Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

29/11/2018

ARTIGO DEFUNTO: Titilando subliminarmente as meninges dos leitores

«Um dos mais extraordinários fenómenos presentes é o mimetismo da linguagem da Comunicação Social em relação à de forças políticas e institucionais. Foi assim que uma votação coincidente de CDS, PSD, PCP e Bloco a favor do diálogo com os professores foi anunciada como coligação negativa. Curiosamente, um Governo do PS, apoiado pelo PCP e BE contra os vencedores das últimas eleições, não se considera uma aliança negativa. A conclusão, subliminar, é que o positivo apenas existe quando o PS participa

Coligação negativa vs. Governo negativo, Henrique Monteiro no Expresso

28/11/2018

Costa, o homem elástico, visita Science4you na véspera da IPO

«primeiro-ministro (em) visita à fábrica da Science4you, em Loures,
acompanhado pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues
»

«IPO da Science4You arranca esta quarta-feira, com ações a 2,45 euros»

Não me estava a ver a citar Hillary Clinton por boas razões...

... mas aconteceu hoje, ainda que com atraso de vários dias.

«I think Europe needs to get a handle on migration because that is what lit the flame» [do populismo] disse Hillary Clinton em entrevista ao Guardian, convidando os líderes do continente a darem um sinal forte mostrando que «not going to be able to continue to provide refuge and support».

Estou a citá-la por razões que possivelmente explicam o jornalismo de causas doméstico ter feito um ruidoso silêncio a este respeito, apenas quebrado por esta referência no Expresso.

27/11/2018

CASE STUDY: Transferindo dióxido de carbono dos países desenvolvidos para os subdesenvolvidos

Há uma dezena de anos, os Estados Unidos e a Europa adoptaram os biocombustíveis como estratégia para reduzir as emissões de dióxido de carbono.

Em teoria, a quantidade de carbono libertada pela queima de biocombustível seria compensada pelo carbono previamente capturado pelas plantas e nelas armazenado. Na realidade, em quase todos os lugares do mundo, plantar mais milho ou soja para produzir biocombustível exigiria aumentar as áreas de utilização agrícola e, não havendo terras adequadas disponíveis, seria necessário suprimir a vegetação já existente libertando carbono na atmosfera.

Rapidamente se concluiu que por razões de clima e de solos disponíveis nem os Estados Unidos nem a Europa poderiam produzir biocombustíveis nas quantidades necessárias e a um preço competitivo.

O óleo de palma indonésio, sobretudo do Bornéu, e malaio é mais barato devido ao clima e ao tipo de solo. Para responder à procura crescente, os produtores indonésios cortaram e queimaram áreas gigantescas de florestas libertando enormes quantidades de carbono aprisionado nas árvores e nos solos o que tornou a Indonésia a quarta maior fonte mundial de emissões de dióxido de carbono, mais do que todo o continente europeu.

[Para mais detalhes ver o artigo de Abrahm Lustgarten «Palm Oil Was Supposed to Help Save the Planet. Instead It Unleashed a Catastrophe», publicado no NYT)

Nota: Devido à contaminação da linguagem pelo newspeak politicamente correcto, aos países do chamado Terceiro Mundo começou a chamar-se subdesenvolvidos e mais tarde países em vias de desenvolvimento. Concordo que Terceiro Mundo é uma designação errada por ter uma conotação geográfica, mas acho mais adequado continuar a designar esses países como subdesenvolvidos visto que alguns deles, e alguns dos hoje considerados desenvolvidos, são na verdade países em vias de subdesenvolvimento.

26/11/2018

Dúvidas (242) – Irá o Brexit consumar-se? (VIII)

Outras dúvidas sobre a consumação do Brexit .

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (163)

Outras avarias da geringonça e do país.

É discutível que, como alega o governo da geringonça, Portugal esteja na moda, como nos tempos dos governos de Cavaco Silva e do seu «homem novo». O que é pouco discutível é que Portugal em 35 países da OCDE abrangidos pelo International Tax Competitiveness Index da Tax Foundation tem a quarta fiscalidade menos competitiva.

Perguntareis como chegámos aqui? A resposta é fomos chegando pela necessidade de pagar um Estado Sucial cada vez mais caro para alojar a clientela eleitoral da esquerdalhada. Vejam-se dois exemplos do «fomos chegando»: (1) quatorze anos após o Euro 2004 apenas dois dos dez estádios estão pagos e sete câmaras municipais estão endividadas em mais de 100 milhões de euros e (2) foram contratados mais 400 polícias apesar de Portugal ter «432 polícias por 100 mil habitantes, um valor que torna a polícia portuguesa 36% mais bem equipada do que as polícias na média dos países europeus», polícias que têm 16 (dezasseis) sindicatos.

Enquanto o Estado Sucial se tornava cada vez mais caro, o país definhava e no rendimento per capita foi sucessivamente ultrapassado pelos países da Europa de Leste, desceu de 84% em 1999 para 78% do rendimento per capita médio em 2018, ficando em 21.º na UE28 e em 2030 pode estar mais abaixo do que em 1999.

25/11/2018

CASE STUDY: Um imenso Portugal (48) - O "Quadrilhão do PT”

[Outros imensos Portugais]

O nome diz tudo. Foi aceite por um juiz federal a acusação da PGR por associação criminosa contra os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, dois ex-ministros das Finanças do PT, Antonio Palocci e Guido Mantega,  e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, por desvio durante os 14 anos que o PT esteve no poder de mais de 1,5 mil milhões de reais da  Petrobras, do BNDES e do ministério do Planeamento.

Lá iremos ouvir o mesmo chorrilho de indignações da esquerdalhada brasileira e da lusitana por perseguição pela justiça - a mesma justiça que já acusou e condenou centenas de políticos de direita por corrupção.

24/11/2018

Mitos (285) - Estados Unidos da Europa

Por muito que se considere admirável a tentativa de construir uma espécie de Estados Unidos da Europa num Continente dividido por séculos de guerra culminando na hecatombe da Segunda Guerra, um módico de realismo obriga-nos a reconhecer que o caminho percorrido só foi possível pela instrumentalização que o voluntarismo e auto-interesse da nomenclatura bruxelense, particularmente nos tempos de Delors, fez da megalomania francesa, dos complexos alemães e da subsídio-dependência dos países da Europa mediterrânica, primeiro, e oriental, depois. Como todas as construções fruto do voluntarismo, pode funcionar nos tempos das vacas gordas mas tropeça nos tempos das vacas magras quando emergem as idiossincrasias das culturas nacionais que não se apagaram com subsídios. Quanto mais incapazes forem os líderes democráticos europeus de perceber esta realidade mas se fortalecerá e tornará agressivo o instinto nacionalista. Reagir a esta realidade classificando como fascistas ou mesmo populistas os líderes e partidos que tentarão dar corpo a esses instintos, mais do que estúpido é suicida.

A este propósito, leiam-se alguns excertos de The resurgence of regionalism in Europe que transcrevo a seguir.

23/11/2018

Dúvidas (241) - Ao certo, o governo é responsável do quê em Portugal?

Pergunta Rui Ramos:

«Há um mistério na sociedade portuguesa. Morrem dezenas de pessoas em incêndios, e o governo diz que não é a protecção civil. Desaparece e reaparece material dos paióis militares e dos barcos de guerra, e o governo manda informar que não é sentinela nem polícia. Morrem mais pessoas na derrocada de uma estrada entre pedreiras, e o governo esclarece que não é direcção-geral, nem câmara municipal. Enfim, a lista podia continuar. Não parece haver má notícia capaz de obrigar um membro do governo vir a público dizer – “aconteceu isto, não devia ter acontecido, peço desculpa, etc.” A questão é esta: ao certo, o governo é responsável do quê em Portugal?»

O governo é responsável do quê em Portugal? Ora, que pergunta! Pois, não é sabido que devemos ao governo (e à minha tia Elvira, já agora) o aumento das exportações e o crescimento do turismo que fazem o maior crescimento das últimas décadas? E não venham dizer que Portugal é o 6.º país que menos cresceu, pois não é verdade que são os governos dos 22 países da EU28 que crescem mais depressa que são responsáveis e não o de Costa?

E não é sabido que devemos ao governo a redução do défice orçamental, graças ao aumento da carga fiscal e às cativações? E não venham dizer que o governo é responsável pela degradação do SNS e de outros serviços públicos porque isso, como toda a gente sabe, é culpa de Bruxelas.

DIÁRIO DE BORDO: A propósito de visita de Jordan Peterson...

 

... lembrei-me que ando há uns 15 anos a pregar aos peixinhos doutrinas sobre as questões da sexualidade, em oposição frontal ao que a idiotia do politicamente correcto chama questões de identidade do género. Numa pesquisa rápida aqui vão algumas que encontrei:

09/11/2003 Diferentes, mas iguais perante Bruxelas.

27/02/2004 Macho? Moi?

27/04/2005 e pur se muove

10/06/2010 Cherchez la femme

22/11/2018

Mitos (284) - os socialistas são amigos dos pobres (VII)

[Continuação de (I), (II), (III), (IV), (V) e (VI)]

A semelhança entre socialistas e capitalistas é que ambos querem manter ou aumentar a sua clientela. A diferença é que os primeiros querem manter pobres os pobres e acabar com os ricos e os segundos querem que os pobres tenham mais dinheiro para comprar os seus produtos.

É por isso que os socialistas tentam extrair dinheiro aos outros (pobres, remediados e ricos) para distribuir pelos pobres (e por eles próprios) e os capitalistas (alguns capitalistas) distribuem o seu próprio dinheiro.

A adicionar aos capitalistas já mencionados nos episódios anteriores (link acima) ficámos a saber de mais um. Michael Bloomberg, o fundador em 1982 da Bloomberg LP, um dos maiores fornecedores de informação financeira e de notícias de negócios e de mercados e mayor de Nova York de 2002 a 2013, fez uma doação destinada aos estudantes de baixo e médio rendimento de 1,8 mil milhões de dólares à Universidade Johns Hopkins em Baltimore, cujas propinas podem ultrapassar 50 mil dólares por ano.

Para Bloomberg «negar aos alunos a entrada em uma faculdade com base na capacidade de pagar prejudica a igualdade de oportunidades.» Também acho. Quem não acha de certeza é esquerdalhada que preconiza propinas grátis para todos. Grátis que em português corrente significa propinas para estudantes de baixo, médio e alto rendimento pagas pelos contribuintes mesmo que não tenham filhos a estudar nas universidades.

ESTADO DE SÍTIO: «O Estado mete-se em tudo, menos no que importa»

«O problema não é Borba, como não era Pedrógão Grande ou Entre-os-Rios, porque esses são apenas os sítios onde saiu a fava de um bolo em decomposição acelerada – e, sobre isso, os inquéritos não esclarecem coisíssima nenhuma. O problema é estarmos a criar, cada vez mais, um Estado de fachada, que absorve uma quantidade gigantesca de recursos para alimentar actividades acessórias, enquanto esquece as suas funções essenciais. Um Estado centralista que acha que o país começa no Cais das Colunas e termina no arco da Rua Augusta; um Estado desleixado que mete o nariz em tudo mas não arregaça as mãos para fazer nada; um Estado, enfim, tão majestoso e tão oco como as pedreiras de Borba, que são lindíssimas vistas ao longe, mas que matam quando chegamos perto.»

O Estado mete-se em tudo, menos no que importa, João Miguel Tavares no Público

21/11/2018

ARTIGO DE DEFUNTO: A arte de manipular as meninges dos leitores

«Juiz proíbe Administração Trump de recusar asilo a imigrantes
O Presidente Donald Trump emitiu um decreto a 9 de novembro, no qual negava asilo à maioria das pessoas que cruza a fronteira, numa resposta às caravanas de migrantes que condenara antes das eleições de novembro»

A notícia acima do Expresso foi replicada quase ipsis verbis por vários outros jornais portugueses. Como se pode ler neste artigo do NYT, que pratica jornalismo de causas (*) mais informado e mais inteligente do que o corrente no Portugal dos Pequeninos, o que se passou foi o seguinte:

  • A lei americana não concede aos imigrantes o direito ao asilo; concede o direito a um pedido de asilo que será examinado, aprovado ou recusado pelas autoridades americanas;
  • Confrontada com o afluxo maciço de imigrantes hondurenhos, Trump emitiu uma proclamação limitando o exame dos pedido de asilo aos imigrantes «who enters the United States at a port of entry and properly presents for inspection»;
  • Os imigrantes clandestinos ficaram, portanto, sem acesso ao pedido de asilo, a menos, evidentemente, que o viessem a apresentar at a port of entry and properly presents for inspection;
  • O juiz federal Jon S. Tigar do Tribunal Distrital em São Francisco ordenou na segunda-feira à administração para retomar a aceitação de pedidos de refúgio de imigrantes, independentemente de onde ou como eles entraram nos Estados Unidos.

Moral da estória: Trump não recusou o asilo a imigrantes, recusou analisar os pedidos de clandestinos. O juiz não o proibiu de fazer o que ele não tinha feito; o juiz obrigou a administração a analisar todos os pedidos de asilo. O juiz não obrigou - nem poderia obrigar - a aceitar o asilo a emigrantes.

(*) Repare-se como Baptista-Bastos, ao preconizar o jornalismo de causas em que «não há factos. Os factos correspondem à visão do mediador, do repórter», foi um precursor das fake news e das alternative news muito antes da Breitbart News.

20/11/2018

ACREDITE SE QUISER: O elevador social está a funcionar melhor na China do que nos Estados Unidos

«Imagine you have to make a bet.

There are two 18-year-olds, one in China, the other in the United States, both poor and short on prospects. You have to pick the one with the better chance at upward mobility.

Which would you choose?

Not long ago, the answer might have seemed simple. The “American Dream,” after all, had long promised a pathway to a better life for anyone who worked hard.

But the answer today is startling: China has risen so quickly that your chances of improving your station in life there vastly exceed those in the United States.»

19/11/2018

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (162)

Outras avarias da geringonça e do país.

Entre as várias facturas que Costa deixou aos contribuintes para pagar pelo seu desempenho anterior à geringonça encontram-se as relacionadas com a sua passagem pela Câmara de Lisboa e a reversão da permuta dos terrenos do Parque Mayer pelos terrenos da Feira Popular, reversão que vai custar 600 milhões de euros em 2019, dos quais 400 milhões para o Novo Banco e 200 milhões para a Braga Parques já previstos no OE 2017. Por memória, recordemos a sua passagem pelo ministério da Administração Interna e as consequências da «obra feita» nos incêndios florestais: (1) e (2).

O caso do IVA das touradas proporcionou a Costa mais uma performance da sua notável elasticidade, demonstrando assim, como alguém escreveu, ser um marxista da linha Groucho que tem princípios mas, se não gostarmos destes, ele tem outros.

A somar às trapalhadas já conhecidas da nomenclatura socialista, veio agora a saber-se que o recém-nomeado chefe de gabinete do ministro da Defesa está a ser investigado por utilização indevida de 3 milhões de euros de dinheiro públicos. Cada cavadela, sua minhoca.

18/11/2018

São iguais mas há um mais igual do que o outro

O burlão falhado e o burlão bem sucedido
2 anos de preventiva, 14 aumentados para 15 anos de prisão                   «Não se percebe» porque continua à solta        
No circo há o palhaço rico e o palhaço pobre. Na banca há o burlão bem sucedido, que tem os amigos certos, e o burlão falhado, que não tem amigos e faz de bode expiatório.

17/11/2018

Porque não fiquei surpreendido, ainda outra vez? (4)

«Undeclared North Korea: Missile Operating Bases Revealed
Though the subject of speculation by open-source researchers for years, new research undertaken by Beyond Parallel has located 13 of an estimated 20 North Korean missile operating bases that are undeclared by the government.»

«Kim Jong Un tests 'high-tech' weapon in message to the US
North Korea has tested a "newly developed ultramodern" weapon in an event supervised by leader Kim Jong Un, state media said Friday, amid faltering nuclear disarmament negotiations with the United States

Alguém acredita que Kim alienará a sua nomenclatura político-militar subtraindo-lhe o armamento nuclear? Perguntei-me aqui e aqui.

16/11/2018

ESTADO DE SÍTIO: A suprema ejaculação dos órgãos legislativos (3)

Outras supremas ejaculações: (1) e (2)

Sabeis quantos crimes foram imputados pelo Ministério Público aos cromos da Juve Leo e ao seu capo Bruno? 4441 crimes aos 44 arguidos, cabendo ao capo 98.

Sabeis quantas alterações já sofreu o Código Penal aprovado pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro? 42 (quarenta e duas) que acrescentaram resmas de novos crimes - só «crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual» já existem 15 (quinze).

Percebeis porque qualquer processo tem muitos milhares de páginas e nalguns casos centenas de milhar de páginas? O processo do Marquês tem «centenas de caixotes com os volumes e apensos do processo, mais de 1400 páginas de requerimentos de abertura de instrução». Percebeis porque existem condenados há anos ainda em liberdade?

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: Web Summit - as 200 mil dormidas já ninguém nos tira (4)

Uma sequela de (1), (2) e (3)

O presidente do IST, um olhar conhecedor, visita a Web Summit e conclui que «é inevitável ficar com a sensação que as tecnologias e a inovação lá apresentadas são, na sua grande maioria, superficiais. Existem centenas de expositores que promovem serviços e produtos semelhantes, sem qualquer carácter distintivo e com uma componente de inovação muito limitada».

Em matéria de tecnologia e inovação estamos conversados. Contudo, dirão os crentes que a Web Summit é uma plataforma para promover o empreendedorismo nas tecnologias através das celebradas startups. Pois dirão, mas o certo é que segundo o relatório da Scaleup Portugal o investimento em startups tecnológicas reduziu-se em 14% entre 2011 e 2016. Até Nicolau Santos, o insuspeito pastorinho da economia dos amanhãs que cantam, concedeu num momento raro de lucidez que «a Web Summit não só não dinamizou a aposta nas empresas tecnológicas portuguesas, como não conseguiu atrair nem novas ideias nem investidores estrangeiros para startups portuguesas»

Que a mudança de Dublin para Lisboa trouxe vantagens para o Paddy não há dúvida: a garantia de 11 milhões durante 10 anos foi para ele uma lança em África - expressão que se adequa bastante ao caso, porque a diferença com África não é assim tão grande, apesar do Paddy não ter nada a ver com o Santo Condestável. A empresa do Paddy, cuja reputação tem algumas manchas,  registou um lucro de 128 mil euros em 2015, ainda em Dublin, e saltou no ano seguinte para 2,1 milhões, em Lisboa.

De resto, deixemo-nos de megalomania e tenhamos um módico de realismo. Alguma das grandes ou mesmo médias cidades europeias esteve disposta a pagar ao Paddy para ele mover o circo para lá?

Também não há dúvida que os nossos políticos estão rendidos ao evento que funciona como uma alternativa trendy ao circuito da carne assada. Por exemplo Marcelo, que aproveita para soltar o compère que há dentro de si, Costa, ainda sem o talento de Marcelo, dá o seu melhor e até Medina que faz as vezes de porteiro.

O que resta então, para além da treta dos intangíveis? Umas dezenas de milhar de visitantes (o número de participantes foi cerca de 70 mil) que gastaram umas dezenas de milhões de euros que devem valer os 11 milhões que o governo paga ao Paddy com os nossos impostos. Moral da estória: até ver, façam lá a feira mas não insultem a nossa inteligência (de quem tem alguma, claro).

15/11/2018

Dúvidas (240) - À custa de querer parecer outros, ainda saberá ele, o homem-elástico, quem é?

Uma espécie de continuação deste post.

«O crescimento é pífio, comparado com os restantes países da UE, mas existe e é palpável e visível. Contestação social não há, e mediática também não, que o PCP e o BE tratam disso. E, ainda assim, Costa não tem maioria absoluta. Porquê? Porque os eleitores podem vê-lo como um político eficaz e habilidoso, mas não confiam nele. (...)

Sócrates era também autêntico na brutalidade dos ataques. Prometia-se um ‘animal feroz’ e entregava. Sem concessões, era vaidoso, ostensivo e de gosto arrivista duvidoso. Muitos portugueses viveram uns bons anos enamorados da peça. Passos Coelho também era autêntico naquele estilo zombie de quem recomenda que não se dê presentes de Natal aos filhos, vá lá, aos muito pequenos podia ser, e mora em Massamá em jeito de statement político. Marcelo Rebelo de Sousa é genuíno no gosto de ser beijoqueiro e abraçar toda a gente e tirar selfies.

Já António Costa não transpira autenticidade. É habilidoso, sabe negociar, dá as facadas que tem de dar para alcançar os objetivos, mas é postiço. Não é caso único. Os partidos estão repletos de políticos cujos alfa e ómega são defender o que na hora lhes traz mais apoios internos ou votos externos. Costa é só mais um. Consegue desagradar a quem defende touradas e delira com as lides e ao mesmo tempo a quem torce o nariz a torturar animais.»

Excerto de «Costa não gosta depois de gostar», Maria João Marques no Observador

Acrescentaria que o crescimento, mesmo pífio, deve-se tanto a Costa como minha à tia Elvira e gostaria de ter a certeza que os eleitores não gostam de homens-elástico, mas não estou seguro disso.