Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

12/11/2016

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: O Portugal dos Pequeninos visto pelo último dos queirozianos (9)

Outros excertos.

Mais um excerto de outra das crónicas, compiladas em «De mal a pior» (D. Quixote), de Vasco Pulido Valente, o último dos queirozianos, não no estilo mas na substância, com a sua visão lúcida, por vezes vitriólica, deste Portugal de mentes pequeninas e elites medíocres.

«Só que tudo isto, que serve para sublinhar o óbvio, não esclarece a substância do anacronismo, que uma extrema-esquerda com 20 por cento do voto manifestamente é.

O isolamento de Portugal esclarece melhor essa estranha ressurreição. Ao contrário da Europa, a classe média indígena (a que pertence o que resta da velha classe operária) foi poupada à longa desilusão com o "socialismo real" e com as múltiplas variedades de marxismo-leninismo que o pretenderam corrigir e substituir. A Ditadura não permitiu que se visse a subserviência do PC à estratégia global da URSS, ou, por exemplo, que se vivesse Budapeste e Praga como se viveu em França ou em Itália. A brevidade do PREC salvou muita fantasia. A falência filosófica e doutrinal da "grande narrativa" da esquerda quase não se sentiu em Lisboa. O PC português (para não falar do Bloco, mais tardio e periférico) não sofreu o descrédito do PC italiano ou espanhol, nem fugiu, escorraçado e melancólico, para o refúgio patético do eurocomunismo. É nesse vácuo histórico, na ausência dessa decisiva memória, que assentam e alastram os 20 por cento de Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa.»

A extrema-esquerda, 11-07-2009

Sem comentários: