Recordemos, uma vez mais, os inúmeros manifestos pela defesa dos centros de decisão nacional, alguns deles assinados por empresários que passado algum tempo venderam a estrangeiros as suas empresas e as inúmeras declarações no mesmo sentido da esquerdalhada em geral. Recordemos também que esta necessidade de vender o país aos retalhos surge pelo endividamento gigantesco de públicos e privados e pela descapitalização da economia portuguesa, consequência de décadas a viver acima das posses.
A venda pelos empresários portugueses das suas empresas tem sido uma das consequências da descapitalização (outra é a baixa produtividade). Os empresários que num dia lamentavam a perda de controlo das empresas, no dia seguinte assinavam um manifesto sobre os centros de decisão e pelo caminho corriam a vender as suas empresas. E assim se foram os bancos, as seguradoras quase todas e uma boa parte da indústria.
Chegou agora a vez da COINDU, uma empresa familiar fundada em 1988 com 183 trabalhadores para fabricar capas para assentos de automóveis, que hoje tem 3.800 trabalhadores em 4 fábricas, duas delas no estrangeiro (Roménia e México), e factura 250 milhões de euros. Uma posição maioritária de controlo da COINDU foi agora comprada pela Matroto Spa, outra empresa familiar italiana com menos trabalhadores (2.300) e facturando não muito mais (364 milhões).
Porquê uma empresa aparentemente bem sucedida é vendida a outra quase da mesma dimensão? A resposta simples é que o sucesso é apenas aparente. Em 2021 a COINDU foi alvo de um ciberataque que a paralisou alguns dias. Antes disso, em 2009 já tinha passado por dificuldades e chegou a admitir um despedimento colectivo, que no ano passado se tornou efectivo e já este ano foi repetido.
Como seria de esperar, não obstante todos estes sinais, em 2021, quando já era claros os problemas, o Dr. Siza Vieira (sim, o mesmo da nacionalização da EFACEC) numa visita apresentou-a como «modelo a seguir pelo tecido empresarial português» e no ano seguinte o presidente da câmara de Famalicão, uma personalidade local do PSD, apresentou-a como um exemplo da “Indústria 5.0”. O colo do Estado sucial não lhe serviu de nada e teve de saltar para um colo empresarial italiano. Good luck with that.
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