadas estariam obrigadas a ser liquidadas. Tudo isto apesar de só em 2021 o governo do Dr. Costa ter afundado 5.270 milhões de euros nas empresas públicas.

De volta ao velho normal

Depois de mais de uma década, as contas externas em 2022 voltaram a registar um défice de 0,5% do PIB (em 2021 houve um excedente de 1%), devido ao défice de 2,1% do PIB da balança de bens.

A taxa de juro média dos crédito à habitação ultrapassou 2,2%, o valor mais elevado desde Dezembro de 2022 e não, não é uma taxa alta, as taxas próximas de zero é que eram insustentáveis e historicamente anormais, até porque com a inflação actual as taxas de juros reais são negativas.

20/02/2023

Semanário de Bordo da Nau Catrineta comandada pelo Dr. Costa no caminho para o socialismo (54a)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa». Outras edições do Semanário de Bordo.

Depois de sete anos de namoro, o PS descobre uma nova paixão: a habitação. Terá as mesmas consequências indesejadas das outras paixões

O plano “Mais Habitação”, anunciado pelo governo é mais do mesmo, agora a uma escala grandiosa inspirada numa visão dirigista, centralizadora e impositiva que pretende transformar o Estado sucial em agência imobiliária. É o mesmo Estado sucial governado pela mesma gente que em sete anos lançou vários programas de habitação social, protagonizados pelos putativos sucessores do Dr. Costa, e realizou 950 contratos, equivalentes a 0,5% dos contratos celebrados desde o início dos programas.

É claro que nem tudo é negativo (como a anunciada simplificação do licenciamento ou a redução da taxa de tributação autónoma), mas os efeitos negativos, esses, são imediatos, por exemplo, a sabotagem do alojamento local que ficará na prática reservado às cadeias de hotéis. Aparte os referidos efeitos positivos, a ineficácia habitual do Estado sucial transformará o plano em mais um episódio de mera propaganda mediática para tentar abafar o ruído da corrupção e dos protestos de centenas de milhares de funcionários públicos.

O Dr. Costa diz que o perfil da economia portuguesa vai ser alterado. Sem dúvida, vai ser cada vez mais o de uma economia marginal e dependente dos fundos europeus

Estes 245 novos produtos e novos serviços [agendas do PPR] vão multiplicar o PIB português e isso significa que, com a execução destas agendas, nós vamos (…) alterar efetivamente o perfil da nossa economia». (fonte)

O multiplicador socialista

No meio dos delírios habituais acerca da bazuca, o Dr. Costa acrescentou mais um, que vinha sendo injustamente esquecido desde o período socrático, durante o qual os pastorinhos da economia dos amanhãs que cantam anunciaram multiplicadores do investimento público que iam desde uns modestos 9,5 euros por cada euro investido até aos 18 euros por cada euro investido no caso das infraestruturas rodoviárias. Como se sabe, com grande surpresa dos pastorinhos, as autoestradas do Eng. Sócrates tiveram, sim, efeito multiplicador, mas da dívida pública e foram um dos factores que levou ao resgate pela troika.

Desta vez, os pastorinhos, escaldados com os multiplicadores socráticos. foram mais cautelosos nas sugestões ao Dr. Costa que colocou a coisa nos 5,3 euros de crescimento económico por cada euro investido, modestos para os delírios socialistas, mas, ainda assim, certamente apenas pensamento milagroso.

Uma bazuca que dispara tiros de pólvora seca

Segundo os números do Expresso, do total de 16,6 mil milhões do poder de fogo da bazuca, diz o governo que 12,7 mM é «dinheiro lançado no mercado», mas, para o governo, ele próprio faz parte do mercado. De facto, apenas 1,5 mM foram entregues aos “beneficiários”, sendo estes principalmente entidades públicas, já que às empresas apenas chegaram 153 milhões. Como já por aqui escrevi várias vezes, talvez isso seja menos mau do que entornar dinheiro dos contribuintes europeus e algum dos portugueses em projectos mal-amanhados.

(Continua)