02/06/2020

De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (23) - Experiências fora da caixa (1)

Este post faz parte da série De volta ao Covid-19. Colocando a ameaça em perspectiva (*) e inicia uma subsérie dedicada às «Experiências fora da caixa» de alguns países que adoptaram estratégias diferentes. A Suécia é um desses países e já lhe dediquei este post, embora numa perspectiva social e política relevando a questão da liberdade de escolha, liberdade que os portugueses não valorizam, mas é vital para os suecos. Agora vou socorrer-me de um artigo de Ross Clark da Spectator dedicado ao Japão que cito parcialmente, omitindo as partes que me parecem mais especulativas.  

«No Japão, restaurantes, lojas, salões de beleza permaneceram abertos por toda parte e não houve restrições ao movimento das pessoas. Além disso, ao contrário da Coreia do Sul e de Taiwan, houve poucos testes – o Japão realizou 2.300 testes por milhão de residentes, em comparação com 920.000 por milhão na Coreia do Sul (a Grã-Bretanha, por sinal, realizou 63.000 testes por milhão). Até a Suécia, em 24.000 testes por milhão, superou o Japão nessa frente.

O Japão realizou alguns testes e rastreamentos no início da epidemia. Mas dificilmente pode alegar ter eliminado o vírus ao fazê-lo. Em Abril, um hospital de Tóquio testou todos os seus pacientes ao Sars-CoV-2 – o vírus causador do Covid-19 – e descobriu que 7% dos pacientes não Covid estavam infectados. Esta percentagem é comparável à divulgada pela ONS na semana passada que estimou que 6,78% da população do Reino Unido tem anticorpos para o vírus, sugerindo que eles foram infectados em algum momento.

Por isso o Japão não usou intensamente nenhuma das medidas padrão para enfrentar o Covid-19 – confinamento, teste, seguimento e rastreamento. Também não conseguiu eliminar o vírus por outros meios. Se acha que Boris Johnson ou Donald Trump foram imprudentes, deveria criticar muito mais o governo japonês. Mas não o fará porque o Japão, apesar de sua atitude laissez-faire, teve notavelmente poucas mortes: sete para cada milhão de cidadãos, em comparação com 567 no Reino Unido. Até mesmo o país modelo da Europa no Covid – a Alemanha – teve uma taxa de mortalidade que é múltipla do Japão: 103 por milhão.

Mas, uma vez mais, se compararmos o Japão com seus vizinhos do Extremo Oriente, poderíamos  concluir que o Japão tem sido imprudente: a Coreia do Sul e Taiwan têm taxas de mortalidade ainda menores em 5 por milhão e 0,3 por milhão, respectivamente.

Isso leva-nos a uma conclusão inevitável que tem sido óbvia desde meados de Março, pelo menos para qualquer um que esteja preparado para a ver: há uma diferença fundamental na forma como este vírus se comportou no Extremo Oriente em comparação com a Europa e a América. Tem sido muito, muito mais mortal nestes últimos, e de uma forma que não pode nem ser explicada pela forma como diferentes governos têm lidado com a epidemia. Isso levanta duas possibilidades: ou há uma diferença no vírus que vem atacando países ocidentais ou há uma diferença nas populações humanas.»

(*) Pela razão que explico neste comentário, alterei o post anterior que irei rever quando tiver tempo.

(Continua)

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