«No Japão, restaurantes, lojas, salões de beleza permaneceram abertos por toda parte e não houve restrições ao movimento das pessoas. Além disso, ao contrário da Coreia do Sul e de Taiwan, houve poucos testes – o Japão realizou 2.300 testes por milhão de residentes, em comparação com 920.000 por milhão na Coreia do Sul (a Grã-Bretanha, por sinal, realizou 63.000 testes por milhão). Até a Suécia, em 24.000 testes por milhão, superou o Japão nessa frente.
O Japão realizou alguns testes e rastreamentos no início da epidemia. Mas dificilmente pode alegar ter eliminado o vírus ao fazê-lo. Em Abril, um hospital de Tóquio testou todos os seus pacientes ao Sars-CoV-2 – o vírus causador do Covid-19 – e descobriu que 7% dos pacientes não Covid estavam infectados. Esta percentagem é comparável à divulgada pela ONS na semana passada que estimou que 6,78% da população do Reino Unido tem anticorpos para o vírus, sugerindo que eles foram infectados em algum momento.
Por isso o Japão não usou intensamente nenhuma das medidas padrão para enfrentar o Covid-19 – confinamento, teste, seguimento e rastreamento. Também não conseguiu eliminar o vírus por outros meios. Se acha que Boris Johnson ou Donald Trump foram imprudentes, deveria criticar muito mais o governo japonês. Mas não o fará porque o Japão, apesar de sua atitude laissez-faire, teve notavelmente poucas mortes: sete para cada milhão de cidadãos, em comparação com 567 no Reino Unido. Até mesmo o país modelo da Europa no Covid – a Alemanha – teve uma taxa de mortalidade que é múltipla do Japão: 103 por milhão.
Mas, uma vez mais, se compararmos o Japão com seus vizinhos do Extremo Oriente, poderíamos concluir que o Japão tem sido imprudente: a Coreia do Sul e Taiwan têm taxas de mortalidade ainda menores em 5 por milhão e 0,3 por milhão, respectivamente.
Isso leva-nos a uma conclusão inevitável que tem sido óbvia desde meados de Março, pelo menos para qualquer um que esteja preparado para a ver: há uma diferença fundamental na forma como este vírus se comportou no Extremo Oriente em comparação com a Europa e a América. Tem sido muito, muito mais mortal nestes últimos, e de uma forma que não pode nem ser explicada pela forma como diferentes governos têm lidado com a epidemia. Isso levanta duas possibilidades: ou há uma diferença no vírus que vem atacando países ocidentais ou há uma diferença nas populações humanas.»
(*) Pela razão que explico neste comentário, alterei o post anterior que irei rever quando tiver tempo.
(Continua)
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